sexta-feira, 29 de abril de 2022

O FOTÓGRAFO ESTAVA LÁ… E VIU E OUVIU ISTO, OU TALVEZ NÃO…

 





O “DÉJÀ VU”


Carlos Cabral, presidente da Assembleia Municipal da Mealhada, ontem, durante o desenrolar da sessão, apanhado a pensar alto:


Já fui comunista, já fui socialista, agora ando em busca de um Mundo Mais e Melhor.

Já subi a pé à Cruz Alta, já desci pelas veredas, já me piquei em cardos silvestres, já fui muito amigo de um sujeito…

Agora esta participação no Tribunal Administrativo e Fiscal de Aveiro contra mim? O que mais terei de passar?...”


O FOTÓGRAFO ESTAVA LÁ… E VIU E OUVIU ISTO, OU TALVEZ NÃO…

 





A CONSCIÊNCIA INQUIETA


Ontem, na Assembleia Municipal da Mealhada, após uma excelente prestação a interpelar e a fazer recomendações ao presidente da autarquia, o deputado eleito pela CDU, João Louceiro, apanhado em solilóquio, a falar com seus botões:


Eu é que sou a verdadeira oposição, o meu lugar não é aqui. Sinto-me a reserva moral do concelho, mas esta terra não gosta de comunistas. Às vezes apetece-me mandar esta gente apanhar gambozinos no parque da cidade...

Esta posição do Jerónimo (de Sousa) sobre a invasão – eu disse Invasão ou guerra? - da Ucrânia só me veio trazer problemas...”


O FOTÓGRAFO ESTAVA LÁ… E VIU E OUVIU ISTO, OU TALVEZ NÃO…

 




O MENTE ABERTA


Ontem, na Assembleia Municipal da Mealhada, no período reservado ao público, numa interpelação do Bloco de Esquerda a António Jorge Franco sobre se iria hastear na edilidade a bandeira “Arco Íris” – este estandarte também conhecido como Bandeira do Orgulho Gay é um símbolo da Comunidade Gay e do Movimento LGBT –, respondeu o presidente da Câmara Municipal da Mealhada:


Não vejo problema nenhum. Sou a favor...”


O FOTÓGRAFO ESTAVA LÁ… E VIU E OUVIU ISTO, OU TALVEZ NÃO…




O ENIGMA


Frase proclamada, ontem, na Assembleia Municipal da Mealhada por Hugo Alves Silva, vereador com pelouro no executivo mealhadense, em resposta a uma interpelação do Partido Socialista no período reservado ao público:


Eu sou político. Não sei se estarei cá até ao fim do mandato, mais um ano, ou até alguns dias...”

 

quinta-feira, 28 de abril de 2022

LUSO: ONTEM HOUVE ASSEMBLEIA DE FREGUESIA




Eram 19h00, nesta última Quarta-feira, quando Edmundo Duarte, presidente da Assembleia de Freguesia de Luso, deu início aos trabalhos da primeira sessão do ano.

O salão da sede estava composto, mas sem a mesma afluência de fregueses que se verificou na última reunião do ano passado, em Novembro, realizada no Grande Hotel de Luso.

Como é da praxe, começou-se pelo período de Antes da Ordem do Dia, como quem diz, onde são tratados assuntos variados da circunscrição e onde são englobados os temas que os cidadãos entendam levar à discussão do executivo, obviamente, depois da autorização e passagem da palavra do presidente da Mesa da Assembleia.

Neste acontecimento público, que os eleitores ainda dão pouco valor e não reconhecem como instrumento importantíssimo para serem ouvidos pelos eleitos do poder instituído e representativo, pode-se falar de tudo desde que incida em matérias referentes à freguesia ou ao concelho. Assim, desde a água que corre nas valetas descontroladamente, ao lixo espalhado junto de contentores por porcos com figura de gente, até ao passeio desnivelado e em que já caiu uma velhinha, coitadinha, tudo pode ser avaliado entre o passado, o presente e o futuro.


* Na fase de intervenção pública, intervieram três fregueses. Um, mais conhecido que o Papa, no caso, Óscar Carvalho, falou de vários temas, entre eles um relaccionado sobre a divulgação dos Editais nos sítios de estilo da freguesia – e que já tinha sido aflorado na última reunião.

Sobre esta intervenção, disse Claudemiro Semedo que ele próprio se tinha encarregado de os distribuir e colar nos lugares do costume.

Outro relator falou da água que se perde junto ao Centro de Saúde.

Claudemiro prometeu ir lá com um engenheiro e verem o que era possível fazer.

Por último falou um sujeito, velhote e de cabelos brancos, que não relembro o nome. Sei que é de Barrô, e mais nada.

Começou por interrogar sobre o prometido em campanha eleitoral parque infantil a ser construído na sua aldeia. Onde iria ter lugar? Junto ao moinho, ao lado do Castelo, ou no Pavilhão Recreativo?

Respondeu o presidente da junta que ainda estava a ser avaliado, mas, em princípio, seria junto ao Castelo ou próximo do Pavilhão, uma vez que estes dois terrenos eram já de propriedade camarária. Já o espaço junto ao moinho era particular e, para avançar o projecto, teria de ser adquirido.

Continuou o “avozinho” a “recomendar” que os serviços de "cantoneiros" da junta chamassema si a tarefa de limpeza da fonte de “chafurdo” do Barreiro e a área circundante, que, sendo pública, se encontra em estado de abandono. E é uma pena, continuou o “nariz empinado”, por ser um ícone da povoação, símbolos de memória do povo e de um tempo de grande escassez que deixou marcas.

Claudemiro concordou que era preciso preservar aquele espaço. Disse ainda que há dias, quando andaram por lá os funcionários, se esquecera de recomendar. Mas que, a partir de agora, não deixaria de o fazer.

E continuou o chato do homem do cabelo prateado, agora em jeito de dar graxa: que era um elogio pelo cumprimento da palavra prometida na mudança de uma vitrine onde são coladas as comunicações da junta de um recanto escondido para a parede frontal da Capela.

E aqui, Claudemiro até respirou fundo e, como a dizer “haja Deus! Até que enfim que sou elogiado!”, pareceu ter ganho o dia.

Quando parecia que a “carraça” do velhote já tinha despejado o saco, eis ainda que atira mais uma: “o “Siti Flex”, o transporte a pedido, não está a funcionar bem porque há pouca divulgação desta interessante ferramenta de mobilidade. Muita gente desconhece. Por outro lado, os trajectos publicitados não contemplam todas as aldeias do concelho, constatando-se uma certa discriminação para alguns lugares”.

Enfatizou Semedo que, desde que a ligação fosse marcada no dia anterior, por ordens da CIM, Comunidade Intermunicipal de Coimbra, qualquer pessoa pode usar o transporte de táxi e pagando um quantia módica à volta de dois euros.


* E passou-se à Ordem do Dia, ou seja, aos pontos agendados.

O primeiro, como é norma, foi a aprovação da acta da anterior sessão.

E aqui eclodiram as clivagens existentes entre a mesa e alguns vogais. Alegavam estes que a redacção proposta não estava de acordo com o que foi dito. Chegou a ser lançada a acusação de “tendenciosa”. Foi adiada a aprovação.


* Com uma abstenção, foi aprovada por maioria a Prestação de Contas relativas ao Ano Financeiro de 2021.

