"Ex-ministro das Finanças, Vítor Gaspar, nomeado director do departamento de assuntos orçamentais do FMI."
sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014
LEIA O DESPERTAR...
LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA
Esta semana deixo o textos "REFLEXÃO: O (A)TRIBUTO"; "A MULHER QUE ESTENDE A MÃO"; "O RESTAURADOR OLEX".
REFLEXÃO: O (A)TRIBUTO
Com uma verba atribuída de 52 mil euros, o executivo
camarário deliberou, nesta última segunda-feira, organizar um torneio de
futebol juvenil em homenagem a Jorge Lemos, ex-vereador e deputado municipal
pelo Partido Socialista e dirigente da Associação de Futebol de Coimbra, e
recentemente falecido.
Conheci relativamente bem
o saudoso engenheiro Lemos. Pela sua honestidade, simplicidade e alheio a
homenagens, se fosse vivo, tenho a certeza de que não aceitaria tal tributo.
Com toda a deferência pela sua grata memória, em especulação, quase apostaria
que se o pudesse fazer, na sua voz calma e assertiva, proclamaria: “estes gajos são doidos! Andam a gastar
dinheiro com iniciativas sem nexo. O que fiz eu para merecer ser venerado desta
maneira com gastos públicos em tempo de crise, quando há tantos munícipes a
passar mal? Se o partido me quer consagrar, está no seu direito e que o faça
através de verbas próprias e dos militantes. Assim, peço muita desculpa, mas
dispenso esta contribuição póstuma. Tenham mais respeito pela pessoa séria que
fui. Nunca misturei funções públicas com privadas. Nunca alinhei em festas de
elevação partidária disfarçadas.”
A MULHER QUE ESTENDE A MÃO
Nos
últimos tempos, com tendência a aumentar, tenho verificado que uns e outros nas
ruas largas, sem pejo nem recalcamento, estendem a mão à caridade com a
lengalenga repetida: “por favor, dê-me
uma moeda para comprar pão”. São pessoas na casa dos quarenta, com aspeto bem arranjado –pessoas como eu e
você, diria com algum cinismo- e ar saudável. Certamente como a maioria, olho
para eles com algum desdém e tento ignorar. Se
ao menos fossem velhinhos, maltrapilhos e esclerosados, ainda vá lá, agora
pessoas novas e saudáveis? Penso para mim, em busca da contrição e do
perdão moral de não ter comparticipado, enquanto desvio o passo. Que diabo, até parece que o ato de pedir
está transformado numa coisa corriqueira –continuo a pensar com meus
botões. Tenho saudades do tempo em que
pedir alguma coisa a alguém era uma ação farisaica que implicava vergonha, um
estigma de pobreza que mandava para o charco a alma de quem rogava. Agora não.
Como se num clarão ofuscante, por obra e graça do Divino Espírito Santo, todos
nos sentíssemos indigentes e mais iguais ao outro que passa, foi-se a vergonha
e ressalta o espírito de sobrevivência. E lá vem a ladainha: “uma moedinha para
comprar pão, por favor!”
Já por várias vezes me cruzei com ela na Rua
da Sofia e me estendeu a mão. É uma mulher baixa, anafada, de olhar triste
quando em descanso e com as maçãs do rosto rosadas. Veste com simplicidade, uma
mulher suburbana, dos arredores da cidade –penso com meus botões. À medida que
me aproximo, imagino que olhando para mim, para a minha forma de vestir, fará
cálculos sobre quanto lhe vou colocar na mão aberta. Ou talvez não dê nada,
saberá lá ela. Imagino-a a carregar a arma de arremesso verbal com a frase
repetida tantas vezes ao longo do dia. Estou à sua frente e cumprimento-a com
um olá e atiro de supetão: já há uns tempos que ando para trocar umas
impressões consigo. Posso falar? Não leva a mal? Abrindo os olhos de
admiração opera uma metamorfose: os dois pontos negros parecem iluminar-se e o rosto
abre-se como um botão de rosa. E responde: “claro
que não levo a mal!”. Atiro a primeira pergunta que vai fazer desenrolar a
meada: então diga-me, sendo você tão
nova, por qual a razão de andar aqui a pedir todos os dias?
“Porque preciso, senhor! Tenho
46 anos, vivo ali para os lados da Estação Velha, numa casa camarária. Estou
desempregada e recebo do RSI, Rendimento Social de Inserção, cerca de 180
euros. Estou a frequentar um curso de bordados. Vivo com um companheiro. Tem 63
anos mas é muito doente. Tem uma série de complicações e até varizes nas
pernas. Ele é muito meu amigo, não me obriga a vir pedir mas, como o comer
falta, lá me vai dizendo: vai até lá. Vai! E eu venho. É certo que pago só 5
euros de renda e mais 15 por uma territa que o meu homem cultiva mas o dinheiro
não chega. Sabe que tenho lá agora coelhinhos? São tão lindos! Assim pequeninos
–e exemplifica com as mãos, ao mesmo tempo que sorri como uma criança. Tenho lá também couves. Quando for daqui
vou ali ao Pingo Doce comprar uma carne e vou fazer sopa. Custa muito pedir,
acredite! Custa mesmo! Agora até já estou mais habituada. Uma pessoa adapta-se,
não é? Mas o esforço vale a pena. Tiro quase sempre à volta de 20 euros. É isto
que nos ajuda a viver. Mas custa muito, repito. Costumo ir para ali para a
porta da Igreja de Santa Cruz. O que mais me faz sentir o sofrimento é quando
vejo pessoas conhecidas. Apetece-me enterrar pelo chão abaixo. Encontro aqui na
rua gente boa e gente má. Ainda há dias passou uma mulher –você sabia que as mulheres
são muito piores do que os homens? Algumas são autênticas megeras!-, ela olhou
para mim e disse: “vá trabalhar sua vaca!”. Eu não trato mal ninguém e só dá
quem quer, mas ali passei-me completamente dos carretos. E dei-lhe o troco
merecido. Mas, felizmente, há pessoas muito boas, olhe que, ainda não passou
muito tempo, um senhor, parou, puxou da carteira e deu-me 20 euros. Uma
fortuna, senhor! Olhe que só não me atirei a ele, com um abraço, e lhe dei dois
beijos porque tive vergonha! Aparece de tudo. Muito obrigado por falar comigo,
senhor!”
O RESTAURADOR OLEX
Volta e meia, na tal síndrome de carneirada,
somos acometidos de uma vaga de indignação visando áreas concretas da nossa
vida comunitária rústica e urbana. Nesta altura do campeonato discute-se o
património material, no manter e no seu restauro. De repente, com a
possibilidade dos quadros de Miró serem vendidos passámos todos a ser
especialistas de arte.
