sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

BARÓMETRO DE UM JORNAL EM PAPEL PUBLICADO NA BAIRRADA

 




Jornal da Mealhada (edição de 19 de Janeiro)


POSITIVO


Com uma capa vistosa, onde exalta um grafismo terno e suave, ressaltam títulos em recortes que se confundem com a publicidade, ao primeiro olhar. Mas o que importa é que a primeira página desta última edição do Jornal da Mealhada (JM) está interessante. Afinal, vale mais cair em graça que ser engraçado.

Claro que indo ao fundamento de quem compra e lê jornais em formato físico, em papel, talvez falte um estudo de mercado para analisar os consumidores. Ainda de se olha para os títulos dos vários periódicos, antes de comprar? Penso que não. Com alguma margem de erro, é de presumir que o leitor dos nossos dias, tendo em conta que será para cima de meia-idade, é um “agarrado” fidelizado ao título que sempre consumiu. Porventura poderá comprar outro, mas se coincidir com um assunto do seu interesse, portanto em complementaridade.

E, a ser assim, o que leva uma pessoa a adquirir sempre o mesmo jornal? Sem resposta conclusiva, é de supor que entra a rotina diária, alguma “viciação” nos usos e também uma base de confiança no que é noticiado, a tocar a imparcialidade e a independência.

Também é verdade que devemos dividir a imprensa local da nacional. Com o título nacional que se consome, se, por um lado, se lê para Informação e Conhecimento geral, por outro, há uma certa distanciação na familiaridade. É como se o proprietário fosse alguém que não se vislumbra.

Já com a imprensa local é diferente. Embora também se exija neutralidade, escrita acessível, independência, há sempre uma ligação inexplicável, é como se fosse da nossa família. Para além de sermos menos exigentes a lapsos, acima de tudo, procura-se mais a Informação e menos o Conhecimento, de cultura geral – é óbvio que não é desprezível manter as duas na mesma impressão. Quanto mais houver a possibilidade de inovar na informação/conhecimento - de ontem, na descrição de acontecimentos passados, e de amanhã, com a especulação a marcar o futuro – onde entram a história de vida da pessoa simples e até à de instituições, cada vez mais é acarinhado e guardado como documento histórico.

Voltando à terra, o JM desta edição cumpre os requisitos médios. Gostei de o ler.


MENOS BOM


Como já escrevi várias vezes, falta a crónica política, com comentadores independentes, mas conotados ideologicamente, a dissertarem sobre a vida política local.

Continuo a achar que as reuniões camarárias deveriam merecer uma maior cobertura e acutilância. É certo que o facto de o JM ser quinzenal ajuda pouco. Deveria ser publicado semanalmente. Quando a notícia é publicada, passado mais de uma semana, já o assunto foi dissecado e perdeu interesse. Querem um exemplo? Na última sessão de Câmara Municipal veio à baila a possibilidade de o Metro Ligeiro de Superfície vir de Coimbra até à Mealhada e passar por Cantanhede. Como se imagina, será título de primeira página no JM na próxima edição, quando já está frio na curiosidade dos leitores/assinantes.

Valerá mesmo a pena continuar a insistir na publicação quinzenal?


De zero a vinte, atribuo a esta edição 14,5 valores.


quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

BAIXA DE COIMBRA: DESCULPE PERGUNTAR, MAS…


(Imagem do jornal online Notícias de Coimbra)



Como é público, na semana passada, mais propriamente no dia 18 do corrente, com organização da APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, realizou-se um encontro entre José Manuel Silva, presidente da autarquia conimbricense, e os operadores comerciais que exercem o seu “metier” na Zona Histórica.

Na fase final de respostas às questões colocadas pelos presentes, a determinado ponto, sobre demasiados assaltos perpetrados contra o património na zona, afirmou o autarca que no dia seguinte, Quarta-feira, iria ter, a seu pedido, um encontro com o Intendente Rui Moura, Comandante da Polícia de Segurança Pública de Coimbra, para discutir a segurança na Baixa.

Já passou uma semana e desse encontro, tão importante para tranquilizar os comerciantes e moradores desta zona de antanho, nada transpirou.

