sábado, 31 de maio de 2008

UM ABRIGO AO CUBO


(FOTOS DE J.A. AGUIAR)


O Largo do Poço e a Praça 8 de Maio, mesmo em frente a um monumento classificado como Panteão Nacional, onde repousam os restos mortais do fundador da Nação, recebeu um cubo revestido de publicidade ao Jazzaocentro e à Caixa Geral de Depósitos. Se o gosto é sempre uma opção discutível e do foro íntimo de cada um, de uma subjectividade natural ao individuo, penso que olhando para estes abortos poucas pessoas concordarão com tal iniciativa. É estranho como para fazer seja o que for na Baixa é sempre uma complicação, sendo preciso autorização do IPPAAR, agora IGESPAR, e neste caso, aparentemente, todos estes trâmites obrigatórios foram ultrapassados. Até entendo o apoio do vereador da Cultura, Mário Nunes, ao Jazzaocentro, e sobretudo ao seu grande impulsionador Rocha Santos. Neste apontamento critico a forma publicitada, não o conteúdo nem o apoio. Rocha Santos tem sido um lutador que, de galho em galho, tem conseguido levar a água ao seu moinho, como quem diz “impor” o jazz numa cidade de pouca tradição “jazzística” como é Coimbra. Para ele os meus sinceros parabéns.
Deixando o tom sério, e voltando aos cubos, que são uns abortos, além de inestéticos, têm servido para pernoita de sem-abrigos. E, ao que parece, segundo o blogue “Presença Coimbrã”, a sua cobertura serviu para surripiar o foco central do lago instalado na Praça 8 de Maio. Isto só vem provar que para além da urbe ser apodada de “cidade do conhecimento” deve começar a ser também tratada como “cidade do desenrasca”. Qualquer cobertura de um qualquer cubo, triângulo ou rectângulo serve para abrigo e, além disso, como é uma cidade de trabalhadores, durante a noite, enquanto descansam, vão surripiando qualquer coisita, que a vida está difícil e mal se pode dormir. Até porque o policiamento, á noite, também permite que se trabalhe no gamanço à vontade.
Ora, assim sendo, até se compreende a “dislexia” publicitária de Mário Nunes, foi por uma boa causa.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

HISTÓRIAS DA MINHA ALDEIA: O CASTELO DOS MEUS SONHOS (6)


(FACHADA PRINCIPAL DO CASTELO -aquele poste é de péssimo gosto? Também acho)


(ATALAIAS, PORTÃO PRINCIPAL E ESCADA DE ACESSO À TORRE PRINCIPAL)


(TORRE PRINCIPAL)

                 

   Embora o IGESPAR refira haver 22 castelos e fortalezas em Portugal, pelo menos como a história deste que vou contar, creio, pouquíssimas aldeias de Portugal podem gabar-se de deter um monumento como este e como “ex libris” –logótipo, marca, brasão que indica propriedade, ou representação simbólica que marca um lugar.
Barrô, a minha aldeia, entre a Mealhada e o Luso, orgulhosamente tem o seu castelo de lendas de encantar. Estou certo que, a nível nacional, muitas pessoas não sabem da existência deste ícone de construção aparentemente medieval, mas edificado por altura da 1ª Grande Guerra. Por outro lado, os habitantes desta povoação rural nunca lhe deram a importância que lhe é devida. Tenho a certeza que se contarão pelos dedos das mãos as pessoas que saberão a história que esteve na origem da construção deste presumível refúgio de um amor ilícito, para resguardo da dama, contra falatórios indevidos, e invasores de um amor impossível. Pouquíssimas pessoas saberão que esta interessante jóia arquitectónica resultou do reconhecimento de uma história de amor. E quem foi o apaixonado, perguntará o leitor? Calma! Posso dizer-lhe apenas que foi o maior comerciante do país no século XIX e até quase meados de XX. Foi, sem dúvida nenhuma, o grande precursor dos modernos centros comerciais. “Nasceu em 1853, em Aveiras de Cima, no Concelho da Azambuja. Filho de médico, foi para Lisboa trabalhar no comércio ainda muito jovem. De marçano, na Rua dos Fanqueiros, estabelece-se por conta própria aos 27 anos na Rua da Prata. A loja chamava-se Fazendas Baratas, onde aplicou o preço fixo e fazia propaganda comercial” –in blogue “Indústrias Culturais”. Então quem era este grande comerciante e industrial, quem era? Calma! Primeiro vou referir a fonte que me permitiu saber a origem do “castelo dos meus sonhos”: Agostinho Fernandes, morador em Coimbra, natural de Barrô, com uma sensibilidade acima do comum, é um interessado pela história da região, nomeadamente tudo o que diga respeito à nossa aldeia e ao Luso. Apaixonado pela arte, pela cultura em geral, erudita ou popular, e tudo o que lembre as nossas origens e reminiscências. Sem a informação importantíssima do Agostinho eu jamais teria sabido que aquele extraordinário edificado fora fruto de uma paixão. Presumivelmente um acto de amor de um lisboeta por uma bela mulher da nossa aldeia, de Barrô.
 Este castelo, em forma de fortificação, a lembrar os “castros” da Idade Média, foi erigido sobre uma base de pedra ou pedreira, na saída leste ou levante, em direcção ao Luso, numa elevação, em posição dominante, sobre a paisagem em redor e junto a uma via de comunicação. Exactamente, obedecendo aos mesmos critérios arquitectónicos de construção medieva, do mesmo tipo do castelo de Almourol, com a sua torre cimeira a dominar, com frestas em forma de seteiras, um edifício central, mesmo no cimo do monte pedrado. Ao lado, lembro-me de uma bomba de extracção com um grande aro em ferro para retirar a água do poço. Por baixo, um pouco ao lado, uma longa galeria, ou cisterna, talvez a lembrar as catacumbas ou prisões de antanho. Toda a área envolvente é murada com ameias, onde não falta a atalaia, ou espaço de aviso. A escada de acesso à propriedade e ao ponto mais elevado começa com um grande portão em ferro forjado. Desde a abertura desta portada até ao edifício central era, nos anos de 1960, no meu tempo de criança, constituída por cerca de sete dezenas de degraus talhados na própria pedra rochosa e avermelhada, acompanhados ao longo da subida por grandes estatuetas de cimento e de forma humana. O terreno, dentro do muro ameado, era constituído por imensas árvores de fruto, entre figueiras, cerejeiras e nespereiras.
 Passando ao lado do portão de ferro, ao longo do caminho de terra batida, havia um grande tanque cheio de água para todos os animais que passassem poderem saciar a sede, e que provinha de um tubo a meio sempre com um fio de água a correr. Do lado direito, um grande portão verde de madeira, constituído por várias folhas, levemente oval e a terminar em bico, a imitar as construções moçárabes, resguardava, na garagem, um ou vários automóveis de luxo para a época. Relembro um Citroen preto, de jantes pintadas a branco, vulgarmente conhecido por “arrastadeira”.
  Guardo na memória de, em criança, apenas ter entrado uma vez neste castelo que fazia parte da minha imaginação e fantasia. Subi aquela longa escadaria e parei, sem entrar, junto à torre altaneira, no hall do salão principal. Fiquei extasiado, fascinado com uma enorme panóplia cheia de espadas antigas cruzadas. Engraçado como retenho essa imagem ainda hoje. Desci e entrei apenas na galeria ou cisterna, quase por debaixo do chão, e, dentro dela, imaginei histórias de tesouros, das arábias, das mil e uma noites.
  Vou então desvendar o mistério, a identidade de talvez o maior comerciante do século XIX e princípios de XX, tendo em conta o atraso que o nosso país registava em relação ao restante continente europeu. Tratava-se de Francisco Grandella. Esse, Esse mesmo que o leitor está a pensar: Grandella, o grande homem, o dono dos Grandes Armazéns Grandella em Lisboa, que construiu e abriu ao público em 1894, para fazer frente aos grandes armazéns Printemps de Paris. Foi este visionário que introduziu no país o anúncio comercial, a possibilidade de trocar ou reembolsar o dinheiro caso o cliente não gostasse do produto, a entrega ao domicílio e a publicação de catálogos com as colecções. Em Benfica, Lisboa, Grandella edificou uma vila composta por muitas casas destinadas aos operários.
  Hoje, o castelo que povoou os meus sonhos de menino é, segundo Agostinho Fernandes, propriedade de uma família do Porto, a Melo Adrião, há várias décadas. Durante muitos anos esteve ao abandono e sujeito à decrepitude do tempo. Registe-se, com agrado, a sua recuperação nos últimos tempos por esta família.
  Quanto à identidade da minha conterrânea e sublime paixão do grande comerciante, pouco se sabe. Segundo me afiança a senhora Lucília Dias, a mulher mais idosa da aldeia –ultrapassou há pouco um século de vida, no passado dia 19 de Setembro perfez 102 anos-, chamava-se Aurora. Era natural de Barrô e filha do “Manel”, de apelido o “Riquenho”. Segundo as palavras lúcidas da encantadora centenária, “a Aurora foi muito nova, para Lisboa, trabalhar, como criada doméstica para casa de Francisco Grandella”. Ao que lhe parece, como ela era um “bom bocado e tenrinho” e ele muito mais velho, jarreta e duro, depressa ela subiu na hierarquia e passou a ser “criada para todo o serviço”, ainda que, em certos préstimos, na clandestinidade.
 A senhora Lucília lembra-se muito bem da senhora Aurora. Aquela anciã trabalhou muitos anos na fortaleza como cozinheira. “Parece que a estou a ver”, refere, “usava sempre um grosso cordão de ouro ao pescoço e com um enorme medalhão”. Acrescenta ainda que era criança quando o castelo foi construído, talvez por volta de 1915, mais ou menos. “O meu pai acarretou muita pedra, coitadinho”, refere por entre um suspiro de saudade.
 Apesar de, na altura, ser uma relação moralmente condenável pelos costumes Aurora, a amante do grande empresário, foi muito bem acarinhada na aldeia e lá acabou os seus dias em paz.
                                                                       


quinta-feira, 29 de maio de 2008

HISTÓRIAS DA MINHA ALDEIA: UMA TRISTEZA DE FADO (5)