Num outro caso que mais abaixo
falarei, o estranho nisto tudo é que mesmo os consagrados reconhecidos
especialistas e responsáveis pela manutenção patrimonial, como se tivessem
acordado de um longo sono letárgico, só agora, a reboque de uma tal opinião facebookiana, com uma vitalidade
de Viagra, derrubam tudo e todos a montante e a jusante. Ou seja, durante
vários anos, assobiando para o ar, deixaram que o tempo destruísse verdadeiros
tesouros e agora, depois de alguém ter tomado uma decisão, boa ou a melhor
possível dentro do contexto, pressionados pela onda de choque cibernética,
disparam em todas as direções e, com as suas balas de verve viperina, destroem
o situacionismo no que era, matam o que foi feito e, buscando uma Eugenia purista, como uma interrupção de
gravidez em que só verão a luz os perfeitos, evitam que, para o futuro, se
recupere a mínima obra em declínio. De aqui em diante, os responsáveis de
qualquer catedral, capelinha ou museu terão medo de restaurar seja lá o que for
e o desleixo –que sempre foi e marca a nossa forma de estar- será o caminho.
Deixarão ao abandono grandes riquezas patrimoniais e que o tempo se encarregará
de aniquilar.
Antes de continuar, primeiro vou
dar uma definição de arte. Segundo a Wikipédia, “é uma técnica ou habilidade entendida à atividade humana ligada a
manifestações de ordem estética ou comunicativa a partir da perceção, das
emoções e das ideias, com o objetivo de estimular essas instâncias
da consciência e dando um significado único e diferente para cada obra”.
Simplificando e dando a minha versão, arte poderá ser tudo, vivo ou inerte, que
pela sua forma material ou imaterial -sons, odores, paladares, postura- toque
os nossos sentidos e apele para um segundo
olhar.
A seguir, vou fazer duas
ressalvas. A primeira é que não conheço pessoalmente qualquer interveniente na
questão que vou centrar-me. A segunda, embora venda e conviva com arte há cerca
de duas décadas assumo que, pela elevada subjetividade intrínseca e por ser um
mundo tão vasto de conhecimento, pela minha incomensurável ignorância, admito,
com humildade, perceber pouco do métier.
Se me for pedida opinião, será sempre a minha, e dividir-se-á entre o “conheço o autor”, “não conheço” e “gosto” e
“não gosto”.
E agora sim, vou então focar o assunto
que intoxica a opinião pública nas redes sociais: o restauro das imagens sacras
no Santuário de Nossa Senhora das Preces, em Oliveira do Hospital. Vamos
começar pelo restauro, feito em 2007, das 13 imagens que compõem a Ceia de
Cristo, em Aldeia das Dez, sobre responsabilidade de Miguel Vieira Duque e por
alunos da Universidade Sénior de Coimbra. Citando o Diário de Coimbra, “O Secretariado Nacional dos bens Culturais
da Igreja, serviço tutelado pela Conferência Episcopal Portuguesa, considerou o
restauro de 13 esculturas do Santuário da Nossa Senhora das Preces, em Oliveira
do Hospital, como “criminoso, danoso e prejudicial”. (…) Não estamos a falar de
objetos musealizados, mas de obras de arte sacra afetas ao culto que foram
tratadas como bonecos e não como objetos de arte sacra como deveria ser. (…)
nos inúmeros casos em que tal sucede, o que antes de mais se observa é o
completo desrespeito pela obra de arte, neste caso sujeita a gostos pessoais de
quem é responsável por estas intervenções”. Chegados aqui, talvez aqui dê
para perguntar se “criminoso, danoso e
prejudicial” não serão os factos de, por um lado, deixar passar meia dúzia
de anos até à classificação desta tarefa e, por outro, mandar para o charco um
homem, que goste-se ou não do resultado fez o seu trabalho, e uma escola de
séniores que, concorde-se ou não, estão a tentar serem úteis à sociedade,
depois de já terem dado a sua parte, e renegarem o sofá. Como se fosse pouco,
veio o insuspeitável Jornal de Notícias publicar em parangonas que o desventurado Miguel Duque (ainda bem que
não é Vasconcelos) já andou a vender cachorros numa roulotte. É caso para perguntar se este trabalho envergonha alguém.
Veio também a terreiro a Associação Profissional de conservadores Restauradores
de Portugal afirmar que “no panorama
atual, assiste-se à proliferação de cursos e ações de formação ministrados, por
vezes, por formadores que não possuem a formação académica exigida”. Pode
interrogar-se se os frescos da Santa Ceia, na Capela Sistina do Vaticano,
pintados por Leonardo da Vinci, Miguel Ângelo, Rafael, Botticelli e outros, em
finais do século XV, também teriam a “formação
académica exigida”?
Creio que o nosso maior problema
é o excedente de especialistas. Estamos cheios deles! Não haverá um especialista-mor
que ponha tento, bom senso, nestas ilustres cabeças pensantes?
BOM DIA, PESSOAL....
BALADA PARA UMA AUSÊNCIA SENTIDA
Depois de tantos
anos a teu lado,
atiraste o meu amor p’la borda fora,
esqueceste que naveguei no teu corpo,
deixaste-me sozinho e foste embora;
Quiseste ajustar contas comigo,
olvidando toda e qualquer razão,
um dia talvez olhes ao que digo,
mas nessa altura é tarde p’ro perdão;
Tu foste a minha mais linda história
que alguma vez me hei-de recordar,
vais estar sempre gravada na memória
e até à tumba vai-me acompanhar;
Lamento tanta
batalha perdida
em guerra surda sem um
vencedor,
fomos ambos peões nesta vida
em busca de um impossível amor;
Sempre que
olhar a sombra da Lua
numa qualquer noite de luar,
sei que vou ver uma imagem tua,
projectada, com o dedo a me apontar.
quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014
EDITORIAL: A LEI-FREIO CONTRA O PROTESTO
A semana passada um cidadão da Baixa de
Coimbra recebeu uma comunicação de “Serviço de Polícia Municipal” (PM) a
apresentar-lhe a pagamento uma infracção de trânsito por estacionamento indevido
no valor de 19,95 euros. Segundo declarações do citado, “dirigi-me à sede da Polícia Municipal para liquidar a verba indicada.
Apresentei para pagamento uma nota de dez, uma moeda de dois, duas moedas de um
euro e várias peças soltas para fazer o restante. Não aceitaram. Foi
argumentado que só recebiam notas e que a única solução era eu ir ao banco
trocar. Ainda invoquei o facto de, sendo pobre e
estar desempregado, de não ter mais do que levava, certinho, para pagar mas não
me ouviram. Era assim e mais nada! Apresentei uma reclamação escrita no livro”.