E sem outros assuntos de interesse maior, e na paz dos anjos, deu-se por encerrada a sessão cerca de três horas depois.

 

quarta-feira, 27 de abril de 2022

HOMENAGEM DE CARINHO AO GRANDE PRECURSOR DA FOTOGRAFIA EM COIMBRA PELOS SEUS 97 ANOS DE VIDA INTENSA (TEXTO DE 2013)

 



VARELA “PÉ-LONGO”



O homem que tenho à minha frente, ligeiramente arqueado pelo peso de muitos esforços, alegrias e tristezas, ao longo de 88 anos, é uma lenda viva da fotografia em Coimbra, no país e no mundo inteiro. Escrevo sobre Varela Pécurto. Esta pessoa simples, afável e tímida, é o decano, o precursor do retrato a preto e branco da imagem aérea da cidade. Foi um dos primeiros a poisar os olhos nos pormenores que passavam despercebidos ao comum e chamar a atenção para a sua conservação.

Com a digitalização e o acesso popular à fotografia, hoje, ver imagens de um qualquer alçado de um edifício ou recanto da urbe é fácil e até corriqueiro pelo papel da Internet, mas há meio-século não era assim. Para além dos meios disponíveis nessa altura serem incipientes também não havia sensibilidade geral para o património artístico e monumental. Mas entrando pelos olhos dentro da pessoa com quem converso, como se rebobinasse um filme, em “déjà-vu”, é fácil de imaginar e ver um homem de máquina fotográfica a tiracolo a calcorrear, em passo apressado, as ruas e becos do burgo. Só corre assim quem ama o que faz, sentindo que o tempo urge e a mudança das coisas que julga mal está ao alcance da sua vontade e não dos outros, e toma a generosidade como lema.

Não me é fácil escrever sobre este gigante da divulgação das artes. Sobretudo porque já muito foi dito e gosto pouco de chover no molhado, isto é, dizendo a mesma coisa. Por isso mesmo, para me desonerar desta responsabilidade quem vai falar é o próprio. Faça o favor, Senhor Varela. Tem a palavra.

Sou natural do Ervedal, concelho de Avis. Vim para Coimbra com 23 anos, em 1948. Casei em Évora numa véspera de Natal. De malas e bagagem, abalei imediatamente para a cidade dos estudantes já com emprego garantido. Tinha sido convidado por António Gonçalves para vir trabalhar para a livraria Atlântida, que tinha uma secção fotográfica. Um ano depois fui chamado para ir trabalhar para a Ilda, no Largo da Portagem, que abriu como tabacaria e estava a desenvolver a fotografia. Entrei como sócio-gerente.

Em Évora eu era um observador; conhecia tudo, até as próprias pedras da calçada. Em Coimbra comecei a fazer o mesmo, a olhar para as minudências, a dissecar os cantos e recantos, para aqueles pormenores que ninguém ligava. Adaptei-me muito bem à Lusa Atenas. Morava nas Escadas de Quebra-Costas, o meu café era a Brasileira e trabalhava na Portagem. Chamava a este percurso o meu triângulo turístico. Preferi abdicar de casas com muito mais comodidades, mas que estavam muito mais longe, e viver junto ao estabelecimento.

Pergunta-me se estou bem? (Encolhe os ombros conformado e os seus olhos tornam-se embaciados) A minha mulher está inválida, acamada, há cerca de oito anos. Sou eu que tomo conta dela. Sinto algumas dificuldades, sim. Recebemos de reforma, ela e eu, 800 euros. Está a ver, não está? Medicamentos e alimentação… É uma verba insuficiente para vivermos com dignidade. Fisicamente é um esforço enorme o que faço pela minha companheira, mas encaro a minha entrega a esta causa nobre como uma missão. Normalmente conto com a ajuda do meu filho mas, como ele tem a sua vida, nem sempre pode. Se preciso for faço o almoço e tudo o que uma mulher desempenha num lar melhor do que um homem. Não foi esta a velhice que idealizei. Sinto-me um pássaro preso numa gaiola, refém desta situação, mas, apesar de ao longo da existência podermos escolher o nosso caminho, só temos poder de opção em face das alternativas que se nos apresentam. Mas, deixe lá! Já fiz um pouco de tudo. Tive uma vida cheia, sempre ocupada. Já fui correspondente da televisão na zona centro; como colaborador, já escrevi e fotografei para vários jornais locais e nacionais; já escrevi vários livros; já doei muito do meu espólio. Por parte das entidades públicas sinto um grande reconhecimento, uma grande consideração pela minha obra, e isso, esse facto, deixa-me confortado.

A Baixa há 60 anos era o coração da cidade. Construíram bairros à sua volta, transferiram para lá as pessoas que aqui nasceram e este núcleo foi perdendo os seus filhos. Foi um erro retirar os transportes das ruas largas. Esta medida ajudou a matar este centro comercial. A expansão urbanística, conjuntamente com a desregulada proliferação das grandes superfícies foi o golpe final. Atualmente o futuro desta zona está muito incerto. Não consigo vislumbrar uma solução. Os citadinos estão muito comodistas não se deslocam para fazer compras. Como não há movimento, os cafés perderam o espírito de tertúlia permanente. O comodismo das pessoas foi também o responsável por esta apatia e ajudou a aniquilar todas as vivências do centro histórico.

Antevejo que, qualquer dia, vou ter de ir para um lar. Gostava de não ficar longe porque Coimbra é a minha vida, é a minha alma. Alimento-me dos seus ruídos, o barulho das sirenes dos bombeiros, o pregão do cauteleiro, a lengalenga do ceguinho. Enquanto profissional de fotografia era obrigado a mergulhar nestes fragores. Sempre os associei às horas do dia. Foram sempre o meu relógio do tempo. Amo-te muito, minha Coimbra adorada!”


terça-feira, 26 de abril de 2022

MEALHADA: AS COMEMORAÇÕES DO DIA LIBERDADE

 

(Fotos desviadas da página no Facebook da Câmara Municipal da Mealhada)




Como a mostrar que a liberdade não é somente uma questão de vontade mas também de circunstância e oportunidade, o dia, solarengo e resplandecente, convidava a gozar o privilégio.

Nas árvores do velho jardim em frente ao paço municipal, pelo chilrear de alegria e alvoroço, a passarada parecia ter-se associado às comemorações do 48º 25 de Abril.

Acompanhados de um cravo na lapela, os fatos domingueiros nos homens, trajados com gravata predominante de cor “bordeaux”, e os conjuntos de saia e casaco de cerimónia nas mulheres indicavam ser uma festividade muito acima do normal dia-a-dia de uma cidade. Curiosamente, o cravo não era o elemento comum entre todos, sobretudo pela falta notada entre as senhoras; não se sabe se por não casar bem com o “pendant”, se esta renúncia seria uma forma insurgente de reclamar contra a discriminação de género.

No átrio da Câmara Municipal, os bombeiros da Mealhada e da Pampilhosa, perfilados a rigor, ao som da banda filarmónica, de peito-feito e perna elevada a marchar, desfilavam como força paramilitar em frente ao corpo político, eleito no último 26 de Setembro, e a largas dezenas de cidadãos assistentes.