(CAPELA DE BARRÔ EM VENERAÇÃO AO MÁRTIR SÃO SEBASTIÃO)


                 

Quando comecei a escrever o primeiro texto sobre a minha aldeia de Barrô, a que apelidei de “Histórias da minha aldeia”, estava longe de pensar que ao desbravar o meu lado cerebral escondido dos meus tempos de menino iria começar a descobrir recordações em catadupa. Por outro lado, à medida que vou percorrendo o passado, como se entrasse num labirinto difuso, em curvas e contracurvas de psicanálise, vou trazendo à ribalta memórias de acontecimentos e pessoas da minha povoação. Em catarse, numa espécie de exame psico-sociológico, juntando uma ponta aqui e outra acolá, vou tecendo um “naperon”, que, de certo modo, me ajuda a compreender o tempo e clarificar atitudes.
De repente dou por mim a chegar a uma conclusão fatídica. Comecei a contar as pessoas que se suicidaram nos últimos 50 anos, pelo menos nas que tenho conhecimento, e o número é extraordinariamente grande para um lugarejo que nunca teve muito mais de seis dezenas de moradores. Ou seja, nas últimas cinco décadas suicidaram-se cerca de 15 pessoas. Um número percentual exacerbadamente grande para um universo de tão poucos habitantes.
  Então, numa espécie de observação existencial, olhando para trás, começo a ver a tristeza que enferma aquela minha terra. Mentalmente percorro todas as pessoas já falecidas, outras em fim de vida, e, ainda que não conheça em profundidade esta última geração, a soma de todas as premissas é realmente de uma grande tristeza. Como um fado, um destino, que cada um carregava nos seus ombros. E quando falo deles obviamente que olho para mim também. Conhecendo-me como conheço, oscilando entre a nostalgia e uma angústia permanente, ainda que dissimulada –é no escrever que ela se revela-, mais facilmente chego à análise social que pretendo.
  A minha aldeia foi sempre um lugar tristonho. Na década de 1950 até 1970, exceptuando meia dúzia de habitantes, que já citei em apontamentos anteriores, em que os denominava de campeões da malha e da sueca, e que habitualmente se divertiam todos os domingos à tarde, frente à “venda” do senhor António Simões, a maioria, muito pobres, trabalhavam de sol a sol, todos os dias da semana, incluindo o dia da missa do Senhor. E aqui não posso deixar de me lembrar de um acontecimento que me marcou profundamente. Quando fiz exame da 4ª classe –nesse tempo era assim-, em 1965, na Mealhada, fui sozinho, isto é, acompanhado dos restantes colegas, mas sem os meus pais que tinham ido trabalhar para o campo. Já os meus companheiros, por ser uma data importante, foram com os progenitores. Tal facto não me causou estranheza. Porém, no mesmo mês de Julho, em Luso, fui fazer a comunhão solene…também sozinho. Os meus pais, mais uma vez tinham ido trabalhar para a agricultura. Aparentemente, eu parecia ignorar tal facto, mesmo vendo os outros acompanhados de todos os parentes mais chegados. Mas, eis que de repente se dá um clique. Uma senhora da aldeia, a senhora Isabel, cujo filho também celebrava aquela festa religiosa, olhando para mim, divida entre a aflição e a comiseração, abrindo os olhos de espanto, interrogou-me: “onde estão os teus pais?”. Respondi que tinham ido trabalhar . “FORAM TRABALHAR…HOJE?” –repetiu a mulher-mãe com ênfase.
Curioso, passados mais de quarenta anos, consigo ouvir ainda aquele grito lancinante como o silvar de um chicote. Entoado de admiração, mas carregado de revolta. Aquele berro foi muito importante para o meu futuro. Pela forma como me atingiu de chofre e o senti, ao longo da minha vida, os meus filhos nunca estiveram sós numa data importante para as suas vidas que eu não estivesse lá, mesmo que chegasse atrasado.
  Olhando para as famílias mais abastadas da aldeia, relembro que todas tinham no rosto, em rugas de lástima, um ar sofrido, ainda que algumas mostrassem alguma apatia de serenidade. Era como se tivessem atravessado um período traumatizante. Que de certo modo, como toda a população portuguesa, passaram mesmo, se tivermos em conta a 2ª Guerra Mundial, com todas as suas consequências, nomeadamente a grande carência de alimentos e o racionamento de víveres. Não sei se esse grande conflito bélico poderá ou não explicar a origem da grande tristeza das pessoas no lugar de Barrô. Quem sabe se, através dos genes, cromossomaticamente, essa solidão não teria passado para os vindouros?
Mas, estou em crer, não seria só isso. Faltou sempre por ali um sentimento de partilha comunitário. Um “re-ligare”, o cordão umbilical de todas as religiões com tudo o que nos transcende, de amizade e fraternidade. Lembro-me que as pessoas da minha aldeia nunca foram muito solidárias. Talvez a rigidez da época, marcada no rosto, pelas dificuldades da vida, explique ou não a falta de comparticipação e ajuda social entre os seus membros.
Senti sempre que, em contrapartida, quase todas tinham um ar somítico. Lembro-me de uma família abastada, sem filhos, em que a mulher, já então viúva e septuagenária, bebia o leite azedo e comia todos os restos que tivessem sobrado de outras refeições. Tudo estaria bem se ela não quisesse obrigar os serventuários a seguirem-lhe o (mau) exemplo. Quando morreu, há menos de vinte anos, deixou aos sobrinhos uma fortuna no banco e várias dezenas de propriedades. E agora um facto relevante. Depois da sua morte foram encontradas notas do Banco de Portugal escondidas que já tinham passado de validade. Foram cerca de quinze mil euros. Explicaria a guerra este comportamento? Penso que não. Era a estupidez simples no seu maior grau de pureza. Evidentemente que este exemplo, em estereótipo, não era exclusivo deste lugar: era próprio de um Portugal esconso, tacanho e atrasado.
  Já o disse antes, o povo de Barrô nunca foi muito religioso, embora esta carência de fé não implique necessariamente a falta de sensibilidade social. Um indivíduo pode ser bom sem frequentar a igreja. A bondade como sentimento puro é uma emoção imanente que vem de dentro para fora. Já a benevolência pregada e “imposta” pelas religiões, pelo temor a Deus, é de fora para dentro, é aquela “caridadezinha” calculista que torna o homem num fraco, como falava Nietzsche.





PENSAR PEQUENINO COMO COIMBRINHA








(IMAGEM RETIRADA DO JORNAL AS BEIRAS)

Segundo o Diário as Beiras de hoje, 29 de Maio , a ACIC, Associação Comercial e Industrial de Coimbra, defende o aproveitamento do Quartel da Sofia para a concentração dos serviços judiciais. O “adeus” do tribunal seria “mais uma machadada”, alega a direcção desta associação patronal.
Vamos por partes, como ressalva de interesses, informo que em 7 de Março, em face do mais que provável desmantelamento do Museu Nacional da Ciência e da Técnica (MNCT), em Coimbra, com um acervo extraordinário espalhado por toda a cidade, apresentei a várias entidades, entre elas a ACIC, um anteprojecto em forma de ideia, aproveitando aquele magnífico acervo, em que defendia a transformação daquele antigo quartel militar de 660 m2, na Rua da Sofia, em espaço museológico, com uma parte inactiva e outra interactiva com profissões em vias de desaparecimento e outras já desaparecidas a laborar diariamente entre as 10 da manhã e as 22 horas. Esta minha proposta académica seguia a linha dos novos centros comerciais, simplesmente em vez de ser moderno seria constituído por artesãos. Paralelamente funcionaria como escola de artes e ofícios tradicionais. Este espaço, bem no centro da cidade histórica da Baixa, defendia eu nessa ideia, seria superar a dimensão doméstica da cidade, quebrando a modorra passional, e que servisse de motor impulsionador da esperança aos comerciantes e revitalizador do centro histórico, através da cultura, para além da Universidade e de outros monumentos, inserindo as profissões de antanho, “dando-lhe uma projecção nacional e internacional, e ao mesmo tempo explorá-la de uma forma pedagógica, abrindo este Centro de Mesteres Antigos –denominação criada por mim- à cidade e às escolas, à experimentação e ao conhecimento”, exactamente como nestas palavras de Francisco Providência, em que projecta o mesmo para a Casa do Major Pessoa, que a Câmara Municipal de Aveiro recuperou para receber o futuro Museu Arte Nova daquela cidade, tendo em conta exactamente a dinamização daquela parte histórica.
Acontece que Coimbra não é Aveiro, dirá você leitor, e muito bem. Pois não! É que na Lusatenas para além de se deixar morrer um museu, o que interessa uma boa ideia se vier de um papalvo anónimo qualquer chamado Luís Fernandes? Nem pensar! Ideias para serem boas têm de sair dos crânios servilistas do poder, mesmo que sejam estúpidas como esta da ACIC. Que esta associação defenda a manutenção do tribunal na Baixa é perfeitamente compreensível e imperioso. Agora sacrificar um espaço como aquele do antigo DRM para funcionar das 09 às 18 horas é o quê? Uma visão retrógrada e ultrapassada, o status quo, digo eu, será? Pense o leitor.
Já agora, só para terminar, informo que apresentei o anteprojecto às seguintes entidades: Presidente da Câmara Municipal de Coimbra, Magnífico Reitor da Universidade de Coimbra, Presidente da Junta de Freguesia de São Bartolomeu, Presidente da Junta de Freguesia de S. Cruz, Presidente da ACIC e Presidente da APBC (Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra). Passados quase quatro meses continuo à espera (sentado) que uma destas entidades responda qualquer coisita. Fizeram mal? Nada disso! Fizeram muito bem porque, para além de poderem utilizar o acervo do MNCT, eu, certamente iria ter muito trabalho, para além de poder ceder imenso espólio museológico. E não invento. Tenho mesmo. Poderia citar vários objectos, mas indicarei apenas um: carrossel de 1933, a funcionar, que existia na Figueira da Foz, junto ao casino, que é um marco histórico que atravessou gerações, e que, estou certo, vou ceder a um município, próximo de Coimbra.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

