sábado, 30 de março de 2013

"EM CASO DE ALARME, LIGAR..."


 Ontem à noite, cerca das 21h00, quando Sérgio Ferreira, comerciante na Baixa, passava em frente à Sapataria Cidade de Coimbra, na Rua Eduardo Coelho, apercebeu-se de imenso fumo dentro do estabelecimento e já a sair pelas frestas. Para além disso, viu também que detrás da registadora saiam uns clarões em lampejo. Depois de ter tentado por todos os meios saber o contacto do proprietário, incluindo fazer várias chamadas para comerciantes vizinhos, e, perante a iminência de uma catástrofe anunciada perante os seus olhos, ligou para os bombeiros, que, para evitar males maiores, partiram a porta principal, de vidro.
Segundo Sérgio Ferreira, “não tenho bem a certeza, mas pareceu-me que era um aquecedor que foi deixado ligado, certamente por esquecimento”. Ao que parece não foi a primeira vez que aconteceu. Uma vizinha desta sapataria aberta há poucos meses nesta antiga rua de sapateiros, que pediu o anonimato, confidenciou que “na terça ou quarta-feira, últimas, por volta das 19h00, e já depois do espaço de venda de sapatos ter encerrado, reparei que saía muito fumo da loja. Entretanto apareceu o dono e alertei-o para esse facto anómalo. Ele entrou na sapataria, desligou as luzes e, deixando tudo cheio de fumo, foi-se embora. À saída enfatizou: “eu voltei porque me esqueci do telemóvel! Não disse mais nada. Nem muito obrigado, nem coisa que o valha!”
Aproveitando este acontecimento, gostaria de chamar a atenção aos comerciantes que um número de telefone na montra pode evitar futuros danos maiores. Já por várias vezes, tal como neste caso de fumo, por um vidro quebrado, por um alarme a retinir, ou por água a sair, tem acontecido ser necessário contactar os proprietários e tal revela-se quase impossível. Não custa nada. É apenas uma questão de prevenção. É comum pensar-se que deixar o número de telemóvel pode originar ligações indesejadas. Pela minha experiência, se posso escrever assim, a utilidade é maior do que a quebra de confidencialidade.


sexta-feira, 29 de março de 2013

OS COSTUMES EM MUDANÇA


 Ontem estava dentro de uma loja da Baixa. Entrou um indivíduo e, assim meio titubeante, a vacilar, interrogou a dona: “ aqui ao lado não há um ervanário?”. A lojista, mais sabida do que um lente da Universidade, viu logo o que o homem procurava e replicou: “o senhor procura um cartomante, que deita cartas, não é?”. E o homem, como se fosse apanhado na curva a 100 à hora pela GNR, ainda gaguejou mais: “sim, é isso é! Ele está fechado hoje?”. E a dona do negócio lá o informou e o homem saiu. Cá fora estavam duas mulheres de longas saias. Pela aparência, sem margem de erro, eram ciganas.
Em conversa com a senhora do estabelecimento entabulámos que, em face da amostra, até o povo cigano, que ao longo da nossa história recente nos habituou a fazer uso da leitura da sina, abandonou este velho costume tão seu e rendeu-se à cartomância.
Esta narração terá alguma coisa de especial? Não, não tem. Apenas achei curioso.


TEXTOS RELACIONADOS

AMANHÃ MUDA A HORA

UMA PÁSCOA COMERCIAL PERDIDA




 Todos sabemos que para além da religiosidade sacra a Páscoa é também profana. A Semana  Santa para o comércio de rua sempre foi fundamental. Vinham “nuestros hermanos”, compravam uns “regalos” e os lojistas ficavam mais aliviados nos compromissos financeiros. De tal modo era assim que, já com várias décadas, há o costume de “trocar” o feriado de sexta-feira pela segunda. Actualmente já não compensa permutar. Aliás, até é prejudicial no sentido de que já não há espanhóis a comprar e, para além disso, hoje, no Dia Santo, os serviços públicos estão todos fechados e segunda-feira estão abertos. Ou seja, neste momento está-se a alternar o incerto pelo certo. Claro que a solução –e é o que está acontecer, e ainda bem porque precisamos de aproveitar cada vez mais todos os dias da semana- é abrir hoje, sexta, e também segunda-feira. Nos tempos que vão decorrendo, sobretudo quando molhados pela pluviosidade, os espanhóis ficam-se pelos hotéis e pela gastronomia dos restaurantes, uns cafés e uns docinhos regionais.
Como se fosse pouco já levarmos com a crise económica em cima, a nossa e dos restantes vizinhos europeus, o tempo está de chuva e vento tocado de Norte. À hora do almoço as ruas principais da calçada, Visconde da Luz e Ferreira Borges, apresentavam um ambiente quase deserto de transeuntes e desolador. Com as lojas completamente vazias –sem moscas, porque até estas hibernaram para outras paragens- os comerciantes, conforme se vê na imagem o Guilherme da Casa São Tiago, perante um destino pouco auspicioso, em posição de defesa e à espera de uma esperança que há-de vir, se Deus quiser, estão de braços cruzados.