De costas voltadas para a cerimónia, Costa Simões, o velho professor de medicina nascido na Vacariça, com assento diário no monumento em forma de obelisco no jardim, a adivinhar mais uma homenagem por falta de outros heróis locais, em sentido, sem mexer uma ruga do rosto, inerte, em sinal de respeito pela efeméride republicana, estava sem Borla na cabeça, mas com o Capelo académico sobre os ombros. Daí a pouco, pelas mãos de António Jorge Franco, presidente da autarquia, receberia uma coroa de cravos vermelhos.

Passados quinze minutos dispersaram os batalhões de bombeiros e os populares despediram-se da festa com um surdo “até para o ano”.

Mas as festividades ainda não tinham terminado. Dentro do edifício, no primeiro-andar, começou a ouvir-se um trinado de guitarra e o dedilhar de uma viola. Era o grupo “Fado ao Centro” que, vindo da cidade dos estudantes, iniciava um belo espectáculo da canção coimbrã, a servir de introdução à Assembleia Municipal Extraordinária que, daí a pouco, marcaria o dia político alegórico à data na terra do leitão.


E EIS O PALCO POLÍTICO


Sob a vigilância atenta e omnipotente de Marcelo Rebelo de Sousa, o Chefe da Nação, em traje institucional e emoldurado na parede em frente, paulatinamente todos tomaram o seu lugar protocolar.

Antes do início da sessão foi notado o virar de cabeças, para o lado e retaguarda, para verificar quem estava ou fez gazeta. Pelo olhar reprovador de Marcelo tudo indicava não estar satisfeito com algumas faltas de presença. Uns menos, como, eventualmente, uma representação do Bloco da Esquerda – que embora a isso não obrigasse, por não estar representado oficialmente na Assembleia Municipal, ter-lhe-ia ficado bem a comparência. Outros mais, como foi o caso do grupo parlamentar do PS - só os presidentes de junta estiveram - e o líder da oposição, Rui Marqueiro, que não puseram lá os pés. As más línguas viperinas, venenosas, dizem que ex-chefe de cerimónias da edilidade é alérgico a um velho “amigo” dos lados da Pampilhosa e, por isso mesmo, não contem com a presença do vereador em exercício em qualquer sessão, nem que a vaca tussa.


E VAMOS AOS DISCURSOS… (SOBRE A GUERRA NA UCRÂNIA)


Subiu ao pódio João Louceiro, deputado eleito pela CDU, que, sendo ali anti-sistema, fez por marcar a diferença no fardamento, nada de fato e gravata de capitalista, levando calça e blusão, como identificativo do operário resiliente aos fumos do grande capital. A sua mensagem foi sobretudo uma justificação sobre a tomada de posição do PCP sobre a “intervenção” da Rússia na Ucrânia. Condenamos a guerra, mas não a simplificamos, sobretudo baseado em falsos heróis. Condenamos a guerra onde Putin tenta impor a sua ditadura, mas também a da Síria, do Afeganistão, do Golfo. Não alinhamos com o consenso fabricado. O consenso fabricado é um presente totalitário, enfatizou o deputado comunista.

A seguir puxou do micro o representante da Coligação Juntos pelo Concelho da Mealhada, no caso, Pedro Semedo, filiado no PSD. Esclarecendo ser professor de história, alertou para as tentativas de manipulação da História, com a propaganda subjectiva dos autores a sobrepor-se ao conhecimento real de quem viveu os factos. Chamou à colação o escritor George Orwell e a sua distopia, ideia de uma sociedade imaginária em que tudo está organizado de forma opressiva.

Depois falou o representante do PS, Ricardo Ferreira, presidente da Junta de Freguesia da Vacariça. “Já sou filho da Liberdade. O poder é e sempre será do povo. Estamos solidários com a Ucrânia. Condenamos esta guerra que está a chacinar um povo. (…) Sejamos a porta aberta quando todas as outras se fecham (o poder local). Sejamos aquilo que as pessoas esperam de nós”.

Por sua vez falou André Melo, deputado eleito pelo Movimento Mais e Melhor. “Estamos aqui reunidos em sessão solene desta Assembleia Municipal para celebrar a Revolução (…).”

(…) No programa com que fomos eleitos estava claramente dito que seríamos promotores de um maior escrutínio da actividade do executivo (…) e verificamos que isso tem acontecido: mais munícipes participam nas assembleias (pessoal e remotamente). (…) E até os presidentes de junta expõem os seus problemas, necessidades e anseios, publicamente e de forma aberta. (…) Sem prosperidade, sem educação e cultura, sem igualdade de tratamento e oportunidade, realmente, não cumprimos Abril e não daremos a todos a verdadeira liberdade.”

Depois falou António Jorge Franco, presidente da Câmara Municipal. “Estamos a festejar o 25 de Abril numa altura em que grassa a loucura da guerra”. Estou aqui como presidente da Câmara Municipal da Mealhada, também graças ao 25 de Abril, uma revolução para todos, jovens e não jovens.

E por último, discorreu Carlos Cabral, presidente da Assembleia Municipal. “Só sabe o valor da paz quem passou por uma guerra”, referindo-se à guerra colonial onde, no concelho, perderam a vida 16 jovens. “Eu e mais dois ou três nesta sala sabemos o que sentimos quando vemos aquelas imagens na televisão”, fazendo analogia com a Ucrânia.


segunda-feira, 25 de abril de 2022

HOJE É O DIA 25 de ABRIL (TEXTO ESCRITO EM 2009)

 





D
ando uma volta pelos blogues aqui ao meu lado, fico um pouco constrangido. Os conotados com a esquerda, homenageiam e elevam os homens que fizeram o 25 de Abril, independentemente do que vieram a fazer a seguir. Os simpatizantes da direita chamam a alguns destes heróis da revolução dos cravos desde assassinos a cobardes.
Que diabo, como não tenho simpatia nem para uns nem para outros, não sei onde me colocar.

Talvez o centro, como fiel de balança – e neste caso seria muito cómodo para mim -, resolvia-me parcialmente a questão. O problema é que nunca gostei de ambiguidades, e neste caso, o centro, para além de ser ambíguo é também bipolar, tem um braço e uma perna na direita e os outros membros na esquerda. Então como é que resolvo isto com alguma racionalidade e objectividade?
Para mais, para suprema ofensa da esquerda, presumo, estou a trabalhar hoje, quando a maioria está a gritar loas à origem do feriado. Ontem, quando conversava com um amigo e colega comunista, quando lhe disse que trabalhava hoje, com grande grito de revolta, saído lá das profundezas, exclamou: “o quê, trabalhas no dia da Revolução?! Fogo, a mim, para trabalhar neste dia, nem que pagassem milhões!
Engraçado é que, para mim, o dia de hoje é apenas um marco assinalado na história de Portugal. E nada mais. Tal como foram datas importantes para o país, como por exemplo, o 1º de Dezembro de 1640 – com a Restauração da Independência e expulsão do reinado dos Filipes de Espanha - ou o 5 de Outubro de 1910 – com a queda da monarquia e implantação da República.
É verdade que em Abril de 1974 eu tinha apenas 17 anos e nenhuma cultura política. Já trabalhava há quase 8 anos. Enquanto fui infante, os meus ascendentes andavam tão preocupados com o pão para a boca que sabiam lá eles que havia oposição a Salazar.
O dia da Revolução de 25 de Abril veio apanhar-me a vender trapos numa grande loja da Baixa de Coimbra e hoje encerrada. O patrão, que subira a corda da vida a pulso, nesse dia, se ficou preocupado não o demonstrou. No dia seguinte, quando começaram as manifestações de rua, perante os seus cerca de 15 empregados, tratou de fazer sessões colectivas de esclarecimento político e clarificar que ali, na sua loja, era ele que mandava. Portanto, partido, a haver, teria de ser o PPD/PSD ou o CDS. Estas formações político-partididárias é que eram boas. Eram as únicas que defendiam a iniciativa privada. Os outros, e sobretudo os comunistas, “comiam meninos ao pequeno-almoço”.
Fosse por isso ou por outra coisa qualquer, a verdade é que até hoje nunca fui a nenhum comício partidário. Dos 17 aos 25 anos que trabalhei naquela grande firma, fui tentando fazer a minha destrinça entre o comportamento do patrão de direita e outros que haviam na Baixa e que eram assumidamente comunistas. Nunca cheguei a nenhuma conclusão clarificadora de qual deles seria melhor. Aliás, sempre encontrei grandes similitudes na sua forma de proceder. Nunca vi um comerciante comunista distribuir, fosse o que fosse, da sua riqueza, por quem mais precisava. No da direita, igualmente, o que via era que ambos tentavam enriquecer o mais possível.