HISTÓRIAS DA MINHA ALDEIA: A MINHA MUSA ENCANTADA (4)


(A CASA DO SENHOR LINO, HOJE AINDA PERTENÇA DA FAMÍLIA)




 No início dos anos de 1960, de um grupo de quatro, o maior lavrador da minha aldeia, Barrô, era sem dúvida nenhuma o senhor Lino. Para além das suas imensas terras agrícolas, que se perdiam no horizonte, e em que dava trabalho a muitos habitantes do lugar, incluindo o meu pai, ele era também negociante de bois. Comprava, vendia e dava de “terça” –negócio jurídico, hoje caído em desuso, que consistia na compra de um animal por um primeiro contraente que o colocava num segundo para engorda e que, posteriormente, seria vendido. O lucro –a diferença entre o custo inicial e a venda final- seriam dois terços para o investidor, o primeiro contraente, e um terço para o segundo, aquele que efectuou a engorda. Aparentemente, parece que o segundo faria um mau negócio. Mas só aparentemente. Isto porque o segundo, sem investimento, para além do lucro de um terço, adquiria acessoriamente força de trabalho através do animal, que seria empregue na lavoura.
Para além da agricultura, da compra e venda de gado e da “terça”, o senhor Lino tinha ainda várias vacas que produziam leite. Era a sua casa que fornecia e aleitava toda a aldeia. Era vendido ao litro para os pobres da povoação. Habitualmente, este líquido branco, segregado pelas glândulas mamárias das fêmeas dos bois, era pago com trabalho, como acontecia com o meu progenitor. Passados quarenta e cinco anos, consigo reter o sabor aveludado, daquele meio litro de leite quente que eu todos os dias ia buscar e transportava num pequeno fervedor de alumínio. Consigo ainda sentir a espuma quente a brincar com a ponta do meu nariz e colar-se no meu buço. Apesar da esposa do senhor Lino, a Dona Justina, ser muito generosa –uma senhora calma, de longas saias negras, obesa, de faces rosadas e com uns olhos lindos que transmitiam paz e serenidade- e encher acima da medida, quando chegava a casa dos meus pais estava muito abaixo porque bebia várias goladas.
Adorava ir, à noite, buscar o leite àquela grande casa agrícola. Tinha dois motivos muito fortes. Um, era o entrar naquela grande cozinha, ver as chamas a crepitar através da porta onde se inseria a lenha no grande fogão de ferro, sempre aceso, fosse verão ou inverno, onde cozinhavam para a família e para os animais, sobretudo os muitos porcos. Aquele laboratório pantagruélico, pelo odor a hortaliças fermentadas, pelo imenso e abastado fumeiro na chaminé, simbolizava a fartura de alimentos que eu não possuía na minha casa paterna.
A segunda razão que me empurrava para a casa daquele abastado lavrador era o “sol da minha vida”, a sua filha mais nova, a Cidália. Esta rapariga, um pouco mais velha do que eu, era, na altura, uma criança linda, de longas tranças, uma tranquilidade no rosto, complementada com uns olhos lindos, com toda a certeza herdados de sua mãe. Nós ainda éramos de laços consanguíneos próximos. Só que, apesar disso, embora familiarmente perto, na classe social estávamos distantes a anos luz. Ela era a filha do homem mais rico da aldeia e eu primogénito de uma das mais pobres famílias do lugar. Ao pé dela eu sentia-me intimidado. Lembro-me claramente de um dia, junto à sua casa, jogar ao lencinho com um grupo de miúdos onde ela estava inserida e eu, pela sua presença, saí do grupo. Ela veio em meu socorro, interrogando-me acerca da causa de eu ter saído. Claro que não lhe respondi. Como podia eu explicar-lhe da frustração que eu sentia ao estar junto à minha rainha, descalço e de calças rotas. Como podia contar-lhe o quanto gostava dela, que eu tinha verdadeira adoração pelas suas tranças pretas e os seus profundos olhos negros, e que, mesmo não sendo adivinho, sabia que jamais a Cidália seria minha. A pobreza era a causa da minha exclusão.
Era por ela que eu tentava ser o melhor aluno da minha classe. Era por ela que eu sonhava ser cantor e, em qualquer lado, mesmo a estudar, trauteava uma canção, a pontos de o meu tio Ernesto –pessoa que muito me marcou, e que um dia destes falarei dele- me interrogar, admirado, como era possível estar a estudar e a cantar. Era por ela que eu, diariamente, depois das aulas acabarem, enquanto apanhava um "feixe" (molho) de erva para o gado, pensava: esta não é a vida que eu quero. Quando acabar a escola vou arranjar um emprego em Coimbra e um dia hei-de estar à tua altura, Cidália!
Por ironia do destino, a vida de negociante do senhor Lino, pai da Cidália, começou a correr mal, entrando em parcial insolvência, morreu precocemente. Entretanto, mal acabei a então quarta classe, logo no mesmo mês, vim mesmo trabalhar para Coimbra como tinha imaginado. Da Cidália nunca mais soube nada. Há décadas que desconheço a sua vida. Se, hipoteticamente, ela ler este texto, certamente vai rir-se. Tenho a certeza de que jamais imaginou que na minha infância foi a minha musa encantada.

HISTÓRIAS DA MINHA ALDEIA: O MEU FORNECEDOR DE BRINQUEDOS (3)






(OS MEUS LIVROS ESCOLARES NA DÉCADA DE 1960)

     

 Como a maioria dos habitantes da povoação de Barrô, os meus pais eram muito pobres. Como quase todos, viviam de uma agricultura de subsistência. Lembro-me de o meu pai contar que o primeiro vinho que fez foi num pequeno balde de madeira. Os bens alimentares, como a batata, tubérculo essencial nesse tempo à alimentação familiar, o milho e o trigo, eram semeados em terras de arrendamento. Na nossa velha e pobre casa, onde, em dias invernosos, era preciso estar de guarda-chuva aberto para não ser atingido pelas goteiras de chuva. As grossas paredes exteriores eram em pedra, mas o interior, quase amplo, tinha uns tabiques de “enchaimel” –técnica de construção rudimentar que consistia em revestir uma parede de madeira com barro ou massa de cimento -nas duas únicas divisões em forma de quarto. Um, era dos meus pais e outro, cheio de uma amálgama de pequenos objectos, era ocupado pela minha avó paterna, já anciã. Sei hoje, sofria da síndrome de Diógenes, que consiste na exagerada acumulação de objectos sem valor. Neste primeiro-andar, o chão era de madeira, calcorreados por uns quantos buracos enormes, por onde, através deles se podiam ver os animais no rés-do-chão e tomar a qualquer hora o odor do estrume fétido. Já se pode calcular a promiscuidade zoológica que proliferava naquela casa, onde as pulgas eram rainhas e senhoras de todo o espaço ocupado pela família.
  As minhas roupas eram compradas, na feira, com vários anos de antecedência, como quem diz, tinham de acompanhar o meu crescimento. À medida que eu ia crescendo, as calças, adquiridas uns anos antes, iam sendo acrescentadas com mais uns retalhos de tecidos de outras, no comprimento, na largura, e mais uns fundilhos no rabo, ou seja, eram umas calças para a vida.
  Brinquedos comprados, nem pensar! Não havia dinheiro para tais luxos. Até entrar para a escola primária eu era produtor e consumidor ao mesmo tempo. Os carros e barcos eram feitos da casca do pinheiro (carrasca). Como é um material muito dúctil era fácil de trabalhar. Um outro brinquedo que usava era a fisga. O elemento principal era recortado de um ramo de árvore em forma de Y, e as extensões elásticas eram cortadas de uma câmara-de-ar de bicicleta. Este pequeno brinquedo, mortífero para a passarada, era o mais usado. Quando alguém me oferecia um costelo (ou costela) –uma pequena armadilha para, através de isco, apanhar aves- então lá ia para as terras em redor tentando apanhar um pássaro.
  Quando entrei para a escola primária, em 1963, na Lameira de São Pedro, que dista cerca de cinco quilómetros da minha aldeia, então com 7 anos de idade, se não era o mais pobre, estaria no grupo dos mais carenciados. Como todas as crianças do lugarejo onde vivíamos íamos a pé, fizesse chuva ou sol abrasador. Se a minha roupa era de indigente, o calçado não era melhor. Lembro-me de no inverno usar umas “chancas”, espécie de alpercatas com rasto de madeira, e no verão usar umas sandálias de plástico. Se a minha paupérrima forma de vestir já constituía um óbice para me sentir inferiorizado e de me auto-excluir do restante grupo de miúdos, como se fosse pouco, eu chegava à escola completamente marcado, sobretudo no pescoço, de ferroadas de pulgas. Tudo indicava “que o meu sangue era bom”, segundo o aforismo da época, talvez para desculpar o ataque descarado dos animaizinhos minimalistas. Em boa verdade, para estes pulantes, durante todas as noites, eu seria um festim gastronómico.
  Como a natureza é pródiga com todos os seus filhos comigo também o foi. Cedo verifiquei que a única forma de sair da cauda do pelotão, e de me tornar notado, era fazer das minhas fraquezas forças. E a única forma de o conseguir era tentar ser o melhor ou estar entre os melhores de todos na minha classe. Então estudava, estudava sem parar. Na sala de aulas dos rapazes –nesse tempo os géneros estavam separados, de um lado o masculino e do outro o feminino- eu estava sempre atento, mesmo na matéria das classes mais avançadas. Passando a imodéstia, era um aluno muito aplicado e, sobretudo, na aritmética dominava. A resolução de problemas era o meu forte.
 Havia na minha classe um miúdo chamado Rui, mais alto do que o comum. Este puto andava sempre bem vestido e trazia sempre bons brinquedos, como por exemplo um carro de polícia, um “carocha”, que acendia e apagava e até fazia “ti-no-ni”, e provocava a inveja de quase toda a turma. Como a natureza é boa e equitativa, normalmente faz uma distribuição e nunca dá tudo só a uns, também neste caso do Rui assim aconteceu. Se, certamente, por esforço dos pais que lhe davam um bom viver material, intelectualmente o rapaz não era muito esperto para os números. Provavelmente seria forte noutras áreas, mas, então, na aritmética era uma nódoa. Daí a pedir-me ajuda para os problemas foi um passo. Estavam lançadas as sementes do negócio para a troca directa, e para eu me tornar empresário. Eu ajudava-o nos problemas e ele em troca pagava-me em géneros. Foi assim que tive o meu primeiro carro de bombeiros e, naturalmente, o “carocha” Volkswagen da polícia.
Esta história poderia ficar perfeitamente por aqui, e até seria um bom final, mas, calma, o epílogo vem a seguir.
  Nesse tempo tínhamos aulas ao sábado de manhã. Durante a tarde ficava um grupo de quatro alunos para varrer e dar uma limpeza geral à sala de aulas. Numa das muitas em que me calhou, juntamente com três colegas onde estava incluído o Rui, um de nós, já não lembro quem, reparou que a gaveta da secretária da professora, a Dona Odete, estava aberta. Ora, nesse tempo, as soluções dos problemas, que vinham em separata nos cadernos de aritmética de Pedro de Carvalho -autor de grande parte destes livros escolares- eram entregues em mão à professora, que imediatamente as escondia na gaveta do móvel de escrivaninha, junto ao quadro negro, para evitar que os alunos tivessem conhecimento antecipado da resolução dos problemas.
  Quando um do grupo reparou que a gaveta estava aberta, certamente por esquecimento da Dona Odete, foi um grito de Ipiranga, misturado com efusiva alegria: “estão aqui as soluções!”. Num ápice, em sôfrega correria, estávamos todos a copiar os resultados para uma folha branca. Na semana seguinte, estranhamente para a mestra, no conjunto dos quatro, todos acertavam no resultado. Se três conseguiram resolver, elaborando uma solução final de acordo com a copiada nas folhas da gaveta da papeleira, havia um aluno, o Rui, que, “atamancadamente”, cozinhou os resultados à sua maneira. Estava aberta a brecha para a descoberta do “copianço”.
À frente de todos o Rui foi chamado ao quadro para resolver o problema. Não o soube fazer. “Como chegaste a este resultado?”, interrogou a Dona Odete já meia desconfiada, e ao mesmo tempo que ia afagando e preparando a “menina dos cinco olhos” –nome dada à régua castigadora com cinco furos na ponta arredondada. Nós, os restantes três do grupo, a pedir a todos os santinhos -e eu ainda mais a rezar às Alminhas- que o Rui não se desmanchasse, mas, debalde, confessou. Foi uma orgia de reguadas para os quatro do surripianço aritmético. Uma lição para a vida, de que não há mentiras eternas, e uma vergonha perante os restantes alunos da classe.