Depois de escrever o
texto no blogue, solicitei à Polícia Municipal um esclarecimento sobre este
procedimento. Por ordem do senhor Comandante Celso Marques –a quem agradeço a
gentileza- foi-me remetida a informação fundamentada, justificando o
procedimento do agente, e substantivada na lei. No caso, trata-se do artigo 7.º,
ponto 2, do Decreto-lei nº 246/2007, de 26 de Junho, que transcreve o seguinte:
“Com
excepção do Estado, através das Caixas do Tesouro, do Banco de Portugal e das
instituições de crédito cuja actividade consiste em receber depósitos junto do
público, ninguém é obrigado a aceitar, num único pagamento, mais de 50
moedas correntes.”
Gosto das coisas bem esclarecidas. Voltei a ir falar com o cidadão
reclamante. Afinal eram ou não mais de 50 moedas? Perguntei. Respondeu assim: “juntamente
com uma nota de 10 euros, levei um saco com moedas –não as contei, mas deveriam
ser à volta de umas setenta ou oitenta, foram as que consegui juntar para pagar
a multa- e apresentei-me na sede da PM, na Avenida Sá da Bandeira. A agente que
me atendeu, logo que coloquei o saco com as moedas em cima do balcão, disse que
não era obrigada a receber tanta moeda. Perguntou se eu queria a cópia do
Decreto-lei onde se sustentava que não era obrigada a receber nesta forma de
pagamento. Levou o saco para dentro e foi mostrá-lo a alguém –presumo que ao
chefe. Voltou e tornou a entregar-me sem falar no limite de 50 moedas. Disse-me
que eu teria de ir ao banco trocar por notas. Acontece que eu não tinha mais
dinheiro. Aliás foi com a ajuda de amigos que consegui juntar aquele dinheiro.
Acho que não fui bem esclarecido.”
Depois destes três passos, ouvir o munícipe, ouvir a entidade visada e escrever,
podemos fazer um exercício de análise metodológica. Ora lendo as declarações
das partes, partindo da tese (do cidadão) passando à antitese (da
PM) chegamos à conclusão (que será sempre a nossa). Começamos logo por
tropeçar na legislação instrumental –que, a começar por mim, se calhar, todos
desconhecíamos. Como é óbvio, trata-se de uma lei-garrote, uma
cláusula-barreira que visa suster a prática de, como meio de revolta e
protesto, levar cidadãos a empregar moedas de baixo valor fiduciário como meios
de pagamento. Está certo? Está errado? Esta resposta dependerá sempre da observação,
independente ou não, de cada um. Uma ilação se extrai: cada vez mais a lei, que
deveria ser geral -no sentido de aleatória-, está transformada em específica e direccionada casos concretos. Quem sabe de Direito –não é meu caso, faço parte dos ignorantes- tem
noção que as malhas da rede da lei devem ter acopladas uma ambiguidade
entre o não ser demasiadamente alargadas, para que não passe tudo, e o absurdo
do restritivo que, quando são muito apertadas, implicam o cercear de direitos,
liberdades e garantias legalmente constituídos. Quando os buracos da malha são
tão estreitos que nada passa, estamos num Estado policial, onde o justicialismo
tecnocrático impera e o constitucional direito à indignação é ferido na sua
liberdade. O cidadão perde a sua natural flexibilização entre a prevaricação e o
cumprimento e transforma-se em coisa robotizada nascido para não sair da rota
formatada.
Porque vejamos, dizia Cícero, menos de um século antes do nascimento de
Cristo, que a Lei é a suprema das virtudes na res publica, na sua boa-fé
entre o legislador, o juiz aplicador e o povo que a recebe e entende como
instrumento de paz, enquanto saneador de conflitos, e de conciliação na sua
aceitação de justeza. Ou seja, como num contrato de negócio público, todas as
partes envolvidas têm de estar de coração aberto na intenção de, no cumprimento
da justiça, lesar o menos possível os interesses de cada um –estas teorias filosóficas
viriam a radicar no Contrato Social defendido por Maquiavel, Hobbes e
Rosseau, nos séculos XVII/XVIII.
Depois deste palavreado para boi dormir, facilmente se chega à
conclusão de que estamos perante uma norma abusiva, intrusiva da cidadania, cerceadora da autonomia, descredibilizadora da moeda enquanto instrumento de troca. O entendermos que
com este decreto se pretende atingir um fim lícito, no sentido de que é
legalmente imposto pela sua força coerciva, por se tratar de uma lei aberrante não
leva à aceitação pública e de que, tendo em mente um objectivo localizado, se
podem calcar os mais elementares princípios comunitários de aceitação geral.
Em jeito de conclusão, se, por um lado, do ponto de vista legal a
agente da PM facilmente se escuda na lei e, mesmo que esta seja disparatada, nada
haverá a apontar-lhe. Por outro, no lado ético-moral, enquanto servidora do
cidadão, no mínimo, penso que deve explicar sem fadiga e ser o mais clara possível na
aplicação das normas.
quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014
UM COMENTÁRIO RECEBIDO SOBRE...
Marco deixou um novo comentário
na sua mensagem "EDITORIAL: O (A)TRIBUTO":
Não conhecia o senhor Jorge Lemos mas estou de acordo consigo, Luís. Acho que o desporto e o associativismo regional podem e devem ser ajudados, mas penso que até os pais dos atletas que vão homenagear com o referido torneio o senhor Lemos iriam ficar satisfeitos se estes milhares de euros fossem destinados às equipas de rua que ajudam os mais necessitados da nossa cidade. Para quantas refeições quentes dariam estes 52 mil euros? Quantos cobertores e agasalhos para estas noites de rigoroso inverno se poderiam comprar? Acho que qualquer pessoa se indigna com estes gastos desnecessários. Poder-se-ia homenagear o falecido de outra forma e mais económica. E também, por outro lado, ajudar aqueles que perdem noites para ajudar -passe a redundância- os mais carenciados, conforme se pode comprovar pelos inúmeros textos já publicados por si aqui no “Questões”.
Abraço.
Marco
BOM DIA, PESSOAL...