Ao mesmo tempo, na firma onde trabalhava, apercebia-me, havia uma “utilização” abusiva dos trabalhadores. Todos trabalhávamos mais para além do horário, diariamente. Em vez de 30 dias de férias eram apenas gozados 15. É certo que no fim do ano todos levávamos um “cheque-bónus” pela lealdade e bom comportamento.
A única diferença que eu notava, quer no comerciante de direita, quer no de esquerda, era o ódio que cada um nutria ao outro. Um era apodado de fascista salazarento, o outro de vermelho ao serviço de Moscovo.
Nesta loja onde trabalhei 9 anos, fui continuando sem manifestar nenhum pendor político-partidário. Mas há uma história engraçada que nunca me esqueci. Em 1975, com 18 anos de idade, tinha as minhas férias marcadas antecipadamente como era norma. Tinha tudo programado para as iniciar na data acordada. Na véspera, o gerente da loja comunicou-me o cancelamento das minhas férias previamente anunciadas. Mandei-me aos “arames” e, no meio de uma discussão, disse-lhe que nem pensar. Ia e ia mesmo. Quando chegou o patrão, a mesma coisa. “Não senhor, que não podia ir e pronto!”, verberou o velho comerciante. Então, irritado, interroguei: o senhor pensa que nós somos carne para canhão? O homem, espavorido, olhou-me fixamente, começou a andar à minha volta e a soletrar como um disco riscado: “é comunista! Ele é comunista! Eu tenho um comunista na minha casa!
Na noite anterior eu estivera a ler a 25.ª hora, de Virgil Gheorghiu, e não dormira. Foi a noite toda em claro a ler o livro que até hoje mais me entusiasmou sem conseguir descolar. Uma das frases que memorizara foi exactamente “carne para canhão”.
Esse acontecimento passou e, tenho a certeza, que apesar da minha rebeldia, o velho comerciante, deixou passar. Despedi-me com 25 anos de idade, por minha iniciativa. Bem que ele tentou que eu não o fizesse - com toda a honestidade.
A partir daí, nunca me interessei muito pela política partidária, embora, diga-se, sempre tentei saber tudo o que se passava à minha volta. O mesmo se passa com o futebol. Não gosto do desporto-rei, e não tenho qualquer simpatia por este ou aquele clube, mas aqui, neste desporto, no futebol, nem me interessa saber.

Como se isto fosse pouco sou agnóstico. Já vêm, somando estas parcelas, que sou muito pouco ortodoxo, pouco alinhado. Sou um desalinhado totalmente do sistema social. Ah… mas esqueci-me de dizer que gosto de fado, o que já não é de todo mau. Do aforismo Fátima, futebol e fado, vá lá, sempre se aproveita o fado!
Ora, como vêem, regressando ao início do texto, estou muito preocupado. Num país em que toda a gente gosta de futebol e tem um partido político de eleição, eu, sendo diferente para pior, está de ver, das duas uma: ou sou um nacionalista de “carregar pela boca”, ou então sou um comunista renegado da pior espécie. Ou seja, acabo por ser um mal-amado por uns e por outros, perdido neste universo homogéneo e unanimista que é a nossa sociedade de consumo político-partidária.
Sou uma espécie de alma esvoaçante, que numa equidistância intencional ou desligada do aparelho “religioso” anda à procura do seu deus terreno.
O que hei-de fazer? Já pensei em fazer terapia partidária, ou então, se esta não resultar, hipnose por regressão. Há qualquer coisa que não bate certo…


O 25 DE ABRIL VISTO DA MINHA JANELA (TEXTO ESCRITO EM 2015)

 




Quando se anunciou em Coimbra que tinha havido uma revolução em Lisboa eu tinha 17 anos de idade e estava a trabalhar numa loja de comércio da Baixa. Até aí, desde os dez, eu laborara na hotelaria. Trocar o servir à mesa por ir atender ao balcão a vender trapos foi uma transferência extraordinária. Não pelo ordenado, já que, em comparação com um qualquer café, era menor. Nessa altura a vida comercial estava considerada num plano superior. Isto é, a actividade hoteleira era muito mais intensiva, com muito mais horas de labor e, embora já com um dia de folga semanal, trabalhava-se domingos e feriados. Por outro lado, servir num café era muito mais serventuário. Ali era notório o nós, os simples, e os outros, os donos do dinheiro. Estava-se obrigado a um exagerado exercício permanente de servilismo. Se bem que também houvesse classes distintas. Havia os simplórios como eu, que normalmente vinham da região do Luso e zona da Bairrada, que inicialmente eram pau para toda a colher e começavam como grumete, havia os chefes, de balcão, de cozinha e de mesa, e depois existia toda uma classe garbosa, vestida de calça preta, camisa branca e laço, casaco branco e nos pés um sapato preto impecavelmente engraxado. Ser empregado de mesa era o sonho de qualquer miúdo como eu, já que maioritariamente nesta arte se trabalhava à percentagem de 10 por cento sobre o total da caixa. Para além disso havia um costume arreigado de dar gorjeta ao "criado" de mesa.

Num período da nossa história em que dois terços da população portuguesa eram pobres – e estes se dividiam em remediados e pé-descalço -, entrar para o comércio, acima de tudo, foi o poder ser mais igual a qualquer um, já que comecei a vestir melhor, a ter, por exemplo, duas camisas, a não precisar de lavar a roupa durante a noite para vestir no dia seguinte, húmida e enxovalhada. Para além de estudar de noite, continuei a trabalhar aos fins de semana a servir casamentos –conheci um senhor de idade, o senhor Quintas, que me contratava praticamente todos os Domingos. Nunca lhe agradeci em vida a atenção que teve comigo. E assim continuei até casar com 20 anos e ir, a seguir, para o serviço militar, para Estremoz – a título de curiosidade, apanhava o comboio em Coimbra no Domingo à noite com 200 escudos no bolso (1 euro). A viagem ferroviária custava 75 escudos para cada lado. Então, para poupar, juntamente com o Jorge, a trabalhar na altura no Cruz Oculista, na Rua Adelino Veiga, em Coimbra, e hoje estabelecido na Rua Corpo de Deus com o mesmo ramo, vínhamos à boleia no regresso. Ora poderia acontecer, como aconteceu tantas vezes durante as cerca de três centenas de quilómetros, sermos transportados num Mercedes como em cima de uma camioneta de caixa-aberta.