              

segunda-feira, 26 de maio de 2008

HISTÓRIAS DA MINHA ALDEIA: UMA VOZ DO OUTRO MUNDO (2)




               

 Por volta de 1962, na minha aldeia profundamente rural, entre a Mealhada e o Luso, exceptuando uns poucos habitantes que trabalhavam, como operários, em duas fábricas de barro no cimo da povoação, quase toda a gente vivia da agricultura. A maioria, como os meus pais, eram muito pobres. Quase todos alternavam entre trabalhar a dias para os quatro maiores agricultores do lugar e uma agricultura de subsistência que lhes permitia uma alimentação mínima durante todo o ano. Eram tempos difíceis e, neste contexto, era costume um agricultor, trabalhando para outrem, mesmo em trabalho duro, como por exemplo a cavar vinha, com a terra completamente árida e seca, alimentar-se ao almoço com uma sopa, habitualmente frugal, uma cebola com sal, cortada em quatro, metade de uma broa, cozida no forno a lenha pela mulher do dono da casa e vinho, muito vinho. Daí o aforismo de que numa casa portuguesa havia sempre pão e vinho sobre a mesa. Verdadeiramente, pão só se comia ao Domingo, dia em que vinha o padeiro à aldeia. O peixe, a sardinha, o bacalhau e o carapau (o chicharro) ocupavam, quase em exclusivo as ceias da aldeia, já mergulhadas há muito no breu da noite e à luz de um candeeiro a petróleo, porque não havia electricidade.
  A ceia era a única refeição do dia em que se comia melhor. A carne que por ali se consumia era apenas, e enquanto durasse, a do porco morto uma vez por ano. A carne do suíno era guardada numa grande arca, chamada de salgadeira, onde o principal conservante era o sal. Salvo erro, na aldeia não existia um único frigorífico. De repente podemos pensar que se não havia electricidade, naturalmente não haveria nenhum congelador, mas não era assim. Nesse tempo já haviam frigoríficos a petróleo para conservar os alimentos, mas poucas famílias poderiam adquirir este bem, hoje considerado essencial a qualquer lar dos nossos dias.
  Logicamente, pela necessidade, uma vez que todas as famílias matavam o seu suídeo, havia na aldeia um matador de porcos, o Daniel “Catrixo”. Com cerca de quase meia centena de anos de idade, apesar de ser uma pessoa baixa, era muito forte, de possantes braços curtos e de voz gutural. Era um homem tão forte, lembro-me, que, sozinho, pegava num corpulento animal, levantava-lhe a cabeça, e, numa frieza impressionante, zás!, espetava-lhe a faca na goela. Mesmo no estertor do animal, em que este se torna muito violento, este homem conseguia segurá-lo sem ajudas de ninguém. Era garboso e gostava de mostrar a sua descomunal força hercúlea.
  Um dia, não se soube bem porquê –pensou-se que talvez por zanga ou atritos com a esposa- o Daniel, matador de porcos, ingeriu sulfato e morreu. Curiosamente, menos de um mês depois, a mulher veio a falecer também no meio de um brutal incêndio na sua casa.
  Numa ponta da aldeia morava uma septuagenária velhinha, a senhora Iria. Era muito magrinha, de ar débil e fina voz. Quando caminhava tremia como cana no canavial em dia de grande vento suão.
  Passados poucos dias de ter falecido o matador de porcos, e cerca das 21 horas, a velhinha entrava em êxtase, e, em espasmos, começava a falar com a voz gutural e rugosa do Daniel “Catrixo”. Era tomada de uma extraordinária força, sendo preciso quatro homens para a segurar. Dois nos membros superiores e dois nos membros inferiores. Por mais expensas que a família da senhora Iria desenvolvesse, a “coisa”, a alma do outro mundo, não descolava da anciã. O “encosto”, como força demoníaca, tinha tomado as poucas forças da idosa e frágil mulher. Chamaram uma “mulher de fora”, uma bruxa como sói dizer-se, chamaram o senhor vigário para lhe fazer um exorcismo, mas o “espírito incarnado” não se ia.
  Uma das frases proferidas pela anciã, com o timbre de voz cavernosa do matador de porcos –lembro-me bem- era: “chamem o Manel Morin, que eu roubei-lhe um pinheiro na Gândara, e não saio daqui enquanto ele não me perdoar”.
Enquanto aquele agricultor não foi ao casebre da velha senhora e ali lhe perdoou, a possessão não desapareceu.
 Custa a acreditar não custa? Admito que sim! Mas eu, com cerca de 6 anos de idade, presenciei tudo isto. Essa foi a minha primeira experiência na área da Parapsicologia, uma manifestação de que não “estaremos sós”, e, que embora agnóstico, me levou a levar um pouco mais a sério, ainda que céptico, as teorias espíritas de Allain Kardec, pseudónimo do estudioso da doutrina espírita Hippólyte Léon Denizard Rivail.
                                                                                    

HISTÓRIAS DA MINHA ALDEIA: O TOINO DA LOJA (1)



(A "VENDA" DO SENHOR ANTÓNIO, ONDE AINDA É POSSÍVEL VER A PLACA DE TELEFONE E A CAIXA DE CORREIO)


(UMA DAS MUITAS CASAS DECRÉPITAS -ESTA DO EXTINTO DANIEL MOREIRA- AGORA À VENDA E QUE FORAM PROPRIEDADE DE ABASTADOS LAVRADORES)