Não deveria o Senhor presidente dar conhecimento dessa reunião?

Vai apresentar os resultados na próxima reunião de Câmara?


 

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

REUNIÃO CM MEALHADA: O METRO LIGEIRO PODE PASSAR POR AQUI

 




Em pouco mais de uma hora, via ZOOM com os vereadores acomodados em suas casas, realizou-se hoje a segunda reunião mensal ordinária do executivo mealhadense.

Num clima ameno, de extrema simpatia e cordialidade entre os participantes, este encontro virtual de hoje nada teve a ver com a ambiência de rebelião e quezília que transparecia nas primeiras reuniões de camarárias, nomeadamente entre António Jorge Franco, presidente da Câmara Municipal, e Rui Marqueiro, o precedente edil que comandou os destinos da Mealhada até às últimas eleições realizadas em Setembro, último.

Com um Marqueiro simpático, com sorriso rasgado, assertivo e colaborante, enfatizando pequenas deixas como por exemplo “só quis brincar um pouco” e com Franco a retorquir “o senhor vereador é um brincalhão” pareciam amigos de longa data. Aparentemente, quer por milagre de Sant’Ana ou outro mistério divino não especificado, a paz assentou arraiais no Salão Nobre da edilidade. Na aparência, Rui Marqueiro está diferente; deixou cair aquela ironia acintosa, provocadora que (tão mal) o caracterizava. Até se ouviu proferir “estamos todos de acordo, senhor presidente”.

O que, em especulação, leva a presumir duas razões possíveis: uma, que provavelmente o pré-julgamento de Instrução, a decorrer em Aveiro, e em que Rui Marqueiro e os seus anteriores vereadores estão indiciados por prevaricação, estará a correr muito bem, tudo indicando que a acusação caia por terra. Outra razão, porventura, será António Franco, que parece ser um pacificador, teria tido uma longa conversa franca com o ex-presidente e acordado que não podiam continuar com trocadilhos e indirectas truculentas, e mais em sessões transmitidas em directo para o mundo. Mais que certo, mesmo sabendo-se não crente, Marqueiro, colocando as mãos sobre uma Bíblia, e sobrepostas pelas de Franco, ambos juraram respeitar-se na vã glória e na desprezível infâmia e não mais se acusarem mutuamente de desvio do sagrado caminho público.

Sejam certas as duas premissas, e fazemos votos que assim seja, ganhamos todos com a acalmia a que se assistiu hoje. Como é normal, o papel da oposição, para além de ser imprescindível, é um valor maior, e com Marqueiro mais calmo e sensato, pondo o seu conhecimento e experiência adquirida ao serviço de todos só pode enriquecer o debate.


A ORDEM DO DIA


Pegando nos pontos da Ordem do Dia, aqueles que me pareceram mais curiosos, salienta-se o número 6, que diz respeito a um pedido de viabilidade para plantar eucalíptos num terreno privado.

Foi apresentado um parecer pelos serviços que ia no sentido do indeferimento. Estava em causa, portanto, votar contra ou a favor da autorização.

A vereadora Sónia Leite de Oliveira enfatizou: “sempre eucalíptos... sempre eucalíptos!

O presidente do executivo contemporizou: “tem de se repensar muito sobre o que queremos para a nossa floresta do concelho. Há outras espécies que podem dar retorno económico…

Após votação, o requerimento particular foi chumbado.

E O PONTO MAIS IMPORTANTE É…


E veio o ponto 8 da Ordem do Dia: “Estudo para a expansão do Sistema de Mobilidade do Mondego - soluções em estudo – Informação”.

Estava em causa um estudo pedido pela CIM, Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra, à Câmara para, no prazo de 15 dias, esta apresentar contributos no sentido de se alargar o percurso do Metro Ligeiro de Superfície para além de Coimbra, até à Mealhada e Cantanhede.

Franco começou por dizer que a autarquia defende o alargamento até Anadia. Com percursos alternativos entre Coimbra- Mealhada e Mealhada- Cantanhede e retorno a Coimbra. E haveria outra rota que iria da Mealhada até à Anadia. “Há muita gente da Mealhada a trabalhar na zona industrial daquela cidade. A Anadia tem interesse; interessa para toda a região. O tempo (de percurso) tem de ser rápido. Se não for não será eficaz”, sublinhou o mestre de cerimónias.

