sábado, 27 de agosto de 2016

A BICICLETA MAIS FOTOGRAFADA DE PORTUGAL





Segundo uma fonte pouco credível ligada à autarquia, tudo indica que está em marcha a candidatura a património local da bicicleta às cores estacionada no Largo da Freiria, junto ao estabelecimento de velharias, O Encanto da Freiria. A seguir à foto da Universidade, este velocípede de duas rodas é a imagem mais fotografada e levada para o estrangeiro.
Segundo o tipo que pintou a pedaleira -que, por acaso, conheço bem-, “o modelo original pertence ao Celso Loureiro, “O homem da bicicleta às cores”. Como ele não quis vender o espécime, como é óbvio, recriámos uma parecida. Não estávamos era à espera de um sucesso tão avassalador. Já recebemos um email do Obama (o presidente dos Staites) a marcar vez para tirar uma selfie junto do icónico instrumento. 
Também Françoi Hollande, presidente de França, já nos fez chegar o pedido para, logo que passe a onda do “burquini”, vir posar junto do símbolo ciclistico. Do Costa, primeiro-ministro português, ainda não sabemos se virá. Também por parte de Manuel Machado, presidente da Câmara Municipal de Coimbra, não sabemos se estará interessado num retrato. Provavelmente não, sobretudo, tendo em conta que ele não vai à bola com um gajo que está estabelecido no pitoresco largo. Para além disso, santos da casa não fazem milagres, você sabe, não é?”

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

CHEGUEI AOS "SE SENTA"

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)






Comemoro hoje sessenta anos, desde o dia em que nasci. Em boa verdade, já sou mais velho. Isto é, com mais uns, não sei quantos, meses. Desde muito cedo que me habituei a ouvir a minha mãe afirmar que me tinha registado “já fora do prazo” legal para o fazer. Imagino que teria nascido em casa com o apoio de uma parteira. Por estranho que pareça, quando o deveria ter feito, nunca me preocupei em interrogar qual a data verdadeira do meu nascimento. Só há cerca de uma dezena de anos, quando me quiseram realizar o designado “mapa astral” e me perguntaram a data e hora do nascimento, tomei noção da minha incapacidade. Ainda tentei saber alguma coisa junto da minha progenitora, porém já era tarde. Como estava já um pouco senil, ela já não conseguiu lembrar-se. Não é que esta ignorância tenha uma consequência por aí além, a não ser, por exemplo, quando leio -raramente, porque não acredito em premonições- a interpretação dos signos já sei que o melhor é ler os correspondentes “Caranguejo”, “Leão” e “Virgem” -o problema é a destrinça porque, na base astrológica, me identifico com os três. Sei também, pela data oficial de registo, que nasci no Dia Mundial do Cão, o que, em extrapolação, sendo este animal o amigo mais fiel do homem, se não me confere qualidades especiais, também não mas retira.
Depois deste introito, dizia eu então que fiz hoje 60 anos. Estou contente? Estou triste? Ou nem uma coisa nem outra? O que sei é que fisicamente sou mais velho do que sinto mentalmente. Apesar disso, contrariando outros tempos, antes de me lançar a um novo desafio penso uma, duas, três vezes. A idade tornou-me mais realista e menos idealista. Os sonhos, como pano cru lavado em água fumegante, encolheram e já só aspiro a ter saúde. Tornei-me convicto, por vezes teimoso aborrecido, como se estivesse certo de que o mundo não mudará nunca.
Esqueço facilmente onde deixei as chaves e, como cão em torno do rabo, procuro em vão, voltas e mais voltas, para acabar a verificar que estavam onde não pensava estarem.
Como milagre da Senhora do Ó, a minha barriga teima em crescer, mesmo que eu só ingira pão e água.
Passei a ler diariamente a página da necrologia dos vespertinos locais, provavelmente, em busca do meu retrato acompanhado com um pequeno historial.
Tenho de mudar. Cheguei aos “se senta” -o transpor da porta do estádio da contemplação. A partir de aqui, mais que certo, passarei a olhar o pôr-do-sol, o mar, a Lua, as estrelas com outros olhos. Já não me interessa o movimento frenético, mas antes a sua presença omnipotente. Deixaram de ser uma moldura na existência efémera para passarem a ser o símbolo do belo, o paradigma máximo da beleza perene.
Provavelmente, vou dar-me conta de que para ser feliz precisarei de cada vez menos, de pouco, de nada. Pressinto de que, de agora em diante, vou caminhar pela estrada e tomar mais atenção às pegadas de quem passou por ali antes de mim.
Em vez de correr os dias ouvindo vagamente o chilrear dos passarinhos, sempre que possa, vou sentar-me no banco do jardim público e vou apreciar cada momento, cada movimento das aves.
Quando pisar uma folha, seca e amarelecida, no asfalto negro e duro vou imaginar o seu outrora verde viçoso que já foi.
Vou ouvir a chuva na vidraça e relembrar a vida que eu percorri sem quase dar por isso. O vento ameaçador, a uivar no recanto do beiral, parecer-me-á notas de poesia intemporal e levar-me-á a escrever versos rimados e a compor canções em acordes já ouvidos.
Em vez de fazer perguntas no ruído ensurdecedor, em que ninguém me escuta, vou procurar respostas no silêncio avassalador e envolvente.
Em balanço existencial, mais que certo, vou dar por mim a arrepender-me por coisas que fiz mal feitas, mas de pouco valerá a pena, e tentar ser melhor, sobretudo, remediando em situações futuras.
Quando, à noite, me deitar e não conseguir dormir a tentar rebobinar o filme da minha vida, aceitando tudo o que ela me deu de melhor e pior, vou ser complacente com os meus erros praticados. Já nada posso fazer para os evitar.
Os “se senta” são um marco, uma fronteira, um entardecer que divide o dia e o crepúsculo, o resto da nossa vida.
Mesmo não sendo religioso, vou agradecer cada dia, como obra e graça do divino. De aqui para a frente, tenho a certeza, nada irá ser igual. Para meu bem, espero que assim seja. 
Muito obrigado a todos quantos me bafejaram com os parabéns de amizade e carinho.

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

BOM DIA, PESSOAL...

AMANHÃ HÁ FADOS NOS RECANTOS DA BAIXA



NOITE DO FADO

A Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra (APBC) preparou para os meses de verão uma programação diversificada na Baixa de Coimbra, com Noites Temáticas. Estas  realizam-se na ultima sexta-feira de cada mês ( 24 de Junho, 29 de Julho, 26 de Agosto e 30 de Setembro), sendo  a pretensão   da APBC  que o comércio se mantenha aberto ao público até às 24h00 e que existam outros acontecimentos complementares à animação de verão da Câmara Municipal de Coimbra, que tragam público até à Baixa de Coimbra.
A primeira destas Noites realizou-se a 29 de Junho com o 239 Enigma Challenge, com a realização de diversos enigmas pelas lojas da Baixa da Cidade, a segunda foi a reedição da noite de Dj´s com diversas sonoridades a invadir as ruas da Baixa.

Nesta terceira edição das Noites Temáticas que se realiza no próximo dia 26 de Agosto a APBC realiza  mais uma edição das Noites Temáticas onde o tema é o FADO de COIMBRA e para a qual conta com o apoio  da Câmara Municipal de Coimbra, Fado ao Centro, àCapella e Café Santa Cruz.

O Convite lançado para esta noite é para que os visitantes venham calcorrear a Baixa de Coimbra e para desfrutar de actuações de rua de vários grupos de Fado de Coimbra.
A cada esquina um Fado!

As actuações dos grupos de fados das três entidades (Fado ao Centro, àCapella e Café Santa Cruz) foram programadas por forma a permitir aos visitantes a realização de dois percursos que podem naturalmente ser complementados entre si de acordo com o interesse de cada pessoa:
Percurso  I
Largo da Freiria - 21h30
Largo do Paço de Conde - 22h00
Escadas de Santiago - 22h30 - 23h10

Percurso II
Escadas de S. Bartolomeu 21h00 e 23h30
Arco de Almedina - 21h30
Escadas do Gato - 22h00
Largo do Romal - 22h30 - 23h10Imagem intercalada 1
A noite pode ainda ser aproveitada pelos turistas para conhecer o Museu Temporário de Memórias situado na  Rua Velha, perpendicular à Rua Eduardo Coelho (antiga Rua dos Sapateiros) e a exposição 'Memórias da vanguarda - 70's' do CAPC Círculo de Artes Plásticas de Coimbra.
A 30 de Setembro realizar-se-á a ultima edição destas noites temáticas com a Noite do Teatro. Não percam!