quinta-feira, 28 de março de 2013

HÁ CRISE? ONDE? NÃO DEVE SER EM PORTUGAL!




Numa medida impossível de compreender, os bancos nacionais encerraram hoje ao meio-dia. Estamos em crise? Temos problemas de produtividade? Precisamos de trabalhar mais? Quem entende o que se passa neste pobre/rico (?)  país? Estamos no reino da pantomina e da pantalha? -Pantalha, uma palavra que foi agora descoberta e recuperada dos baús insalubres da história e que, segundo o dicionário, significa "estrutura revestida destinada a quebrar a luz ou a orientá-la, quadro de projecção cinematográfico". 
Alguém entende esta (des)onrientação da luz que deveria preocupar todos no caminho da nossa recuperação financeira?

LEIA O DESPERTAR...


LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA 

Para além  do texto "VAMOS DANÇAR?", deixo também as crónicas "93 ANOS? QUEM DIRIA, DONA ROSA!"; "AS FILAS DO SILÊNCIO"; e o "RANCHO DE COIMBRA VAI REABRIR"



VAMOS DANÇAR?

 Na edição de 25 de Janeiro, último, escrevi que Leonor Mamede, o motor centrifugador da agitação cultural da Alta da cidade, tinha sido desafiada por um grupo de senhoras para que criasse na Baixa um projeto de danças de salão. Como seria de adivinhar, Leonor anuiu imediatamente e exclamou: “vamos a isso!”. Se a ideia foi concebida para um espaço mais central –na altura aventou-se ser o Rancho de Coimbra que, saliente-se, foi logo disponibilizado pela direção, ainda, em funções-, a verdade é que por questões de comodidade, acabou por recair no antigo pavilhão dos CTT, ao fundo da Rua dos Oleiros e onde em tempos funcionou um ginásio. Segundo Fátima Santos, empregada na Sapataria Paiva, na Rua Eduardo Coelho, e uma das discípulas de Leonor, “este projeto de revitalizar a Baixa através da dança está a ser um sucesso e caminha para um futuro sólido e risonho. Já temos uma dúzia de alunos, a maioria mulheres. Está a ser um espetáculo! As aulas são às segundas-feiras, das 19h30 às 21h00. Custa apenas 12,50 euros por mês. Acredita que embrenhada a rodopiar, a executar os passos de danças de salão, salsa, kisomba, samba e outras variantes, nem dou pelo tempo a passar? Olhe que saio de lá completamente feliz e aliviada deste stress que nos angustia. Uma maravilha! Porque razão não se junta a nós, senhor Luís?!”




93 ANOS? QUEM DIRIA, DONA ROSA!

 Na quarta-feira da semana passada os relógios apontavam 15h00. A Rua de Sargento-mor, no pequeno terreiro, estava pejada de pessoas. Algumas delas transportavam no regaço ramos de flores. O motivo que deu origem a este ajuntamento foi um aniversário: Dona Rosa, uma moradora, comemorava 93 anos.
Com alguma ansiedade à mistura, os muitos amigos da anciã, volta e meia, olhavam para a porta da sua residência nos últimos 60 anos, por cima do estabelecimento da “Casa Anita” e propriedade da sua filha com o mesmo nome. Como é normal nas cerimónias de solenidade, passados uns dez minutos, a senhora, com total desenvoltura e fresca como uma flor, desceu e transpôs a velha porta do medieval edifício da Baixa de Coimbra. Por momentos, entre Rosa e construção de antanho, houve uma certa simbiose. Era como se pessoa e coisa se imbricassem no mesmo destino de resistência às agruras do tempo. Embora, saliente-se, Rosa está muito mais bem conservada que o velho prédio histórico. Se ninguém lhe retira as 93 primaveras em flor do Bilhete de identidade também ninguém lhos dará. A verdade é que parece ter menos 20 anos. Quem sabe a mãozinha de Deus, juntando as duas idades, construção e humano, fizesse a soma dos dois e, como prémio de longevidade, desse crédito acumulado à pessoa.