EM HOMENAGEM A PACO DE LUCIA
Para quem não souber, este agora desaparecido brioso da guitarra clássica, Paco de Lucia era filho de uma portuguesa de seu nome Lucia Gómez. Pode ler aqui (Clique em cima)
Para quem não souber, este agora desaparecido brioso da guitarra clássica, Paco de Lucia era filho de uma portuguesa de seu nome Lucia Gómez. Pode ler aqui (Clique em cima)
COMPAREÇA MAIS LOGO NO SANTA CRUZ
"Como melhorar o sistema de recolha do lixo na cidade? Como promover a recolha seletiva de lixos porta-a-porta? Como consciencializar os/as cidadãos/ãs para a necessidade de triagem de lixos? A distribuição dos ecopontos é a melhor? Muitas questões para debater no próximo Coimbra à Escuta. No Café Santa Cruz vão estar HOJE, 26 de fevereiro, quarta-feira, a partir das 18 horas, Célia Cruz (investigadora de Engenharia do Ambiente), João Vaz (consultor de Ambiente), José Ricardo Nóbrega (deputado da Assembleia da União de Freguesias de Coimbra) para falar sobre lixos urbanos / limpeza da cidade. A moderação é da responsabilidade do jornalista Mário Martins.
Apareçam!"terça-feira, 25 de fevereiro de 2014
UMA RESPOSTA DA POLÍCIA MUNICIPAL
A quem antecipadamente agradeço, em resposta a
um texto que escrevi e solicitei uma resposta –pode lê-lo mais em baixo- recebi
da Polícia Municipal o seguinte esclarecimento:
Exmo. Senhor:
Por determinação do Exmo. Senhor Comandante
do Serviço de Polícia Municipal, Comissário Celso Marques, remetemos em
anexo a legislação aplicável ao assunto mencionado.
Com os melhores cumprimentos,
Decreto-lei nº246/2007,
de 26 de Junho
Artigo 7.º
Curso legal e poder liberatório
1 - As
moedas correntes têm curso legal e poder liberatório nos termos definidos pelas
normas comunitárias.
2 -Com
excepção do Estado, através das Caixas do Tesouro, do Banco de Portugal e das
instituições de crédito cuja actividade consiste em receber depósitos junto do
público, ninguém é obrigado a aceitar, num único pagamento, mais de 50 moedas correntes.
(….)
TEXTO A QUE DEU
REMISSÃO E ORIGEM A ESTA RESPOSTA:
COMO É QUE A POLÍCIA MUNICIPAL EXPLICA ISTO?
Luís Manuel Ferreira de Brito, morador na Rua
Sargento-mor e na Baixa de Coimbra, está inconsolável. Tem duas folhas de papel
na mão que, à medida que vai falando, num tremelicar constante, se vão
hasteando ao vento como se fossem bandeiras vermelhas de indignação. Um dos
papéis é uma comunicação de uma multa da Polícia Municipal e o outro é uma
cópia, escrita em queixume, do Livro
Amarelo, ou mais vulgarmente conhecido por Livro de Reclamações. Vamos ouvir O Luís Manuel:
“No ano passado apanhei uma multa na Rua da
Sota –uma transversal desta artéria onde resido. Há dias recebi a intimação
para liquidar a importância de 19,95 euros e, para cumprir a ordem emanada,
hoje dirigi-me à sede da Polícia Municipal para liquidar a verba indicada.
Apresentei para pagamento uma nota de dez, uma moeda de dois, duas moedas de um
euro e várias peças soltas para fazer o restante. Não aceitaram. Foi
argumentado que só recebiam notas e que a única solução era eu ir ao banco
trocar. Ainda invoquei o facto de, sendo pobre e estar desempregado, de não ter
mais do que levava certinho para pagar mas não me ouviram. Era assim e mais
nada! Apresentei uma reclamação escrita no livro. Já viu uma coisa destas? Isto
não parece uma coisa surreal? Assim uma espécie de partida para os apanhados,
da televisão? Eu gostava de lhe poder mostrar o quanto me sinto ofendido. Que
raio! Até parece que gozam com a pobreza! Você não acha?"
(Este texto foi enviado para a Polícia Municipal e solicitado um
comentário)
EDITORIAL: O (A)TRIBUTO
Com uma verba atribuída de 52 mil euros, o executivo
camarário deliberou, nesta última segunda-feira, organizar um torneio de futebol
juvenil em homenagem a Jorge Lemos, ex-vereador e deputado municipal pelo
Partido Socialista e dirigente da Associação de Futebol de Coimbra, e recentemente falecido.
Conheci relativamente bem
o saudoso engenheiro Lemos. Pela sua honestidade, simplicidade e alheio a
homenagens, se fosse vivo, tenho a certeza de que não aceitaria tal tributo.
Com toda a deferência pela sua grata memória, em especulação, quase apostaria
que se o pudesse fazer, na sua voz calma e assertiva, proclamaria: “estes gajos são doidos! Andam a gastar
dinheiro com iniciativas sem nexo. O que fiz eu para merecer ser venerado desta
maneira com gastos públicos em tempo de crise, quando há tantos munícipes a
passar mal? Se o partido me quer consagrar, está no seu direito e que o faça
através de verbas próprias e dos militantes. Assim, peço muita desculpa, mas
dispenso esta contribuição póstuma. Tenham mais respeito pela pessoa séria que
fui. Nunca misturei funções públicas com privadas. Nunca alinhei em festas de
elevação partidária disfarçadas.”
TEXTOS RELACIONADOS
segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014
EDITORIAL: O RESTAURADOR OLEX
Volta e meia, na tal síndrome de carneirada,
somos acometidos de uma vaga de indignação visando áreas concretas da nossa
vida comunitária rústica e urbana. Nesta altura do campeonato discute-se o
património material, no manter e no seu restauro. De repente, com a
possibilidade dos quadros de Miró serem vendidos, passámos todos a ser
especialistas de arte.
Num outro caso que mais abaixo falarei, o estranho nisto tudo é que mesmo os consagrados reconhecidos especialistas e responsáveis pela manutenção do património, como se tivessem acordado de um longo sono letárgico, só agora, a reboque de uma tal opinião facebookiana, com uma vitalidade de Viagra, derrubam tudo e todos a montante e a jusante. Ou seja, durante vários anos, assobiando para o ar, deixaram que o tempo destruísse verdadeiros tesouros e agora, depois de alguém ter tomado uma decisão, boa ou a melhor possível dentro do contexto, pressionados pela onda de choque cibernética, disparam em todas as direcções e, com as suas balas de verve viperina, destroem o situacionismo no que era, matam o que foi feito e, buscando uma Eugenia purista, como uma interrupção de gravidez em que só verão a luz os perfeitos, evitam que, para o futuro, se recupere a mínima obra em declínio. De aqui em diante, os responsáveis de qualquer catedral, capelinha ou museu terão medo de restaurar seja lá o que for e o desleixo -que sempre foi e marca a nossa forma de estar- será o caminho. Deixarão ao abandono grandes riquezas patrimoniais e que o tempo se encarregará de aniquilar.
