sábado, 27 de fevereiro de 2010

A MENINA FRANCELINA




  Sempre que me cruzava com aquela mulher sentia-me intimidado. Ela era uma trintona linda. Relativamente alta, bem torneada, como se as suas formas fossem moldadas pelas mãos de mestre André –o oleiro lá da aldeia. Sempre de preto, daquele luto carregado que faz carpir mágoas só de olhar. Constava-se lá no lugarejo que Francelina era viúva de um soldado que fora para a guerra colonial e não voltara mais do outro lado do mar. Verdadeiramente, ninguém sabia quase nada daquela mulher-mistério. Segundo dizia o senhor Ambrósio, da venda, ela já nascera viúva. Como quem diz, que quando viera viver para o lugar, para além de uma mala de cartão, não trouxera absolutamente mais nada.
O seu rosto, de faces rosadas, nariz aquilino e uns olhos expressivos de olhar libidinoso, parecia o de uma boneca de porcelana, vinda da Alemanha Ocidental. O seu peito, de seios pequenos e seguros, fazia lembrar a modelo que serviu de inspiração ao busto da República. Para lhe dar um maior toque de enigma, durante a semana, os seus cabelos negros, cor de azeviche, como que a tapar a tentação, eram escondidos por um bordado lenço preto. Como sempre, ao Domingo, à hora da homilia, com o templo semi-cheio, era das últimas crentes a entrar. O seu passo ondulante, provocador e meloso, ecoava nas pedras frias da pequena capela. “Slap…slap…slap”, assim era o chão martelado pelos seus sapatos, como se quisessem mostrar a galhardia de transportar aquele monumento vivo. Todos os presentes estavam de pé, porque o padre Albino estava prestes a começar a missa. Perante aquele ritmado matraquear no silêncio, todos se voltavam para a porta principal. Até o senhor abade, que estava a começar a frase de boas-vindas, “Em nome do Pai, do Filho e do Espí…ri…”, ficava suspenso como se balouçasse, num abismo, entre o pecado e a virtude.
Na primeira fila de bancos, alinhados a nível e a fio-de-prumo, pelo “Manel” Sacristão, religiosamente, estavam todas as carpideiras da aldeia. Quando passava o choque inicial, nesta primeira fila, em frente ao Santo padroeiro, só se ouviam cochichos. Era preciso o senhor padre chamar a atenção para a necessidade de silêncio, já habituado ao clique do cortar na casaca do próximo pelas mulheres do soalheiro.
Os homens casados, presentes no templo, acompanhados das suas mulheres, faziam um grande esforço para, como cães esfaimados, não olharem para a diva daquele lugar recôndito. Eu estava no meio do salão. Do meu lugar privilegiado de observação, via o “Jaquim” da Cristina começar por olhar o tecto escarafunchado da capela, a seguir mirava o senhor prior, depois as pranteadeiras. Rapidamente, de soslaio, espreitava a Cristina, a esposa, e, se esta estivesse a orar de olhos postos no chão, era um deleite ver como o “Insquim” tirava as medidas, de alto a baixo, ao corpo da Francelina.
Fosse lá pelo que fosse, talvez por sorte minha, esta bela mulher veio sentar-se mesmo ao meu lado, envolvida num largo casaco comprido de lã. É certo que era o único banco que tinha apenas quatro pessoas dos cinco em limite. Talvez fosse por isso. Ou talvez não. Esta provocação ambulante, de certeza absoluta, já deveria ter notado os meus olhares faiscantes de desejo. As mulheres têm um sexto sentido para adivinharem quando são desejadas ardentemente por um homem. Bom…era certo que de homem eu tinha pouco. Era ainda adolescente. Estava então com catorze anos. Acho que tinha pouco encanto –pelo menos as garotas da minha idade quase nem olhavam para a minha cara magricela, com uma penugem a querer romper, e aquelas malditas borbulhas. Se ao menos a barba crescesse, sempre pareceria mais adulto. Mas a natureza não estava virada para me fazer a vontade. Eu fazia tudo para parecer igual ao meu pai. Quando estava sozinho em casa pegava nas suas “gilletes” e, depois de ensaboar o rosto várias vezes, rapava, rapava, até a pele ficar vermelha cor de sangue. Como se dizia que havia um remédio santo para fazer crescer os pêlos, volta e meia, lá ia à capoeira das galinhas e barrava o rosto com os dejectos dos galináceos. Mas nem assim: a minha barba era de “espera-galego”.
Eu andava desesperado. As minhas hormonas andavam em fúria. Pareciam cavalos selvagens. É certo que, em monólogo diário, na minha velha cama, em festinhas ritmadas, tentava conseguir alguma acalmia, mas qual quê? O meu corpo clamava veementemente pela carne feminina. Mas não era fácil. Eu tinha poucos encantos. Ai, de certeza, só podia ser mesmo isso. Até a Delfina, que tinha 17 anos e era uma doidivanas do “camano” –dizia-se que tinha tirado os três vinténs a todos os rapazes da minha idade-, não me passava cartão. Eu já fizera tudo para me enrolar com ela. Juro que é verdade. Ofereci-lhe um ramo de malmequeres e nada. Dei-lhe uma chouriça, que tirei do fumeiro da nossa lareira, e menos ainda. Numa daquelas noites em que o desejo não me deixava dormir, escrevi um profundo poema de amor à minha apaixonada Delfina. Pois sim! Continuou fria comigo como a pedra-mármore da pia de água-benta lá da capela.
Estava embrenhado nestes meus pensamentos, quando comecei a sentir na minha perna uma outra perna, em calor ardente que nunca sentira antes. No primeiro toque, afastei o meu membro inferior como se me tivesse queimado. Mas aquela perna sedosa, envolvida numa meia rendilhada negra, procurava desesperadamente o toque da minha. E eu deixei. Como se me abandonasse nos braços do pecado e da luxúria, fui-me deixando arrastar em pensamentos eróticos.
O casaco preto da Francelina envolvia o seu corpo e as minhas pernas escanzeladas. Sem saber o que fazer, se havia de fugir dali ou embrulhar-me cada vez mais no pecado feito gente, naquele toque de frémito, ali me tornei homem.

* Texto escrito para a Fábrica de Histórias, com o mote "Pecados e Virtudes".
   Link: http://fabricadehistorias.blogs.sapo.pt/42896.html

VER E NÃO VER





Quando me miro ao espelho,
vejo o mesmo rapaz
que jogava ao botão
na rua do volta atrás;
À minha musa encantada,
ofereço-lhe uma flor,
parece impressionada,
não lhe confesso amor;
Mas, em verdade vos digo,
já não sou esse rapaz,
inocente e tão querido,
agora, já tanto me faz;
Com o tempo me tornei,
alma seca e descrente,
nunca mais me apaixonei,
sou simplesmente gente;
Mas quando passo na rua,
e vejo alguém que reconheço,
sinto então como está a Lua,
velhinha, como eu pareço;
Mas, mentalmente, sou o tal,
aquele garoto de aldeia,
sensível e sentimental,
viajante literário de odisseia;
É tão giro e interessante
ser tudo e não ser nada,
como um mero figurante,
nesta vida, nesta estrada.

O MOMENTO DA RISOTA...




PEDIR CORAGEM AOS OUTROS É FÁCIL



 Uma vez, um prisioneiro escapou do presídio, depois de 15 anos enclausurado.
Durante a  sua fuga, ele encontrou uma casa, arrombou e entrou.
Ele deu de cara com um jovem casal que estava na cama. Então, ele arrancou o homem da cama, o amarrou numa poltrona e depois amarrou a mulher no leito.
O marido viu o bandido deitar-se sobre a mulher, beijar-lhe a nuca e logo, a seguir, levantar-se e ir ao banheiro.
Enquanto ele estava lá, o marido falou para sua mulher:
- Amor, ouça: esse homem é um prisioneiro, olhe as suas roupas! Ele provavelmente passou muito tempo na prisão e há anos que não vê uma mulher. Por isso te beijou a nuca. Se ele quiser sexo, não resista e não reclame, apenas faça o que ele mandar... dê-lhe prazer para que ele se satisfaça, se vá embora, e nos deixe vivos! Esse homem deve ser perigoso, se ele se zangar, nos mata! Seja forte, amor, eu te amo!
A mulher respondeu: - Estou feliz que você pense assim. Com toda a certeza que ele não vê uma mulher há anos, mas ele não estava beijando minha nuca. Ele estava cochichando em meu ouvido.
Ele me falou que te achou muito sexy e gostoso e perguntou se temos vaselina no banheiro.
Seja forte, amor...
Eu também te amo!