APBC - Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra
Rua João de Ruão, 12 Arnado Business Center, piso 1, sala 3
3 000-229 Coimbra
Tel. 239 842 164  Fax. 239 840 242 Tel. 914872418
apbcoimbra@gmail.com
www.baixadecoimbra.com

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

UM COMENTÁRIO RECEBIDO SOBRE...




MÁRCIO RAMOS deixou um novo comentário na sua mensagem "BAIXA: A APBC E O DEJÁ VÙ” (2)



1 -Tenho para mim que que os comerciantes devem participar nos eventos da APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra. Como um comerciante digno desta praça disse um dia, “os comerciantes estão cansados de um dia de trabalho, tristes, e ainda vêm para aqui a noite toda arriscando a não fazer uma venda?”. Concordo. Mas a agência devia incentivar estes comerciantes a participar. E como? A meu ver, deveria haver dois horários, o de verão e o de inverno. O da época das chuvas seria praticado, como agora está, das 9 as 19h00, com ou sem pausas para almoço. As interrupções seriam da responsabilidade do comerciante. No horário de verão, com bom tempo e com pessoas nas ruas durante a noite a dar seu passeio, as lojas da Baixa deveriam estar abertas até mais tarde 22h00 ou 23h00. Os SMTUC, Serviços Municipalizados de Transportes Urbanos de Coimbra, deveriam também agilizar um pouco o seu horário para ir até mais tarde -ainda há pouco foi feito um estudo em que o resultado apontava para esta solução. Só assim, com outra visão, pode a Baixa combater as grandes superfícies.

2 -A exposição de “Rostos Nossos (Des)Conhecidos” foi uma ideia foi óptima, a execução péssima.
Deveremos recordar caras que muitos de nós vimos quando éramos mais novos, mas não deveria ficar por aqui. As lojas que marcaram esta zona da cidade e já desapareceram deveriam fazer parte do projecto; mostrar as transformações que esta zona teve ao longo dos anos, para que jovens como eu tomem noção de como era a Baixa e para aprendermos a não realizar atentados arquitectónicos. A Torre de Santa Cruz, que poucos tem memória dela, e tantos monumentos que desapareceram ou foram transformados, como era a Praça 8 de Maio antes da transformação, ou o “Bota Abaixo” antes de o ser.
E pergunto: porquê só a Baixa? Por que não mostrar a evolução da cidade durante as últimas quatro décadas? Ou como era a Alta antes de Salazar mandar demolir para fazer a a área universitária? São tudo memorias que merecem ser partilhadas e não ficarem armazenadas num sótão a apanhar pó.
Além das pessoas que deram vida a esta Baixa, por que também não mostrar a história universitária? Quando os estudantes, caloiros, tinham que se refugiar ao toque da cabra ou eram punidos. Ou os apregoados amores dos estudantes pelas tricanas; ou o trabalho das lavadeiras do Mondego; o historial dos doces típicos e toda cozinha regional. Tudo isto merece ser mostrado numa exposição.
3 -Mas o local escolhido para esta exposição não lembra o diabo. Primeiro, num beco, sem nenhuma indicação, num prédio antigo, abandonado e não muito acolhedor, a exposição já relatada fica muito a desejar. Embora no coração da Baixa, ficou num sítio fora dos guias turísticos -e que vergonha tinha eu se um turista levasse como memória de Coimbra aquela exposição.
Pergunto: havendo tanta loja fechada por essa Baixa fora, não seria mais sensato arrendar um desses espaços durante o período da mostra e fazer um evento mais digno? Nem que fosse para respeitar as pessoas que nele estão representadas. Em alternativa, por que não se fez a exposição no Museu da Cidade, no Edifício Chiado? Tenho para mim que este espectacular espaço, com uma situação privilegiada, é pouco utilizado para o público em geral. Por que não transformar esta mostra numa exposição permanente? Não deveremos esquecer o passado. Alguém disse um dia que um povo sem memória é um povo sem história.
4 -Para acabar, pois texto já vai longo, a APBC tenta fazer o melhor. Lamento que quando há reuniões desta agência sejam tão poucos os que aparecem, mas quando esta entidade faz algo errado sejam muitos a criticá-la. Se acham que conseguem fazer melhor candidatem-se, ou vão as reuniões. dêem ideias. Sinceramente, às vezes fico pasmado que em Coimbra hajam tantos “Velhos do Restelo”.
A Baixa não voltará a ser o que era, por culpa de muitos, inclusive de comerciantes que não souberam inovar, adaptar-se, unir-se e impor-se.
Na baixa há um mostrengo, em jeito de cancro, de seu nome “via central”. Quantos lojistas se uniram e já fizeram pressão junto da Câmara Municipal para avançar com as obras? A única coisa que vi nestes meses desde que anunciaram que a “via central” era para andar foi a colocação de andaimes e lonas com desenho dos prédios, em frente à Caixa Geral de Depósitos, estando acessíveis a qualquer marginal.
Na zona da Rua Direita há problemas de segurança, ninguém quer saber, nem mesmo os comerciantes, os que têm mais interesse. O mundo transformou-se imenso durante estes últimos anos. Não podemos ficar no passado. O futuro passa por agirmos e tentar resolver os problemas que destroem a Baixa e seu potencial. Os comerciantes devem apresentar soluções, falar a uma só voz. A APBC deve ser a sua representante, só assim, a meu ver, a Baixa terá futuro.



TEXTO RELACIONADO

MÁRCIO RAMOS deixou um novo comentário na sua mensagem: “BAIXA: A APBC E O DEJÁ VÙ" (1) 

terça-feira, 23 de agosto de 2016

“ANAVALHADO” NO LARGO DA FREIRIA JÁ TEVE ALTA HOSPITALAR






Ricardo Fernandes Alves, o nosso vizinho que no dia 11 do corrente foi vítima de esfaqueamento por parte de um morador do mesmo prédio onde reside, no Largo da Freiria, na Baixa, teve alta hospitalar ontem à noite e, felizmente, já calcorreia as pedras da calçada desta área milenar.
Levemente combalido, como é normal depois de uma convalescença hospitalar, com as palavras a soltarem-se em turbilhão, mostou-se muito agradecido a todos quanto, incluindo os vizinhos, que se esforçaram para que o desenlace da tragédia fosse o de menor custo, o Ricardo estava feliz por ter ultrapassado o limbo, a terra de ninguém entre a vida e a morte, e enfatizou que espera nunca mais passar por experiência igual. Nós também fazemos votos para que tal não volte a acontecer.

E O AGRESSOR, COMO É QUE ESTÁ?

Como já tive ocasião de escrever, Carlos Leonel Gonçalves, o agressor, está a aguardar o julgamento em prisão preventiva num estabelecimento prisional numa cidade próxima de Coimbra.
Sem aparentemente denotar arrependimento, continua a verberar o mesmo depoimento que levou ao desfecho do incidente criminal. Embora sem estabelecer relação causa-efeito, confirmou que, de facto, há muito tempo, não tomava medicação para a esquizofrenia, patologia que sofre desde o final da adolescência.

UMA NAVALHA EM CADA ESQUINA?