Num outro caso que mais abaixo falarei, o estranho nisto tudo é que mesmo os consagrados reconhecidos especialistas e responsáveis pela manutenção do património, como se tivessem acordado de um longo sono letárgico, só agora, a reboque de uma tal opinião facebookiana, com uma vitalidade de Viagra, derrubam tudo e todos a montante e a jusante. Ou seja, durante vários anos, assobiando para o ar, deixaram que o tempo destruísse verdadeiros tesouros e agora, depois de alguém ter tomado uma decisão, boa ou a melhor possível dentro do contexto, pressionados pela onda de choque cibernética, disparam em todas as direcções e, com as suas balas de verve viperina, destroem o situacionismo no que era, matam o que foi feito e, buscando uma Eugenia purista, como uma interrupção de gravidez em que só verão a luz os perfeitos, evitam que, para o futuro, se recupere a mínima obra em declínio. De aqui em diante, os responsáveis de qualquer catedral, capelinha ou museu terão medo de restaurar seja lá o que for e o desleixo -que sempre foi e marca a nossa forma de estar- será o caminho. Deixarão ao abandono grandes riquezas patrimoniais e que o tempo se encarregará de aniquilar.
Antes de continuar, primeiro vou
dar uma definição de arte. Segundo a Wikipédia, “é uma técnica ou habilidade entendida à actividade humana ligada a
manifestações de ordem estética ou comunicativa a partir da percepção, das
emoções e das ideias, com o objetivo de estimular essas instâncias da consciência
e dando um significado único e diferente para cada obra”. Simplificando e
dando a minha versão, arte poderá ser tudo, vivo ou inerte, que pela sua forma
material ou imaterial -sons, odores, paladares, postura- toque os nossos
sentidos e apele para um segundo olhar.
A seguir, vou fazer duas
ressalvas. A primeira é que não conheço pessoalmente qualquer interveniente na
questão que vou centrar-me. A segunda, embora venda e conviva com arte há cerca
de duas décadas assumo que, pela elevada subjectividade intrínseca e por ser um
mundo tão vasto de conhecimento, pela minha incomensurável ignorância, admito,
com humildade, perceber pouco do métier.
Se me for pedida opinião, será sempre a minha, e dividir-se-á entre o “conheço o autor”, “não conheço” e “gosto” e “não gosto”.
E agora sim, vou então focar o assunto
que intoxica a opinião pública nas redes sociais: o restauro das imagens sacras
no Santuário de Nossa Senhora das Preces, em Oliveira do Hospital. Vamos
começar pelo restauro, feito em 2007, das 13 imagens que compõem a Ceia de
Cristo, em Aldeia das Dez, sobre responsabilidade de Miguel Vieira Duque e por
alunos da Universidade Sénior de Coimbra. Citando o Diário de Coimbra, “O Secretariado Nacional dos bens Culturais
da Igreja, serviço tutelado pela Conferência Episcopal Portuguesa, considerou o
restauro de 13 esculturas do Santuário da Nossa Senhora das Preces, em Oliveira
do Hospital, como “criminoso, danoso e prejudicial”. (…) Não estamos a falar de
objectos musealizados, mas de obras de arte sacra afectas ao culto que foram
tratadas como bonecos e não como objectos de arte sacra como deveria ser. (…)
nos inúmeros casos em que tal sucede, o que antes de mais se observa é o
completo desrespeito pela obra de arte, neste caso sujeita a gostos pessoais de
quem é responsável por estas intervenções”. Chegados aqui, talvez aqui dê
para perguntar se “criminoso, danoso e
prejudicial” não serão os factos de, por um lado, deixar passar meia dúzia
de anos até à classificação desta tarefa e, por outro, mandar para o charco um
homem, que goste-se ou não do resultado fez o seu trabalho, e uma escola de
séniores que, concorde-se ou não, estão a tentar serem úteis à sociedade,
depois de já terem dado a sua parte, e renegarem o sofá. Como se fosse pouco,
veio o insuspeitável Jornal de Notícias publicar em parangonas que o desventurado Miguel Duque (ainda bem que
não é Vasconcelos) já andou a vender cachorros numa roulotte. É caso para perguntar se este trabalho envergonha alguém.
Veio também a terreiro a Associação Profissional de conservadores Restauradores
de Portugal afirmar que “no panorama
actual, assiste-se à proliferação de cursos e acções de formação ministrados,
por vezes, por formadores que não possuem a formação académica exigida”.
Pode interrogar-se se os frescos da Santa Ceia, na Capela Sistina do Vaticano,
pintados por Leonardo da Vinci, Miguel Ângelo, Rafael, Botticelli e outros, em
finais do século XV, também teriam a “formação
académica exigida”?
Creio que o nosso maior problema
é o excedente de especialistas. Estamos cheios deles! Não haverá um especialista-mor
que ponha tento, bom-senso, nestas ilustres cabeças pensantes?
UM COMENTÁRIO RECEBIDO SOBRE....
SuperFebras deixou um novo comentário
na sua mensagem ""FILHOS DO TÉDIO"... NUMA CIDADE DE
TÉDIO":
Amigo:
Mais uma vez, agradeço-lhe esta avidez que agora sinto.
Será pecado senti-me sôfrego?
E, por tudo, o meu muito obrigado.
Cumprimentos:
Álvaro José da Silva Pratas Leitão
Amigo:
Mais uma vez, agradeço-lhe esta avidez que agora sinto.
Será pecado senti-me sôfrego?
E, por tudo, o meu muito obrigado.
Cumprimentos:
Álvaro José da Silva Pratas Leitão
Bradford, Ontário
Canadá
A MULHER QUE ESTENDE A MÃO
(Imagem da Web)
Nos
últimos tempos, com tendência a aumentar, tenho verificado que uns e outros nas
ruas largas, sem pejo nem recalcamento, estendem a mão à caridade com a
lengalenga repetida: “por favor, dê-me
uma moeda para comprar pão”. São pessoas na casa dos quarenta, com aspecto bem arranjado –pessoas como eu e
você, diria com algum cinismo- e ar saudável. Certamente como a maioria, olho
para eles com algum desdém e tento ignorar. Se
ao menos fossem velhinhos, maltrapilhos e esclerosados, ainda vá lá, agora
pessoas novas e saudáveis? Penso para mim, em busca da contrição e do
perdão moral de não ter comparticipado, enquanto desvio o passo. Que diabo, até parece que o acto de pedir
está transformado numa coisa corriqueira –continuo a pensar com meus
botões. Tenho saudades do tempo em que
pedir alguma coisa a alguém era uma acção farisaica que implicava vergonha, um
estigma de pobreza que mandava para o charco a alma de quem rogava. Agora não.