(RECEBIDO POR E-MAIL)

A COLUNA DO JORGE...



Momento de reflexão



  Ouço sempre as pessoas dizerem: “odeio política”, ou, “não ligo para a política”, como se política fosse algo totalmente separado de nosso dia-a-dia. Mas todos nós, queiramos ou não, somos políticos. Cada decisão que tomamos no dia-a-dia é uma decisão política. Quando assistimos a um filme na TV e damos o primeiro lugar de audiência a um determinado canal tornando-o forte e poderoso na “mídia” estamos a fazer política porque esse canal irá influir em toda uma forma de cultura da nossa sociedade. Quando deixamos de agir contra uma empresa de telecomunicações que presta mal e porcamente seus serviços, estamos a permitir a continuidade de uma situação que não mudará, portanto a nossa omissão está a permitir a continuidade de uma situação conservadora, de não mudança. O mesmo ocorre quando nos propomos distanciar da participação na política propriamente dita, ou seja, aqueles que votam nulo ou em branco ou em qualquer um, sem pesar prós e contras, estão a garantir a continuidade de tudo isso que aí está, um governo desmoralizado e indecente e, consequentemente, um país com fartos problemas em todas as áreas.
Um dos objectivos deste post é de nos fazer parar, por três minutos talvez, mesmo porque o dia-a-dia não nos permite muito mais do que isso, para fazermos um MOMENTO DE REFLEXÃO. E a reflexão sobre nossa posição diante da política e Portugal de hoje é das mais necessárias, é urgente. Precisamos enxergar com um olhar mais crítico e pensarmos em que sentido contribuir para mudarmos a nossa realidade. Fernando Pessoa em “O Guardador de Rebanhos” disse:

"Pensar incomoda como andar à chuva,
quando o vento cresce e parece que chove mais".


Mais adiante ele diz:


Porque eu sou do tamanho do que vejo,
e não, do tamanho de minha altura...”


Por fim Bertolt Brecht resume de maneira magistral qual é o pior tipo de analfabeto:


O Analfabeto Político


(Bertolt Brecht)


O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguer, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pelintra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.


Jorge Neves
jmfncriativo@gmail.com

UM COMENTÁRIO RECEBIDO (SOBRE...)



Jorge Neves deixou um novo comentário na sua mensagem "AUMENTO DE RENDAS? EU TAMBÉM QUERO!":





Pensar incomoda como andar à chuva.
Eu nunca guardei rebanhos,
mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
conhece o vento e o sol
e anda pela mão das Estações,
a seguir e a olhar.
Toda a paz da Natureza sem gente
vem sentar-se a meu lado.
Mas eu fico triste como um pôr de sol.
Para a nossa imaginação,
quando esfria no fundo da planície
e se sente a noite entrada,
como uma borboleta pela janela,
mas a minha tristeza é sossego,
porque é natural e justa
e é o que deve estar na alma,
quando já pensa que existe
e as mãos colhem flores sem ela dar por isso.
Como um ruído de chocalhos,
para além da curva da estrada,
os meus pensamentos são contentes.
Só tenho pena de saber que eles são contentes,
porque, se o não soubesse,
em vez de serem contentes e tristes,
seriam alegres e contentes.
Pensar incomoda como andar à chuva,
quando o vento cresce e parece que chove mais.
Não tenho ambições nem desejos,
ser poeta não é uma ambição minha
é a minha maneira de estar sozinho.
e se desejo às vezes
por imaginar, ser cordeirinho
(ou ser o rebanho todo
para andar espalhado por toda a encosta
a ser muita cousa feliz ao mesmo tempo),
é só porque sinto o que escrevo ao pôr do sol,
ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz
e corre um silêncio pela erva fora.
Quando me sento a escrever versos
ou, passeando pelos caminhos ou pelos atalhos,
escrevo versos num papel que está no meu pensamento,
sinto um cajado nas mãos
e vejo um recorte de mim
no cimo dum outeiro,
olhando para o meu rebanho e vendo as minhas idéias,
ou olhando para as minhas idéias e vendo o meu rebanho,
e sorrindo vagamente como quem não compreende o que se diz
e quer fingir que compreende.
Saúdo todos os que me lerem,
tirando-lhes o chapéu largo
quando me vêem à minha porta
mal a diligência levanta no cimo do outeiro.
Saúdo-os e desejo-lhes sol,
e chuva, quando a chuva é precisa,
e que as suas casas tenham
ao pé duma janela aberta
uma cadeira predileta
onde se sentem, lendo os meus versos.
E ao lerem os meus versos pensem
que sou qualquer cousa natural .
Por exemplo, a árvore antiga
à sombra da qual quando crianças
se sentavam com um baque, cansados de brincar,
e limpavam o suor da testa quente
com a manga do bibe riscado.


Alberto Caeiro

UM COMENTÁRIO RECEBIDO (SOBRE...)



Marco deixou um novo comentário na sua mensagem "UMA MANIFESTAÇÃO NA PRAÇA":







  Caro Luís, também vi o referido ajuntamento, e ouvi igualmente os comentários do povo (vou-me abster de os reproduzir), aquilo que observei foi: seja da função pública, dos metalúrgicos, jornalistas, do que for, as caras são sempre as mesmas. As mãos que seguram o megafone, os que distribuem folhetos, as vozes que lançam frases contestatárias, etc, são sempre as mesmas, isto já chateia. Será que ser grevista ou manifestante já é profissão? Porque a ideia que fiquei é alguns não sabiam o que lá estavam a fazer e quais as razões porque se manifestavam, era mais do género: «olha!, vai haver protesto logo á tarde, temos de ir todos! Mas é porquê? Não sei, mas vamos!»
Em conclusão, estas acções não trazem mensagem nenhuma e a frequência das mesmas enfraquece-as e tem o efeito contrário na população. Veja-se a vergonhosa greve dos motoristas dos SMTUC no natal, já nem falo nas consequências para os comerciantes e cidadãos, lembro apenas a reclamação de um subsidio para 14 meses quando trabalham apenas 11, e o aproveitamento de alguns aspirantes a políticos a formarem comissões de utentes em nome próprio com objectivos partidários.
Sabe o que lhe digo Luís, o povo está a começar a aperceber-se destas situações, e o amigo repórter comece a tirar umas fotos destas acções e compare, vai ver que apenas os folhetos e datas mudam, mais nada!
Abraço, Marco

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

AUMENTO DE RENDAS? EU TAMBÉM QUERO!