Repetindo o que escrevi na descrição da eminente tragédia, que quase foi fatal ao jovem de vinte anos, Ricardo Alves, quer o agressor, que reside no Largo da Freira há cerca de três anos, quer o agredido, que mora no mesmo local há cerca de um ano, sempre foram pessoas sociáveis, de respeito mútuo, e nunca denotaram aos confinantes qualquer tensão existe entre ambos.
Sem, de modo nenhum, querer desvalorizar a gravidade da “tentativa de homicídio”, porque falei com a assistente social que acompanha Carlos Leonel sei que este não tomava a medicação há muito tempo. Quando alertado para o facto argumentava que “já estava bom e não precisava de ingerir medicamentos que lhe davam cabo do estômago”, confidenciou-me a técnica de serviço social.
Ora, tendo em conta a consequência -apesar de tudo, felizmente, com mal menor- do caso esporádico e pontual, em especulação, poderemos interrogar: quantas pessoas, na mesma situação, isto é sem medicação assistida, se arrastam pelo Centro Histórico? Sem pretender ser alarmista, quem considerar estar a salvo de uma qualquer agressão gratuita pode, por vias de facto, não estar assim tão descansado.
Sabendo nós que a maioria destas pessoas que recebem o RSI, Rendimento Social de Inserção, são incapazes de se administrarem e logo no segundo dia, depois de receberem o subsídio, já estão sem dinheiro, e juntando o facto de estarem entregues a si mesmo na medicação (que deveriam tomar e não tomam) não fará sentido ser criada a figura de um tutor para os acompanhar? Embora se calcule o atrofiamento do serviço, com demasiados utentes à sua responsabilidade, poderia perfeitamente ser a assistente social que os acompanham.
A bem de um futuro que, através da prevenção, se espera melhor, valerá a pena pensar nisto?

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

UM COMENTÁRIO RECEBIDO SOBRE... E UMA RESPOSTA




Tétisq deixou um novo comentário na sua mensagem "EDITORIAL:VARRER OS TOXICODEPENDENTES PARA DEBAIXO...":


São questões interessantes e pertinentes, mas não comungo daquilo que me parece uma excessiva desculpabilização desses indivíduos, 'doentes sociais'. Se cometem crimes devem ser punidos, se uns consomem outros traficam pelo que será importante terminar com esse tipo de negócio para fazer dispersar essa comunidade.
No final dos anos 80 a minha vila ocupava o lugar de maior centro de consumo e tráfico de droga da zona Norte. Desde os 6 anos que convivo com a imagem de indivíduos a injectarem-se, as seringas abandonadas eram frequentes no caminho da escola e sendo que nessa altura havia um 'entendimento' da comunidade toxicodependente de que era importante viciar os mais novos, foi nessa altura que comecei a recusar os 'doces' que me tentavam impingir no portão da escola.

Cresci a ter medo de circular nas ruas da minha vila, e nas ruas do Porto, e quando vim para Coimbra fiquei feliz porque me sentia segura e podia gabar-me aos amigos de que em na cidade dos estudantes andava na rua sozinha a qualquer hora, mesmo que fosse noite. Mas, agora. até de dia sinto medo e nojo quando ando nas ruas da Baixa.
Tenho medo porque já assisti a discussões entre indivíduos desse grupo onde empunhavam facas, que não me ameaçando directamente me podiam prejudicar.
Tenho medo e nojo porque os animais, principalmente cães, que estes indivíduos trazem com eles parecem uma ameaça à saúde publica. E, no fundo, tenho medo porque me cruzo mais vezes com eles enquanto praticam ilícitos do que com patrulhamento policial.
Tirando o policia que fica em frente ao Banco de Portugal como se fosse um meco, já que não pode sair de lá, raramente vejo policia nas ruas da Baixa.
Acho que as várias entidades, Câmara Municipal, Cáritas, associação comercial e autoridades deviam chegar a um acordo para que o patrulhamento aumente e todos se sintam mais seguros. Os turistas que já vi muitas vezes desistir de entrar nos becos da Baixa por medo e que deixaram certamente de consumir nas lojas aí situadas, os cidadãos que assistem às cenas que descrevi, e os trabalhadores que têm nessa zona o seu local de trabalho, desde “call center NOS, Pingo Doce, Continente e diversas estruturas cujos trabalhadores maioritariamente jovens, começam a ter medo de estacionar ou simplesmente apanhar um autocarro ali perto.
Nem na minha vila nem nas zonas mais problemáticas do Porto situações semelhantes a esta se resolveram sem o aumento do policiamento. É imperativo eliminar o tráfico para evitar outros pequenos delitos que por ali se repetem e perpetuam.





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RESPOSTA DO EDITOR


Muito obrigada, Té Tisq, por ter respondido ao meu repto de uma forma tão clara.
Começo por fazer uma ressalva em jeito de introdução. Pode até parecer que sou um defensor acérrimo da liberalização de drogas e de salas de chuto medicamente assistidas. Puro engano. Defendo estes instrumentos, legalizados por lei da Assembleia da República, como último recurso, que pode ser experimental, numa batalha (contra a droga) declaradamente perdida por todos, pela sociedade, pelas polícias, pelos governos, que fazem o que podem para manter a situação sob controle, mas que já deu para ver que com o actual “status quo”, situacionismo, não se sai do mesmo lugar, se é que não estamos a piorar. Continuamos a assistir, impávidos e serenos, à destruição de famílias, com mortes associadas -eu já passei e continuo a passar por essa experiência. Tenho vários familiares com este problema. Já vi desaparecer jovens na primavera da vida que gostava muito.
O que se passa é que, colectivamente, fizemos do consumo e tráfico de droga um anátema, uma execração, uma maldição contrária ao modus vivendi societário, na forma como entendemos a perfeição na convivência humana, e, fugindo, não procuramos enfrentar o cancro. Sobretudo o consumo de droga é um comportamento que, quer pelos envolvidos directamente, os viciados, quer pela família, uns e outros tentam esconder. Sem enfrentar a consequência de frente. Pela segunda, a família, há um retrato comum: os pais, em face da adversidade não se unem em bloco, dividem-se, e um deles passa a considerar o filho como doente, “coitadinho do menino”, alega-se em repetido, e a manipulação passa a ser uma constante. Esta super-protecção de uma das partes leva à desvalorização da autoridade paternal do outro. Por seu lado, o protegido cada vez se sente mais forte e vai manipulando cada um dos entes a seu bel-prazer e tendo sempre em conta a sua conveniência egoísta e mesquinha. O resultado desta divisão é o esboroar das relações familiares e o desmantelamento da família. É um erro assacar culpas na educação.
O que deveria acontecer (e na maioria não acontece) deveria ser a família unir-se em bloco e impor regras que passam pelo tratamento compulsivo do afectado. Sem cedências, o ultimato deve ser uma escolha: ou te tratas ou vais à tua vida, mas sozinho. É fácil lidar com esta constatação? Claro que não -só quem passa por isso sabe do que escrevo. Logo aquando da descoberta de consumo os pais deveriam assumir friamente que é uma luta de vida ou de morte. A perda do ente querido é uma inevitabilidade. Se nada se fizer e se manter a situação, o mais certo, mais tarde ou mais cedo, é, no caso das leves, ele acabar com os neurónios queimados, ou estendido com uma overdose, no caso das drogas pesadas. Se a pé juntos se optar pelo tratamento e o viciado não aceitar, o melhor, antes que destrua tudo em redor, é obrigá-lo a ir -repito, é muito difícil, mais fácil é escrever, mas é a única possibilidade dos primogénitos se manterem juntos.
O consumo de droga é uma institucionalizada condenação à morte. Quando não percorremos os carreiros desse mundo terrível, a forma como lidamos com o assunto, alheando-se da solução, na generalidade, entendemos que não é um problema nosso. Pensamos que só acontece aos outros. Com o espectáculo público de injecções na veia acontece a mesma coisa: só nos tira o sono quando verificamos que está junto à nossa porta. Então, quando assim é, gritamos, estrebuchamos que nem peixe fora de água.

MAS PORQUE É QUE TUDO CONTINUA IGUAL?

É uma pergunta sem resposta objectiva. No entanto, tenho para mim que tudo continua na mesma e igual à lesma porque, por um lado, como disse em cima, as famílias preferem enterrar a cabeça na areia, não dando a cara, ao invés de se procurarem soluções, exigindo dos governos nacionais um novo testar do problema do consumo e tráfico de droga, por outro, há demasiados interesses envolvidos nesta questão. Sem ofensa para ninguém em especial, desde as instituições ligadas à prevenção e combate à droga, passando pelo lobi farmacêutico, até aos cartéis, que envolvem governos internacionais e personalidades ditas intocáveis, ninguém está interessado em alterar o actual panorama.