Como se num clarão ofuscante, por obra e graça do Divino Espírito Santo, todos
nos sentíssemos indigentes e mais iguais ao outro que passa, foi-se a vergonha
e ressalta o espírito de sobrevivência. E lá vem a ladainha: “uma moedinha para
comprar pão, por favor!”
Já por várias vezes me cruzei com ela na Rua
da Sofia e me estendeu a mão. É uma mulher baixa, anafada, de olhar triste
quando em descanso e com as maçãs do rosto rosadas. Veste com simplicidade, uma
mulher suburbana, dos arredores da cidade –penso com meus botões. À medida que
me aproximo, imagino que olhando para mim, para a minha forma de vestir, fará
cálculos sobre quanto lhe vou colocar na mão aberta. Ou talvez não dê nada, saberá
lá ela. Imagino-a a carregar a arma de arremesso verbal com a frase repetida tantas
vezes ao longo do dia. Estou à sua frente e cumprimento-a com um olá e atiro de supetão: já há uns tempos que ando para trocar umas
impressões consigo. Posso falar? Não leva a mal? Abrindo os olhos de
admiração opera uma metamorfose: os dois pontos negros parecem iluminar-se e o
rosto abre-se como um botão de rosa. E responde: “claro que não levo a mal!”. Atiro a primeira pergunta que vai fazer
desenrolar a meada: então diga-me, sendo
você tão nova, por qual a razão de andar aqui a pedir todos os dias?
“Porque preciso, senhor! Tenho
46 anos, vivo ali para os lados da Estação Velha, numa casa camarária. Estou
desempregada e recebo do RSI, Rendimento Social de Inserção, cerca de 180
euros. Estou a frequentar um curso de bordados. Vivo com um companheiro. Tem 63
anos mas é muito doente. Tem uma série de complicações e até varizes nas
pernas. Ele é muito meu amigo, não me obriga a vir pedir mas, como o comer
falta, lá me vai dizendo: vai até lá. Vai! E eu venho. É certo que pago só 5
euros de renda e mais 15 por uma territa que o meu homem cultiva mas o dinheiro
não chega. Sabe que tenho lá agora coelhinhos? São tão lindos! Assim pequeninos
–e exemplifica com as mãos, ao mesmo tempo que sorri como uma criança. Tenho lá também couves. Quando for daqui
vou ali ao Pingo Doce comprar uma carne e vou fazer sopa. Custa muito pedir,
acredite! Custa mesmo! Agora até já estou mais habituada. Uma pessoa adapta-se,
não é? Mas o esforço vale a pena. Tiro quase sempre à volta de 20 euros. É isto
que nos ajuda a viver. Mas custa muito, repito. Costumo ir para ali para a
porta da Igreja de Santa Cruz. O que mais me faz sentir o sofrimento é quando
vejo pessoas conhecidas. Apetece-me enterrar pelo chão abaixo. Encontro aqui na
rua gente boa e gente má. Ainda há dias passou uma mulher –você sabia que as
mulheres são muito piores do que os homens? Algumas são autênticas megeras!-,
ela olhou para mim e disse: “vá trabalhar sua vaca!”. Eu não trato mal ninguém
e só dá quem quer, mas ali passei-me completamente dos carretos. E dei-lhe o
troco merecido. Mas, felizmente, há pessoas muito boas, olhe que, ainda não
passou muito tempo, um senhor, parou, puxou da carteira e deu-me 20 euros. Uma
fortuna, senhor! Olhe que só não me atirei a ele, com um abraço, e lhe dei dois
beijos porque tive vergonha! Aparece de tudo. Muito obrigado por falar comigo,
senhor!”
TEXTOS RELACIONADOS
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"Baixa: a crise também afecta os pedintes"
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"O mendigo turco"
"Histórias da minha aldeia: o onzeiro"
"Bom dia, pessoal..."
UM COMENTÁRIO RECEBIDO SOBRE....
(Imagem desviada de "Recordações de Coimbra")
SuperFebras deixou um novo comentário
na sua mensagem "EXIGÊNCIAS REGULAMENTARES PARA OS CENTROS
HISTÓRIC...":
Amigo:
Sou um sonhador. Sempre com a cabeça no ar, idealizando cenários paradisíacos para mim e para o mundo que me rodeia! Neles não hão limites. Penso que sonhar tem sido beneficente na maioria dos projectos em que me tenho metido. Alguns bem complicados!
Quando acabei de ler este artigo os neurônios que me restam começaram logo a impulsar.
A condição de ser Português e a descendência genética do Velho do Restelo provocam logo em mim uma visão pessimista! Também posso agradecer esse pessimismo aos que nos têm sem sucesso governado. Mas c'os diabos, e se...?
E se conseguíssemos salvar, e não nos resta muito tempo, os imóveis da Baixa?
E se déssemos propriedade aos antigos moradores para regressarem as suas casas?
E se nos restantes apartamentos metesse-mos de preferência casais das propínquas aldeias?
E se esses casais fossem primordialmente pais expectantes ou pais de filhos de idade pré-escolar, para que o riso e a brincadeira regressassem à cidade?
E se as lojas fossem oferecidas com condições benéficas nas rendas e impostos como o que se faz às grandes multinacionais?
E se nelas se metessem com prioridade artistas e artesãos?
E se as licenças de abertura para novas grandes superfícies fossem repensadas no futuro?
E se eu pudesse regressar e passear inspirando cheiros, sons, e vistas numa Baixa formigueira de tanta gente?
E se...? ...Se…? Chega de sonhar!
Um abraço:
Álvaro José da Silva Pratas Leitão
Bradford, Ontário
Canadá
domingo, 23 de fevereiro de 2014
sábado, 22 de fevereiro de 2014
ESTADOS DE ALMA (QUE COMEÇAM A SER CORRIQUEIROS)
Ontem, sexta-feira, à tarde, o homem que lá ao
fundo se vê de costas, de calças de ganga azul e blusão cinzento claro, encheu
esta rua de imprecações. Ia desde o mínimo de “filhos da puta” e “cabrões” até
ao máximo que, sem reproduzir, deixo à imaginação –não se preocupe em
especular. Ele chamou tudo e mais alguma coisa ao Governo. Por onde passava
toda a gente olhava. “Ladrões, assassinos que nos matam o corpo e sugam a
alma!” –e mais uns frases em bom vernáculo.
Repare-se na expressão de
contentamento do mendigo turco. Dá que pensar, não dá?
"GO! WALKS" - VAMOS LÁ A ANDAR!