  Escreve a Carina Fonseca, no Jornal de Notícias (JN), aqui, que a Câmara de Coimbra pretende aumentar as rendas de um bairro social na Conchada.
Segundo reza o jornal, num caso específico, em que é paga uma renda de 25 euros, a autarquia pretende aumentar a mensalidade para 134 euros. Ou seja, uma subida de 436 por cento, continuando a citar o JN.
Que hoje não se deveriam admitir rendas de 25 euros, isso, penso, todos estaremos de acordo. É verdade, não é? Pois…acontece que eu tenho dois arrendamentos na Baixa, um em que recebo 5,22 euros e outro a quantia de 10,92 euros. No limite até se poderá pensar que é em prédio degradado. Nada disso, é num edifício bem conservado, segundo a classificação da autarquia, que tive acesso.
Acontece – e não me canso de o escrever, mesmo já me tornando melga- que estas inquilinas, como tendo mais de 65 anos, e pedindo eu uma nova avaliação fiscal ao edifício para actualização da matriz –o que implica, se o fizer, vir a pagar mais de IMI, Imposto Municipal sobre Imóveis, anualmente, do que as rendas que recebo.
Segundo o NRAU, Novo Regime de Arrendamento Urbano, no máximo dos máximos, depois da avaliação, estas inquilinas ficariam a pagar de renda mensal menos de 50 euros.
E aqui já surge a pergunta: porque pode a administração aumentar as rendas dos seus inquilinos desmesuradamente e os privados não podem?
Outra questão anexa a esta: as minhas inquilinas –que gostam mais de mim do que chocolate-, em filme de série B, passam a vida a correrem para o Departamento de Habitação –já lá vão 15 anos- a queixarem-se de tudo e mais alguma coisa. Ora é a instalação eléctrica, ora é a pintura de janelas. O normal é dizerem que chove lá como na rua. Quando, em Novembro de 2007, toda a cobertura, incluindo caleiras e ravessas, foi revista. Mais: em toda a extensão do telhado foi aplicado isolamento “onduline”. Foram gastos cerca de 3000 euros.
Uma destas senhoras, para impressionar, manipular e convencer os funcionários do Departamento de Habitação, mantêm em toda a área do andar, no tecto, sacos plásticos e sobre os móveis coberturas em plástico.
Outra perguntita inocente: alguém deste departamento se preocupa em dizer às senhoras inquilinas que, tendo em conta as rendas que pagam, é imoral –e até abuso de direito- fazerem destas exigências?
Vou continuar, embora tenha dúvida se você vem comigo –se eu estivesse no seu lugar já tinha mandado este texto dar uma volta.
Escreve o jornal que o vereador com o pelouro da habitação, Francisco Queirós, que por acaso até é da CDU –lembro isto, porque os comunistas são sempre muito sensíveis na justiça social-, replica que “a actualização das rendas decorre da Lei, sendo que os moradores do bairro social da Conchada “pagarão o mesmo que qualquer outro inquilino, com renda apoiada, que tenha o mesmo rendimento”.
Outra interrogaçãozita de algibeira: preocupa-se o “camarada” Queirós com o rendimento das minhas inquilinas? E se eu disser que os seus rendimentos são superiores aos meus?
Claro que o “camarada” não responderia. Certamente, a descartar-se de mim, que sou um grande estropício, diria: “isso, para aqui, não interessa nada!”. Pois! É por isso mesmo que não me inscrevo nem voto no seu partido, camarada! Desculpe lá!
Vamos continuar –você ainda está aí? Fosca-se, vê-se mesmo que você é tolo. Desculpe lá!-, já agora vou pegar nas palavras do deputado municipal Serafim Duarte, do Bloco de Esquerda –que, por acaso, até conheço pessoalmente. Diz ele, continuando a citar o JN, que “estes casos revelam “insensibilidade social, por parte da Câmara de Coimbra, num momento de profunda crise económica e social”. Ah…ah…ah -desculpa lá ó Serafim, mas não posso evitar este meu descontrolo- esta é “muita” boa!
Uma perguntita de algibeira para o meu “camarada” bloquista: desculpa lá, ó Serafim, então e o meu caso, e tantos outros senhorios, dezenas ou centenas existentes na cidade? Para nós, para os proprietários privados, não existe um bocadinho de “insensibilidade social” por parte da Câmara? Ah…pois!, já entendi, camarada! Os pelintras como eu, que somos espoliados por inquilinos oportunistas, pertencem ao “Grande Capital”. Desculpa lá, amigo Serafim, apesar de gostar de ti, com essa filosofia de argamassa marxista-leninista, também não voto no teu partido.
Vou continuar –tenha lá paciência, mas eu sou como aqueles carrinhos de brincar antigos, enquanto tiverem corda, não param. Agora vou dirigir-me ao meu amigo –que não é, porque não tenho confiança com ele- Carlos Encarnação, presidente da Câmara de Coimbra. Então o amigo (salvo seja) promete um polidesportivo ao “povâo” se ganhasse as eleições e depois esquece-se? Conhece aquele aforismo “…a pobre não prometas?”. Pois é, não conhece, já vi. Olhe, para castigo, também não voto no seu partido…mas olhe, com muita franqueza, nenhuma organização partidária me serve. Nenhuma me inspira confiança. Embora, mesmo assim, desde a primeira eleição, sempre votei activamente –nunca votei em branco. Quer saber o que sinto, na hora, na câmara de voto? Uma profunda descrença. Um azedume, um desgosto imenso de não haver políticos à altura do país.
É um escândalo, é uma vergonha nacional, é um ultraje, o que se está a passar com a lei das rendas. Quantos prédios têm de ruir mais? Não chega, ainda?
Se eu fosse político de um qualquer partido –tenho a certeza absoluta- obrigava-o a tomar medidas de iniciativa legislativa parlamentar. Porque é que não vêem que a organização partidária que tome a iniciativa de acabar com o código de arrendamento ganha as eleições?
Não faz qualquer sentido continuar a existir um regime de arrendamento urbano. A bem do futuro das cidades, a relação bilateral entre inquilinos e senhorios deve ser reportada para a legislação geral. É do foro privado e o Estado não tem que se intrometer. Apenas deve obrigar ao contrato de arrendamento escrito, e depositada cópia na Repartição de Finanças da área. O termo e vigência deverão ficar à livre vontade das partes. Deve-se acabar, com urgência, com o "ilegal" -só é legal pela cobertura de uma lei absurda- e inconstitucional direito de transmissão do contrato para ascendentes e descendentes.
No caso das rendas antigas, deveria ser dado um prazo de cinco anos para actualização dos locados, tendo em conta o grau de vetustez, localização e área.
O inquilino não paga a renda atempadamente? Porquê o recurso para o tribunal e demorar, em média, dois anos? O excesso de garantismo dos inquilinos transformou o Regime de Arrendamento Urbano num labirinto jurídico. O resultado está aí: basta dar uma volta pelos centros históricos das cidades. Uma pouca-vergonha! Os políticos que nos governaram nos últimos 35 anos deveriam, todos, sem excepção, serem julgados, pela vergonhosa omissão, por atentado material ao Estado.
Em caso de incumprimento entre as partes, deveria ser a PSP a encarrega-se de resolver o contrato na hora e apenas com recurso para um tribunal arbitral. É difícil de perceber isto? Pelos vistos, deve ser…

UMA MANIFESTAÇÃO NA PRAÇA



  O repórter do blogue, sempre em serviço nas ruas -quando calha, obviamente- não deixa passar nada. É certo que é um bocado estrábico e só vê o que não deve, mas às vezes, até se consegue aperceber de uma manifestação. Quando viu tanta gente, em magote, em frente à Igreja de Santa Cruz, em pensamento, diz para si mesmo, queres ver que a menina Isilda Pegado, da Plataforma Cidadania e Casamento, anda por aqui? Empurrão para aqui, toque no ombro para acolá, da menina nem um olhar ou um cheirinho do seu perfume. Lá chegou então à conclusão que era uma manifestação da função pública. Pergunta então o repórter a um contestatário: desculpe, amigo, esta manifestação é contra quê? Ou a favor de quê?
Responde o manifestante, rapidamente: "É contra o Sócrates...e não há ninguém a favor!".
Pensou o repórter para si -trazendo à memória o Vasco Santana, no filme o "Pátio das Cantigas"- "comprendi-te"..."comprendi" perfeitamente..."...

UMA FOTO...ENGANADORA...


EM MANIFESTAÇÃO DA FUNÇÃO PÚBLICA, HOJE, NA PRAÇA 8 DE MAIO, OS MANIFESTANTES DE CABEÇA PERDIDA PELO CHÃO DAS PEDRAS DA CALÇADA...

UMA IMAGEM...POR ACASO...


(SÓCRATES A FAZER O PINO NA PRAÇA 8 DE MAIO, HOJE)

UMA FOTO...POR ACASO...


 Mau gosto ou vanguardismo na paisagem urbana? Por muito que argumentemos em defesa de qualquer uma destas premissas, nunca chegaremos a uma unanimidade. Tal como a arte, que sendo uma manifestação que "toca" os nossos sentidos, também esta loja, com a sua cor se salienta na paisagem da Rua da Sofia...