MAS, VAMOS AO COMENTÁRIO OU NÃO?

E finalmente vamos às suas questões.

São questões interessantes e pertinentes, mas não comungo daquilo que me parece uma excessiva desculpabilização desses indivíduos, 'doentes sociais'. Se cometem crimes devem ser punidos, se uns consomem outros traficam pelo que será importante terminar com esse tipo de negócio para fazer dispersar essa comunidade.


A desculpabilização de que você alude, a meu ver, surge a jusante como um benefício em resultado da incapacidade (de todos) de não se ter actuado preventivamente a montante. Isto é, logo na detecção do problema dever-se-ia actuar em conformidade, com mão forte e o Estado chamar a si a terapêutica, o tratamento de doentes. Como se prefere actuar depois do mal-feito, de certo modo, é como se, pacificamente, aceitasse a tese de Rosseau, século XVIII, de que todos nascemos puros e bons e é a sociedade que nos conspurca, tornando-nos selvagens.
Se atentarmos, a justiça é o braço pretensamente justo que pune os ilícitos em nome da sociedade. E será tão justa tanto quanto, pela sentença ou acórdão, consiga, ao mesmo tempo e num equilíbrio precário, satisfazer os vitimizados e os agressores. A tal paz social, de que se fala, assenta e é conseguida mais nesta premissa de ressarcimento individual do que pela restrição de liberdade ou custo monetário.
No caso a que alude, na punição de tráfico e consequência do consumo, como vemos, está logo viciado à partida e a justiça, por ser parte da parte (Estado), utiliza um paternalismo (talvez) exacerbado na análise e conclusão do processo.
Poderia ser diferente? Penso que sim se a responsabilização começasse logo na educação/formação e não apenas na idade da alegada tomada de consciência dos actos, seguindo o Direito Romano, de há mais de dois mil anos, como se uma pessoa de 14/16 anos tivesse hoje a mesma mentalidade de há milhares de anos e não percepcionasse a consequência de modo diferente, límpido e calculista.


Cresci a ter medo de circular nas ruas da minha vila, e nas ruas do Porto, e quando vim para Coimbra fiquei feliz porque me sentia segura e podia gabar-me aos amigos de que em na cidade dos estudantes andava na rua sozinha a qualquer hora, mesmo que fosse noite. Mas, agora. até de dia sinto medo e nojo quando ando nas ruas da Baixa.”

Com todo o respeito pela sua opinião, retirando o pequeno furto, aqui e ali com assaltos à propriedade, e escaramuças próprias de uma cidade média, Coimbra, e sobretudo a Baixa, que é a zona de que falamos, é garantidamente segura. Para fundamentar a minha afirmação, trabalho e resido na Baixa. Mais, por vezes, percorro estas ruas noite dentro e nunca tive qualquer problema. Acredito que, pela desertificação a que a área está votada, sobretudo durante a noite, o medo é mais formal, psicológico, que efectivo, material.

Tenho medo porque já assisti a discussões entre indivíduos desse grupo onde empunhavam facas que não me ameaçando directamente me podiam prejudicar.
Tenho medo e nojo porque os animais, principalmente cães, que estes indivíduos trazem com eles parecem uma ameaça à saúde publica. E, no fundo, tenho medo porque me cruzo mais vezes com eles enquanto praticam ilícitos do que com patrulhamento policial.
Tirando o policia que fica em frente ao Banco de Portugal como se fosse um meco, já que não pode sair de lá, raramente vejo policia nas ruas da Baixa.”

Tanto quanto julgo saber, o grupo a que se refere costuma estar “estacionado” ora na Rua da Sofia ora nas artérias largas. Não quero entrar em desculpabilização gratuita mas, no caso, creio, será mais de “vadios sem eira nem beira” onde o álcool jorra de garrafa para garganta do que propriamente os “drogados” com substâncias opiáceas de que falamos. Se por um lado concordo que a sua exposição pública não é muito gratificante para a Baixa, por outro, sejamos justos, as polícias pouco podem fazer -pelo direito constitucional de liberdade de circulação.

Acho que as várias entidades, Câmara Municipal, Cáritas, associação comercial e autoridades deviam chegar a um acordo para que o patrulhamento aumente e todos se sintam mais seguros. Os turistas que já vi muitas vezes desistir de entrar nos becos da Baixa por medo e que deixaram certamente de consumir nas lojas aí situadas, os cidadãos que assistem às cenas que descrevi, e os trabalhadores que têm nessa zona o seu local de trabalho, desde “call center NOS, Pingo Doce, Continente e diversas estruturas cujos trabalhadores maioritariamente jovens, começam a ter medo de estacionar ou simplesmente apanhar um autocarro ali perto.”

Concordo plenamente consigo. Apesar de não considerar a insegurança preocupante na Baixa, defendo que o policiamento a pé, durante a noite e não só à luz do dia, deveria ser uma obrigação da PSP.

Nem na minha vila nem nas zonas mais problemáticas do Porto situações semelhantes a esta se resolveram sem o aumento do policiamento. É imperativo eliminar o tráfico para evitar outros pequenos delitos que por ali se repetem e perpetuam.”


Mais uma vez concordo consigo. Por isso mesmo continuo a dissertar sobre este assunto e até, quase a parecer provocação, me dou ao trabalho de escrever este lençol.

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

UM COMENTÁRIO RECEBIDO SOBRE...




MÁRCIO RAMOS deixou um novo comentário na sua mensagem: “BAIXA: A APBC EO DEJÁ VÙ (1)


Sobre a APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, haveria muito a dizer mas vou enumerar alguns factos:
Antes de mais, quer a agência trabalhe bem ou mal- é discutível-, quando há as reuniões ou sessões abertas aos comerciantes deveriam ir todos, pois se esta agência defende os interesses dos comerciantes estes devem marcar presença, dar a sua opinião, construtiva e fundamentada.
É muito fácil criticar comentar, mas depois quando a nossa contribuição é necessária fugimos como rabo à seringa. Claro que esta opinião não se reflete no autor deste blogue.
Sobre as “Noites Brancas”, a meu ver, é uma excelente iniciativa mas, em alguns casos mal estruturada, explico:
Marchas populares: a melhor “Noite Branca” que temos, atrai muitas pessoas à Baixa. Atrevo-me a dizer milhares de pessoas, mas há reparos a discutir: por que não fazer um percurso único? As marchas nem todas percorrem as vastas artérias da zona, começavam no Largo da Portagem, desciam as ruas Ferreira Borges e Visconde da Luz e Praça 8 de Maio. Continuavam em direcção à Sofia, Terreiro da Erva, Largo das Olarias, Rua da louça, Largo do Poço, Rua Eduardo Coelho, Rua das Padeiras, Rua Paço do Conde, Rua Adelino Veiga, Praça do Comércio e terminavam no Largo da Portagem. As actuações podiam ser ou na Portagem, na Praça 8 de Maio, ou na Praça do Comércio. Quando uma iniciasse no Largo da Portagem já estava outra pronta a atuar. Assim seria um desfile mais bonito, organizado e mais interessante que abrangia toda a área da Baixa.
Quanto às marchas infantis não tenho muito a relatar pois, a meu ver ,são bonitas e não se pode exigir muito as crianças.
Sobre outra “Noite Branca” de grande relevo, a noite dos djs aqui aponto bastantes falhas. Este evento deveria ser vocacionada para um publico jovem, fazendo tudo para lhe provocar atracção pela Baixa; mostrar-lhesque temos boas lojas, com preços atraentes, que não e só nos shoppings que se podem divertir.
Acho bem os djs ficarem espalhados pela zona mas, antes de mais, deve haver em cada dj um sistema de som decente, assim como, juntamente um conjunto de luzes de ambiente discoteca, bastará dois postes e uma barra. Acho que era totalmente diferente e inovador. Fazer na Baixa uma rave ,uma discoteca a céu aberto, e o mais vantajoso onde não se paga para entrar. Na música sim, podia haver um dj com temas mais dos anos de 1980 ou 1970 para animar as pessoas, recordar os velhos tempos, mas o resto deveria ser com hits que os jovens gostam , músicas alegres e dançáveis, como que cada dj fosse uma discoteca. Traria imensos jovens e com eles os pais. A meu ver, são os jovens o futuro da Baixa, por isso mesmo, há que os cativar.
As “Noites Brancas” deveriam ser mais divulgadas; depois fazer uma “Noite Branca” só porque está bom tempo e sem nenhuma animação ou temática é uma aposta perdida. E Coimbra com seu romantismo, história e misticismo, dá para tanta temática para a Baixa.
Não entendo por que na agência não há sangue jovem; por melhor vontade que tenham não têm ideias e a mentalidade dos mais novos.
No natal os shoppings são engalanados com belas e acolhedoras decorações natalícias; dá prazer passear nestas superfícies só para ver estas alegorias que nos cativam. O Natal é das melhores épocas do ano para os comerciantes. Não há muito tempo muitas pessoas vinham ate à Baixa ver os os enfeites de natal que alegravam esta zona, que ficava mais feliz e animada. Havia uma rádio que anunciava promoções das lojas e dava música. Era bom andar por aqui; era como passear nos shoppings. Nesse tempo as ruas tinham ornamentações belas e luxuosas que convidavam a visita. Acho que a APBC pode fazer muito mais neste capitulo, pois a Baixa há muito que não tem iluminação. A que é colocada nas ruas largas, como Ferreira Borges Visconde da luz e Sofia, é imensamente pobres. Os comerciantes não sentindo o calor da iluminação natalícia sentem-se tristes. No Natal esta Baixa mais parece mostrar que é um centro comercial moribundo, prestes a morrer, que mete umas iluminações fracas só para lembrar a quadra, como que a anunciar o fecho iminente. A Baixa não é isto. Esta área velha é um centro comercial riquíssimo, com vasta cultura, com serviços e muitas lojas. A agência tem que olhar para o tempo de Natal com outros olhos. Se a Câmara Municipal não enfeita as ruas esta agência que o faça. A Baixa precisa de luz e de espírito natalício.