Para além de todos os dias espetar os olhos na mais
linda pérola arquitectónica da Baixa e em solilóquio, cá com os meus botões,
maldizer o seu estado de semi-abandono, com o tempo fui acreditando que um
destino de utilidade turística lhe estaria reservado. Escrevo sobre a Casa Medieval, construída com paredes de
“enxaimel” –técnica ancestral constituída por tirantes de madeira entrelaçada que
suportam pedras ou tijolos e ligados por barro, na antiguidade. Este ícone da
nossa monumentalidade possui pisos de sobrado e com loja no piso térreo destinada
ao mester da época remota. De propriedade particular, o prédio está implantado
na confluência das Ruas Sargento-mor, dos Gatos e Adro de Cima. Uma parte do
imóvel, provavelmente a original, normalmente esteve sempre encerrada até agora.
Na outra parte, talvez a que ao longo dos séculos foi sendo modificada, está
uma das mais lindas lojas de artesanato da Baixa, a “Casa Anita”.
Há dias chamou-me a
atenção o facto de a parte de construção mais antiga ter as portas abertas e
sobre as janelas, duas capas pretas académicas, em formato de avental, esvoaçarem
ao vento. Junto à porta de entrada, com pouco mais de um metro de altura, uns
cartões miniatura, de visita, apresentavam o novo inquilino em forma de projecto:
“Go! Walks” – Percursos Pedonais”. Subi as escadas. Lá ao cimo estava uma mulher linda. Interroguei: o que é
isto?
“Chamo-me Sara Cruz e sou o rosto humano desta nova sede de uma empresa
Unipessoal, turística, a Go! Leisure & Heritage, que já existe desde Julho
de 2012 –embora até agora estivesse situada em minha casa. Juntamente com colaboradores,
nestes quase dois anos e no dia-a-dia, estivemos sempre no Largo da Portagem
debaixo de um chapéu e com bandeirinhas de sinalização. O objecto da minha
empresa é apresentar a turistas nacionais ou estrangeiros, em grupo ou
individualmente, percursos pedonais a quem nos contratar para mostrar a cidade em
toda a sua monumentalidade no que está acima do olhar comum e abaixo do
conhecimento linear. Sou licenciada em turismo pela Universidade de Coimbra. A
ideia surgiu-me depois de fazer o estágio profissional numa empresa sediada no
Centro Histórico, e também no ramo turístico, e verificar que havia uma lacuna
na forma de dar a conhecer a urbe a quem nos visita. Felizmente está a correr
muito bem. Agora estamos na época baixa, mas a partir de Abril começarão a
surgir muitos turistas. Por enquanto não se nota muito os efeitos da declaração
de interesse mundial consagrada pela UNESCO. O visitante individual ainda não sabe. Há um
grande esforço a fazer. Sem falsa modéstia, sei que o meu trabalho, para além
de dignificar o turismo, é muito importante. Sei muito bem que um bom guia
turístico pode transformar completamente a ideia de cidade de quem nos visita.
Somos nós que a “vendemos” ao mundo, em amostra de palavras de amor e carinho.
Surgiu agora a oportunidade de me instalar aqui neste encantador espaço
medieval, que é propriedade de familiares do meu marido. Com o pouco que tenho
e sem alterar nada do existente, pintando e limpando, tento dar utilidade a
esta fracção que estava encerrada. Gostava de sentir mais apoio por parte da
edilidade mas, infelizmente, não sinto. Continuo à espera de ser recebida pela
vereadora do turismo da Câmara Municipal. Até na colocação de uma placa ali ao
cimo das escadas do Gato, a indicar esta edificação medieval, tem sido de uma
dificuldade imensa. É tudo tão difícil!”
EXIGÊNCIAS REGULAMENTARES PARA OS CENTROS HISTÓRICOS SIMPLIFICADAS
“Com a participação de personalidades
de reconhecido mérito, foi elaborado um guia com as "Exigências Técnicas
Mínimas para a Reabilitação de Edifícios Antigos".
“O Conselho de Ministros aprovou em 20 de
fevereiro um diploma que estabelece um regime excecional e transitório a
aplicar à reabilitação de edifícios ou de frações, concluídos há pelo menos 30
anos ou localizados em áreas de reabilitação urbana, sempre que estejam afetos
ou se destinem a afetar total ou predominantemente ao uso habitacional”.
Continue a ler clicando em cima.
NOTA DO EDITOR
Está de
ver que esta medida normativa de simplificação vem tarde, muito tarde mesmo,
mas, apesar disso, pode ser que ainda se salve alguma coisa. Porém, uma interrogação subsiste:
onde irão os pequenos proprietários conseguir crédito? É que quando havia
financiamento as obrigações eram absurdas –aqui e aqui- e agora, que finalmente
se racionalizou as normas, não há verbas. É tudo tão estranho. Não entende o
leitor o mesmo?
UM COMENTÁRIO RECEBIDO SOBRE....
Sidónio Simões comentou
(no Facebook) “Editorial: uma cidade às avessas”…
Devemos
ter uma cultura de preservação, mas não de preservativo. Noticiar a demolição
de um edifício na área de proteção de um bem classificado, sem uma
fundamentação cuidada e sem que se dê cumprimento aos regulamentos em vigor é
que não me parece boa opção.
É preciso ter presente que a UNESCO e o ICOMOS estão normalmente
atentos às notícias que se publicam sobre os bens classificados, por isso não
se podem noticiar com tanta ligeireza demolições nestas áreas. Se não há
solução para preservar, a legislação prevê a possibilidade de demolição e a
metodologia a adotar para a nova edificação.
(Técnico Superior da Câmara
Municipal de Coimbra)
UM COMENTÁRIO RECEBIDO SOBRE...
SuperFebras deixou um novo comentário
na sua mensagem "COMO É QUE A POLÍCIA MUNICIPAL EXPLICA ISTO?":
Amigo:
O Sr. Ferreira Brito pode ser financeiramente pobre mas não o é na inteligência e na postura.
Indignado, não perdeu o sangue frio e foi capaz de dizer não àqueles que por vezes pensam que a autoridade que possuem, quando em uniforme, não lhes foi dada pelos mesmos que fielmente deviam servir e proteger.
Penso que a um agente de segurança será esse o seu dever!
Por favor cumprimente e congratule o Sr. Ferreira Brito na sua decisão e resolução em apresentar queixa por escrito.
Ao fazê-lo não só mostrou coragem como nos prestou a todos um grande serviço cívico.
Também o fez o meu amigo ao, mais uma vez, trazer até nós conhecimento do mesmo.