UMA IMAGEM...AO ACASO...



  Coimbra, por actos de predisgitação que nunca ninguém entendeu, é, sem dúvida nenhuma, a capital da magia.
 A Luís de Matos, enquanto mágico e criador de ilusões, muito se deve na divulgação da arte. A urbe, enquanto terra madrasta para quem se salienta no seu mapa cinzento e nublado, tal como fez com outros artistas, também a ele o "obrigou" a procurar outras paragens com ventos de feição. Está desenvolver a sua obra em Ansião, onde construiu um mega-empreendimento ligado à magia e ao showbusiness.
 Mas o seu a seu dono, não foi ele que, como Houdini, transformou uma loja de ferragens em pronto-a-vestir...

UMA FOTO...POR ACASO...



  Nas despedidas de um Fevereiro castigador pelas intempéries, a Dona Natália Ferreira, sem desistir, continua acreditar que amanhã virá um dia melhor. "Isto é só mesmo por carolice, senhor. Não dá sequer para a despesa, quanto mais para o esforço...", confidencia-me por entre um meio sorriso de quem sofreu muito para agarrar as oportunidades da vida, e, que agora, como  folha seca que se pontapeia ao vento, desaparecem por entre os dedos...

VOCÊ JÁ ABORTOU HOJE?

(FOTO DE LEONARDO BRAGA PINHEIRO)

Esta notícia do Jornal de Notícias deve fazer-nos pensar. Para onde caminha a velha Europa, com políticas facilitistas que não têm em conta o futuro? Valerá tudo em nome da liberdade individual? Não precisa de responder...

UMA PARAGEM PARA SORRIR...




Programa radiofónico em Minas GERAIS



Locutor:- Quem ligar agora e fizer uma frase com uma palavra que não exista no dicionário ganha duas entradas para o cinema. Alô! Quem é?

Ouvinte: - Sérgio, da Vila Rezende.
Locutor: - Olá Sergio... Já conhece a brincadeira? Qual a sua palavra?
Ouvinte:- Ah! A palavra é vaice!
Locutor: - Vaice? Como se escreve?
Ouvinte: - V - A - I - C - E.
Locutor: - Espera um pouco... Deixa eu consultar o dicionário... É, realmente esta palavra não existe. Agora faça uma frase com essa palavra e, se a frase fizer sentido e descobrirmos o que significa a palavra, você ganha!
Ouvinte: - Ok, lá vai.... Vaice fuder !
E nesse momento desliga a ligação.
Locutor: - Que é isso pessoal! Vamos colaborar... Afinal existem crianças... ouvindo... Vamos tentar outra ligação. Alô ! Quem é?
Ouvinte: - Joselito, da Santa Terezinha.
Locutor: - Olá Joselito... já conhece a brincadeira? Qual é a sua palavra?
Ouvinte: - Eudi!
Locutor: - Eudi? Como se escreve?
Ouvinte: - E - U - D - I.
O Locutor pede para o ouvinte esperar um pouco.
Locutor: - Deixa eu consultar o dicionário... Deixa eu ver... Deixa eu ver... Eudesmano... Eudesmol... eudésmia... Eudiapneustia... eudiapnêustico. É! Realmente esta palavra não existe. Agora faça uma frase com essa palavra e, se a frase fizer sentido e descobrirmos o que significa a palavra, você ganha!
Ouvinte: - Ok, lá vai... Sou EUDI novo e VAICE fuder!
Locutor: - Pô, galera. Assim fica difícil, né? Vamos pro intervalo!!


Passa-se o intervalo...


Locutor: - Vamos lá, galera. Vamos de novo. Quem fala?
Ouvinte (com voz de criança): - José de Jaboatão
Locutor: - Oi José. Que bonitinho! Quantos anos você tem?
Ouvinte: - 10 anos.
Locutor: - Que legal! Então. Qual a palavra?
Ouvinte: - CÔTRA.
Locutor: - É... Côtra não existe mesmo. Manda a frase!
Ouvinte: - EUDI novo, CÔTRA voz. Vaice fuder.

(RECEBIDO POR E-MAIL)

TEMPERAR A IRA COM DOSES DE ESFORÇO





VERDADEIROS AMIGOS





 Era uma vez um rapazinho que tinha um temperamento muito explosivo.
Um dia, o pai deu-lhe um saco cheio de pregos e uma tábua de madeira.
Disse-lhe que martelasse um prego na tábua cada vez que perdesse
a paciência com alguém.
No primeiro dia o rapaz pregou 37 pregos na tábua. Já nos dias seguintes,
enquanto ia aprendendo a controlar a ira, o número de pregos martelados por dia foram diminuindo gradualmente.
Ele foi descobrindo que dava menos trabalho controlar a ira do que ter que ir todos os dias pregar vários pregos na tábua...
Finalmente chegou o dia em que não perdeu a paciência uma vez que fosse.
Falou com o pai sobre seu sucesso e sobre como se sentia melhor por não explodir com os outros.
O pai sugeriu-lhe que retirasse todos os pregos da tábua e que lha trouxesse.
O rapaz trouxe então a tábua, já sem os pregos, e entregou-a ao pai. Este disse-lhe:
- Estás de parabéns, filho! Mas repara nos buracos que os pregos deixaram na tábua. Nunca mais ela será como antes. Quando falas enquanto estas com raiva, as tuas palavras deixam marcas como essas. Podes enfiar uma faca em alguém e depois retira-la, mas não importa quantas vezes peças desculpas, a cicatriz ainda continuará lá. Uma agressão verbal é tão violenta como uma agressão física. Amigos são jóias raras, cada vez mais raras. Eles fazem-te sorrir e encorajam-te a alcançar o sucesso. Eles emprestam-te o ombro,
compartilham os teus momentos de alegria, e têm sempre o coração aberto para ti.

(RECEBIDO POR E-MAIL)

TRAGÉDIA NA MADEIRA: UM DESASTRE ANUNCIADO




*VER AQUI A NOTÍCIA DO EXPRESSO

A COLUNA DO JORGE...



Para avivar a memória a quem, por norma, não anota!!!







  Um dos motivos porque o Governo se tornou fiador de 20 mil milhões de euros de transacções intra-bancárias?
Os de hoje vão estar como gestores da Banca amanhã, pois os de ontem, já estão por lá hoje.
Correcto? Se pensa que não, vejamos:


PARA QUE SAIBA:


Fernando Nogueira:


Antes -Ministro da Presidência, Justiça e Defesa
Agora – Presidente do BCP Angola


José de Oliveira e Costa:


Antes -Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais
Agora -Presidente do Banco Português de Negócios (BPN)


Rui Machete:


Antes – Ministro dos Assuntos Sociais
Agora – Presidente do Conselho Superior do BPN;
Presidente do Conselho Executivo da FLAD


Armando Vara:


Antes – Ministro-adjunto do Primeiro-ministro
Agora – Vice-Presidente do BCP


Paulo Teixeira Pinto:


Antes – Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros
Agora – ex-Presidente do BCP ( depois de 3 anos de 'trabalho',
Saiu com 10 milhões de indemnização! E mais 35.000 euros x 15 meses por ano até morrer...)


António Vitorino:


Antes -Ministro da Presidência e da Defesa
Agora -Vice-Presidente da PT Internacional;
Presidente da Assembleia-geral do Santander Totta – (e ainda umas 'patacas' como comentador RTP)


Celeste Cardona:


Antes – Ministra da Justiça
Agora – Vogal do CA da CGD


José Silveira Godinho:


Antes – Secretário de Estado das Finanças
Agora – Administrador do BES


João de Deus Pinheiro:


Antes – Ministro da Educação e Negócios Estrangeiros
Agora – Vogal do CA do Banco Privado Português.


Elias da Costa:


Antes – Secretário de Estado da Construção e Habitação
Agora – Vogal do CA do BES


Ferreira do Amaral:


Antes – Ministro das Obras Públicas (que entregou todas as pontes a jusante de Vila Franca de Xira à Luso ponte)
Agora – Presidente da Luso ponte, com quem se tem de renegociar o contrato.