Decorria o ano de 1960, tinha eu então 4 anos, quando fui morar com os meus pais para uma pequena aldeola entre a Mealhada e o Luso. Barrô, nesses tempos idos, era uma aldeia igual a tantas outras do Portugal pobre, esconso e atrasado dessa época remota. Tinha uma riqueza natural que embora a tornasse diferente, directamente, não lhe trazia grandes benesses: a sua argila cinzenta mesclada de tons colorados, de elevada qualidade, extraída das entranhas da terra por potentes caterpillars, que diariamente iam rasgando as encostas à volta da povoação. Este barro invulgar, que deu o nome à aldeia, era de uma maleabilidade fora do comum, lindo e de mil cores onde predominava o cinzento, que dava gosto apertar entre os dedos e, no escorregadio, sentir ganhar mil formas. Esta argila alimentava duas fábricas cerâmicas -hoje desaparecidas e com os edifícios em ruínas- de telha e tijolo ao cimo do lugar. Apesar de alguma importância industrial, para além de dar alguns escassos empregos aos autóctones, pouco influía no marasmo económico desta pequena localidade intrinsecamente rural.
Por entre um casario pobre, onde a única manifestação de vida era um fio ténue de fumo saído das chaminés, erguia-se o edificado no vale. A meio do lugar, como baluarte entre um homem ambicioso e um Deus desinteressado e misericordioso, ficava a capela, que normalmente só era aberta no dia da festa anual em honra do mártir São Sebastião ou então quando morria alguém. Era aqui, neste largo, que os muitos putos, a “cachopada”, numa algazarra infernal, jogavam ao pião, ao botão e ao lencinho. Mais ao cimo, seguindo em caminho de terra batida, sulcado pelos camiões de transporte de barro, a “venda” do “senhor António da loja”. Em grau de importância estatutária, a seguir aos quatro maiores lavradores latifundiários que davam emprego no amanho da terra à maioria da população, o comerciante de vinhos e mercearias vinha a seguir. Desde os fósforos, ao arroz, ao açúcar amarelo, até ao papel de fantasia recortado para colocar nas "cantareiras" da cozinha, tudo era inscrito no grande livro de débitos. Entre o “deve” e o “haver”, cuja primeira coluna era extensa e mais comprida que a segunda, estava ali a história do lugarejo. O senhor António, para além de bom amanuense, era respeitado pela sua idoneidade, e sobretudo pela obrigatória concessão de crédito popular. Com o tempo, com a mudança dos costumes e melhor distribuição da riqueza, estabelecimento e homem, como gémeos siameses, foram perdendo importância. Praticamente, o primeiro só subsiste pelo amor e apego ao segundo. Este, o companheiro e dono, hoje é simplesmente conhecido pelo “Toino da loja”. Alto, de bom porte e imagem atlética que os anos não apagaram, cabelo penteado à Errol Flynn, ninguém lhe atribui a idade que realmente tem. O seu rosto, quase sem rugas, divido entre um ar de menino e a necessária contenção de um sorriso -não vá uma rasgada manifestação de júbilo parecer vulnerável e dar azo a um abuso de confiança por parte do cliente. Falar com este septuagenário é um gosto. De memória fresca, recorda toda a história da aldeia, nas últimas cinco décadas. Relembra os idos anos de 1950, quando, e apesar de estar estabelecido numa aldeia rural e essencialmente vinícola, num mês, na sua taberna, chegava a vender 25 almudes de vinho (500 litros), contra apenas uma grade de cerveja. Este consumo era feito sobretudo ao domingo. Em frente à sua loja, na rua principal, logo a seguir ao almoço, começavam a aparecer os grandes campeões, e também adversários, da malha ou fito, como também era conhecido esta competição de redondilhas malhas de ferro na povoação. Quando chovia passavam para o interior, e, em volta de um pipo voltado ao contrário, guerreavam-se numa cartada, no jogo da sueca. O senhor António relembra a sã camaradagem de alguns jogadores já desaparecidos do mundo dos vivos: o “Zé Grande”, o Daniel “Carteiro”, o Albino “Cantoneiro”, o Daniel “Catrixo”. Entre outros, que ainda estão entre nós, recorda um grande campeão: o “Toino dos ovos”.
Nesse tempo, a loja do senhor António era uma espécie de montra tecnológica implantada numa terra profundamente mecânica. Era lá que se ouviam as notícias na telefonia. Foi lá que se viu a primeira caixa que viria a revolucionar o mundo, a televisão. Por volta de 1957, poucos meses passados da primeira emissão da RTP, desde a Feira Popular de Lisboa, em 1956, este comerciante, ao passar na Praça do Comércio, em Coimbra, reparou num grande aglomerado de pessoas em frente a uma montra de electrodomésticos. Aproximando-se, reparou que todos olhavam para a caixa mágica que emitia sons e imagens. Com um elevado faro para o negócio, imediatamente viu ali uma oportunidade. No dia seguinte, a televisão entrava oficialmente em Barrô pela mão do senhor António. Foi colocada nas traseiras do estabelecimento, num armazém rudimentar. Colocou umas tábuas de pinho corridas e pronto! Estava inaugurado o primeiro animatógrafo do pequeno burgo, contra o pagamento de cinco tostões.
Hoje, o “Toino da loja”, como é conhecido com carinho, olha em volta e, embrenhado numa saudade que é quase palpável nos seus olhos embaciados, o que vê em volta, em alguns casos, é um amontoado casario em ruínas. Muitas daquelas casas, carregadas de história, com placa de “vendo”. Já quase não ouve um galo a cantar, um boi a mugir, um porco a grunhir, nem o balir das muitas ovelhas de outrora que animavam o ambiente rural. Já não há crianças no Largo da Capela a brincar. Desapareceram os ruídos das suas tropelias. Para além das paredes a reclamarem uma pintura, o que se avistam, de vez em quando, são uns quantos velhos sorumbáticos, carregados de tristeza, encostados às esquinas. De meia em meia hora, o relógio da torre sineira lá quebra a monotonia. Fora das “Ave-marias” em apelo para um tempo que não voltará mais, o silêncio, como manto diáfano, tomou conta da aldeia.


QUEM É, QUEM É?




Para mim é uma mulher,
para outro pode não ser,
pode escolher quem quiser,
o que importa é amor ter;
A mulher é como uma canção
todos temos uma que gostamos de cantar,
entre todas, há sempre uma diferenciação,
aquela que nos faz menino na recordação;
Sem amor não se pode respirar,
e homem pode gostar de homem se quiser,
sem amor, morre-se aos poucos, por não amar,
que me importa se mulher gostar de mulher?
O amor é como o horizonte, uma visão
corremos, verdadeiramente, nunca o encontramos,
por mais esforço, nunca o teremos na mão,
foge-nos sempre, nunca o pegamos;
E se, de repente, o achamos, logo o temos,
pensamos, envolvendo-o num grande abraço,
numa sina existencialista vivemos,
numa alegria, somos outro no desembaraço;
O amor é como uma andorinha errante,
vem, instala-se, nidifica, vai partir,
passa o verão, levanta voo o farsante,
para mais tarde voltar e repetir;
O amor é uma droga, uma ternura,
milagreiro, omnipotente, como a religião,
ou se acredita, se tem fé e é pura,
ou, como água do rio, lá se vai a paixão.

domingo, 25 de maio de 2008

TRAGÉDIA


(FOTO DE PAULO ABRANTES)


Somos todos tão estranhos,
que nem dá para perceber,
perseguimos um riso tamanho,
até ao fim do nosso querer;
Detestamos a tragédia,
só gostamos duma sã paz,
mas anda sempre à curta rédea,
sem ela nada se faz;
É uma tragédia não ter,
uma tragédia não ser,
é uma tragédia amarmos,
sem tragédia não é viver;
Somos tão conflituosos,
divididos entre o ideal e o ser,
chegamos a ser amorosos,
na luta do que queremos ter;
Recordamos um amor,
impossível de viver,
naquele beijo de tanto ardor,
que connosco vai morrer;
Mas, afinal o que queremos?
se não apanhamos a felicidade,
será apenas para vivermos,
um momento de saudade?
Todo o homem é sofredor,
como poeta é mentiroso,
este, alegre, é um fingidor,
aquele um grande manhoso.

UM NOVO LIVRO QUE AÍ VEM


BANDA DE LORVÃO (FILARMÓNICA BOA VONTADE LORVANENSE),SOB A DIRECÇÃO DO MAESTRO ADRIANO ALMEIDA, AQUANDO DA SUA BRILHANTE ACTUAÇÃO NA BAIXA DE COIMBRA, HÁ CERCA DE TRÊS MESES. UM MIMO!

(TRANSCRIÇÃO DE UM PREFÁCIO QUE ME FOI PEDIDO PARA UM LIVRO QUE ESTÁ NO PRELO E PRESTES A VER A LUZ DA AURORA)