Por isso o meu agradecimento aos dois:
Álvaro José da Silva Pratas Leitão
Bradford, Ontário
Canadá
sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014
UM COMENTÁRIO RECEBIDO SOBRE...
SuperFebras deixou um novo comentário
na sua mensagem "EM BUSCA DA VERDADE... (NEM TUDO O QUE LUZ...)":
Amigo:
Dá para pensar... mas se pensarmos melhor…
Eu tenho uma pequena empresa, lá vou contratando e sub-contratando uns projectos de construção residencial aqui e ali para ir governando a vida.
Se aquilo que eu facturasse fosse tudo lucro e meu, sem impostos (+-50%), sem despesas na aquisição de materiais, em veículos e pagamentos a quem me ajuda na execução dos projectos, garanto-lhe que já há muito tempo beberia uns cafezinhos com o meu amigo na nossa Baixa, arrancando-lhe umas opiniões e uns conselhos e parasitando-lhe umas histórias, que acredito saiba muitas, da Grã Coimbra e das suas boas gentes.
Vamos dar ao homem o direito de se defender.
Garanto-lhe que se ganhava 50 mil euros ao ano em Portugal fez bem em emigrar pois tem o potencial e deve aproveitá-lo de ganhar muito mais a actuar por exemplo aqui, nos restaurantes e bares da nossa comunidade de 400 mil emigrantes e seus descendentes.
Eu vou esperar!
Um abraço:
Álvaro José da Silva Pratas Leitão
Dá para pensar... mas se pensarmos melhor…
Eu tenho uma pequena empresa, lá vou contratando e sub-contratando uns projectos de construção residencial aqui e ali para ir governando a vida.
Se aquilo que eu facturasse fosse tudo lucro e meu, sem impostos (+-50%), sem despesas na aquisição de materiais, em veículos e pagamentos a quem me ajuda na execução dos projectos, garanto-lhe que já há muito tempo beberia uns cafezinhos com o meu amigo na nossa Baixa, arrancando-lhe umas opiniões e uns conselhos e parasitando-lhe umas histórias, que acredito saiba muitas, da Grã Coimbra e das suas boas gentes.
Vamos dar ao homem o direito de se defender.
Garanto-lhe que se ganhava 50 mil euros ao ano em Portugal fez bem em emigrar pois tem o potencial e deve aproveitá-lo de ganhar muito mais a actuar por exemplo aqui, nos restaurantes e bares da nossa comunidade de 400 mil emigrantes e seus descendentes.
Eu vou esperar!
Um abraço:
Álvaro José da Silva Pratas Leitão
Bradford, Ontário
Canadá
COMO É QUE A POLÍCIA MUNICIPAL EXPLICA ISTO?
(Na imagem, retirada da Web, o comandante Celso Marques)
Luís Manuel Ferreira de Brito, morador na Rua
Sargento-mor e na Baixa de Coimbra, está inconsolável. Tem duas folhas de papel
na mão que, à medida que vai falando, num tremelicar constante, se vão
hasteando ao vento como se fossem bandeiras vermelhas de indignação. Um dos
papéis é uma comunicação de uma multa da Polícia Municipal e o outro é uma
cópia, escrita em queixume, do Livro Amarelo,
ou mais vulgarmente conhecido por Livro de
Reclamações. Vamos ouvir O Luís Manuel:
“No ano passado apanhei uma multa na Rua da
Sota –uma transversal desta artéria onde resido. Há dias recebi a intimação
para liquidar a importância de 19,95 euros e, para cumprir a ordem emanada, hoje
dirigi-me à sede da Polícia Municipal para liquidar a verba indicada.
Apresentei para pagamento uma nota de dez, uma moeda de dois, duas moedas de um
euro e várias peças soltas para fazer o restante. Não aceitaram. Foi
argumentado que só recebiam notas e que a única solução era eu ir ao banco trocar.
Ainda invoquei o facto de, sendo pobre e estar desempregado, de não ter mais do
que levava, certinho, para pagar mas não me ouviram. Era assim e mais nada!
Apresentei uma reclamação escrita no livro. Já viu uma coisa destas? Isto não
parece uma coisa surreal? Assim uma espécie de partida para os apanhados, da
televisão? Eu gostava de lhe poder mostrar o quanto me sinto ofendido. Que
raio! Até parece que gozam com a pobreza! Você não acha?"
(Este texto foi enviado para a Polícia Municipal e solicitado um
comentário)
BOM DIA, PESSOAL...
UMA MOEDA COM AMOR
Não me dêem uma moeda,
sem um sorriso também,
sem alegria não passo,
sem dinheiro passo bem
Não me atirem uma moeda,
sem alguma humanidade,
afinal não sou pedinte,
sou um artista na cidade,
que precisa da moeda,
mas que traga dignidade,
Não me dêem uma moeda,
sem um sorriso também,
sem alegria eu não passo,
sem dinheiro passo bem,
Não me joguem uma moeda,
como se eu fosse alguém,
insensível ao amor,
e que não ama também,
sem amor eu não passo,
sem dinheiro passo bem.
PARA RIR...(PORQUE RIR É PRECISO)
(Imagem da Web)
(Recebido por e-mail)
“Estavam todas as mulheres em uma reunião com São Pedro.
- Queremos fazer 3 reclamações e esperamos ser atendidas!
São Pedro pega um lápis e um papel...
- Podem falar!
- Primeiro, queremos menstruar a cada seis meses em vez de todo mês.
São Pedro anota o primeiro pedido.
- Segundo, nós queremos ficar grávidas só por 3 meses, porque 9 meses é
muito!
São Pedro anota o segundo pedido e pergunta:
- E qual é o terceiro?
- Queremos que o pénis do homem seja mais bonito, porque é horrível!
São Pedro anota tudo e fala para se reunirem dentro de 1 mês para dar
as respostas de Deus.
Um mês depois todos voltam a reunir-se. São Pedro começa o discurso:
- O 1.º pedido foi aceite parcialmente. Vão menstruar-se a cada 4 meses,
porque o pedido de 6 meses é muito longo e isso alteraria o objectivo da
Criação. O 2.º pedido foi aceite parcialmente. A gravidez será de 6 meses porque
3 meses é pouco, isso alteraria o objectivo da Criação. Já o 3.º pedido foi
negado totalmente por Deus...
As mulheres começaram a berrar e reclamar:
- Por quê, Senhor?
São Pedro responde:
- Porque se feio, peludo e desajeitado vocês já chupam, lambem, beijam,
alisam, sentam e pulam em cima dele feito umas loucas, se ele fosse bonito,
iriam comê-lo! E isso definitivamente alteraria todos os objectivos da
Criação...”
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