A notícia chegou-me assim pela boca de duas
senhoras: “então Manuel Machado, o
presidente da Câmara Municipal de Coimbra, anda hoje a visitar as lojas da
Baixa?”. Perante a minha incredulidade -já que desde a campanha eleitoral ocorrida
há cerca de um ano, o usufrutuário disto
tudo, desde a Associação Nacional de Municípios, passando pelo falar grosso
na edilidade e todos gritarem “sim, majestade!”,
até ao fazer curvar o mais gordo na Rua Castro Matoso, e ainda vir a ser o
futuro Secretário de Estado das Infraestruturas, Transportes e Comunicações, do
próximo governo do Partido Socialista (PS), para conseguir repor o comboio da
Lousã e finalmente ter uma estátua ao fundo do Parque da Cidade, nunca mais
colocou os sapatos nas ruas estreitas- as senhoras insistiam: “é verdade é! Até estivemos a falar com ele
e sobre o futuro do PS!”
Com o meu apurado faro jornalístico, vi
imediatamente que estava perante um furo.
Munido de bloco de notas, caneta e máquina de fotografar, montei na minha
bicicleta e, perguntando à Celeste, uma sua admiradora, ao João, da Retrosaria
Ziguezague, à Rita e à Rosa, dei a volta ao quarteirão e nada! Ninguém lhe tinha
beijado a mão. Por acaso, mesmo por acaso, encontrei o “Carlitos popó”, na Praça do Comércio, e fiz-lhe a mesma pergunta.
No meio de um gaguejo, como se estivesse a partir as frases com os dentes,
adiantou: “oraaaaaaaaa… oraaa! Se nin… guém
o con… con…vidou para vir cá ao bai…rro dos po…po…pobres, como é que…que ele
apa…apa…rece? Tem de re… re…ceber um com…vite fo…fo…formal! Ele é mo…mo…nárquico!
Por… por… isso nunca deixa de ir ao Reis, no Te…te…terreiro da Erva!
Fiquei a pensar nisto. Caramba! O popó é mais inteligente que mais uns
tantos burgessos e pobres vira-latas como eu. Realmente é verdade! Mas como é
que faço? Eu até o convidava para ir almoçar, comigo, ao “Zé Neto”, uma das muito boas casas que existem por aqui, na Rua das
Azeiteiras, mas estou um bocado em baixo,
sinto-me fraquito, como quem diz, com
o forro das calças rotito de tanto
catar. Se ainda, ao menos, aceitasse que lhe pagasse uma mini e uma sardinha
frita, na Tasca da Mariazinha, na Rua
do Almoxarife –e desde que não traga o séquito que anda sempre atrás dele
quando atravessa a Rua da Sofia- eu até pagava. Juro que pagava!
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