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

EDITORIAL:VARRER OS TOXICODEPENDENTES PARA DEBAIXO DO TAPETE

(Foto de Leonardo Braga Pinheiro)




O Diário de Coimbra (DC) de hoje titula em primeira página: “Tráfico e consumo de droga na Baixa à vista de todos”. Numa reportagem assinada por Ana Margalho, pode ler-se que os “moradores dizem que toxicodependentes “se transferiram para as imediações, sendo notório o aumento do tráfico de droga. Injectam-se na rua e deixam seringas espalhadas no chão.
Continuando a citar o DC, “Temos alertado as autoridades competentes”, confirma Sandra Costa, administradora do condomínio e gestora do parque de estacionamento do Edifício Horizonte, fazendo questão de deixar claro que nada há da sua parte e da dos moradores contra as obras no Terreiro da Erva, que são “de aplaudir”, mas lamentando que “nada tenha sido feito para minimizar o impacto desta requalificação para quem mora e circula na zona envolvente. E os transtornos são, além do ruído nocturno, que já era sentido antes, “um aumento grande do número de consumidores e traficantes” que tem consequências visíveis, por exemplo, na quantidade de seringas que se vêem espalhadas na via pública, nomeadamente na Rua da Nogueira -como o Diário de Coimbra pôde comprovar- onde Sandra Costa vê quase diariamente pessoas a injectarem-se.”

AUTORIDADES RESPONDEM MAS NÃO HÁ MELHORIAS”

Continuando a parafrasear o DC, “(...) à Câmara de Coimbra num email que (Sandra Costa) enviou foi respondido pela Divisão do Ambiente da autarquia. “Informaram-me que iam estar atentos à limpeza dos arruamentos nesta zona, dando indicações à empresa que presta limpeza para estar especialmente atenta na rua da Nogueira e na rua do Carmo, onde são encontradas mais seringas.”
Por seu lado, “A PSP de Coimbra confirmou ao DC ter recebido “algumas comunicações” quanto à presença de toxicodependentes na zona envolvente ao Terreiro da Erva e ocorrências a ela associadas, tendo esta motivado “a orientação de esforços no sentido (…) ali intensificar o policiamento e a intervenção policial. Foi, aliás, reforçado o policiamento e implementadas várias operações de prevenção e combate ao fenómeno da toxicodependência” das quais resultaram já “várias detenções por tráfico de estupefacientes, apreensões de substâncias e identificação de vários indivíduos suspeitos. A PSP de Coimbra garante que o “assunto está a merecer a melhor atenção” mas que, disposições legais em vigor e o funcionamento de estruturas de apoio a toxicodependentes naquela área nem sempre facilitam a actuação das autoridades policiais. Trata-se “não só de uma questão policial mas também de um assunto com uma grande componente social, cuja solução terá, também,, que resultar da intervenção de diversas entidades com competências específicas na área de apoio social, as saúde, da limpeza urbana e outras”, remata a PSP de Coimbra.”

SANDRA CHUTA À BALIZA E OS RESPONSÁVEIS PARA CANTO

Gostei de ler a peça de Ana Margalho. No entanto, a meu ver, para ser excelente, faltou lá as declarações dos técnicos responsáveis pelo gabinete de apoio aos toxicodependentes, da Cáritas Diocesana de Coimbra, e a merecer uma segunda reportagem tendo por fundo o trabalho desenvolvido no espaço do Terreiro da Erva. O terreiro do pó. Até por que, depois das inusitadas declarações da PSP ao implicitamente responsabilizar aqueles serviços pelo alastrar da situação, no mínimo, deveriam ser ouvidos. Quantas pessoas estão registadas e são apoiadas pelo centro? Quantas seringas são distribuídas diariamente? Onde dormem? Onde se injectam? Perguntas que ficam sem resposta, que me elucidavam e me permitia aferir melhor da importância que este gabinete exerce na sociologia da Baixa.
Ao ler as declarações prestadas pelos envolvidos, particulares e entidades responsáveis pela prevenção e combate ao flagelo social, só uma pessoa se salienta: Sandra Costa -que desconheço. De uma forma desassombrada, sem receio e colocando o dedo na ferida, assume as queixas, pessoais e colectivas, identificando-se.
Quanto à resposta escrita da autarquia, ao dizer que vai recomendar que se faça a recolha com mais atenção, é simplesmente um desaforo, um desrespeito, o que não surpreende de todo se tivermos em conta o enunciado, há pouco mais de um ano, por Manuel Machado, presidente da Câmara Municipal de Coimbra, em que defendia a retirada dos serviços de apoio a toxicodependentes para outro local. Ou seja, a edilidade, pela voz do seu responsável máximo, não está interessada em resolver o problema mas, surfando a onda da ignorância colectiva, somente varrê-lo para debaixo do tapete. Se fosse possível, mais que certo, até mandaria os aditos para o meio do oceano.
No que toca à enunciação dos responsáveis da PSP, é simplesmente deplorável. Seguindo a linha “política” da edilidade chutam para canto e, num facilitismo deprimente, culpam quem está a fazer um bom trabalho social. É completamente anacrónico, e incompreensível, a falta de solidariedade institucional entre entidades que deveriam defender quem está no terreno e dá o corpo às balas. Como não podem responder ao fenómeno do aumento da toxicodependência por falta de instrumentos legais -assente na incapacidade dos políticos eleitos na Assembleia da República para compreender e, através da lei, solucionar o problema-, é mais fácil dizer o que a populaça quer ouvir. Maioritariamente, o colectivo esquecendo que não há famílias sem ser tocadas pelas malhas da droga e que esta chaga social só se resolve com frontalidade e menos hipocrisia, quer é despachar o quadro depressivo para outro qualquer vizinho. Então, sem se solucionar seja o que for, de zona em zona, a pandemia arrasta-se sem fim à vista.
Já o escrevi várias vezes, se a Baixa não tivesse esta estrutura de apoio, quase de certeza, teríamos muitos mais atentados à pessoa e à propriedade

ONDE ESTÁ A VIOLÊNCIA DESCRITA NESTA INVASÃO? POR QUE ACONTECE?