Rosa Azevedo Neto mal transpôs a portada foi logo engolida pela multidão e chapinhada com muitos beijinhos e abraços. Do Centro de Dia da Casa de Repouso Rainha Santa Isabel, das mãos de Ana Maria, técnica responsável por esta briosa instituição de apoio aos mais velhinhos da Baixa, recebeu um grande bouquet de flores. E Rosa, como não poderia deixar de ser, chorou de alegria e contentamento. A seguir cantaram-se os parabéns no largo em frente na presença de todos os amigos comerciantes da zona e, em respeito pela vizinha de tantas décadas, até os pombos pararam de arrulhar.


Anita, a filha, intervalado com uma lágrima, lá ia contando a história da sua mãe querida. “Espectacular mãe”, sublinhava. “Rosa, a minha progenitora, juntamente com o meu pai - Henrique Branco, que foi tipógrafo do Diário de Coimbra e de O Despertar- trabalharam muito para nos criar. A minha mãe sempre construiu estas pequenas flores de seda –e apontava uma prateleira expositora com um dístico “não se vende”. Depois do jantar, íamos para a cama e noite dentro trabalhava para satisfazer encomendas para os desaparecidos José Novais e Último Figurino. Para além destes fornecia também muitas modistas da cidade para, com a sua arte, acompanhar os vestidos em cerimónias, sobretudo nos casamentos. Foi sempre a sua profissão. Olhe aqui este bolero que ela fez para mim” –e apontava um colete branco ricamente  bordado.


Rosa continuava a lacrimejar de satisfação por ter tantos afeiçoados que a adoravam. “Não contava com esta surpresa”, enfatizava em repetição. “Frequento o Centro e são todas minhas amigas. Não contava com isto. Sinto-me muito feliz! Fui sempre bem-disposta. Casei-me com 19 anos, e os rapazes sempre andaram atrás de mim. Desde os oito anos que trabalho com flores. Aprendi com a minha mãe. Apesar de menos do que noutros tempos, ainda faço flores.”
Fique a saber que por aqui, pela Baixa, todos a adoramos e invejamos a sua vitalidade. Gostamos muito de si. Que esta congratulação se repita por muitos e bons anos. Muitos parabéns, Dona Rosa!


AS FILAS DO SILÊNCIO

 Embora houvesse cadeiras vazias, o homem estava em pé na grande sala da administração pública. De vez em quando, como um ai sofrido de dor pelos humanos exalado pelo visor de atendimento por número sequencial, ouvia-se um “clique” a querer indicar que estava um funcionário à espera do próximo cliente. Reparei que, para além do seu olhar parado e fixo, de uma das suas mãos um bastão branco com uma argola na ponta tocava o chão. Era invisual. Se ninguém anunciava o número no placard como é que ele poderia saber quando chegaria a sua vez? Comecei por me questionar.
Chama-se Armindo Claro, tem 41 anos de idade e é completamente cego. Enquanto esperava a minha vez, meti conversa com o Claro. Como é que consegue saber quando chega a sua vez para ser atendido? Já que nenhum empregado, alto e bom som, sublinha os números de atendimento? Interroguei. Responde o Armindo: “Ora bem, normalmente dão-me prioridade. Está previsto na lei. Embora, diga-se, às vezes as pessoas não entendem porque tenho necessidade de lhes passar à frente e reclamam. Aqui, nesta repartição pública, apesar de não ter um segurança, sempre fui bem atendido. Mas, de facto, já que você fala nisso e os visores são mudos, deveriam ter mais atenção a situações como a minha, de invisual. A administração, no mínimo, deveria ter aqui alguém para nos encaminhar. Esquecem as nossas limitações. Olhe, por exemplo, eu recuso-me liminarmente a enviar o IRS pela Internet.”
Fomos interrompidos por um funcionário que saiu do lado de dentro do balcão. Depois de o cumprimentar com simpatia, colocando-lhe a mão no braço, exclamou: “vamos lá então para o primeiro-andar, senhor Armindo?”. E ambos foram engolidos pelos lances de escadas e pela ambiência fria e desumana do edifício.