O que é isto?
Cunha?
Gamanço?
Não, não é a América Latina,
É Portugal no seu esplendor.
...e depois até querem que se declarem as prendas de casamento e o seu valor


Jorge Neves
jmfncriativo@gmail.com

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

O VÍDEO DO DIA...

A RAIVA ESPELHADA NA IMPOTÊNCIA





Lamentavelmente começo aos poucos a criar em mim o sentimento de repúdio de ser português. Conheço, nesta particular matéria do ruído, muitos países europeus e não é nada esta vergonha.”.

  Repesco, com a devida vénia, este parágrafo de um leitor que fez o favor de comentar um texto que escrevi aqui no blogue. Pois, nem de propósito, é como me sinto. Precisamente igual. Apetece, tal como o leitor, mandar isto tudo à merda –fui menos delicado do que o amigo- e partir para não mais voltar. Que filhas de puta de leis temos nós no país que só beneficiam uma franja da sociedade?
Antes de avançar, sem me armar em intelectual, vou pegar numa citação que se aprende nas faculdades de direito –embora saiba muito pouco, posso escrever, porque andei lá-: “A jurisprudência é a ciência do justo e do injusto, partindo do conhecimento de coisas divinas e humanas”. Isto quer dizer que, no fundamento de qualquer lei, no seu “primus”, há (deveria haver) a preocupação em determinar o que é justo e injusto segundo a consciência social. Porque a norma, que juridicamente representa essa consciência, é também factor essencial para a paz. Mas, para atingir esse “maxime”, terá de ser obrigatoriamente equitativa. Se não possuir esse espírito de justeza, esse equilíbrio entre as partes, pelo contrário, desencadeia o conflito. Jamais uma lei injusta será aceite pela comunidade e alcançará uma solução justa. Será repelida –pelo menos por uma das partes- porque está inquinada à partida pelo vírus da injustiça. E, a ser assim, para que nos servem estas leis? Absolutamente para nada. Ou melhor, para gerar ódios e quezílias nos contratos bilaterais.
Hoje, praticamente não se fala no Direito Natural – é a teoria de que existe um direito ditado pela natureza das coisas, das pessoas, da realidade- este jusnaturalismo foi substituído pelo direito positivo –conjunto de regras escritas e consuetudinárias de um povo. Porém, sabendo nós que, mesmo sem qualquer lei escrita, individualmente, todos sabemos o que é justo ou injusto. Esta destrinça, esta sensação de avaliar, é imanente a todos os seres humanos. Então, em especulação, se as leis escritas visam a injustiça, beneficiando um grupo, vale mais vivermos sem elas e confiarmos na justa diferença que vive dentro de nós e no saber resolver os conflitos através da vontade das partes. Claro que isto é uma reflexão. Deveremos pugnar por melhores leis escritas e não pelo direito natural.
O problema é que hoje, por um lado, temos excesso de legislação. O Estado, como se nos considerasse irresponsáveis e pródigos, quer meter-se em tudo, mesmo até no nosso comportamento do dia-a-dia e até dentro do nosso lar. Aqui há vários exemplos, mas lembro a lei do tabaco.
Por outro lado, nessa diarreia legislativa, no que produz, produz mal e porcamente –e aqui há um facto curioso, por mais que se legisle, cada vez aumenta mais o crime-, ou seja, para além de não ter cuidado na equidade, na justeza, acaba por se liberar para o vazio, para ninguém cumprir. E não se cumpre porquê? Porque, muitas vezes, na procura de sermos pioneiros, a lei é tão injusta na aplicação dos valores da coima, que se torna, só por isso, para além de arbitrária, inexequível. Vou dar um pequeno exemplo: a Lei do Ruído quando foi promulgada em 2000, a coima mínima para singulares era de 500 euros. Por aqui já se vê como é que poderia ser aplicável.
Depois há outros casos de leis que ao longo do tempo, por não terem sido actualizadas –pelo fim político, pela captação de votos de uma determinada franja da sociedade- são um vulcão de conflitos. E mais grave: para além de lesar o Estado na cobrança de receitas, é profundamente grave para a vivência actual e futuro dos centros das cidades. Aqui refiro a lei do arrendamento (Novo RAU) –foi por causa desta iniquidade que comecei a escrever este post. Entretanto, acabei por me dispersar sem incidir verdadeiramente no tema que era meu propósito. O que se está a passar em Portugal é um escândalo. Não se diga a ninguém que somos um Estado de Direito e um país desenvolvido. Pessoalmente, porque tenho um prédio aqui na Baixa, estou a passar um processo autenticamente Kafkiano. Com rendas de 5,22 euros e 10,92 euros, estas inquilinas, com mais de 80 anos, raiando um comportamento de demência, fazem de mim gato-sapato. O problema, gravíssimo, é que se eu contar o que se passa é difícil que acreditar, tal é a inverosimilhança do assunto. Fazendo-se valer da sua idade, estas pessoas fazem-me a vida num inferno há vários anos. Com o seu ar de anciãs desprotegidas vão para a câmara municipal, constantemente, queixar-se de tudo. E o mais grave é que os serviços da autarquia, pelos vistos, não conseguem aperceber-se que estão perante megeras dementes. Estas pessoas chegam ao ponto de me insultarem gravemente. E eu, perante a sua idade, o que posso fazer? Rir-me para não me passar dos carretos. Chego a pensar que as suas provocações constantes têm o objecto de atiçar o meu lado violento. Se eu cair nisto, alguém acredita que estas pessoas, quando passam por mim –se eu estiver só- me apelidam de “garoto”, “vigarista”, “ladrão”, “filho da puta”, “cabrão”, e outros que não conto aqui. É possível acreditar nisto? É difícil, eu sei. Mas é o que se passa. E como é que me livro disto? Não livro, é claro. Embora agnóstico, acredito que se Deus quiser, um dia destes há-de fazer justiça –é para rir, claro. Tendo em conta que são de muita idade, um dia morrerão…sei lá!...se calhar não! Ou então, quando isso acontecer, vão os corpos, mas os seus espíritos voltarão cá para me azucrinar. Já conto com isso!
Uma delas, em 1998, por difamações como estas e uma agressão, foi demandada por mim em tribunal. Sabem o que aconteceu? Apareceu no julgamento com uma Bíblia e com uma sanefa noutra mão. O seu discurso verbal, perante o juiz, era de tal modo desconexo que praticamente foi considerada “interdita” mentalmente. Acabou por dar em nada. O grave é que, ao longo dos anos, este procedimento tem continuado. Fiz uma exposição ao Provedor de Justiça, mas, naturalmente, de pouco valeu.
Pode até especular-se, bom, se calhar, você (eu), certamente, faz-se de santinho e, pelo que se calcula, não é flor que se cheire. Pois pode perfeitamente retirar-se essa ilação, mas uma coisa tenho a certeza: não faço nada para merecer tal tratamento “afectuoso”. Tomara eu que me "desamparem a loja". Pois sim! Mas elas amam-me –só pode ser isso!- e não me largam nem por nada.
Tenho a certeza de que esta história daria um bom filme. Pode ser que ainda a venha a transcrever para um livro. Nunca se sabe. E tudo porquê? Porque a lei, a tal lei iníqua de que falava em cima, apenas concede direitos a estas pessoas e nenhumas obrigações. Os senhorios, como eu, que tiveram azar em lhes cair em sorte, estão tramados. É uma questão de controlo e resistência, mas não é fácil. Só quem vive este drama pode compreender. Não é fácil…e eu que o diga…

