O
dia estava límpido, com
os
raios solares a convidarem ao ócio e ao usufruto da felicidade
efémera. Como
em viagem mental, a levar-nos para paisagens verdejantes acompanhadas
do barulho da água transparente que escorre das cercanias da
montanha que envolve o nosso olhar, salvo
um arremedo ou outro mais
acutilante, a harmonia
parecia instalada no Salão Nobre. Na
parede frontal e cimeira, sob o olhar atento de Marcelo Rebelo de
Sousa, o Chefe de Estado, o encontro parecia
decorrer
na paz dos anjos.
Era
manhã de Quinta-feira
Santa, dia de Reunião
de Câmara Municipal transmitida via YouTube, dito de outra forma, as
imagens entravam dentro das nossas casas para quem abrisse a janela
(do computador).
Como
é uma ideia nova, os munícipes ainda não aderiram em massa ao
visionamento público.
Com uma variabilidade entre
35 assistentes, por volta das 10h30, e 20, às 13h20, quando terminou
o encontro de vereadores, apesar disso, é um primeiro passo para o
envolvimento dos cidadãos na política da sua terra.
*
São
10h30, como não houve intervenções públicas, depois de ouvir os
políticos presentes que pediram a palavra, entrou-se directamente
na Ordem do Dia.
Depois
da aprovação da acta anterior, estamos agora no ponto número 2:
“DGAV -
Direção-Geral de Alimentação e Veterinária – Protocolo de
colaboração com a Câmara Municipal da Mealhada”
Traduzindo
por miúdos, em
face do recente prémio “5
Estrelas”
atribuído ao leitão assado, a
autarquia pretendia estabelecer um protocolo com a Direção Geral de
Alimentação e Veterinária, para
assegurar uma qualidade excelsa do produto na Mealhada, que
os leitões consumidos nos
restaurantes durante
o dia devem
passar
a
ser abatidos durante a manhã. Para
isso acontecer, as casas de restauração continuam a sustentar a sua
parte financeira
como até aqui
e a edilidade colabora
nos pagamentos aos
veterinários avençados pela
inspecção sanitária.
“É
um luxo saber que cada pessoa está a comer leitão do dia. Agora, os
luxos pagam-se! É
um investimento público, de todos nós
- enfatizou António Jorge Franco, presidente dos mealhadenses.
E
entramos no terceiro
ponto, “3. CIM
RC – Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra - Concertação
de um quadro de políticas públicas com a Região de Leiria - 2.ª
Cimeira”
Aqui
saltou-me ao ouvido a frase lapidar de Rui Marqueiro, ex-comandante
da Câmara: “à
medida em que as CIM’s tomam mais poder, é mais um passo para a
regionalização.”
“(…)
Ainda não somos
suburbanos… mas somos”.
*
Passando
por cima de temas, a meu ver, sem interesse estamos no ponto 6:
“Proposta ao
Executivo n.º 31/2022 - Inventário e Documentos de Prestação de
Contas do ano de 2021”.
Dirigindo-se
a António Franco, deu
nas vistas as declarações de Rui Marqueiro, acerca de Hugo Alves
Silva, vereador
com pelouro, que não estava presente:
(…)
O senhor vereador
(Hugo Silva) apontou ao Tribunal de Contas caminhos inomináveis…
“(…)
Enquanto eu aqui
estiver o senhor vereador Hugo Silva vai ouvir-me a lembrar o que
aconteceu.”
“(…)
Se o Senhor confia
nele, espero que não se arrependa.”
“O
senhor vereador é da minha confiança”.
Rematou Franco
secamente e dando por encerrado o episódio.
E
depois do ponto 8, que foi apresentado logo ao abrir da reunião, passamos
agora ao 12: “Requerimento
registado sob o n.º 4454 - Cafetaria da Alameda da Cidade”
Diz
Franco: “Tivemos
de fazer algumas correcções, mas não era impeditivo para
(o concessionário)
abrir.”
(…)
Pede um período de
carência de 18 meses. Entendo que, em vez dos 18 meses, devemos
dar-lhe 45 dias para equipar o estabelecimento.
Interveio
Marqueiro: “Esse
senhor é um abusador. Maltratou uma funcionária da Câmara. Votarei
contra.”
*
E
estamos agora no ponto 24 da agenda: “Elaboração
do Projeto de Reabilitação de Sala Polivalente no Luso e de
Requalificação de Escada e Área Envolvente – Projeto de Execução
– Fase A e Fase B – Resumo Pareceres Internos ao Projeto de
Execução Remetido a 15/10/2021 ”
Partindo
a louça toda, referindo as obras aprovadas no tempo de Marqueiro
para o antigo cinema de Luso, como
se fosse um murro na mesa,
atirou
Franco:
“Não
é um projecto para 3 Milhões.”
“(…)
Eu
voto contra esta obra de 3 milhões de euros.”
(…)
Há uns lusenses que estão contra, “que
concordam que esta obra não serve, incluindo o presidente e
o secretário…”
(Lá
atrás, na parede,
Marcelo, adivinhando
tempestade, pareceu encolher-se todo)
Como
picado por um escorpião e desse um salto, atira Marqueiro:
“Numa
reunião em que esteve o senhor presidente da Junta ele concordou…
Agora as pessoas são é cobardes…”
(Marcelo,
como se esticasse o pescoço para ouvir melhor, pareceu dizer: olha o
Franco, sem mover um dedo, acaba de ganhar mais uma junta de
freguesia aos
socialistas.)
Franco,
como se não tivesse ouvido o que foi dito, continuou:
“(…)
Eu não estou disposto a gastar 3 Milhões de euros, sabendo que não
vai servir para colmatar as necessidades – e isto é dito pelos
técnicos.”
Retorquiu
Marqueiro: “(…)
Estou disposto a ajudar. Eu ajudo!”
Depois
de uma troca de palavras pouco amigáveis, respondeu Franco: “Nunca
levei uma empresa à falência. Nunca defendi obras megalómanas.”
“(…)
Eu nunca faria as obras do novo mercado pelo montante que foi. Vá a
Albergaria…”
(Foi
aprovado fazer uma reunião com o presidente da Câmara, com o
projectista e os serviços para baixar preços. E ainda com a Junta
de Freguesia de Luso.)
RESUMO
FINAL
Nesta
segunda parte, embora o ambiente por vezes estivesse ao rubro, o
bombeiro de serviço, Franco, que já aprendeu a usar a mangueira com
mestria, soube estar à altura para acalmar as maiores desavenças e
debelar os incêndios que pareciam eclodir a qualquer momento. No
final da reunião, entre Franco e Marqueiro, originando
alguma confusão, em
tom jocoso, até foram trocadas promessas de um almoço entre os
dois. Com
jeito a coisa ajusta-se.