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O RANCHO DE COIMBRA VAI REABRIR

 Depois de cerca de cinco anos praticamente em hibernação, sem atividade continuada –só esporadicamente se realizavam eventos na sua grandiosa sala e cheia de tantas memórias desde o seu início em julho de 1938-, o Rancho das Tricanas de Coimbra, na Rua do Moreno, vai abrir à cidade. Nesta última quarta-feira, dia 27, realizaram-se eleições para os novos corpos-gerentes.
O timoneiro encarregue de colocar novamente este cruzeiro a navegar e a animar a Baixa de Coimbra, é José Luís Montenegro. Coadjuvado por Francisco Monteiro e uma nova lista de pessoas de boa vontade, em que se inclui o presidente cessante Carlos Clemente, que estão na disposição de sacrificar o seu tempo em prol de um projeto que há muito precisava de ser reanimado. A bem de um passado de glória, de um presente anémico e pouco virado para as recordações que constituem o animus da vida e de um futuro que se pretende legar aos vindouros, este grupo de pessoas pretende contrariar o situacionismo daninho que grassa entre nós.


Ouvindo o comandante e o assessor, respetivamente o Montenegro e o Monteiro, a uma só voz enfatizaram que dar vida a esta gloriosa coletividade onde tantos conimbricenses, estudantes e futricas, passaram a sua adolescência, repleta de incontáveis namoricos e que muitos terminaram em finais felizes com casamentos de enlace, era uma emergência social. Se aquela sala de baile falasse, uma longa história contaria, repleta de cenas dramáticas e hilariantes. Vamos ouvir: “lemos há tempos n’O Despertar uma crónica sobre o Rancho das Tricanas de Coimbra e, comentando, interrogámos: “e se arranjássemos uma nova direção e colocássemos as mãos na massa para reabrir este velho salão? E sobretudo o folclore, que ainda deve ter trajes tão ricos arrumados em baús de naftalina?! Agora até temos na Baixa a denominada “Orquestra de Músicos de Rua de Coimbra”. Sempre poderíamos contar com os instrumentistas, e tudo?! Das palavras passámos aos atos. Falámos com o Carlos Clemente, ainda presidente e que se disponibilizou imediatamente. A seguir contatámos Pinto dos Santos, presidente da Junta de Freguesia de Santa Cruz, e discutimos que uma das mais antigas coletividades da Baixa não podia continuar encerrada. Concordando com a ideia, transmitiu-nos que estava na disposição de apoiar no que pudesse. Disse ainda que sempre que futuramente houvesse atuações do rancho comparticiparia nas despesas. O nosso objetivo principal é abrir o salão à comunidade; reativar a sua atividade cultural, com espetáculos populares de variedades como, por exemplo, fados. Mais à frente, e logo que possível, tentaremos realizar uns bailaricos como antigamente. Os compromissos assumidos pela anterior direção naturalmente que serão respeitados, como o contrato com a Associação Integrar, nos banhos públicos.
A lista única concorrente às eleições, hoje já naturalmente eleita, é constituída na Assembleia-geral pelo presidente José Carlos Clemente e vice-presidente Gil Rodrigues; 1º secretário Jaime Manuel Correia e segundo secretário Gil Maia Simões. A direção é constituída pelo presidente José Luís Montenegro e vice-presidente Francisco Monteiro; pelos secretários Luís Quintans e José Benedito; a tesoureira será Cátia Caixeiro Travassos e acompanhada pelos vogais Victor Medina e Fátima Gonçalves do Salvado. Os suplentes na tesouraria serão o José Vilas e o Nuno Damas. O presidente do Conselho Fiscal será Júlio Gaspar das Neves e o relator Ivo Rodrigues; serão acompanhados pelo vogal Arlindo Carvalho.


Tendo em conta a hora antecipada em que escrevemos, não se sabe se teria havido oposição a esta nova dinâmica diretiva, mas uma constatação emerge: as forças vivas da cidade, nomeadamente a Câmara Municipal de Coimbra, devem dar todo o apoio necessário a este grupo de carolas que amam o Centro Histórico de Coimbra e desinteressadamente contribuem para a sua revitalização.