RETRATAÇÃO







 Este pedido de desculpas é para todos. É para o Marco D’Almeida, para a Soraia Chaves –eu preferia apresentar-lhe pessoalmente, mas como não vai ser possível- e para ti António Pedro Vasconcelos. Ó pá, desculpa lá dirigir-me a ti. Não me conheces, não te conheço, mas se não fizesse isto não ficaria em paz com a minha consciência –sabes como é, como os pecados já são tantos, temos, pelo menos, de expurgar as minudências. Tu, sendo cineasta, naturalmente que estás obrigado, pela profissão, a seres bom observador, sabes bem ao que me refiro.
Bom, mas vamos lá ao que me trouxe aqui. Vou começar por contar-te que gosto muito de cinema –dessa tua nobre arte que, estoicamente neste país quase insignificante e triste, teimas em abraçar- e, como tal, quase sempre, todos os fins-de-semana vejo um filme no multiplex –acabaram com o cinema independente, mas isso é outra história.
Raramente vejo películas portuguesas. Salvo rara excepção, são uma grande “seca”. Fazem-me lembrar os filmes franceses. A ressalva irá para “O Crime do Padre Amaro” e “Call Girls”, este também da tua responsabilidade na realização, António.
Acontece que, aos poucos, fui criando um “a priori”, um preconceito, contra os filmes produzidos cá no rectângulo, embora o último que vi –e tirando os que enunciei em cima- “Aquele querido mês de Agosto”, se não me encheu as medidas, deixou-me, pelo menos com alguma esperança no futuro. Achei que, naquele modo de filmar, em câmara livre, poderíamos estar no bom caminho.
Então, já desde de Janeiro, quando estreaste “A Bela e o Paparazzo”, que andava a evitar ir ver o teu filme. Pensava cá para comigo que seria mais um aborrecimento. Então, enquanto houveram outros filmes estrangeiros para eu ver, fui colocando o teu no “prego” –não sei se estás ver, assim pendurado à espera de vez. Embora mentalmente tinha-o colocado no “índex”.
Ora, neste fim de semana passado, dentro do tipo de filmes que gosto, não havia nada, porque, a maioria dos que estão em cartaz, já os tinha visionado, fui então, quase empurrado, pela falta de escolha, ver o teu trabalho. Pois amigo António –desculpa lá a afinidade!- fiquei “banzado”! Fiquei sem palavras, simplesmente. Desde o desempenho dos actores –e atrizes-, passando pela história e pela música do Jorge Palma, ó pá!, é de uma leveza que só quem o vai ver pode apreciar. Gostei mesmo muito, pá!
Então, pensei cá com os meus botões, ó caramelo, deves uma desculpa ao António Pedro Vasconcelos. E é isso mesmo que estou a fazer. Desculpa lá o meu preconceito –prometo ter mais cuidado na próxima- e recebe um grande abraço de parabéns. Obrigado, sinceramente, pelo teu trabalho.


P.S.-quando estiveres com a Soraia dá-lhe um abraço. Preferia ser eu…bom, mas nessa impossibilidade, dá lá tu…sortudo!

UM POEMA DE CARLOS DRUMOND DE ANDRADE




Poema erótico de Drummond de Andrade



  Satânico é meu pensamento a teu respeito, e ardente é o meu desejo
de apertar-te em minha mão, numa sede de vingança incontestável pelo que me fizeste ontem.
A noite era quente e calma e eu estava em minha cama, quando, sorrateiramente, te aproximaste.
Encostaste o teu corpo sem roupa no meu corpo nu, sem o mínimo pudor!
Percebendo minha aparente indiferença, aconchegaste-te a mim e mordeste-me sem escrúpulos.
Até nos mais íntimos lugares. Eu adormeci.
Hoje quando acordei, procurei-te numa ânsia ardente, mas em vão.
Deixaste no meu corpo e no lençol provas irrefutáveis do que entre nós ocorreu durante a noite.
Esta noite recolho-me mais cedo, para na mesma cama te esperar.
Quando chegares, quero te agarrar com avidez e força.
Quero te apertar com todas as forças de minhas mãos.
Só descansarei quando vir sair o sangue quente do teu corpo.
Só assim, livrar-me-ei de ti, mosquito Filho da Puta!

SÓ PODE DAR VONTADE DE RIR (MENOS PARA O VISADO)


Multado no Porto, pela PSP, por se assoar enquanto conduzia. Cada um faça o seu próprio juízo de valor...

A COLUNA DO JORGE...



Parecenças com a Grécia



Exercícios filosóficos:


Sokrátes buscava o Conhecimento. O seu método para alcançá-lo era o diálogo e a humildade de formular todas as perguntas.


Sócrates prefere o Desconhecimento. O seu método para alcançá-lo é o monólogo e a arrogância de calar todas as perguntas.


Um pensamento de Sokrátes, quatro características deve ter um juiz: ouvir cortesmente, responder sabiamente, ponderar prudentemente e decidir imparcialmente.


Um pensamento de Sócrates, quatro características deve ter um juiz: não ouvir escutas, responder obedientemente, ponderar nos riscos que corre e decidir se quer continuar a ter emprego.


Sokrátes provocou uma ruptura sem precedentes na Filosofia grega.
Sócrates provocou uma ruptura sem precedentes na Auto-Estima portuguesa.


Sokrátes tinha um lema: Só sei que nada sei.
Sócrates tem um lema: Eu é que sei.


Sokrátes auto-intitulava-se "um homem pacífico"
Sócrates auto-intitula-se "um animal feroz".


Sokrátes foi condenado à cicuta.
Sócrates foi condenado pelas escutas.


Sokrátes deixou-nos incontáveis dádivas.
Sócrates deixa-nos incontáveis dívidas.


ADENDA / CONTRIBUTOS:


Sōkrátēs usava uma longa barba atestando a sua honra.
Sócrates bem pode começar a pensar em “pôr as barbas de molho”.


O tempo de Sōkrátēs é o da sua grande Atenas.
Sócrates detesta o tempo de Antena dos outros.


Sōkrátēs fez a gosto a sua Escola.
Sócrates fez a sua escola em Agosto.


Jorge Neves
jmfncriativo@gmail.com

UM COMENTÁRIO RECEBIDO (SOBRE...)



Anónimo deixou um novo comentário na sua mensagem "A FARSA DE DONA VITÁLIA":





 A peça está escrita com o rigor dos factos , pondo a nu as fragilidades em concreto da nossa justiça e em abstracto do nosso país, que nesta matéria do ruído urbano é mais que terceiro-mundista.
A senhora está cheia de razão e ninguém deve ser obrigado a ver cerceado ou limitado o seu direito fundamental ao sossego e repouso, principalmente a horas em que a lei considera tal absolutamente proibido, por alguém que se acha no direito de poluir e a poluição sonora é crime, art. 279, al. c) do Código Penal, e tão mais grave que qualquer outra.
Sabe porque é que a senhora alegadamente difamou? Porque no exercício do direito de legítima defesa, ou melhor de auto-defesa, vendo-se abandonada pelas autoridades com competência na matéria, recorreu ao único meio disponível aos oprimidos; a força da palavra.
Sabe amigo, também eu, e provavelmente todos os cidadãos de princípios e valores de respeito pelo próximo, sinto o mesmo problema; vivo junto a uma associação desportiva cujo mérito não questiono, antes pelo contrário e já tive o cuidado de o comunicar aos próprios, porém aos sábados e domingos, quando as pessoas querem descansar, muitas vezes antes das oito horas da manhã, colocam a música na instalação sonora num volume tão alto que ninguém, a quilómetros de distância, consegue dormir ou estudar.
Já questionei a Câmara para saber se a referida associação tem legitimidade para tal, por ter requerido a emissão de licença, e a resposta foi de que não houve qualquer pedido de licença, mas quanto a fiscalização nada, absolutamente nada. Todos os fins-de-semana o problema é igual.
Inércia total dos poderes públicos (já parece a sua cruzada contra o estado do prédio abandonado próximo do seu estabelecimento!). Neste país o que interessa é não mexer na porcaria porque em tempo de eleições, os eleitos vão necessitar do voto de todas as moscas, para fazerem mais m....( desculpe-me o lamento mas por educação não escrevo a palavra adequada).
Relativamente às motas; já alguém se questionou sobre os malefícios para a saúde física e psíquica do ruído emitido pelos escapes, ainda por cima adulterados, das motas?
Sabe porquê? Porque as autoridades policiais preocupam-se mais em autuar o Sr.º Luís ou outro comerciante que na Baixa descarrega em poucos minutos mercadoria para o seu estabelecimento, do que mandar parar para medir o volume de ruído das milhares de motas que circulam na cidade.
Sabe amigo, assistimos lamentavelmente a uma inversão total de valores; sou mais novo que o senhor, mas na minha geração, mais ainda na anterior, o respeito pelo próximo, a educação, a solidariedade, etc, eram valores e princípios orientadores de vida essenciais. Agora é a selvajaria total.
Em suma porque já vou, abusadoramente longo, e era isso que deveria ser frisado pelo seu defensor no julgamento; a senhora só alegadamente difamou, porque quem tem o dever de a defender (Câmara que emite a licença ao poluidor e não controla os termos do exercício dos direitos que a mesma confere, a policia que é chamada e não resolve, por falta de meios, por inércia habitual, ou por conluio com os infractores, etc.) não o faz, ou seja, não a defende e não o fará no futuro, pelas razões que acima enunciei; os poderes políticos existem para bajular e angariar simpatia dos particulares e não para, defendendo os particulares, manterem um verdadeiro estado de direito e uma sã cidadania.
Lamentavelmente começo aos poucos a criar em mim o sentimento de repúdio de ser português. Conheço, nesta particular matéria do ruído, muitos países europeus e não é nada esta vergonha.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