Afirmou ainda o representante maior dos mealhadenses: “se houvesse ligação à Figueira da Foz seria uma mais-valia para o nosso concelho, mas não foi aceite essa possibilidade”.

A talhe de foice, Filomena Pinheiro, vice-presidente, anuiu: “o Metro Mondego deve satisfazer necessidades que agora não estão satisfeitas.


PARTICULAR NÃO SE MOSTRA A PARTIR DE CASA


Chegaram as 10h00, como não havia cidadãos para intervirem a reunião avançou para o último ponto da agenda.

Antes de avançar, gostava de deixar escrito que com os munícipes a falarem de casa, estou em crer, esta metodologia não é muito prática e, a continuar, leva à não participação pública.

É preciso que as reuniões se mantenham presenciais, como habitualmente no Salão Nobre, e continuem a ser transmitidas via Internet e, quanto antes, guardadas no YouTube para posterior visualização. A lei 75/2013, das autarquias locais, é omissa em relação ao armazenamento de dados. Mas, se há receio de prevaricação, que se peça um parecer… mas para ontem.


E TERMINOU A REUNIÃO


Com a saída de alguns vereadores e o presidente para uma deslocação ao Luso, para avaliarem no local um pedido de vinte lugares para estacionamento adstrito a uma obra particular disse Franco: “tem se arranjar uma forma de se ultrapassar esta situação. Vamos lá e falamos com o dono da obra e o projectista. Sou a favor da construção de edifícios. Vamos então deslocar-nos à linda Vila de Luso.”

Retorquiu Marqueiro: “eu não posso, que vou para Aveiro!


sábado, 22 de janeiro de 2022

EDITORIAL: A BAIXA É DE TODOS E PARA TODOS? OU SÓ PARA ALGUNS?

(Imagem de arquivo)
 



Na passada Terça-feira, 18 do corrente, à noite, com organização da APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, realizou-se um debate entre José Manuel Silva (JMS), presidente da Câmara Municipal de Coimbra, e os comerciantes, no antigo Salão Brazil.

Cheios de expectativas, os operadores comerciais em estado de aflição, olhando-o como o homem providencial, durante cerca de 2h30, salvaguardando uma discutível proposta inovadora, o encontro decorreu dentro do espírito de problemas versus soluções iguais aos anteriores 20 anos, como quem diz, dentro de queixumes e falinhas mansas. Isto é, o tempo foi passado a discutir temas como o “estacionamento”, “higiene”, “segurança”, “iluminação”, “desertificação”.

Talqualmente como no período entre 2007/2008, em que aconteceu uma vaga de assaltos sem precedentes contra o património na Zona Histórica, também não faltou a recorrência a mais câmaras de video-vigilância para suprir a falta de meios operacionais e ineficácia da Polícia de Segurança Pública.

Apesar do melaço que envolveu a conferência, ficou bem patente que a seguir à recessão agravada e não ultrapassada entre 2001/2015 a Baixa, actualmente, está a viver uma depressão profunda e severa com consequências imprevisíveis para quem aqui ganha o seu pão. E que, sem um verdadeiro Plano Marshall, com injecção de capital, sobretudo, na recuperação de edificado municipal destinado à habitação com preços médios, não se curará sozinha. Curiosamente, para além deste plano prometido em campanha eleitoral só ter sido aflorado ao de leve, não foram referidos os dinheiros que vêm aí através da “bazuca” Europeia e nosso PRR, Programa de Recuperação e Resiliência.

No fim da conversa, tal como em outros encontros já vistos, a maioria, depois de despejar o que trazia entalado na alma, bateu palmas e saiu contente. “A recuperação da Baixa está em marcha”, diria JMS.

Em especulação, poderíamos afirmar que presenciámos uma catarse colectiva, libertação de sentimentos ou emoções reprimidas, que conduz a uma sensação de alívio ou pacificação.