O tempo foi correndo e, tal como o meu amigo Jorge, trabalhando muito, muito, estabelecemo-nos por conta própria e fomos comprando o que nos fazia falta, o que era essencial para o bem-estar como habitação, e podermos proporcionar aos nossos filhos tudo o que não tivemos. Sem lhes exigir muito em troca, apenas pelo prazer de dar, oferecemos-lhes todas as ferramentas que poderiam concretizar os seus sonhos – nesta realização revíamo-nos. Éramos nós também quem estava ali. No dia em que a minha filha entrou para a Faculdade de Psicologia chorei como uma criança. Passado um tempo, como morava fora da cidade, comprei-lhe um carro para que ela pudesse estar mais à vontade nos transportes. Tal como o Jorge, as dívidas que assumimos cumprimos sempre. Somos herdeiros do compromisso, onde a palavra dada vale mais que toda a riqueza universal. Nunca fomos ao banco pedir dinheiro para ir para férias. Praticamente nunca viajámos para fora, e do mundo não conhecemos nada. O nosso lema era trabalhar afincadamente enquanto éramos novos para quando chegássemos às portas da velhice podermos usufruir do empenho hercúleo anteriormente desencadeado.

Passados mais de quarenta anos depois do 25 de Abril de 1974, agora na pré-entrada de sermos sexagenários, o que está acontecer connosco? Estamos aflitos para conseguir aguentar o que temos e continuar a viver com dignidade. É como se agora, já sem esperança, estivéssemos a fazer o percurso descendente, contrário a quando começamos. É como se sentíssemos que não valeu a pena. Foi um esforço inglório. Para piorar, sinto um terrível sentimento de impotência, de nada poder fazer. Estou contente com o balanço? Não. Passados quarenta e tal anos, é triste dizer, mas a sociedade portuguesa está demasiadamente igual a 1974. Duas partes são pobres e uma parte é demasiado rica. Não tenho gosto nenhum em fazer parte deste sistema viciado. Não gosto deste Portugal.


domingo, 24 de abril de 2022

"IN MEMORAM" DE MANUEL GUERRA DA SILVA (TEXTO ESCRITO EM 2012)

 



O VIÚVO QUE QUEBROU A REGRA


Aquele homem alto, garboso e de personalidade bem vincada nem parece o mesmo. Apesar dos seus oitenta anos, até há um ano atrás parecia um pinheiro ereto e pronto a enfrentar todas as ameaças possíveis e impossíveis que invadissem a mata de pináceos. Agora, na sua loja, numa rua estreita da cidade, arrasta-se de ombros caídos, como se crescessem ombreiras e faltasse corpo, olheiras negras e olhos vermelhos, como se o chorar copiosamente passasse da exceção à regra, e face macilenta cor de defunto.

A sua esposa morreu há cerca de um ano atrás. Foi o fim de uma relação de seis décadas a dois. Foi o epílogo de uma história de amor muito feliz. Nada a substitui, tudo a faz lembrar, nada a traz de volta. O tempo, no seu correr de rotineira loucura, é implacável e, perseguindo sabe-se lá o quê, não olha a meios, à dor e ao sofrimento, para atingir os fins, derradeiro e último dia do calendário existencial de cada um que vai tombando.

Quando lhe pergunto como vai andando, as lágrimas, como se estivessem presas por fios invisíveis e prontos a ceder pelo cansaço, irrompem pelo rosto abaixo, como chuva repentina de verão em terra sequiosa. “Vou mal. Muito mal! Foram sessenta anos de vida em comum. Entende? Durante o dia, como estou ocupado, até vou aguentando. O pior é à noite. O vazio do silêncio ser quebrado pelo barulho impercetível de um móvel, na madeira a ceder em “traque” de estalido, e olhar, ansiosamente, pensando que ela está ali. Mas não está. O espaço visual continua desabitado. Só eu e os objetos em redor teimamos em lembrar a sua memória. Levanto os olhos para a fotografia que me enche o coração e ela, fixamente, olha para mim, como se a interrogar da razão deste quebrar de regra. Porque não fui eu primeiro? Porque fiquei eu a penar neste padecimento indescritível? E quando vou para a cama e dou por mim a estender o braço, num abraço esvaziado, e o recolho lentamente tomando consciência do meu hábito repetido de décadas? Ali está o cheiro dela, o odor materializado que tenho sempre presente nas minhas narinas e que nunca esqueço. Só quem passa por esta amargura sabe e sente a tristeza que me envolve o coração. Tanto trabalhei, noite e dia, desalmadamente em busca de um futuro melhor. Hoje, de bom grado, daria tudo, toda a minha riqueza e até a minha vida, para a ter de volta. Estranho esta forma de viver. Não acha?

Tal como você diz, bem sei que me deveria afastar de todas as recordações que me transportam ao reavivar do sofrimento. Mas, e conseguir? Como posso eu deixar de a visitar duas vezes por semana no cemitério? Talvez você não entenda, mas ali, envolvida pela terra, eu sei que ela está lá fisicamente… ou o que resta dela. Da minha querida. Do meu amor! Você consegue imaginar a mágoa que sinto aqui no peito? Não consegue! Este pesar há-de ir comigo para a cova, qualquer dia, em que finalmente nos iremos reencontrar. Acredita que chego a pensar nisso e desejar a morte? Só agora sei que ela era o sustentáculo da minha vida, o vento que tocava as velas do frémito da minha existência. Se calhar é tarde para o reconhecer, o que lhe parece? Sempre me tive na conta de homem insensível à dor e que não chorava. Veja bem no que me transformei: numa criança que lacrimeja por tudo e por nada. Nada me satisfaz. Já nada me dá prazer viver. Não precisa de me dizer que estou deprimido eu sei… aliás, o psicólogo que me acompanha diz exatamente isso mesmo. Mas que quer? Eu perdi uma parte de mim. A minha segunda alma!”


BAIXA DE COIMBRA: FALECEU O “MANEL DA CARAVELA”

(Imagem retirada da edição de hoje do Diário de Coimbra)



A Baixa de Coimbra está de luto. Com cerca de 90 anos, faleceu o comerciante Manuel Guerra da Silva, mais conhecido por “Manel da Caravela”, com estabelecimentos na Rua da Louça.

Figura muito conhecida no Centro Histórico, o senhor Manuel Guerra, natural da zona de Penacova, fazia parte de um lote de grandes comerciantes que, provindo da aldeia recôndita e empobrecida com uma mala de cartão a tiracolo, subiram a corda a pulso e, com extraordinário rasgo para o negócio, viram a luz brilhante do sucesso entrar pela porta e mantê-la até ao fim da vida. Um dos mais antigos operadores, e que muito contribuiu para uma imagem de grandeza da Baixa de outros tempos que teima em ocupar parte da nossa memória colectiva, leva consigo uma parte da história comercial da cidade nas últimas oito décadas.