PREFÁCIO
Já há muitos anos que me habituei a ler as cartas de João José de Seixas, na página do “Fala o Leitor”, do nosso querido Diário de Coimbra, que, a propósito, precisamente hoje, dia 24 de Maio, faz 78 anos. Parabéns ao nosso velho “Calinas”.
Dizia eu então que sou um “cliente” fiel das mensagens do José Seixas. Os seus escritos, profundos e sempre duma acutilância impressionante, transmitem o saber de alguém que sabe do que escreve. Ele vai de “A Trapaça do Novo Código Laboral” até um “Aguenta Zé Povinho!”, isto é, de uma análise empírico-jurídica, vista à luz de um homem que subiu a corda a pulso, até à mais dissecada e elementar prosa popular.
Como também (des)carrego a minha auto-estima naquela página de vez em quando, como quem diz, quando o “corpo” Redactorial do jornal quer, um dia entrou pela minha porta-a-dentro um homem simpático que me interrogou: “O senhor é o Luís Fernandes, aquele que escreve no Diário de Coimbra?” Prazer! Sou o José Seixas, também escrevo, não sei se já leu alguma coisa minha!”
A partir daí, fomos falando e trocando impressões acerca de como o jornalismo nacional ou regional trata mal o seu leitor que escreve. Tantas vezes fotógrafo, repórter descritivo sem opinião, jornalista e colunista de opinião. É uma riqueza que lhes entra gratuitamente na redacção do jornal e, habitualmente, não é aproveitada. Parodoxalmente, estes escritores de bolso –como eu- chegam a ser desprezados. Tantas cartas que escrevemos para o jornal, que não são publicadas, e para lá ficam abandonadas ao pó, sem que vejam a luz, e sem uma única satisfação. É frustrante para quem escreve. Tantas vezes dou por mim, em desânimo, a pensar: esta foi a ultima que mandei. Nem mais uma. Mas, em verdade, no dia seguinte, a fúria passa, e lá vai mais uma cartita…que pode ser ou não publicada, como óbolo mirabolante que se dá a indigente. Tantas vezes, eu e o José Seixas, comentámos este tratamento desrespeitoso para quem escreve pelo prazer simplesmente, sem ter em conta qualquer contra-pagamento remuneratório. Até parece que o que não se paga não presta! Comentámos, em uníssono, como diapasão numa orquestra.
Então, há dias, entra o meu amigo José, e, por entre umas frases de ocasião, atira: “Olhe, ó Luís, queria pedir-lhe um favor!”. Claro que sim, atire homem, replico. Mal sabia eu na tremenda responsabilidade que o José Seixas iria colocar nos meus ombros. Continuou o meu amigo, “sabe, escrevi um livro e gostava muito que o Luís escrevesse o prefácio”. Tentei dissuadi-lo de tal intenção, porém debalde. Bem argumentei que ao pé dele sou pequenino, mas nada o fez desviar. Pronto, homem! Se assim quer, assim seja, venha lá o livro!
E aqui estou eu, um insignificante escriba, a prefaciar os “PENSAMENTOS PROVEITOSOS” do meu amigo João José de Seixas.
Este livro, que recomendo vivamente, é uma bíblia universal de bons conselhos. São PRINCÍPIOS, hoje, em desuso, mas que num tempo apopléctico, em que tudo passa a correr, faz todo o sentido. Costumo fazer uma separação fundamental entre PRINCÍPIOS e VALORES. Para mim os PRINCÍPIOS estão para a humanidade como as artérias principais estão para o corpo humano, isto é, para além da sua imutabilidade, são a vida, são o lastro principal duma sociedade. Contrariamente, a meu ver, os VALORES serão, metaforicamente, como pequenas ramificações sanguíneas para o corpo humano, que por serem mais ínfimos na escala de importância, são mais dinâmicos, e, por isso mesmo, estão mais sujeitos à modificação e a uma erosão natural. Para uns “vivemos em tempos que nunca se viu nada assim”, para outros é o caminhar rumo ao diferente –melhor para uns, péssimo para outros-, e o paradigma de que o presente já foi. Tudo é futuro. Estes serão os VALORES sempre em mudança que hoje vivemos.
Depois desta minha sucinta e sincera explicação, penso que dá para entender a elevadíssima importância dos “PENSAMENTOS PROVEITOSOS”. É um livro que dará gosto ler e estará sempre actual hoje ou daqui a um século. Não tenho dúvidas em dizer que é um livro que deve estar sempre colocado em cima da mesinha de cabeceira e à noite, antes de adormecer, deve ler-se e degustar-se umas quantas páginas. Não é livro de ornamentação de biblioteca. É prático, didáctico, simples e de grande espectro literário, onde o bem deve prevalecer sobre o mal. É lógico que não devemos dividir a sociedade nesta ambivalência. Para além do preto e do branco existe o cinzento, mas até aí os “PENSAMENTOS PROVEITOSOS” dá a possibilidade de o leitor os descobrir paulatinamente.
LUIS FERNANDES

UMA PÉROLA

Com a devida vénia, transcrevo uma prosa que descobri no blogue "porta-aviões". Como a considero um "must" literário, assim uma espécie de opúsculo saído da "questão Coimbrã"-luta ideológico-literária entre os defensores do situacionismo desactualizado e um grupo de escritores, não-alinhados,defensores do "iluminismo" literário, independente, sem papas na lingua e contra os elogios de favor.
Saliento que não integro o autor de "A CARTA" em nenhuma das correntes, conservadora ou liberal. Apenas referi a "Questão Coimbrã", porque, a meu ver, a prosa, abaixo descrita, parece saida duma dessas disputas de autores como António Feliciano de Castilho,Pinheiro Chagas,Antero de Quental,Teófilo Braga, entre outros.

Quinta-feira, Agosto 09, 2007
A CARTA


O Porta-aviões teve acesso, em rigoroso exclusivo, à carta que o vereador Prata enviou ao ex-chefe de gabinete Páscoa.

Ex.mo Senhor
Tomei conhecimento através dos jornais que me tinham retirado a confiança politica.
Como não vou em prosopopeias flácidas para acalentar bovinos, ainda pensei em impulsionar bruscamente a extremidade do meu membro inferior contra a região glútea de V.Ex.a. Mas, pensado melhor, e tendo em conta que não sou também de deglutir batráquios, nem de colocar o prolongamento caudal no meio dos membros inferiores, decidi sugerir a V.Exa, aos membros da sua douta comissão e a quem lhe soprou tão asna decisão que procurem receber contribuições inusitadas e veementes na cavidade existente rigorosamente ao centro da região supra-citada. Mais lhe quero dizer que não faço qualquer vontade a V.Exa, nem que a fêmea bovina expire fortes contrações laríngias. Pode assim V.Exa retirar o filho do equino da perturbação pluviométrica, que eu continuarei a dizer o que penso.
PS: que não lhe doa a região duplamente supra-citada.
Não há golpe sem punição!
HPP

Publicada por PIRATA em 1:26 PM
Quarta-feira, Agosto 08, 2007

sábado, 24 de maio de 2008

PARABÉNS, DC, PELOS 78 ANOS!




Hoje é o teu dia, amigão,
tantas velas a soprar,
os teus leitores por aqui estão,
nesta data, para te saudar;
Gosto de ti “Calinas”,
pareces mulher ardente,
chego a levar-te para a cama,
abraço-te, meu amor, perdidamente;
No café, penso contigo,
em todos os males do mundo,
pareceste-te tanto comigo,
meu amigo és tão profundo;
Do alto da tua idade,
mesmo assim és liberal,
dás-me alguma liberdade,
para não ser convencional;
Como tu te transformaste,
nem gaguejas, velho mariolão,
como em tempos, publicaste,
o festival libidinoso do Paião;
Tu e eu somos irmãos diários,
acérrimos defensores daquilo que é seu,
tu publicas os obituários,
eu leio-os, esperando não ser o meu;
Para terminar, camarada,
um conselho te vou dar,
vigia a tua liberdade amada,
ela é trintona, e pode te tramar.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

MINHA CIDADE MEU AMOR



Gosto da minha cidade,
das ruas e vielas em sarilho,
dos gritos e refrães já sem idade,
como uma mãe gosta de um filho,
dando-lhe amor em qualquer idade;
Mesmo embora estando sentida,
e se sinta abandonada,
julgando-se uma mãe ferida,
pela filha descuidada;
Esta cidade que eu amo,
desgraçada, salafrária,
folha seca de velho ramo,
preso à árvore centenária;
Perdeste o brilho de outrora,
aquela viçosa mocidade,
mal sabes o que pareces agora,
puta velha sem maldade!
Mesmo assim gosto de ti,
com as cãs e rugas tuas,
quem me dera gostares de mim,
como eu amo as tuas ruas;
Foi nelas que me iniciei,
meu amor, ó velha tonta,
tantos sonhos eu sonhei,
que até lhe perdi a conta;
Já não és uma bela rameira,
o teu sorriso soçobrou,
trocaram-te de uma maneira,
que o teu tempo acabou;
Tem paciência ó cidade,
com estes filhos da nação ,
não vejas só neles maldade,
são cegos de ingratidão.

MARIANO É UMA LIÇÃO! QUEM FALA ASSIM NÃO É GAGO!


(Palácio Sacadura Botte, em Coimbra -Imagem retirada do Blogue "Natureza Naturada")

UMA PEQUENA VITÓRIA…
Acaba de ser anunciado pela Antena 1, no programa Portugal em Directo, que o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Mariano Gago, desistiu de acabar, através de Decreto-Lei, como o Museu Nacional da Ciência e da Técnica Doutor Mário Silva, substituindo esta intenção legislativa por protocolo assinado entre aquele ministério e a Universidade de Coimbra (UC). Ou seja, até aqui a UC desculpava-se com o governo, a partir de agora não há desculpas. Vamos lá,vamos ao trabalho de reerguer o Museu. Se não forem capazes, deleguem! Estou certo que haverá muita gente interessada em dar-lhe o brilho perdido. Está aqui o primeiro voluntário!
Os meus parabéns Mariano, com esta passagem para canto, deste uma lição aos coimbrinhas que se arvoram em defensores da cultura. Vamos ver o que vão fazer com esta "batata quente" a chamuscar-lhes a alma. Vamos ver o que tencionam fazer com aquele riquíssimo acervo disperso pela cidade. Estamos todos para ver até onde vai a sua sensibilidade cultural.

IMAGINEMOS QUE AS CONDIÇÕES SE ALTERAM...