Correspondendo ao apelo de proactividade pedido pela presidente da APBC, Assunção Ataíde, nos dias subsequentes, também como é hábito, não faltaram parangonas nos jornais locais, assim: “PREVÊ-SE UMA NOVA ERA NA BAIXA DE COIMBRA”.

Notoriamente, e lamentavelmente, falta massa crítica na cidade.


UMA DISCUTÍVEL PROPOSTA INOVADORA


Ao ser aflorado pelo público o tema da toxico-dependência e a localização de algumas estruturas de apoio que, segundo a sua óptica, concorrem para a proliferação de mais viciados na zona da Baixa, em concordância, respondeu JMS que já tinha encetado conversações com a direcção da Associação das Cozinhas Económicas Rainha Santa Isabel, mais vulgarmente conhecida por “Cozinha Económica”, para a possibilidade desta estrutura, tal como a “Casa dos Pobres”, ser transferida para São Martinho do Bispo. Assim como deixou no ar que concordava com a mudança do Centro Porta Amiga de Coimbra/AMI e Cáritas Diocesana, estruturas de apoio aos dependentes de drogas, com sede na proximidade do Terreiro da Erva.


COZINHA ECONÓMICA


Vamos começar por traçar um pequeno retrato da “Cozinha Económica”. Esta instituição, com quase 100 anos de existência, foi fundada em 1933. Para além da sua crónica dificuldade em se manter solvável, que levou no ano passado a várias iniciativas de inter-ajuda, em servir diariamente centenas de refeições a uma população carenciada com histórico de tóxico-dependência, desemprego, precariedade social, pobreza envergonhada, famílias sem rendimentos, presta assistência também aos mais idosos, quer em Centro de Dia, quer em Apoio Domiciliário. Para além disso, presta também apoio psicológico através do telefone, proporcionado por um grupo de especialistas da psico.

A Baixa, sem esta notável instituição com toda a benemérita vontade do seu pessoal a tentar todos os dias mitigar a fome a quem precisa, numa contribuição para erradicação da pobreza, seria, provavelmente, um território muito parecido com imagens do Sudão.

(Não escrevo por escrever, conheço relativamente bem esta imprescindível entidade)


CENTRO PORTA AMIGA DE COIMBRA/AMI


Com mais de vinte anos a auxiliar e a contribuir para o bem social comum em Coimbra, na Rua Direita, esta instituição – fundada em 1984 - de apoio a pessoas em dificuldade, situação de isolamento/exclusão social, em estreita ligação com a “Cozinha Económica” presta serviços a vários níveis, quer materialmente, na distribuição de alimentação, roupas, artigos escolares, produtos de higiene, quer a nível psicológico. Faz também formação profissional para desempregados e outros carenciados em ocupação de tempos livres. Assim como dar assistência a mulheres vulneráveis. Presta também serviços de lavandaria, apoio jurídico, apoio social, formação, informação e sensibilização, distribuição da Revista Cais.

(Não escrevo de cor. Conheço assim assim os bons serviços e a importância que detém para a erradicação da pobreza na Baixa de Coimbra)


CÁRITAS DIOCESANA


A Cáritas Diocesana, com várias estruturas de apoio na cidade de Coimbra, tem duas valências no coração da Baixa, uma na Rua Direita, o Centro Comunitário de Inserção, e outra no Terreiro da Erva, o Centro de Equipa Reduz – este centro exerce um serviço notável de apoio à prostituição e à toxico-dependência, na sinalização e encaminhamento dos necessitados para a terapia, atendimento, tratamento e cura.

(Conheço mal, mas reconheço a sua importante valia no endémico estado da Baixa)


RESUMO FINAL


Pelo que fica descrito, sem favor, em analogia, estas instituições são as placas tectónicas que suportam o fundo baixo da cidade, o lado negro da sociedade, como é a pobreza e a adição. Mexer nestas infraestruturas em constante desequilíbrio societário pode conduzir a um desastre incomensurável. Com um aumento de assaltos pelo previsível estado de necessidade destas pessoas, pode ser pior a emenda que o soneto.

Em vez de as ostracizar, e de os chutar para canto como se fossem um impecilho, o que seria lógico era propor que, quanto antes, estas entidades fossem agraciadas com a medalha de ouro da cidade.