O VÍDEO DO DIA...





BAILEM, HOMENS E MULHERES DE BOA VONTADE, QUE ESTA CANÇÃO É SUBLIME...

A FARSA DE DONA VITÁLIA





                                   I
  Está a decorrer na cidade uma importante peça de teatro. Trata-se de uma narrativa trágico-cómica que conta a luta de uma septuagenária, de nome Vitália Ferreira, em pugnar pelos seus direitos. Segundo parece, foi escrita em cascata. À medida que os acontecimentos afloravam assim era passada ao papel.
De certo modo, como quase sempre, é nefasta para a mártir, mas, no seguimento da acção, vamo-nos apercebendo que se trata de uma farsa que nos deveria fazer pensar. Embora seja actual, é um pouco na linha vicentina do século XVI, em que toda a trama gira à volta da personagem principal, Vitália Ferreira, que nunca sai de cena.
Está dividida em quatro actos. Na primeira parte, podemos ver a anciã a reclamar contra o barulho de um bar em frente à sua casa. Tudo começa em 2006, quando este estabelecimento de hotelaria se instala dentro de uma grande associação de estudantes. Podemos avaliar a sua performance na convicção e na força dispendida ao longo da peça. Vemo-la de auscultador de telefone no ouvido, às 5 horas da manhã a ligar para a PSP. Do outro lado da linha, pelo tratamento afectuoso, podemos constatar que a dona Vitália já teria utilizado muitas vezes o serviço de auxílio e é já conhecida ali naquela esquadra de polícia.
Seguidamente, podemos vê-la, também, a escrever várias cartas a tudo o que é poder político no país: Provedor de Justiça, Presidente da Assembleia da República, Primeiro-Ministro e Presidente da República. Nestas exposições, onde pugna pelo seu legítimo direito ao descanso nocturno, faz referência a uma tal “Lei do Ruído”, de Novembro de 2000, e outras alterações legislativas subsequentes.
De dedo em riste, tenta ser ouvida, mas vá lá saber-se porquê, fazendo lembrar o “Sermão de Santo António aos peixes”, escrito por Padre António Vieira, ninguém a ouve. Como ninguém lhe liga, vai várias vezes ao paço, a reuniões do executivo camarário. Por este, pelo seu presidente e restantes vereadores, em enfado, no incómodo mal disfarçado, parece ser olhada com alguma comiseração, no sentido de desvalorizar os seus queixumes. Mas a velha lutadora, para desespero de quem a ouve, não desiste. Escreve para os jornais locais em grandes gemidos de dor, revoltando-se contra o facto de ninguém atender a sua lamúria.
No desenrolar deste primeiro acto pode ver-se um abaixo-assinado a correr entre os moradores da rua de Vitália Ferreira. Como em todas as peças, também nesta, há um corcunda de voz irritante, falsete, que, em riso de galhofa, exclama: “já temos noventa assinaturas para entregar na Câmara Municipal”.
Naturalmente que ao longo do desenrolar da história, aos poucos, quase sem querer, dona Vitália vai-se tornando uma estrela incandescente de resistência no opúsculo da cidade, uma velha e simples mulher do povo a lutar contra o invasor em forma de decibéis. A imprensa local e até nacional faz o resto. Embalada por um falso apoio dos seus vizinhos e de uma urbe egoísta que se está a marimbar para os problemas dos outros, descuida-se na verve, e dá entrevistas aos periódicos. Resultado: uma acção em tribunal por difamação agravada intentada pela gerência do estabelecimento visado nas suas acusações. O que irá acontecer?
Fim do primeiro acto.

                                  II

  Vem a segunda parte. O cenário é o de um tribunal. Dona Vitália, sozinha, sem nenhum subscritor do abaixo-assinado a seu lado, está ser julgada por difamação. Nega as afirmações de que vem acusada pelos autores. Passou de acusadora a acusada. É completamente esquecida a acção principal que motivou toda esta movimentação. Ou seja, a demanda por calúnia, sendo acessória na questão exequenda, obliterou completamente o nuclear da causa. O espectador mais atento facilmente se apercebe que o direito privado prevalece sobre o direito público. Este, não sendo respeitado e passando para segundo plano, para mais, sendo o pilar do Estado de Direito, traz ao de cima, inevitavelmente, a crise e o desvalor da justiça que é a suprema das virtudes. Ao longo do julgamento e sobretudo na leitura de sentença, pela juíza, ficaram patentes as dúvidas na sua culpabilidade. A ré principal desta farsa está confiante na sua absolvição, tendo em conta a sua idade e a sua condição de doente e reformada. Será que vai ser absolvida? Em fundo ouve-se uma gargalhada estridente do corcunda e uma frase prenunciadora: “há-de ser, há-de. Conta com isso!”.
Fim do segundo acto.

                                   III


 Vem a terceira parte. Apesar das dúvidas manifestadas pela magistrada na leitura de sentença, a demandada é condenada ao pagamento de mais de 1500 euros. Vitália chora e dispara em todas as direcções. Lamenta a injustiça de que está a ser alvo. À porta do tribunal promete recorrer para a Relação. Está esperançada de que a justiça será reposta. Mais uma vez se ouve uma gargalhada do corcunda.
Fim do terceiro acto.

                         IV


  Quarta e última parte. Vitália é surpreendida em sua casa pelos funcionários judiciais para executar a dívida resultante da condenação em primeira instância. Ou seja, perdeu o recurso interposto. Por entre choros sofridos e lamentos, alega não ter conhecimento do acórdão do tribunal superior. Para evitar ficar sem os seus poucos haveres, passa três cheques, sabendo à partida não ter fundos para os cobrir. Dos seus vizinhos, da sua rua, nem um abraço de solidariedade recebe.
Passados dias, num jornal diário local, pode ver-se uma foto com os autores da demanda, acompanhados do presidente da associação estudantil, a entregarem cerca de 1500 euros ao presidente de uma instituição para a infância. Mais uma gargalhada estridente do corcunda e uma exclamação: “ah…ah…praticar solidariedade à custa da miséria. Esta é boa!”.
A mulher, sozinha no palco da indiferença, chora desalmadamente. Como conseguir pagar aquela importância com uma reforma de 240 euros? Em fundo, mais uma vez, o corcunda soletra: “estavas à espera de quê? De milagres?”. Vê-se então a mártir ajoelhar-se perante uma imagem de Nossa Senhora dos Milagres.
Entretanto, já exangue de forças, a pedir auxílio, como se fosse um náufrago prestes a afogar-se, Vitália publica outro texto num diário da cidade. Outra ameaça de demanda por difamação do autor e agora acompanhado da associação estudantil. Mais uma vez, em gargalhada satírica que ecoa em todo o espaço, vem o corcunda proferir: “porque é que não a levam ao pelourinho e lhe deitam o fogo? Ao menos acabavam de vez com esta farsa!”.
E termina assim esta peça teatral que nos deveria fazer pensar a todos.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