Imaginemos, por hipótese, que Pedro Santana Lopes (PSL) ganhava a corrida para secretário-geral do PSD, –evidentemente que ninguém acredita em tal, nem que todos os Santanistas fossem a Fátima a pé-, mas façamos um exercício de “faz de conta”. Se tal viesse a acontecer, em Coimbra, como bolas de neve deslizando pela encosta, rolariam muitas cabeças, sobretudo na Comissão Política Concelhia do PSD (CPC), ou então muitos sapos vivos teriam de ser engolidos.
Comecemos pela entrevista de Manuel de Oliveira (MO) ao Diário de Coimbra de 15 deste Maio, único candidato às eleições para aquele órgão e, que sabemos hoje, inevitavelmente, saiu vencedor. Dizia então MO a determinado passo, e depois do jornalista formalizar a pergunta: “As últimas eleições para a CPC acabaram por provocar roturas graves no seio do partido, nomeadamente entre Carlos Páscoa e Horácio Pina Prata, o que acabou por ter impactos, até ao nível da vereação. Depois de eleito, tenciona fazer alguma coisa para acabar com as divergências?
Respondeu MO: “(…) ainda hoje, na vossa edição (…) se vê quem tem estado numa posição de total confronto. (…) porque a CPC –que vai cessar funções- retirou a confiança política ao vereador Pina Prata. Ora, as condições não se alteram, portanto, mantêm-se tudo na mesma. Não farei, por isso, nenhum esforço, porque o afastamento tem uma única direcção, não dois sentidos.
Pegando na notícia de hoje do maior jornal da cidade, em que refere que PSL “esteve ontem em Coimbra na sede distrital do PSD (Rua dos Combatentes da Grande Guerra, 23), para uma sessão de esclarecimento a militantes e simpatizantes do partido. (…) Na ocasião, marcaram também presença o mandatário distrital, Nascimento Costa, o mandatário distrital das Juntas de Freguesia, José Maria Barroca, e o mandatário concelhio, Horácio Pina Prata”.
Se, por hipótese, PSL ganhasse as directas do PSD, o primeiro a demitir-se seria então MO, o homem forte dos transportes da guarda inglesa, e o candidato à autarquia já não seria Carlos Encarnação, que arrumaria de vez os sapatos pouco usados nestes cinco anos, e passaria a ser Pina Prata o candidato a presidente da Câmara Municipal de Coimbra. Não é difícil de antever as pressões saídas da cidade e direccionadas aos militantes, e para dentro do partido laranja, para que este cenário virtual passasse a ser real.
Consta-se por aqui que em Fátima foi criado um gabinete em exclusivo para acolher as preces ( e as oferendas monetárias) dirigidas a Nossa Senhora.
 

sábado, 17 de maio de 2008

QUANTO VALE UMA ALEGRIA?


(FOTO DE LEONARDO BRAGA PINHEIRO)


 Há dias, em Coimbra, uma senhora de meia-idade entrou numa loja de velharias e perguntou ao dono do estabelecimento se tinha postais antigos da Lousã. Como não tivesse, o vendedor de antiguidades, evidentemente que abanou a cabeça negativamente. “Que pena, vivo em Lisboa, nunca encontro postais da minha terra!”. Este vendedor de sonhos, “transmutador” de um tempo presente para um passado recente, observador e apontador de mil histórias, fazendo lembrar o escritor e poeta, épico, Victor Hugo, na sua obra “O Vendedor de Antiguidades”, sem nada que o fizesse prever, abriu um velho gavetão, retirou do seu interior um livro, composto por um conjunto de fotografias da Lousã, dos idos anos 50, do pretérito século, e ofereceu-o à senhora desconhecida.
Assim que abriu o livro, vendo aquelas fotos da encosta serrana, os caminhos em terra-batida, de uma ruralidade de um Portugal esconso e atrasado, certamente, memórias gravadas a fogo, em reminiscências de uma meninice passada, a mulher não se conteve. Os seus olhos profundos, carregados de nostalgia, desfizeram-se em mil prantos, em lágrimas de alegria. O dono da loja, pouco interessado no valor material do presente doado, o que ficou a saber é que um pequeno gesto isolado pode valer uma fortuna em consolação e alegria para quem a recebe. Quantas vezes, neste tempo individualista, em que tudo é cobrado, nos lembramos que a dar também podemos receber. A forma como esta mulher embalava as fotografias, como de um menino de colo se tratasse, foi uma boa lição para o homem da loja de recordações do passado. Ambos ganharam o dia.
Uma Imagem do nosso passado, de antanho, pode valer uma vida. Estas casas, autênticos museus-vivos e interactivos, deveriam ser mais acarinhadas pelas autarquias e pelo governo central. É graças à intuição, à preservação da memória, e ao interesse cultural dos proprietários destas pequenas lojas e vendedores de feiras de velharias, espalhadas pelo país, que muitos objectos são retirados "in extremis" do caminho da destruição das lixeiras públicas. Pegando nesta pequena história, pensemos, por um momento, no serviço público e cultural que estes comerciantes prestam ao país. É graças ao seu empenho que os nossos descendentes tomarão conhecimento de objectos arcaicos que fizeram as delícias dos nossos avós.

DIA INTERNACIONAL DOS MUSEUS


(Foto retirada do blogue "Piolho da Solum")


Acabo de receber a newsletter do jornal mais antigo de Coimbra, em funcionamento, “O Despertar". Fundado em 1917, este jornal foi recentemente adquirido por Lino Vinhal, do jornal Campeão, à família de Fausto Correia. Nesta informação electrónica, é dito que no dia 18 de Maio é comemorado o Dia Internacional dos Museus. Lembra-me também que “aproximar o público dos núcleos museológicos de Coimbra é o grande objectivo da autarquia que, nesse sentido, convida a população a visitar este fim de semana, de forma gratuita e acompanhada, estes espaços que, excepcionalmente, se vão manter abertos até à meia-noite. O Dia Internacional dos Museus é assim assinalado em Coimbra com um programa diversificado e apelativo que, segundo Mário Nunes, vereador da cultura, deve funcionar como um incentivo à cultura e como uma forma de criar novos hábitos na população”.
Ao receber este convite, ainda que indirectamente, da Câmara Municipal de Coimbra (CMC), aparentemente fico contente, ou seja, tudo indica que a autarquia está preocupada com o meu grau de iliteracia e interesse cultural e, por isso, neste dia de festa, apela para que visitemos os museus. Porém, há um senão. A cidade tem o Museu Nacional da Ciência e da Técnica Doutor Mário Silva (MCT) em coma agonizante. Desde a última exposição, há cerca de dois anos, que está encerrado ao público. Então, como entender esta ilusão festiva em forma de apelo? Não se faz festa em casa quando um nosso ente familiar está agonizante. Quando isso acontece, manda o bom senso, direccionarmos as nossas forças para a revitalização do endémico tentando salvá-lo. Ora, neste caso, a autarquia faz a festa, deita os foguetes, esquece o doente em câmara ardente, e dá como acabado que o MCT morreu. O que me admira é o vereador Mário Nunes –sendo um homem reconhecidamente de cultura, na cidade, que muito admiro, já o escrevi antes- não ter uma palavra a dizer ou uma frase escrita sobre este assunto. Que a cidade pouco se importe, mesmo arrogando-se cidade-museu, de conhecimento, e de cultura, não é novidade. Que a Assembleia Municipal se marimbe para o assunto também não admira. Que o presidente da edilidade, Carlos Encarnação, assobie para o lado, também não provoca engulhos. Que a oposição, centralizada no deputado por Coimbra e também vereador na autarquia,Victor Baptista, tenha prometido em 10 de Março deste ano, em reunião do executivo, “que levaria o assunto ao primeiro ministro e não admitiria que Coimbra perdesse este valioso museu”, e, ao que parece, até agora nada fez, também não escandaliza. O que me deixa de boca aberta é Mário Nunes, que ao longo dos últimos 25 anos tanto defendeu as nossas Alta e Baixa de Coimbra, que aos poucos se vão esboroando e desaparecendo, dando razão aos seus críticos, quanto a mim injustamente, que o apodam de “vereador dos ranchos”, escrevendo como colunista neste jornal, não se referir minimamente a esta morte anunciada. Como entender este silêncio? Quererá mostrar que, individualmente, historiadores, pessoas sensíveis, acutilantes e defensoras do nosso património, como por exemplo, Vasco Pulido Valente, Manuel Maria Carrilho, quando empossados em vestes políticas dão uns péssimos ministros da cultura? Será o caso de Mário Nunes? Será o “fato político-partidário” que lhe causa incómodo, o afoga e não lhe dá liberdade de expressão? Só ele poderá responder. Uma coisa é certa, com o seu passado de independência, de responsabilidade cultural, Coimbra esperava muito mais do cidadão Mário Nunes, bancário, trabalhador-estudante, presidente do GAAC, escritor e uma pessoa que, pelo seu passado, admiro. Enfim! Fica o homem com a sua responsabilidade moral, vai-se um museu Nacional importante para a cidade. Em suma, perdemos todos!
(CARTA ENVIADA AO DIÁRIO DE COIMBRA, PARA PUBLICAÇÂO NA COLUNA "FALA O LEITOR")

quinta-feira, 15 de maio de 2008

AI QUE PAU!!!


(Imagem retirada do blogue "Desmitos")

"O espanto de alguns visitantes numa exposição de artefactos sexuais antigos em Shenyang, China", segundo o blogue "Desmitos".
SE FOSSE CÁ, NOS TESTÍCULOS DA EUROPA, EM VEZ DE OS VISITANTES FICAREM DE BOCA ABERTA DE ESPANTO, PROVAVELMENTE, PORIAM UMA MÃO A TAPAR OS OLHOS E EXCLAMARIAM: "VEJAM LÁ ISTO! QUE POUCA OU NENHUMA SEMVERGONHICE!! FOSCA-SE, AO QUE NÓS CHEGÁMOS!!

CICUTA PARA SÓCRATES?