Espero sinceramente que JMS, talvez para mostrar trabalho político e querer parecer diferente dos seus antecessores, arrepie caminho enquanto é tempo. Mudanças no Centro Histórico, Alta e Baixa, claro que sim! Mexer nestes suportes societários, claro que não!

Quanto aos drogados, enquanto parte disfuncional de uma colectividade, não podendo varrê-los para o vizinho do lado, temos de arranjar soluções de recurso, terapêuticas e penais, mesmo que, pela inovação, choquem alguns cidadãos bons chefes de família. É preciso incluir e não excluir.

Não me posso alongar mais, mas, pelo pilar fundamental que é a segurança de pessoas e bens, aos tribunais também lhe cabem fazer parte da solução. É necessário tratar com maior severidade os toxico-dependentes e deixar cair parte das atenuantes, sobretudo para assaltos à mão armada e arrombamento. Com a sua constante libertação, quando não são detidos em flagrante delito, incentiva ao crime. No mínimo, é preciso reencaminhar os infractores para centros de recuperação. Se o Código Penal não responde com sanções que tranquilizem a comunidade, o Governo ou a Assembleia da República que o alterem. E quanto antes. Por muito que se lamente a recorrência desta criminalidade rasteira, não se pode continuar a alimentar esta desresponsabilização social.



BARRÔ: AMANHÃ, COM MISSA SOLENE, COMEMORA-SE O DIA DO PADROEIRO

 




Se não fosse esta maldita pandemia que nos consome o corpo e a alma, amanhã, Domingo, dia 23 de Janeiro, haveria festa rija em Barrô, em honra do mártir São Sebastião. Na parte religiosa, não faltaria a costumada procissão que, pelo interior da povoação, percorreria as suas ruas ancestrais, acompanhada pela tão peculiar música de instrumentos de sopro e repercussão. Na parte profana, mais que certo, na maioria dos lares que constituem a aldeia, acompanhadas com bom vinho da região, não faltaria chanfana para provar, assada em muitos fornos de lenha numas características caçoilas de barro preto. Para além disso, haveria bailarico até às tantas abrilhantado por uma banda musical.

Salienta-se que, segundo o calendário hagiológico (dos Santos) ou litúrgico da Igreja Católica, a comemoração oficial é em 20 de Janeiro.

Assim, em conformidade com as regras da Direcção Geral de Saúde, amanhã, pelas 14h00, em sentido de homenagem, realiza-se uma missa na capela do lugar.


quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

BAIXA DE COIMBRA: UM ENCONTRO NA CATEDRAL DO VELHO JUVENAL

 

(Imagem de arquivo)




O velho salão Brazil, como sardinha em lata, com as pessoas sentadas encostadinhas umas às outras, estava com a sala cheiinha. Não se sabia se a “colagem” era para aguentar o frio dos presentes se, porventura, era para, dando uma ideia de união com força, meter medo ao vírus de que tanto se fala – seria bom questionar de que que germe patogénico falamos, porque na boca dos que ali se apresentavam iram ser compaginadas várias estirpes.

O circo mediático estava montado com cerca de seis dezenas de espectadores ansiosos para ouvir e ver a habilidade do novo “contorcionista” entrado há pouco, sobretudo na nobre arte do convencimento. Entre eles, vários seguidores a comporem o séquito.

Como se fosse uma igreja, a mesa do altar era composta por um padre, um diácono (moderador) e uma abadessa.

Sem nada que o fizesse prever, a abadessa, unilateralmente, ditou o alinhamento da homilia. Ali só se poderia falar de quatro ou cinco itens – que para serem validados, deveriam ter sido comunicados previamente aos crentes. Mas não foram.

E deu-se início ao sermão ao contrário. Aliás parecia estar tudo no inverso. Quando deveria ser o senhor padre a abrir a missa, no sentido de pôr tudo à vontade, é a abadessa que o faz. E abre-se a troca de ideias: que, para além dos temas propostos, deveriam ser “proactivos, com soluções, e ocupar dois minutos, apenas, para não ocupar muito tempo”, disse a mestra da ordenação.