O proprietário da sapataria Caravela, sendo um homem que viveu activamente os seus negócios – todos os dias era presença assídua, até há pouco mais de um mês -, sentiu o pulsar do comércio de rua em toda a plenitude nas décadas de 1970/80, o seu declínio no final de 1990 e “morte anunciada” em 2016, com a total liberalização do sector terciário.

Algo reservado, sereno e directo e de poucas falas, era, no entanto, simpático para aqueles que se lhe dirigiam, pelo menos até Dezembro de 2011, aquando do falecimento da sua esposa, Maria Alice Rodrigues. Após o desaparecimento do “Sol resplandecente da sua existência”, viu-se e pressentiu-se a tristeza e a melancolia tomarem conta dos seus dias. Mais de uma vez vi correr as lágrimas pelo seu rosto tocado pelo sofrimento. Chegou a dizer-me que não conseguia passar uma única semana que, por duas vezes, não levasse flores à sua campa, no cemitério. Quando, uma ou outra vez, lhe dizia que assim, com essa rotina, nunca iria conseguir ultrapassar o luto, olhava para mim e replicava: “não consigo. Foi o amor da minha vida”, e mais uma vez o pranto, como a água a escorrer livremente pela montanha, invadia a sua face espelhada pela infelicidade.

O seu funeral será amanhã, Segunda-feira, pelas 15h00, com cerimónia religiosa no Centro Funerário Nossa Senhora de Lurdes, seguindo depois para o Cemitério de Santa Clara.

À sua família enlutada, em meu nome e da zona comercial, se posso escrever assim, os nossos sentidos pêsames. Descanse em paz, e até sempre, senhor “Manel”.

sexta-feira, 22 de abril de 2022

NUM POSTE PERTO DE NÓS… PROCURA-SE O AMOR

 


Como a mostrar-nos que o tempo corre depressa mas a velocidade não é igual para todos, o anúncio em papel lá está fixado num poste de telecomunicações à entrada de Barrô:


Aposentado das telecomunicações, com atividade e a conduzir, procura senhora, gentil ativa e apresentável, com idade superior aos 65 anos para sua companhia para fins matrimoniais. Caso assim o entender.

Se tiver carta de condução, melhor. Se não tiver carta, nada está perdido.

O meu telem. É: 962 225 776.

Zona do Concelho de Mealhada


Como ressalva, gostaria de esclarecer que, com esta publicação, não pretendo a troça. Pelo contrário, entendo esta forma de procurar o amor com o maior respeito e consideração. Numa época em que a Internet é a rainha universal de todas as coisas, não deixa de ser curiosa esta forma de comunicação.

Por isso mesmo, para aumentar o rol de oferta e maior divulgação, se o leitor puder partilhar, penso, com um pequeno clique estamos a ajudar o solitário desconhecido.


O REVERSO DA MEDALHA

 

(imagem de Leonardo Braga Pinheiro)




A posição formal do PCP em se ausentar ontem do Parlamento durante a transmissão do presidente da Ucrânia e de se recusar em punir verbalmente Putin está a escandalizar a maioria dos portugueses.

Não deixa de ser irónico esta maioria (em que quase, quase me incluo) condenar a livre expressão e pensamento 48 anos depois do 25 de Abril, e a escassos dias da comemoração.

O PCP e os seus membros estão ou não a exercer o seu livre direito de discordar da motivação que leva uma nação a cometer genocídio num país vizinho? Naturalmente que está. Por muito que nos cause prurido é uma opção que lhes assiste.

Os seus pontos de vista são tendenciosos e irrelevantes? Claro que são. Mas isso não são os argumentos que apresenta para consubstanciar a sua posição?

Não foi o 25 de Abril que institucionalizou o respeito por quem pensa de modo diferente? Os que não estão connosco deverão ser considerados nossos inimigos?

Será que, como já muitos disseram, não estaremos a ver esta guerra sob uma lupa maniqueísta, a preto e branco, onde apenas se vislumbram deuses e demónios? Será que não estaremos a ver as coisas sobre o manto diáfano da hipocrisia?

Cada um de nós tem a liberdade de se posicionar na defesa de um dos lados? Claro que tem. Mas para obter uma uma síntese racional e objectiva, naturalmente, deve dar-se ao trabalho de analisar a antítese, ou seja, o rebate de ideias, e só depois formar uma conclusão. Isto é, por muito que desgostemos de um argumentário contrário à nossa tese aparentemente lógica, por mais que se abomine, precisamos do contraditório. É esta dialética que nos enriquece e torna menos manipuláveis e seguidores do chamado pensamento único.

Na nossa subjectiva capacidade de escolha, discordemos livremente dos pressupostos do PCP, mas, em nome da holística liberdade relativa que intrinsecamente tanto defendemos, com honestidade intelectual, respeitemos as suas ideias.

Vale a pena pensar nisto?

domingo, 17 de abril de 2022

RECENTES ELEIÇÕES NO PSD/MEALHADA NO MANTO DIÁFANO

(Foto retirada, com a devida vénia, ao PSD/Mealhada no Facebook)
 




No passado dia 2 de Abril, há cerca de duas semanas, houve eleições para os órgãos concelhios do PSD/Mealhada.

Alguém leu uma linha sobre esta importante alteração política na denominada imprensa local e regional? Por que não foi publicada a notícia? A quem se deve a omissão? À pretérita concelhia liderada por Hugo Alves Silva, actual vereador com pelouro no executivo mealhadense, que, porventura, não teria dado a importância significativa que este acto tem para o concelho da Mealhada? Ou, pelo contrário, foi enviada a comunicação aos órgãos de comunicação social e nenhum pegou no assunto?

Como ressalva, é certo que as eleições foram anunciadas na página do partido no Facebook. Mas e quem não foi ao sítio partidário? Será que não tem direito a saber?

Confesso, cada vez fico mais abismado com a cobertura noticiosa da cidade da Mealhada. Parece que, numa contradição anacrónica e abismal, vamos caindo numa época de trevas?

Provenho de uma cidade, Coimbra, onde a notícia é ao minuto na Internet. Já não digo que na Mealhada, sendo periferia/litoral, urbe de pequena dimensão, seja assim mas, ao menos, que o conhecimento de factos seja ao dia. No mínimo, repito!

E urge interrogar: a quem interessa o apagamento de assuntos que são de extrema importância para o futuro político do concelho?

Em especulação, é como se por cá se movesse uma mãozinha invisível a destrinçar o deve ou não ser do conhecimento público.

O leitor menos informado, aquele que foge da política como o Diabo da cruz, certamente perguntará: o que me interessa isto? Acontece que, para a futura luta política/partidária que se avizinha, é do maior interesse.

Concorreu e foi ganhadora uma única lista liderada por Bruno Coimbra, actual deputado na Assembleia da República e eleito pelo Círculo de Braga. Como vices-presidentes constam Pedro Semedo e Ana Filipa Pereira.

Para a Mesa do Plenário foi eleito Manuel Jacinto Silva e como vice Manuel da Conceição.

A novidade reside na criação de um novo órgão: o Gabinete da Militância.

Voltaremos a este assunto, mas, a seu ver, leitor/comentador, o que significa esta mudança?