Desde o início das obras de requalificação do Terreiro da Erva, há cerca de meio-ano, que a visão “terrífica”, com os toxicodependentes a injectarem-se em pleno dia e noite junto ao Edifício Azul passou a ser uma constante. E porquê? Interrogamos. Porque, por um lado, era neste terreiro e nas casas decrépitas à sua volta que se traficava e se fazia a injecção endovenosa. Com o encerramento total do espaço os drogados foram obrigados a deslocalizarem-se para outros locais, no caso, os becos periféricos. Acontece que também a partir das obras do Terreiro da Erva, paulatinamente, foram murando os edifícios em ruína e colocando portões em ferro nos becos (do crack) em redor. Isto é, o que era feito às escondidas, por falta destas estruturas decrépitas que desempenhavam uma função social, passou a ser feito às claras, às vistas de todos.
Novamente pode perguntar-se: mas há violência por parte destes doentes sociais? Com algum conhecimento na matéria, afirmo convictamente: não há! -estaciono o carro no parque horizonte e, algumas vezes, saio de lá a pé por volta da 01 hora da manhã e nunca tive o mínimo encontro violento. Choca ver aquele quadro com, por vezes, quase uma dúzia de rapazes e raparigas a espetarem seringas nos braços? Claro que choca. Provoca receio de sermos assaltados por algum deles? Claro que sim, mas, é como procedo, procuro não olhar fixamente para o que fazem e faço de conta que estão a beber vinho de uma garrafa. No fundo, bem no fundo, tenho o direito de me imiscuir na sua vida privada? Não, não tenho. Enquanto cidadão, tenho apenas obrigação de denunciar o que está acontecer publicamente, mas no sentido de serem criadas soluções pelo Estado para combater o consumo desmesurado de substâncias tóxicas, que dizimam milhares de compatriotas.

E O QUE É QUE SE PODE FAZER?

Como escrevi em cima, de certo modo, andamos todos, incluindo as entidades policiais e políticas, a fazer de conta que não se passa nada. Só reclamamos quando temos o problema debaixo da nossa janela. As polícias, por que estão sujeitas à prescrição da lei e mais não se lhes exige, limitam-se a cumprir calendário. Ou seja, volta e meia fazem operações em nome da “prevenção”, ou por denúncia, e prendem uns traficantes e fazem anunciar o feito nos jornais -que tem dois efeitos: por um lado mostrar à sociedade que estão atentas e a combater o crime, por outro, para tranquilizar as populações e mostrar que estão seguras. O que acontece é que -retirando as excepções de grandes apreensões em barcos e no aeroporto- o que surge amiúde é a notícia da detenção da arraia miúda. Chega a ser uma provocação -no sentido de que marca uma vida e é tudo menos terapêutico- certas informações na imprensa diária de se ter detido um jovem com dois pés de cannabis, que cultivava em sua casa.
Embora esteja despenalizado o consumo de drogas leves e duras, continuamos a marear no campo político da hipocrisia.
Faz algum sentido que seja proibido cultivar plantas alucinógenas para consumo próprio?
Tem jeito obrigar os consumidores de drogas leves e pesadas a andarem atrás dos traficantes e sujeitos a misturas que colocam em risco a sua vida já vulnerável pela condição de viciado?
Por que é que o Estado, através da Assembleia da República em lei, não chama a si a distribuição, através de venda, de estupefacientes em farmácias e com prescrição médica?
Os governos não deveriam ganhar coragem e, de uma vez por todas, enfrentar o problema de frente e, sobretudo, afrontar as mentalidades mais conservadoras?

E O PROBLEMA DA BAIXA?

Em face do que está acontecer na Baixa com os toxicodependentes, se tivéssemos um executivo municipal verdadeiramente preocupado com o problema, garanto, seguia uma política de olho no futuro, apresentando duas medidas concretas:
-Defendia o reforço público no apoio aos toxicodependentes e mantinha no Terreiro da Erva os serviços de acompanhamento, que é onde sempre estiveram e devem estar, como quem diz, é no centro do vulcão que se mede a temperatura da lava e não fora.
-Contra ventos e marés, sujeitando-se à critica acintosa de alguns, deveria mandar construir uma sala de chuto na zona do Terreiro da Erva, e quanto antes. É a única forma de restituir alguma dignidade aos toxicodependentes e restituir a merecida harmonia aos moradores, comerciantes e visitantes da Baixa.

* Como ressalva, o autor declara sobre palavra de honra que até hoje nunca consumiu qualquer substância tóxica, conhecida como droga, leve ou dura. Como é óbvio, como ainda está para as curvas e algumas rectas, não pode afirmar dessa água não beberá.

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

"O DEVER DA CRÍTICA"

Luiz Cabral de Moncada

(TEXTO E FOTO DE LUIZ CABRAL DE MONCADA - RETIRADOS DO ECONÓMICO)



"Os cidadãos portugueses não devem deixar passar nada de censurável pelo que toca à conduta da classe política. E isto nada tem que ver com a preferência partidária de cada um. A pertença a um partido político é simplesmente um meio de participação na vida política e não o pretexto para ignorar o que não pode ser ignorado ou para desculpar o que não é desculpável.

Os cidadãos, nestas condições, não devem fidelidades aos partidos. Devem é a eles próprios e aos outros. Não devem deixar de manifestar a sua opinião mesmo que tal não convenha ao partido em que militam ou com que simpatizam. Ao criticar o cidadão está a prestar um favor a ele próprio e aos outros e, em última análise, a melhorar a qualidade democrática.
O dever de criticar compreende-se muito claramente no contexto actual. Vejamos; desde sempre que o pensamento político enfatizou que o governo devia caber aos mais aptos e aos mais sérios em suma, a uma aristocracia do mérito integrada por homens devotos à causa pública e dispostos aos sacrifícios necessários ou seja, contando antecipadamente com as inevitáveis incompreeensões, contrariedades e até insultos. Ora, nada disto se pode esperar no nosso país nos dias de hoje. Como os partidos dispõem do monopólio do acesso à vida política que lhes é dado pela própria Constituição os políticos são tudo menos aquilo. Trata-se de indivíduos que na sua maioria fora da política não singraram em nada, sem profissão definida, muitos deles destituídos de qualquer cultura, com estudos feitos mal e à pressa, que necessitam da presença na política para sobreviverem no presente e garantirem a velhice. Como é que se lhes pode pedir o exercício da prudência e do discernimento qualidades necessárias à construção do bem comum? Não possuem a auctoritas que seria exigível. Daí à falta de qualidade, à incompetência, à prepotência, à saloiada e às vezes até à corrupção vai pouca distância. Só a crítica feroz da Sociedade Civil os fará recuar. Acresce em desfavor da qualidade democrática que o nosso poder político institucionalizado não tem interesse nenhum numa Sociedade Civil activa. Logo tenta desde a escola infantilizar o cidadão, não lhe cria hábitos de trabalho e de esforço, distrai-o com frivolidades, convence-o que a cultura é distracção gratuita, desabitua-o de pensar por si próprio e, por fim, tira alcance a intervenções referendárias e participativas.
É preciso, portanto, compreender que o regime constitucional português requer uma Sociedade Civil atenta, impiedosa para com a má conduta dos políticos, crítica, em suma, e para tal devidamente preparada. O monopólio partidário e a fuga à política da maior parte dos mais capazes a isso obrigam. Tudo se tem de esperar, portanto, do cidadão comum. A imprensa tem aqui um papel poderosíssimo. É mais do que nunca o quarto poder. Se a democracia portuguesa funcionasse melhor o papel da imprensa e do activismo democrático do cidadão comum não seria tão importante.
E, note-se, os cidadãos não se devem ficar pela crítica aos assuntos puramente político-partidários. Numa sociedade em que o Estado é fortemente intervencionista tudo é política desde a fraude fiscal ao atentado ao ambiente, ao património e ao urbanismo, à violência doméstica e ao desrespeito pelas diferenças. Ser cidadão é ser crítico e hoje em dia em Portugal só não exerce a cidadania quem não quer. E os meios de intervenção não são apenas políticos mas também são judiciais. Neste último aspecto o nosso país está até ao nível dos mais avançados na protecção dos valores colectivos. Denunciar os atentados aos valores colectivos não é meter o nariz na vida alheia; é defender os valores que a todos importam. O cidadão português não é o cubano membro dos «comités de defesa da revolução», nem o guarda vermelho da malfadada revolução «cultural» chinesa, nem o camarada informador da Stasi. Aí os cidadãos não eram defensores dos valores comuns eram os polícias do regime.
Quando os políticos são maus a Sociedade Civil tem obrigação de ser boa. Valete, frates."