quarta-feira, 27 de março de 2013

O PRINCÍPIO DA DESCONSTRUÇÃO DA RIQUEZA





  Para se atingir um objectivo, obrigatoriamente, é sempre necessário haver motivação. Esta pode ser intrínseca ou extrínseca. Isto é, podemos ser provocados por uma causa estritamente pessoal –uma vingança, por exemplo- ou extrínseca –trabalhar arduamente para, através do lucro, vir a ser rico. Apesar de em ambas existir um interesse subjacente que nos impulsiona, o primeiro é particular e o segundo é público e que, pela implicância gerada na colectividade, se traduz em geral. Embora as duas, intrínsecas e extrínsecas, se correlacionem e radiquem no interesse pessoal e nunca se separem, uma qualquer delas pode suplantar a outra. Ou seja, entre as duas, terá sempre de haver um "leitmotiv", um elo de ligação entre a intenção e a concretização do projecto a imbricar numa conveniência natural que nos impele a lutar pela sua obtenção.
Quando na motivação extrínseca se aumentam as dificuldades e se reduzem os prémios - porque a burocracia se transforma em rede cerceadora da vontade e obstaculizante ou o Estado, através dos impostos, entra no confisco-, naturalmente que se entra no estádio de “ne far niente”, a negação da proactividade. Instala-se a passividade de modorra, com cemitérios de mortos-vivos, e concorre-se para o fim da economia de mercado. Quando assim acontece estamos num limbo e início de economia planeada e de gestão centralizada. Caminhamos para horizontes perdidos, sem esperança no dia de amanhã. É o precipício do bom-senso. O princípio do absurdo.

A FACE VISÍVEL DE UM COMÉRCIO EM DECADÊNCIA



José dos Santos Coimbra, um dos maiores comerciantes da Baixa da cidade entre 1950 e 2000 -quando faleceu-, que, num raio de cinquenta metros, chegou a ter oito casas comerciais e cerca de 40 funcionários, se hipoteticamente voltasse à vida, ao ver o cenário desmoralizante em que se encontram quase todas as lojas que fundou, quase garanto, seria acometido de uma síncope. Os tempos mudaram, não há dúvida, mas esta dinâmica não pode ser a consequência de todas as causas.



TEXTOS RELACIONADOS


OPERAÇÃO LIMPEZA FACIAL



A Praça 8 de Maio, adstrita ao Panteão Nacional, está a ser intervencionada com uma limpeza ao rosto. Presume-se que os técnicos faciais são funcionários camarários. Qualquer ruga causada pelo tempo ou intencionalmente pelo homem está a ser expurgada com banho de jacto de água pura.

BOM DIA, GENTE DE ESPERANÇA...


terça-feira, 26 de março de 2013

BOM DIA, GENTE DE ESPERANÇA...




Não digam a ninguém, mas tenho dias em que me sinto uma guitarra clássica. Às vezes preciso que me "toquem" com carinho. Outras, como metrónomo compassado, pareço afinadinho. Outras vezes, ainda, numa bipolaridade antagónica e  incompreensível, completamente fora de tom e desajustado com a orquestração, não consigo acompanhar a ordem natural das coisas... 

UMAS MOEDAS PARA OS JOVENS



Quem disse que a experiência se adquire com tempo? Não sei nem interessa nada. Seguindo à letra o Evangelho Segundo Carlos Moedas basta ser pessoa para ser empiricamente experienciado. E já agora? Perante a larga experiência deste secretário de Estado Adjunto do Primeiro-ministro quem sou eu (ou você) para pôr em dúvida tal axioma, verdade sem contestação?