O REMOER DA LOUCURA





  O Luís Miguel é um demente que vagueia pelas ruas da Baixa. Já escrevi muito sobre este rapaz aqui. Segundo se consta, foi Aspirante na tropa. Conta-se também, por aqui, que teve um grande acidente no qual veio a resultar numa incapacidade psico-demencial total.
Hoje escrevo este pequeno trecho porque estava a beber o meu café matinal no estabelecimento do senhor Jorge, na Rua das Padeiras. Como já é hábito, o “aspirante” –é assim que ficou conhecido aqui na Baixa- entrou e dirigiu-se ao balcão. Como já tenho visto de outras vezes, o dono da pequena pastelaria serve-lhe um café gratuitamente. Hoje, foi interessante de ver, o Luís Miguel, enquanto sorvia o líquido escuro, como se estivesse em solilóquio, a falar consigo mesmo, a remoer uma qualquer passagem que o marcou, falava sozinho. Gesticulando, apontando o indicador à cabeça, vociferava: “ai jasus! Nãa pode sher! Mi sher aspirante…tropa! Ne sher capetão…sher aspirante. Ai jasus! Ai jeasus!” -dizia estas frases entrecortadas por prolongados gemidos, quase de dor.
Enquanto eu ia bebendo o meu café, aos poucos, ia memorizando os seus gestos exasperados em forma de lamento. O que se passaria na sua mente? Alguém sabe? É evidente que não. O que é de admirar é que, como disco gravado, ele mantém algumas memórias activas. Por outro lado, e curiosamente, sabe quem lhe faz bem. Nunca é agressivo para quem o respeita. Não é interessante esta sua manifestação emocional?
O mundo das emoções continua a ser um grande enigma…

O LIXO NA CIDADE







  São 10 horas da manhã. O senhor Veiga, proprietário do pronto-a-vestir com o mesmo nome, está inconsolável: “já viu isto? É quase todas as semanas a mesma coisa. Estamos fartos de ligar para a câmara. No princípio eu limpava sempre. Agora não! Não pode ser! Isto, é gozar com a nossa cara... não pode continuar!” –enfatiza o senhor Francisco, com o rosto exasperado e a gesticular com as mãos.
“Já encontrámos um tiquet de carregamento de telemóvel, através do Multibanco, e contactámos a pessoa. Desculpou-se, disse que não voltaria a fazer o mesmo e agora, hoje, encontrámos este quadro de miséria. Fogo, o que será preciso para a autarquia começar a instaurar coimas aos infractores? Veja bem que a junta de freguesia de São Bartolomeu andou a colar junto aos contentores avisos de sensibilização. Valeu alguma coisa? Quem faz isto não merece viver aqui!”.
De facto, esta situação é incontornável. Não pode continuar. Não sou a favor de um Estado-polícia, mas quando os cidadãos não respeitam a liberdade dos vizinhos não resta outra alternativa senão a espada castigadora de Dâmocles. Claro que este comportamento continuado não é mais do que uma necessária educação que não se obteve em tempo útil, ou, também, a experiência adquirida ao longo da vida não serviu para nada.
Tudo começa na educação, não estou a escrever nada que seja novo. Já em 580 A.C., Pitágoras, o grande filósofo da antiguidade, escrevia: “eduquemos as crianças, e não será preciso castigar os homens”.
Se é assim, porque não se aposta na disciplina para a cidadania? Deixe estar, não responda…

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

A FÚRIA DOS ELEMENTOS

(FOTO DO DIÁRIO DE COIMBRA)




  Ainda não escrevi aqui nada sobre a tragédia que se abateu sobre a ilha da Madeira. De pouco valerá dizer que todos os “contenentais”, nesta hora de dor, estão ao seu lado, no entanto, sublinho a solidariedade necessária nestas alturas. Saliento o cuidado do Presidente da República e do Primeiro-Ministro em prestarem auxílio às vítimas.
Felizmente que alguns amigos que tenho na ilha, para além de um grande susto, não sofreram danos, nem pessoais nem patrimoniais, mas, para muitas famílias, para além da destruição de bens, ainda perderam familiares.
Uma lição (sempre e necessariamente) a retirar, quanto mais não seja para o futuro. Sempre que chove torrencialmente em Coimbra –como ainda hoje aconteceu- lembro logo as inundações de há três anos atrás aqui na Baixa. Pois, desde essa altura, tudo continua na mesma. Ou seja, o rio Mondego cada vez mais assoreado com areias. Nessa altura, foram prometidos mundos e fundos e, hoje, tudo continua na mesma. Somos mesmo assim. No calor da desgraça olha-se para o futuro e culpa-se o passado. Passando a calamidade, esquecemos tudo, o que lá vai e o que há-de vir. Enfim…

JARDINS SUSPENSOS NAS NOSSAS CABEÇAS

(NO EDIFÍCIO MAIS BAIXO FUNCIONOU ATÉ HÁ POUCO O SPORTING NACIONAL)

 Cerca das 16 horas de hoje, a Baixa foi fustigada por uma grande bátega de chuva misturada com granizo. Perto do local onde trabalho, o horizonte que os meus olhos alcançam daqui, de onde me encontro, vejo um prédio decrépito, a ameaçar ruína, e outro ao lado -que se pode ver pela foto- com as caleiras cheias de lixo e ervas. Aqui funcionou durante largas décadas o Sporting Nacional, fundado em 1919. Agora reparem nisto: as duas salas da antiga colectividade estão ainda repletas de memórias, fotos, taças e algum mobiliário. Pois, como está abandonado há cerca de três anos, e o telhado está a meter água, está tudo a estragar-se. Há cerca de um ano escrevi este texto no Diário de Coimbra e, consegui falar com um dos poucos sócios do clube, no sentido de se reanimar este tão importante espólio da Baixa. Ficou em falar comigo mais tarde...até hoje. Como não sei onde mora. Está tudo em águas...das chuvas.
 Mas não é só: por baixo deste salão, no rés-do-chão, está localizado um importante posto de transformação da EDP que abastece quase toda a freguesia de São Bartolomeu. Ora, imagine-se que há um curto-circuito -o que até nem é difícil de prever, tendo em conta que todo o edíficio parece um chuveiro a meter água. Além disso, não é a primeira vez. Já há cerca de dois anos, ouviu-se aqui um grande estouro e toda a zona ficou sem energia eléctrica. Será que ninguém vê o barril de pólvora que estará prestes ou na eminência de deflagrar?
 Ao ver cair toda aquela quantidade de água misturada com granizo, estava a pensar neste assunto.
 Eu não sei o que se passa, mas parece que ninguém se importa com estas questões, em que está em causa a segurança pública. O que mais me chateia -e deveras- é que, se preciso for, a administração camarária é capaz de chatear por coisas de lana caprina, sem ter em conta, muitas vezes, o estado psicológico de alguns inquilinos idosos. Como dizia aqui, há dias, a assistente Social da "Criadita dos Pobres", Ana Maria, "todos os dias vejo caras novas", referindo-se à senilidade de muitos anciãos que vivem e convivem na Baixa.
 O que quero dizer é que os nossos olhos não comem sopa. Portanto basta só ter atenção ao que se passa no Centro Histórico. Ter em conta o que é acessório e o que é principal. Sem esta destrinça não chegaremos a lado nenhum. Quem vive e trabalha aqui no centro da cidade não pode continuar a encarar os serviços camarários como inimigos, como uma entidade que só cria problemas. A bem de todos, da própria Baixa, terá de se fazer uma ponte de concórdia. O executivo, os vereadores da oposição, os fiscais da câmara -em troca de posição- terão de ser capazes de se colocarem no lugar do munícipe e, este, terá de se transcender, colocando-se no lugar do fiscalizador. Sem esta trégua, colocando o poder que cada um  se julga deter no mesmo nível, não será possível alcançar o bem comum.