ESFAQUEAMENTO NA BAIXA: ARGUIDO EM PRISÃO PREVENTIVA






Segundo informação fidedigna no processo, contrariamente ao que escrevi sobre Carlos Leonel Cardoso Gonçalves, suspeito de esfaqueamento no Largo da Freiria, em que afirmava que provavelmente tinha sido aplicada ao agressor a medida cautelar mais leve, relativa a “Ofensa à Integridade Física Qualificada” (grave), que, pela moldura penal, implicava aguardar o julgamento em liberdade com apresentações periódicas, afinal, ao que parece, o Juiz de Instrução terá reconsiderado e reclassificado para “Homicídio na Forma Tentada”, com uma pena superior e que envolve o encarceramento como medida de prevenção para evitar a fuga, entre outras.
Portanto, de fonte segura, o arguido, de momento, está em prisão preventiva. Embora, saliente-se que esta medida acessória de inibição de liberdade pode ser alterada -sobretudo se se provar que não abandonou o local do crime e voluntariamente não só chamou meios de socorro como se entregou às autoridades.

MAS O QUE LHE PASSOU NA CABEÇA?

Por que não foi fácil chegar ao conhecimento da pena acessória -andei de Herodes para Pilatos-, consegui saber de alguém muito próximo que, de facto, o agressor não tomava a medicação indicada para a esquizofrenia, patologia que sofre já há muitos anos. Foi-me confidenciado também que, por vontade própria, o suspeito não se alimentava adequadamente.
Para quem me ler, pode até pensar que estou a tentar desvalorizar o crime. Nada disso. Estou apenas a tentar ser justo e não tomar partido em nenhuma das partes, agressor e vítima. Já o escrevi aqui, enquanto vizinho dos conflituantes nunca me apercebi da tensão existente entre eles.
À justiça, como está a ser feito, cabe averiguar todas as hipóteses processuais, apurando os factos, e depois em julgamento, tendo em atenção todas as atenuantes, punir em conformidade o que tiver de ser punido.

E A VÍTIMA, COMO É QUE ESTÁ?

Segundo declarações de sua mãe, prestadas ainda hoje, o estado clínico de Ricardo Fernandes, a vítima desta brutal agressão, está evoluir muito favoravelmente e tudo indica que sairá dos cuidados intensivos muito em breve.  

terça-feira, 16 de agosto de 2016

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

BAIXA: A APBC E O DEJÁ VÚ

(IMAGEM DA WEB)




Na última sexta-feira, o jornal Público, pela pena do jornalista Camilo Soldado, noticiava que a APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, vai implementar um mapa de estacionamentos para dinamizar a Baixa e um plano em que os comerciantes vão dar senhas de estacionamento aos seus clientes de modo a que estes tenham uma hora gratuita para fazerem compras.
Ora vamos lá por partes, primeiro, o facto de se apresentar um mapa de estacionamentos disponíveis, teoricamente, pode ser uma boa iniciativa. Ou seja, se é certo que vai identificar os sítios disponíveis, também é certo que os parques privados já são mostrados nos mapas distribuídos pelo posto de Turismo. Isto é, não traz nada de novo, a não ser substituir os donos dos parques privados na publicidade que deveria ser sua, e é chover no molhado.
Eu gostava era de ouvir, ou ler, a direcção da APBC a reivindicar, com voz grossa junto da Câmara Municipal de Coimbra, áreas gratuitas dentro da malha urbana. Ou que todo o espaço público vigiado com parquímetros tivesse um custo de dez cêntimos na primeira hora, para permitir que qualquer visitante pudesse fazer compras e tratar de um assunto rápido na Loja do Cidadão, por exemplo.
Gostava de ver também a APBC a reivindicar que, de uma vez por todas, se clarificasse o estacionamento ao Sábado. No tempo do “defunto” PSD -que Deus tenha em boa guarda e que só na cor era diferente deste executivo PS-, foi anunciado que o estacionamento no penúltimo dia da semana seria gratuito. Acontece que nunca programaram os parquímetros -parece-me que é da responsabilidade dos SMTUC, Serviços Municipais de Transportes Urbanos. Então uns pagavam outros não. Para piorar a confusão, a Polícia Municipal algumas vezes aplicou multas a quem não pagou.
É evidente que a APBC não está em condições de reivindicar nada à autarquia. Em aforismo, diz o povo que não se morde a mão que estende o pão. E, como sempre aconteceu, para o bem e para o mal -mais em baixo explico os conceitos-, a edilidade é que estende a manta à agência para esta se poder deitar e dormir aconchegada, e apresentar trabalho junto dos cerca de sete dezenas de associados. Assim vamos alguma vez a algum lado? Pode ser que sim...

E PORQUE É QUE OS COMERCIANTES NÃO ADORMECEM COM A CANÇÃO DE EMBALAR?

A medida agora publicitada pelo jornal Público, desta direcção da APBC, como sendo uma ideia inovadora, já foi apresentada há mais de meia dúzia de anos pela anterior gerência desta entidade de promoção e festas para a Baixa de Coimbra e nunca funcionou. E como se fosse o meu neto a interrogar ao telefone: e porque é que não funcionou? E eu, como um avô distante por milhares de quilómetros, responderia: meu neto, querido, qualquer medida, seja lei, regulamento ou costume, só se consegue implantar se tiver acoplada uma imanente carga de justeza. Se for injusta, demore pouco ou alguns anos, acabará por nunca ser implementada, nunca funcionará e será revogada pelo tempo. Por outras palavras, meu adorado netinho, os comerciantes desde há mais de década e meia que vivem na “red line”, linha vermelha. Quero dizer que as margens de comercialização, o lucro, tem vindo a diminuir. Por outro lado, os custos operacionais, obrigatórios para a realização do negócio, todos os anos aumentam exponencialmente. Quero dizer-te, meu pequenino, que os comerciantes -salvo excepções porque as há- estão exangues, sem sangue, exauridos, esgotados, sem fôlego. Bem sei que perguntas se cinquenta e cinco cêntimos, que é o custo do pagamento da primeira hora, não é uma parcela ínfima? É sim! O problema é, por um lado, o anátema do custo/obrigação, no sentido de que é injusto. Por outro, é como pedir a um comatoso, que está mais para lá que para cá, que cante o Vira de Coimbra.