(Post scriptum: Em abono da verdade a notícia vem publicada no último Jornal da Mealhada com data de 13 de Abril. Os muitos assinantes como eu que só receberam o quinzenário hoje, 18 do corrente, só agora tomaram conhecimento.)


sábado, 16 de abril de 2022

O FOTÓGRAFO ESTAVA LÁ… E VIU E OUVIU ISTO OU TALVEZ NÃO…



A ASSOMBRAÇÃO


Hugo Alves Silva, vereador com pelouro no executivo liderado por António Jorge Franco e eleito pela coligação Juntos pelo Concelho da Mealhada, “apanhado” quando se dirigia para um Centro Espírita nos arredores da cidade do leitão.


- Desde 2017, quando me candidatei pela primeira vez à presidência da Câmara Municipal, que comecei a sentir um “encosto”. Esta assombração, como se estivesse grudada em mim, nunca mais me largou. Já percorri montes e vales, cidades, vilas e aldeias, curandeiros e benzedeiras e o fantasma não descola.

Que mal teria feito nesta vida para merecer tal sorte?

 

MEALHADA: HOJE HOUVE REUNIÃO DE CÂMARA (2)

 





O dia estava límpido, com os raios solares a convidarem ao ócio e ao usufruto da felicidade efémera. Como em viagem mental, a levar-nos para paisagens verdejantes acompanhadas do barulho da água transparente que escorre das cercanias da montanha que envolve o nosso olhar, salvo um arremedo ou outro mais acutilante, a harmonia parecia instalada no Salão Nobre. Na parede frontal e cimeira, sob o olhar atento de Marcelo Rebelo de Sousa, o Chefe de Estado, o encontro parecia decorrer na paz dos anjos.

Era manhã de Quinta-feira Santa, dia de Reunião de Câmara Municipal transmitida via YouTube, dito de outra forma, as imagens entravam dentro das nossas casas para quem abrisse a janela (do computador).

Como é uma ideia nova, os munícipes ainda não aderiram em massa ao visionamento público. Com uma variabilidade entre 35 assistentes, por volta das 10h30, e 20, às 13h20, quando terminou o encontro de vereadores, apesar disso, é um primeiro passo para o envolvimento dos cidadãos na política da sua terra.


*

São 10h30, como não houve intervenções públicas, depois de ouvir os políticos presentes que pediram a palavra, entrou-se directamente na Ordem do Dia.

Depois da aprovação da acta anterior, estamos agora no ponto número 2: “DGAV - Direção-Geral de Alimentação e Veterinária – Protocolo de colaboração com a Câmara Municipal da Mealhada”

Traduzindo por miúdos, em face do recente prémio “5 Estrelas” atribuído ao leitão assado, a autarquia pretendia estabelecer um protocolo com a Direção Geral de Alimentação e Veterinária, para assegurar uma qualidade excelsa do produto na Mealhada, que os leitões consumidos nos restaurantes durante o dia devem passar a ser abatidos durante a manhã. Para isso acontecer, as casas de restauração continuam a sustentar a sua parte financeira como até aqui e a edilidade colabora nos pagamentos aos veterinários avençados pela inspecção sanitária.

É um luxo saber que cada pessoa está a comer leitão do dia. Agora, os luxos pagam-se! É um investimento público, de todos nós - enfatizou António Jorge Franco, presidente dos mealhadenses.

E entramos no terceiro ponto, “3. CIM RC – Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra - Concertação de um quadro de políticas públicas com a Região de Leiria - 2.ª Cimeira

Aqui saltou-me ao ouvido a frase lapidar de Rui Marqueiro, ex-comandante da Câmara: “à medida em que as CIM’s tomam mais poder, é mais um passo para a regionalização.”

(…) Ainda não somos suburbanos… mas somos”.


*


Passando por cima de temas, a meu ver, sem interesse estamos no ponto 6: “Proposta ao Executivo n.º 31/2022 - Inventário e Documentos de Prestação de Contas do ano de 2021”.

Dirigindo-se a António Franco, deu nas vistas as declarações de Rui Marqueiro, acerca de Hugo Alves Silva, vereador com pelouro, que não estava presente:

(…) O senhor vereador (Hugo Silva) apontou ao Tribunal de Contas caminhos inomináveis…

(…) Enquanto eu aqui estiver o senhor vereador Hugo Silva vai ouvir-me a lembrar o que aconteceu.”

(…) Se o Senhor confia nele, espero que não se arrependa.

O senhor vereador é da minha confiança”. Rematou Franco secamente e dando por encerrado o episódio.

E depois do ponto 8, que foi apresentado logo ao abrir da reunião, passamos agora ao 12: “Requerimento registado sob o n.º 4454 - Cafetaria da Alameda da Cidade

Diz Franco: “Tivemos de fazer algumas correcções, mas não era impeditivo para (o concessionário) abrir.”

(…) Pede um período de carência de 18 meses. Entendo que, em vez dos 18 meses, devemos dar-lhe 45 dias para equipar o estabelecimento.

Interveio Marqueiro: “Esse senhor é um abusador. Maltratou uma funcionária da Câmara. Votarei contra.”


*

E estamos agora no ponto 24 da agenda: “Elaboração do Projeto de Reabilitação de Sala Polivalente no Luso e de Requalificação de Escada e Área Envolvente – Projeto de Execução – Fase A e Fase B – Resumo Pareceres Internos ao Projeto de Execução Remetido a 15/10/2021

Partindo a louça toda, referindo as obras aprovadas no tempo de Marqueiro para o antigo cinema de Luso, como se fosse um murro na mesa, atirou Franco: “Não é um projecto para 3 Milhões.

(…) Eu voto contra esta obra de 3 milhões de euros.

(…) Há uns lusenses que estão contra, “que concordam que esta obra não serve, incluindo o presidente e o secretário…

(Lá atrás, na parede, Marcelo, adivinhando tempestade, pareceu encolher-se todo)

Como picado por um escorpião e desse um salto, atira Marqueiro:

Numa reunião em que esteve o senhor presidente da Junta ele concordou… Agora as pessoas são é cobardes…

(Marcelo, como se esticasse o pescoço para ouvir melhor, pareceu dizer: olha o Franco, sem mover um dedo, acaba de ganhar mais uma junta de freguesia aos socialistas.)

Franco, como se não tivesse ouvido o que foi dito, continuou:

(…) Eu não estou disposto a gastar 3 Milhões de euros, sabendo que não vai servir para colmatar as necessidades – e isto é dito pelos técnicos.

Retorquiu Marqueiro: “(…) Estou disposto a ajudar. Eu ajudo!

Depois de uma troca de palavras pouco amigáveis, respondeu Franco: “Nunca levei uma empresa à falência. Nunca defendi obras megalómanas.”

(…) Eu nunca faria as obras do novo mercado pelo montante que foi. Vá a Albergaria…

(Foi aprovado fazer uma reunião com o presidente da Câmara, com o projectista e os serviços para baixar preços. E ainda com a Junta de Freguesia de Luso.)