A plateia, ansiosa por debitar “sound bytes”, pouco se importou que o diálogo estivesse a ser formatado, com pouca liberdade e a tocar a manipulação. Os presentes queriam era falar. Por isso mesmo, quase que se atropelavam para tomar a palavra. Durante cerca de duas horas e trinta minutos, houve assistentes que falaram três e quatro vezes, mas sempre com a mesma ladainha. Chegou a afirmar-se ali que a polícia não era precisa para nada na catedral. Eram precisas mas é pessoas!

Um velhote, de cabelos prateados e pouco amigo do politicamente correcto, atirou: “então não se pode questionar o senhor presidente? Eu tenho uma questão. Era sobre o tão prometido e badalado “Plano Marshall para a Baixa”.

Os mais velhos, já com o traseiro calejado de outros encontros iguais ao longo dos últimos vinte anos, olhavam para aquilo, para tanto falar sem dizer nada, e franziam o sobrolho de surpresa. Os rostos fechados até pareciam dilatar fluídos de desencanto e desilusão.

A cada intervenção, a Abadessa respondia – por vezes interrompendo o arguente.

Alguns, talvez os cépticos, com ar interrogativo, olhavam para o senhor padre e pareciam dizer: “mas não é ele que é a estrela brilhante deste encontro? Por que não fala?

Mas o senhor prior, alheio ao que se passava na sua mesa, tomava notas com frenesim. Pouco lhe importava que o diácono moderador não moderasse nada e fosse ali um elemento de adorno. E que a abadessa ora mandasse calar os mais incómodos, ora deixasse prosseguir, durante mais de dez minutos, os mais importantes. A sua hora haveria de chegar.

Entre o grupo de “católicos, não crentes”, muitos se calaram. Não fosse a sua intervenção melindrar e ser tomada como agressão pelo senhor prior, ainda na graça de Deus.


E FALOU O SENHOR ABADE


E chegou o tão ansiado momento: ia intervir a estrela da noite, a personificação de Dom Sebastião, rei de um universo que virá um dia, tão ansioso, tão esperançado… mas pouco crente, repete-se.

E até à exaustão, durante várias vezes, repetiu: “queremos que… Queremos que…

E prosseguia: “está tudo ligado…

Mas não respondeu com objectividade à questão colocada sobre o “Plano Marshall” para a Baixa.

No final da apresentação desta peça cénica já antiga – tão antiga que dizem ter mais de cem anos –, pareceu haver no rosto de muitos um elevado grau de insatisfação. O orador não convenceu.

Duvido que na próxima reunião, se houver, esteja metade da lotação de hoje.

Mas, à saída, alguém proclamou: “a ver vamos, como diz o cego!

quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

DENTRO DE MOMENTOS, O GRANDE COMBATE

(Imagem da SIC Notícias)




Esta noite, mais exactamente dentro de uma hora, pelas 20h30, em simultâneo nos três canais generalistas, RTP, SIC e TVI, no grande ringue mediático do Capitólio, em Lisboa, vão defrontar-se o campeão de pesos pesados, António Costa, e o meio-pesado, Rui Rio.

Com um júri nacional a arbitrar o grande pleito e sobre a fiscalização do director nacional da Associação de Boxe Performativo, Marcelo Rebelo de Sousa, espera-se que o encontro vá decorrer dentro das normas da decência. O curioso, e isso por questões de sigilo não foi anunciado na imprensa, em espírito, e lado a lado sem falarem, vão assistir ao desempenho dos seus delfins Mário Soares e Sá Carneiro.

Ambos os contendores terão de encenar formas imaginativas para mandar o adversário ao chão. Como desempenho principal será utilizado o “Sparring”, que consiste numa simulação de luta entre pugilistas.

As fintas marcarão todo o tempo de desempenho para desnortear o oponente a nível psicológico. Como se sabe a finta pode ser “programada” ou “adaptativa”. É de crer que a programada vai ser a mais utilizada.

É de prever que o sorriso escarninho, assim a cair para o mal-dizer mas sem mostrar a hipocrisia, vai marcar em permanência o rosto dos dois antagonistas.