(Imagem retirada do blogue "Piolho da Solum")


Antes de começar a dissertar sobre o mal dos outros, e para que conste, não fumo, nem nunca estive “agarrado” a esse vício. Este facto dá alguma superior consistência moral ao que vou argumentar? Nada disso! Pessoalmente, estou a marimbar-me para quem fuma, desculpem a expressão. Normalmente, não me incomoda que mandem umas passas ao pé de mim, mas se me aborrecer, eu, sem grandes cerimónias, recrimino quem o faz. Se eu mandasse, jamais legislaria sobre a lei tabagista. Creio, para mim tenho a certeza, de que a liberdade de fumar ou não, é do foro íntimo de cada um. O Estado, numa obsessão proteccionista, de tudo controlar, não olha a meios para invadir a esfera privada de cada um de nós. Funciona como uma espécie de “papai Noel” nacional, aquele que se preocupa muito com a saúde dos seus filhos, como quem diz, com a saúde dos seus cidadãos. Mas é aparência, simplesmente aparência! E a prová-lo estão os encerramentos dos vários SAPS e urgências por todo o país. Facilmente se vê que este Estado paternalista apenas e só se preocupa com a receita que fica aquém das despesas.
Voltando ao tema inicial, que, já teriam adivinhado, tem a ver com o facto do primeiro-ministro José Sócrates ter sido apanhado a fumar a bordo de um avião a caminho da Venezuela, não deixa de ser ridículo como é que, de repente, um caso fortuito se transforma em abertura de telejornal em tudo o que é canal televisivo e crónica de jornalista, por mais experiente que seja.
Só a psicologia social explicará este comportamento mimético, de carneirada abstrusa e sem pingo de discernimento. Sócrates, pelo facto de ser primeiro-ministro, não é humano? Ora, sendo, naturalmente que não está imune a deslizes como qualquer um de nós. Esta condenação colectiva têm algo de ressabiada. É uma comunidade que não está bem. Não gosta de si própria, não se aceita, e, como tal, na primeira oportunidade aponta aos outros os seus próprios defeitos. Em vez de se apontarem armas ao “pobre” homem, dever-se-ia, pelo contrário, reivindicar que se olhasse para cada um de nós como apenas humanos errantes e pecadores. Pugnar para que quem faz cumprir a lei seja indulgente e tenha em conta que somos apenas e só pessoas. Que é o homem que faz o estatuto e não o contrário. Que por mais alto que este estatuto de classe seja, põe a nu, quase a ridículo, o “ser” homem, indefinido e pré-determinado, e não evita o “errare humanum est”. Que bem que me sinto, nestas alturas, na minha qualidade de anónimo e anódino cidadão.
Nunca gostei de puristas. Não quer dizer que às vezes, eu próprio, não tenha recaídas. Mas tento compreender os erros de cada um. Sou liberal, se é que isso quer dizer alguma coisa. Não gosto de fundamentalistas, religiosos, políticos, culturais, sociais e outros de tais. Não quer dizer, devo admiti-lo, que muitos que criticam não tenham razão e não devam fazer. Toda a crítica é construtiva, independentemente de ser ou não destrutiva. É apenas crítica. E é precisamente por o ser, que fazendo pensar o direccionado por esta, que é sempre salutar. E isto quer dizer o quê? Que quem diz que o exemplo deve vir de cima, tem toda a razão, e estou-me a lembrar de um bom livro que estou a ler, “Os Mitos da Economia Portuguesa”, de Álvaro S. Pereira, que, muito bem, lá põe os pontos nos ii. Porém, penso, os radicalismos são sempre perigosos. E, assim sendo, não vamos condenar o primeiro-ministro a ser chicoteado na praça-pública ou, como o seu homónimo, fazê-lo ingerir cicuta para evitar que cada um de nós pense por si, ou fazê-lo pagar, de uma penada, todas as nossas frustrações.

VAI UMA PASSA, "MEU"?


(Foto retirada do blogue "Ponte Europa")

Segundo o PORTUGAL DIÁRIO, "Em entrevista à Revista "Sábado", Pedro Passos Coelho afirma: "Fumei haxixe aos 16 ou 17 anos e não gostei nem do sabor nem da sensação".
Fico curioso:qual seria o sabor? E a sensação? Se calhar, por entre uma passa, imaginou-se secretário-geral do PSD. E nunca mais fumou? Ai coitado! Imagino o traumatismo.Se calhar estava estragado! Estaria? Se fosse hoje, na dúvida, chamava a ASAE.

JÁ NÃO HÁ AMORES COMO ANTIGAMENTE...


(Foto retirada do "Portugal Diário")

Segundo o PORTUGAL DIÁRIO, "a actriz Judie Foster separou-se da sua companheira, com quem esteve durante 14 anos (...)".
O Ti Jaquim "Olhos meigos", quando leu a notícia, ficou estarrecido: "Ora bolas! Eu que apostava tanto neste amor! Já não há amores como no meu tempo!"

quarta-feira, 14 de maio de 2008

TÁ-SE BEM, ZÉ...TUDO NUMA NICE!


(Foto retirada do jornal PÚBLICO)

“SÓCRATES PEDE DESCULPA POR TER FUMADO NO VOO PARA A VENEZUELA”

Que diabo, porque será que o inventor da Guilhotina foi decepado na sua própria criação? Não deveria haver uma exceptio legis para os criadores?
Que diabo! Não há respeito nenhum.
Cá, para mim, que não sou fundamentalista, estás perdoado ó Zé.

JOGOS DE PODER


(IMAGEM DA WEB)




 “MORADORA CRITICA “ALVARÁ DA INSÓNIA”, era este o título. Segundo o Diário de Coimbra de ontem, dia 13, “as queixas efectuadas por Vitália Ferreira, moradora na Rua Padre António Vieira, mesmo em frente ao bar da Associação Académica de Coimbra (AAC), levaram, em Janeiro último, a que a autarquia alterasse o horário de encerramento do estabelecimento. Na altura, a Direcção-Geral da AAC foi informada que o bar, situado no rés-do-chão do edifício sede, passaria a fechar às 02h00, ou seja, duas horas mais cedo do que inicialmente concedido”.
Depois de um ataque cerrado, sem papas na língua, da moradora, que, corajosamente só –como é apanágio deste Portugal subdesenvolvido-, deu a cara por uma causa que considera justa, e acreditando que, mais tarde ou mais cedo, justiça se fará. O presidente da autarquia, começando primeiro por admoestá-la, considerando que estava a ser ofendido, lá foi tentando justificar o injustificável, dizendo “ter despachado a decisão do horário do bar ser reduzido para as 2h00, mas teve de voltar atrás”. “A AAC contestou o teor do despacho –por vício formal, foi a expressão usada- e o gabinete jurídico entendeu que devia revogar o despacho”, esclareceu (?) Carlos Encarnação."


 Desculpe lá, ó senhor presidente, repita lá! Então o senhor exara o despacho, o demandado não concorda com o teor, contestando-o, e o senhor volta atrás? Antes de mais: o visado deveria concordar com a nota de culpa? Alguém concorda com uma perda de direitos sem contestar? Ou seja, a partir de agora o prevaricador contesta um despacho e os seus serviços jurídicos voltam atrás. Será que, como manda o bom senso, o senhor não deveria antes ouvir o queixoso? Gostava era de lhe fazer uma perguntita inocente: e se o demandado fosse um tipo ignorante, anódino e anónimo, o procedimento seria igual?
Desculpe a minha estupidez, mas eu pensava que para contestar procedimentos administrativos era preciso ir a tribunal, sobretudo depois de exarado o despacho. Engano meu, já vi! A partir de agora, qualquer despacho assinado pelo seu punho, basta protestar directamente para os serviços jurídicos da autarquia e… volta atrás. Ainda bem, senhor presidente, fico a saber!
Mas, uma coisita! Só uma coisita insignificante. O senhor presidente, antes de ontem, no executivo, deveria ter esclarecido várias pertinências, sobretudo onde residia o busílis da questão, como quem diz, o “tal vício de forma”. Mas, como se fechou em copas e não esclareceu a nossa ignorância, eu, sem mais delongas, retirando uma pontita do véu, nesse viciozito, vou interrogar. Vamos por pontos:


1-Como sabemos, o senhor e eu, a Associação Académica de Coimbra (AAC) e a firma adjudicante do bar, IN TOCHA IN HOTELARIA, Lª, intentou uma Acção Administrativa Especial no Tribunal Administrativo e Fiscal de Coimbra contra a Câmara de Coimbra, “por vício do requerimento apresentado, mais precisamente, na falta de clareza e precisão na indicação do pedido”. Naturalmente, por estar em segredo de justiça, não entrarei nos detalhes;


2-Esta impugnação surge exactamente no seguimento da denúncia de Maria Vitália dos Santos Ferreira, no Executivo Municipal, em 15 de Janeiro passado, e em que o senhor presidente prometeu diminuir o horário do bar para as 2h00;


3-Saliento que esta impugnação se deve a erro dos serviços de licenciamento da CMC na classificação de grupo, ao abrigo do Edital 199/96;


4º-Saliento, também que perante a argumentação apresentada pelas impugnantes, e sendo o senhor presidente Carlos Encarnação jurista, não percebo como pôde recuar no despacho. Sendo eu um mero aprendiz de jurisprudência, facilmente lhe digo, sem arrogância, que a contestação é facilmente desmontável. Se houver vontade, é preciso que se diga;


5º-Por isso não entendo para que serve o Gabinete jurídico da CMC, para, perante um processo de impugnação, recuar num despacho exarado pelo presidente da CMC, sem primeiro saber a deliberação de sentença do Tribunal Administrativo e Fiscal de Coimbra. Até porque este recuo não torna a acção improcedente, a menos que vise o acordo entre as partes em litígio;


6º-Quer-me parecer, e permita-me este desabafo, que houve precipitação dos serviços jurídicos e do presidente da autarquia conimbricense. O peso institucional da impugnante, neste caso a AAC, teve um papel determinante, é verdade que é um juízo de valor meu, provavelmente injusto, admito, mas que parece, parece;


7º- Faço votos para que a contestação, por parte da CMC, a esta impugnação da AAC seja devidamente fundamentada e procedente e não prejudique os moradores da Rua Padre António Vieira. Falo em moradores, porque, embora corajosamente a D. Vitália Ferreira dê a cara, há outros que na sombra, escondidos em cobardia, rezam a Nossa Senhora de Fátima para que ela tenha sucesso. No que toca à minha pessoa, não rezo, mas apoio-a em tudo o que puder, embora saiba que é muito pouco.