O TEMPO DO FAZ DE CONTA

Já há muito tempo que tudo o que diga respeito à Baixa -e não é só de agora, embora continue com tendência para se agravar- que o que interessa é (a)parecer. O ser, o mostrar de facto trabalho que desenvolva o comércio, isso é assunto que fica adiado -para ser honesto, também não vejo qualquer motivação nos profissionais de comércio para alterar seja o que for. O que importa é que a Baixa seja notícia nos jornais -desde que não seja por crime. E então se for circo, venha lá que o povo adora e os jornais diários dão uma mãozinha. Tudo é noticiado como belo, bem cheiroso e muito bem sucedido. Caiu-se no facilitismo de qualquer acto, mesmo idiota e com cheiro a refugado, ou completamente vazio de conteúdo, aparecer como uma nova descoberta. Estamos atolados em política -não a da polis, mas numa espécie de acção orquestrada, que nos surge sem rede de contraditório, como uma bonita embalagem em papel multicolor carregada de nada, e em que é ovacionada por todos, essencialmente os que estão de fora e assistem à passagem da banda. Como há vários interessados que (sobre)vivem do propalado bem-sucedido, o que conta é arte do convencimento de que estamos em face de um grande espectáculo. Perdeu-se completamente a vergonha e a massa crítica. É tudo em perdendo. Como afirmar que o rei vai nu implica coragem -que não há, porque dá aborrecimentos e fecha portas-, estamos a lavrar no terreno fértil em que a hipocrisia alastra e campeia. Um exemplo do que afirmo? O Museu Temporário da Memória. Esta iniciativa foi apresentada como um truque de magia. Uma ideia genial que não passa de um pouco de nada. Um barracão velho, com alguns artefactos e fotografias sem identificação, que só dá para salientar o lado decrépito e abandonado da Baixa. Se essa era mesmo a ideia, confesso, está muito bem conseguida. Na primeira fase, até 4 de Julho, esteve quase sempre encerrado. Foram muitos os visitantes que, tomados pela curiosidade despoletada pelos jornais, chegavam à Rua Velha e davam com o nariz na porta.
É muito provável que não consiga disfarçar o meu azedume para com os organizadores deste pseudo-museu, mas quem não se sente não é filho de boa gente. Fui enganado de forma pouco ortodoxa, para não dizer de forma acriançada. Começaram por me convidar a participar. Anuí. Apresentei a ideia de com as muitas dezenas de fotos de pessoas “diferentes” que detenho neste blogue, que passaram e continuam a calcorrear as pedras milenares do centro Histórico, se fazer uma exposição. De quatro dezenas que enviei, escolheram uma vintena. Foi combinado que a cada fotografia caberia uma resenha da sua história de vida. Concordaram que seria assim. Durante um dia, quase sem fazer mais nada, estive a concluir o trabalho.
Fui visitar a exposição no dia a seguir à inauguração e verifiquei que o combinado não estava a ser cumprido. No chão estavam meia dúzia de folhas dobradas em papel reciclado onde se contava quem eram os “Rostos Nossos (Des)conhecidos”. Como não tinham número não era possível saber a quem pertencia o arrazoado. Chamei a atenção para o facto à direcção do “museu”. Foi-me dito que em seguida iria ser concluído. Não houvera tempo para fazer melhor, disseram-me. Nunca cumpriram. Escrevi um texto, parti a louça, e distribui-o até onde a Internet nos leva, incluindo a Universidade, que é a entidade que paga os gastos. O link colocado na página do Museu Temporário da Memória desapareceu em seguida. Compreende-se. Um aborrecimento, pode lá ser uma coisa destas? Um sucesso enorme e aparecer um parvo qualquer a manchar o brilho celeste.
Já passaram quase dois meses e as fotos lá continuam perdidas sem qualquer comentário. Para além disso, como era de prever, na menção distribuída de agradecimentos a todos os colaboradores não consta o meu nome. E onde está admiração? É lógico, quem diz a verdade, como no tempo da Idade Média e princípio da Idade Moderna, é colocado no Index. Para esta gente, o Sol é que gira em torno da Terra, quem afirmar o contrário, no mínimo, é condenado ao obscurantismo.
Resta uma pergunta: pessoas sem memória, sem palavra e sem compromisso, podem estar à frente de um espaço onde se procura revitalizar a memória colectiva?

MAS CONTINUANDO...

Continua-se a insistir nas denominadas “Noites Brancas”. Na última, chamada de temática e onde foram apresentados os “djs”, em 29 de Julho, estiveram abertas 14 lojas comerciais. Num evento, aparentemente destinado à revitalização do comércio tradicional, faz sentido continuar a gastar energias e dinheiro público quando os membros, os comerciantes, se desligam completamente?
Faz sentido sim, ou melhor, deve fazer. A não ser assim, como justificar os 35 mil euros atribuídos pela Câmara Municipal de Coimbra, na semana passada? Não era mais limpo, de uma vez por todas, juntando todas as festas e festinhas que se realizam na cidade, a edilidade criar um departamento de eventos ligado ao pelouro da Cultura?
Tem lógica continuarmos neste situacionismo? Sim, sobretudo pela hotelaria, que é quem beneficia das “noites brancas”. Mas a ser assim, de uma vez por todas, mostre-se se falamos de carne ou peixe, já que o presente é uma confusão, elabore-se novos estatutos da APBC. Vejamos o seu objecto:


“1 -A Agência tem como objecto social a promoção e modernização da zona da baixa de Coimbra, visando a requalificação daquela zona e o desenvolvimento da gestão unitária e integrada de serviços de interesse comum;
2 -Para a prossecução do seu objecto social a Agência propõe-se realizar, entre outras, as seguintes actividades:

a) Realizar e gerir um plano de marketing e comunicação;
b) Promover e publicitar o conjunto comercial;
c) Definição dos horários dos estabelecimentos;
d) Promover a uniformização da época de campanha comerciais;
e) Garantir a animação da baixa;
f) Fazer estudos de mercado e estudar os hábitos de compra;
g) Editar um boletim informativo;
h) Instalar postos de informação aos consumidores.”

Depois de ler o doutrinado nos estatutos da APBC, o que inferimos? No meu entender e salvo melhor opinião, dá para ver que, em face das 8 alíneas do articulado –ainda que seja pouco claro e muito dúbio- e pelo costume, visando o labor comercial, surge uma interrogação: afinal o que é a APBC? É uma agência de desenvolvimento que visa promover e modernizar a zona baixa de Coimbra –que é o ratificado no “Objecto” do “Artigo primeiro”- ou é uma agência que visa acompanhar o desenvolvimento da actividade comercial?
A resposta não será tão óbvia quanto parece. Perante o “Artigo primeiro” é conclusiva. Mas acontece que pelas actividades descritas, e pelo que tem sido desenvolvido nos últimos anos, o seu campo de acção é inconclusiva e visará o segundo, o comércio. Então, chegados aqui, somos obrigados a perguntar e o que é que vale mais, a primeira ou a segunda questão? Ou é preciso clarificar o seu campo de acção, sobretudo com o desaparecimento da ACIC, Associação Comercial e Industrial de Coimbra, que foi o útero onde foi gerada a APBC?

sábado, 13 de agosto de 2016

ESFAQUEAMENTO NA BAIXA: ARGUIDO EM LIBERDADE AGUARDA JULGAMENTO






Segundo uma fonte ligada ao processo -que pediu o anonimato-, a medida cautelar aplicada pelo juiz de instrução ao arguido Carlos Leonel Cardoso Gonçalves -suspeito de agredir à navalhada um vizinho no Largo da Freiria, na Baixa de Coimbra, foi o de restituição à liberdade com apresentações periódicas num posto policial -não há certeza absoluta de que foi mesmo esta a medida de coacção.
Sendo assim, por conseguinte, quer dizer que, mais que certo, o juiz não considerou o acto como “Homicídio na forma tentada”, ou premeditado, cuja moldura penal implicaria a prisão preventiva até ao julgamento, mas, antes, como “Ofensa à integridade física qualificada”. Isto é, desvalorizando a agressão, por consequência, o arguido aguardará até ao julgamento em liberdade.

E COMO É QUE ESTÁ A VÍTIMA?

Segundo a mãe, Elsa Fernandes, o seu filho, Ricardo Fernandes Alves, depois de intervencionado cirurgicamente, encontra-se nos cuidados intensivos dos HUC, Hospitais da Universidade de Coimbra. Já fora de perigo, saiu do coma induzido, e já teve visitas hoje. “Foi por pouco, senhor Luís. Se fosse um milímetro ao lado tinha-lhe apanhado a jugular, disseram-me os médicos. Contou muito o facto de não ter perdido os sentidos. Deus esteve ao seu lado!”, diz-me Elsa, a progenitora de Ricardo, com lágrimas a escorrer pelo rosto.

A VERGONHA DO SISTEMA...

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)




Caixa Geral de Aposentações divulga nomes dos 332 beneficiários da subvenção vitalícia

00:21 Económico

A revista Visão divulga a lista completa. Por exemplo, a José Sócrates está destinado um valor mensal de pensão vitalícia de 2.372,05 euros. Outro exemplo, Duarte Lima tem direito a uma pensão vitalícia de 2.289,10 euros. Veja aqui a listacompleta.