RESUMO FINAL


Nesta segunda parte, embora o ambiente por vezes estivesse ao rubro, o bombeiro de serviço, Franco, que já aprendeu a usar a mangueira com mestria, soube estar à altura para acalmar as maiores desavenças e debelar os incêndios que pareciam eclodir a qualquer momento. No final da reunião, entre Franco e Marqueiro, originando alguma confusão, em tom jocoso, até foram trocadas promessas de um almoço entre os dois. Com jeito a coisa ajusta-se.


sexta-feira, 15 de abril de 2022

O FOTÓGRAFO ESTAVA LÁ… E OUVIU ISTO OU TALVEZ NÃO…

 




José Manuel Silva, presidente da Câmara Municipal de Coimbra, apanhado a sair de um estabelecimento comercial na Rua Visconde da Luz onde adquiriu uma Raspadinha e acabou de verificar que o bilhete não tinha prémio:


- Vou já avaliar os critérios da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa na atribuição de prémios de fortuna e azar. Tenho vários amigos que ganharam uma “pipa de massa”. E eu não ganhei nada?!? Porquê?

Parece-me que os parâmetros são subjectivos e não apontam claramente por que razão fui excluído da sorte! Sinto-me discriminado, como se fosse inferior a outros...


quinta-feira, 14 de abril de 2022

MEALHADA: HOJE HOUVE REUNIÃO DE CÂMARA (1)

 

(imagem do jornal online Bairrada Informação)



Não se sabe se o facto de ser “Quinta-feira Santa” teria alguns coisa a ver com a espiritualidade do dia, com Sol brilhante a irromper pelas vidraças e uma sensação de paz respirável no ar do Salão Nobre da Câmara Municipal de Mealhada. Se, por hipótese, perguntassem à institucional fotografia de Marcelo Rebelo de Sousa, pendurada na parede em fundo, mais que certo, responderia que a boa harmonia perceptível no compartimento seria por obra e graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, em véspera da sua comemorada ressurreição. Se a mesma interrogação fosse feita a um ateu, aquele que não crê em Deus, nem em qualquer ser superior, diria, categórico, que era a Natureza no seu pleno desenvolvimento harmónico. Fosse por uma ou por outra justificação, a verdade é que o grupo de vereadores, hoje mais reduzido por falta de comparência de Luís Tovim (PS), que não se fez substituir, pareciam, todos, estar calmos e serenos.


*

Com a saudação da praxe por parte de António Jorge Franco, presidente da Câmara Municipal, e depois de uma explicação sumária em que interrogava se não haveria oposição a que, antes de entrar no Período de Antes da Ordem do Dia, se avançasse para o ponto 8, uma vez que o vereador Hugo Alves Silva precisava de se ausentar para uma reunião exterior em sua representação.

E passou-se ao ponto 8 da agenda - “Proposta ao Executivo para Alteração ao Regulamento do Espaço Inovação”.

Disse Hugo Alves Silva que o que se estava a propor era que alguns com chave pudessem entrar no Espaço Inovação depois das 17h00. “Sobre a questão da incubação, não quisemos começar logo em Novembro porque fomos alertados pelos serviços e subscrevemos. (…) Entre ser sede física e virtual não vejo diferença nenhuma”.

Interrompeu Rui Marqueiro, ex-comandante da edilidade e agora vereador da oposição em representação do PS: “Quanto à chave digital não vejo isso com bons olhos. Quanto a ser sede virtual, é o mesmo que ser uma “offshore”; designam aqui a sua sede sem nunca cá porem os pés.

António Franco atalhou: A entrada que vamos lá colocar não será por códigos de números ou letras. (…) Hoje não há acessos infalíveis.

O objectivo (desta sede virtual) é dar hipóteses a empresas que estão a dar os primeiros passos. Tem de haver uma escolha nas empresas, sobretudo na riqueza que possa vir para o concelho.

(…) Quando se dá tudo a coisa não funciona. Eu já estive no privado...

(…) Há uma grande quantidade de empresas a quererem vir para o nosso concelho.

(…) Vimos muitos lotes (na Zona Industrial) vendidos e sem construção. Devemos alterar esta situação…”


*

E entramos no Período Antes da Ordem do Dia:


Filomena Pinheiro, vice-presidente, acerca da recente distinção do prémio “5 Estrelas” atribuído ao Leitão da Bairrada e à Mata Nacional do Bussaco, disse o seguinte: “foram 425 mil consumidores que votaram. Não nos custou nada este prémio”.

Continuou Filomena, “por outro lado, saliento o “garfo de Platina” atribuído ao Rei dos Leitões.

Franco: Este prémio “5 Estrelas” aumenta a nossa responsabilidade. Dou os parabéns a todos.

Marqueiro, bem-disposto, contou uma história sobre os cozinhados dos restaurantes distinguidos pelo “Guia Michelin”. E, sobre este assunto, terminou a sua intervenção dizendo que qualquer dia o “Rei dos Leitões” não tem onde colocar tanta platina.

A seguir o ex-chefe da autarquia questionou ainda sobre o o andamento do protocolo celebrado com o Instituto Politécnico de Coimbra.

Respondeu Franco: “Estamos a trabalhar com a CIM, Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra, para termos um polo de ensino superior na Mealhada.”

Atalhou Marqueiro: “Parece-me que estão um pouco lentos nessa matéria.

Enfatiza Filomena: “A Mealhada foi, durante muitos anos, o pico do ensino profissional. Hoje é um polo da escola de Cantanhede.


E MARQUEIRO PARTE À OFENSIVA


Como diria o Professor Marcelo, estava tudo a correr tão bem, eis então que, sem avisar, Marqueiro lança um míssil de acção fragmentada, como quem diz a provocar danos colaterais, direccionado a Filomena: “As contas foram maquilhadas na EPVL, Escola Profissional Vasconcelos Lebre.

Por segundos, que pareceram minutos, caiu um estranho silêncio na sala, só quebrado por um estalido emanado da velha secretária onde Franco dirigia os trabalhos.

Mas depressa a nossa denominada “calamity Jane” saca dos dois colt’s e dá ao gatilho: “Não é verdade! A escola foi muitas vezes auditada. Traga as provas que afirma. Até lhe agradeço”. E o ambiente na sala tornou-se irrespirável.

As sirenes de alarme de incêndio retiniram numa grande algazarra. Coube ao chefe dos bombeiros, António Franco, lançar água nos diálogos acintoso e efervescentes que se aproximavam.


RESUMO DESTA PRIMEIRA PARTE


Retirando a indirecta perpetrada por Rui Marqueiro – que, conforme já escrevi, são os imprevistos que alteram a rotina e evitam que estas reuniões de câmara sejam todas iguais -, no geral estiveram todos bem. Se é certo que, por um lado, o anterior mayor, na qualidade de vereador da oposição, actua dentro da legitimidade para que foi investido, por outro, digo eu, os tiros de pólvora seca, como quem diz afirmações/acusações sem consistência, não enriquecendo o debate, seriam bem dispensáveis.

Ainda não passou muito tempo que, talvez por muito menos, Marqueiro fez uso de uma denúncia caluniosa no Ministério Público contra o vereador Hugo Alves Silva.

A meu ver, que já sou velhote e assisti a muitas sessões camarárias, esta Câmara Municipal, na forma como são conduzidos os trabalhos e são desvalorizadas as afirmações da oposição, remetendo-as para a abrangente discussão política onde cabe o bom e até o mau, são um bom exemplo para as restantes 307 autarquias do país.

Ainda que por vezes o povo não entenda, é assim mesmo que deve ser. Os eleitos, na sua representação popular, são como os advogados na barra a defenderem os seus constituintes. No tribunal/na câmara são opositores ferrenhos; na rua são respeitadores da individualidade e forma de ser cada um.

(Continua amanhã)