Neste espectáculo, mais parecido com um leilão, em que está em causa o voto pessoal de cada um, quem oferecer mais promessas e com uma dialética firme, clara e incisiva, sem desferir um único murro ou pontapé por debaixo da mesa, pode ganhar o combate.

As regras, antecipadamente anunciadas, não permitem “nocaute”, derrube do oposto e incapacitando-o de terminar o combate. No entanto, pasme-se sem pasmar, são permitidos “golpes-baixos”.

Até já. A exibição segue dentro de momentos.

terça-feira, 11 de janeiro de 2022

BARRÔ: A MORTE PASSOU AQUI



A morte, esse desígnio natural que toca a todos os organismos vivos, essa cessação permanente e irreversível de todas as funções biológicas, essa assombração inevitável que poucos querem a bater-lhe à porta, passou hoje por Barrô e levou-nos um prestigiado vizinho: o José Maria.

Partindo com 91 anos de idade, o nosso “Zé” Maria teve uma vida cheia na aldeia que o acolheu e perfilhou desde moço e vindo dos Moinhos.

Vivaço, sem conhecer uma letra por mais maiúscula que fosse, mas com plena flexibilidade, resiliência e fulgor para cada entorse que a vida nos prega, com apenas vinte anos, em 1950, abrindo ao público o seu consultório de cortes de barba e cabelo, cedo se transformou numa das pessoas mais importantes do povoado.

Na sua barbearia, onde não faltava a cadeira recostável António Pessoa, não se tratavam apenas as fealdades do físico mas também as maleitas da alma. Nesse tempo, em que só os mais velhos recordam, o barbeiro era o conselheiro, o confidente, o psicólogo. A seguir ao médico, ao padre, ao professor primário, o escanhoador de rostos ressequidos pelas agruras espinhosas da época marcava a agenda diária de um lugar habitado.

No curso da sua longa existência, foi sempre uma pessoa prestável, respeitada e respeitador. De palavra fácil, sem pejo, despejava o que lhe ia na alma. A vida dura, calcorreando descalço os caminhos de seixos pontiagudos, ensinara-o a ser directo no trato, fosse o visado de classe remediada ou remendada.

Muito crente nos dogmas da fé, sempre se mostrou disponível para ajudar a sua paróquia nas cerimónias religiosas que obrigavam a sua presença.

Com a sua partida para a eternidade, a nossa terra, por um bom homem que se vai, fica mais pobre.

À sua viúva, Maria Augusta de Jesus Vieira, aos seus filhos, Jorge Manuel Vieira de Jesus e Isabel Rosa Vieira de Jesus, e aos seus netos, em meu nome pessoal e da nossa aldeia de Barrô os nossos sentidos pêsames.

Até sempre José Maria.


P.S: Segundo o anúncio necrológico da Agência Funerária da Carreira, Unipessoal, L.da, as cerimónias funerárias serão realizadas amanhã, Quarta-feira, pelas 14h30, na Igreja de Luso com missa de corpo presente. Em seguida, o féretro será encaminhado para o Cemitério local.


TEXTO RELACCIONADO


"HISTÓRIAS DA MINHA ALDEIA: O BARBEIRO"

 

segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

MEALHADA: NÓS POR CÁ… (ANDA POR AÍ UM “PENEIRAS” À SOLTA)

(Imagem da Web)



* Desde o dia 23 de Dezembro que a página da Junta de Freguesia de Luso (JFL) no Facebook está em baixo. Como quem diz, não se ergue, está murcha, foi atacada pelo mal dos velhos, não dá acordo de si.

Não se sabe grande coisa mas aventa-se, porventura, que, tal como os sites da Empresa, teria sido atacado por um conhecido vírus: o “peneiras”, mais conhecido por “vaidoso”.

Relembra-se que este programa malicioso, o vaidoso, foi bastante citado num primeiro comunicado de boas-festas escrito pela JFL no Facebook. Depois, certamente por alguém ter chamado à atenção, foi moderado para “peneiras”.


* Curiosamente, o comunicado emanado da coligação Juntos pelo Concelho da Mealhada, que foi publicado oito dias depois da Assembleia Municipal no Jornal da Mealhada, também faz referência a “exercícios de vaidade pessoal”, mais que certo, a apontar o malfadado daninho como responsável pelo atraso.


* Hoje, Segunda-feira, dia 10 de Janeiro, realizou-se a primeira reunião de Câmara Municipal do mês, tal como as anteriores, transmitida via ZOOM. Há quem diga que o novo executivo liderado por António Jorge Franco também está atacado pelo tal vírus vaidoso. Argumentam estas más-línguas maldizentes que, uma vez que as sessões estão a ser transmitidas pela Internet e não são gravadas para posterior visualização pelos munícipes, o presidente quer manter nos mínimos a imagem pública do seu antagonista na oposição, o s’tor Marqueiro.

Seja isso verdade ou mentira, diga-se a propósito que hoje o ex-presidente da Câmara Municipal, contrariamente às anteriores reuniões em que aparecia inseguro, tenso e com cara dura - de “quantos são? Quantos são?” -, hoje apresentou-se todo “sorrisinhos”, cheio de salamaleques e auto-confiança. Podia muito bem também ter sido infectado. Ai podia, podia...


sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

EDITORIAL: O PRESIDENTE VAI RECEBER OS OPERADORES COMERCIAIS

 




Conforme é público, José Manuel Silva, presidente da Câmara Municipal de Coimbra, a convite da Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra (APBC), vai encontrar-se com os comerciantes, empresários e outros intermediários que laboram na Alta e Baixa da cidade.

A convocação, recebida via e-mail, feita pela APBC, refere que o evento será realizado no antigo Salão Brazil, no Largo do Poço, no próximo dia 18, Terça-feira, pelas 19h30.

Refere ainda o comunicado que “Embora a entrada seja livre, está limitada a 60 lugares sentados, pelo que a reserva é aconselhada.

Voltando uns anos, uns meses e uns dias, deve ser lembrado que o ex-presidente Manuel Machado, para além de se estar a marimbar para os problemas dos negociantes, não recebia e, se alguém fosse às reuniões de Câmara falar das dificuldades sentidas, era ele próprio a obstaculizar e a desvalorizar os queixumes. Nesta parte das relações humanas negativas – salvaguardando outras qualidades do anterior edil – sem rebuço, afirmo: adeus, “Manel”. Estás perdoado, mas não voltes!

Ora, com este compromisso, passados cerca de três meses depois de tomar posse, ainda em estado de graça, José Manuel Silva quer demarcar-se do seu pretérito. É como se dissesse sem dizer: eu sou diferente e, olhos-nos-olhos, vamos discutir os problemas e procurar soluções.

Digo eu: muito bem, meu caro presidente, vamos a isso! Mas antes de encarar os lojistas, convém tomar algumas providências, como por exemplo:



1 – Este encontro, obrigatoriamente, deve ser realizado no Salão Nobre da Câmara Municipal de Coimbra. O Salão Brazil, tendo em conta a importância do encontro não detém suficiente dignidade institucional.

Bem se entende que a escolha do local teve em conta o diminuto numero de presenças em anteriores congressos.

É de supor que este encontro, numa espécie de “se fosse o outro eu não ia, mas, como este é novo e parece diferente, deixa lá ver o que dá”, suscite uma enorme curiosidade entre os mercadores e, desde que bem publicitado, marque presença mais gente do que é prespectivável.

2 – Este cara-a-cara, por parte de José Manuel Silva, é crucial e impactante para a sua imagem de credibilidade futura entre quem trabalha no Centro Histórico. Inevitavelmente, com propostas credíveis e obra materializada a surgir para além das promessas, neste “bate-papo”, terá de saber convencer. Se falhar, o presidente não terá mais hipóteses de ser ouvido com atenção por aqui. É uma oportunidade que lhe é dada para se salvar o Centro Histórico, a Baixa e a Alta, a cidade e, acima de tudo, fazer renascer a esperança em pessoas que, por força da inércia, há muito a perderam. Tem de se entender que há mais de vinte anos que os operadores (sobre)vivem num limbo onde a insegurança na velhice e o empobrecimento é a marca dos dias que correm.

VALE A PENA PENSAR NISTO?