O RANCHO DE COIMBRA VAI REABRIR



 Depois de cerca de cinco anos praticamente em hibernação, sem actividade continuada –só esporadicamente se realizavam eventos na sua grandiosa sala e cheia de tantas memórias desde o seu início em Julho de 1938-, o Rancho das Tricanas de Coimbra, na Rua do Moreno, vai abrir à cidade. Amanhã, quarta-feira, dia 27, realizaram-se eleições para os novos corpos-gerentes.
O timoneiro encarregue de colocar novamente este cruzeiro a navegar e a animar a Baixa de Coimbra é José Luís Montenegro. Coadjuvado por Francisco Monteiro e uma nova lista de pessoas de boa vontade, em que se inclui o presidente cessante Carlos Clemente, que estão na disposição de sacrificar o seu tempo em prol de um projecto que há muito precisava de ser reanimado. A bem de um passado de glória, de um presente anémico e pouco virado para as recordações que constituem o animus da vida e de um futuro que se pretende legar aos vindouros, este grupo de pessoas pretende contrariar o situacionismo daninho que grassa entre nós.
Ouvindo o comandante e o assessor, respectivamente o Montenegro e o Monteiro, a uma só voz enfatizaram que dar vida a esta gloriosa colectividade onde tantos conimbricenses, estudantes e futricas, passaram a sua adolescência, repleta de incontáveis namoricos e que muitos terminaram em finais felizes com casamentos de enlace, era uma emergência social. Se aquela sala de baile falasse, uma longa história contaria, repleta de cenas dramáticas e hilariantes. Vamos ouvir: “lemos há tempos n’O Despertar uma crónica sobre o Rancho das Tricanas de Coimbra e, comentando, interrogámos: e se arranjássemos uma nova direcção e colocássemos as mãos na massa para reabrir este velho salão? E sobretudo o folclore, que ainda deve ter trajes tão ricos arrumados em baús de naftalina?! Agora até temos na Baixa a denominada “Orquestra de Músicos de Rua de Coimbra”. Sempre poderíamos contar com os instrumentistas, e tudo?! Das palavras passámos aos actos. Falámos com o Carlos Clemente, ainda presidente e que se disponibilizou imediatamente. A seguir contactámos Pinto dos Santos, presidente da Junta de Freguesia de Santa Cruz, e discutimos que uma das mais antigas colectividades da Baixa não podia continuar encerrada. Concordando com a ideia, transmitiu-nos que estava na disposição de apoiar no que pudesse. Disse ainda que sempre que futuramente houvesse actuações do rancho comparticiparia nas despesas. O nosso objectivo principal é abrir o salão à comunidade; reactivar a sua actividade cultural, com espectáculos populares de variedades como, por exemplo, fados. Mais à frente, e logo que possível, tentaremos realizar uns bailaricos como antigamente. Os compromissos assumidos pela anterior direcção naturalmente que serão respeitados, como o contrato com a Associação Integrar, nos banhos públicos.”
A lista única concorrente às eleições é constituída na Assembleia-geral pelo presidente José Carlos Clemente e vice-presidente Gil Rodrigues; 1º secretário Jaime Manuel Correia e segundo secretário Gil Maia Simões. A direcção é constituída pelo presidente José Luís Montenegro e vice-presidente Francisco Monteiro; pelos secretários Luís Quintans e José Benedito; a tesoureira será Cátia Caixeiro Travassos e acompanhada pelos vogais Victor Medina e Fátima Gonçalves do Salvado. Os suplentes na tesouraria serão o José Vilas e o Nuno Damas. O presidente do Conselho Fiscal será Júlio Gaspar das Neves e o relator Ivo Rodrigues; serão acompanhados pelo vogal Arlindo Carvalho.
Tendo em conta a hora antecipada em que escrevemos, não se sabe se haverá oposição a esta nova dinâmica directiva, mas uma constatação emerge: as forças vivas da cidade, nomeadamente a Câmara Municipal de Coimbra, devem dar todo o apoio necessário a este grupo de carolas que amam o Centro Histórico de Coimbra e desinteressadamente contribuem para a sua revitalização.

segunda-feira, 25 de março de 2013

CORRENTE DE ORAÇÃO




 Começo por pedir desculpa ao visado por ser tão chato. Tenho consciência de que deveria estar calado, mas, sei lá por quê, só estou bem a implicar. Podem querer que não é nada pessoal. Um dia destes vou fazer terapia regressiva para ver se descubro o que se passa comigo. Provavelmente será alguma coisa que um antepassado meu, enquanto andou por cá, deixou mal resolvida e, quem sabe, em busca de um impossível e necessário aperfeiçoamento espiritual, ando para aqui a aborrecer quem faz alguma coisa. Acredito que, pela idade que já apresento, não me vai passar e irei continuar. Com muita sorte talvez os meus filhos saiam melhor do que o pai.
Isto tudo para dizer que dei em embirrar com o painel que a Diocese de Coimbra mandou colocar numa das paredes laterais da Igreja de São Tiago. Bem sei que quem o “pregou” na parede apenas queria levar o seu trabalho ao limite máximo da aplicação e exigibilidade. Ou seja, se o que se pretende publicitar é a “Corrente de Oração pelas vocações” nada melhor do que fazer furos no edifício para que a corrente penetre na pedra centenária. Está mal? Não senhor! Está bem! Eu que, volto a dizer, estou mal da pinha e, desta vez deu-me para “marrar” –salvo seja, porque não tenho chifres à vista, pelo menos- com o pessoal do senhor Bispo D. Virgílio Antunes, que por acaso até conheço pessoalmente –como quem diz, já falámos umas duas vezes. Bem sei que se ele ler esta "croniqueta" lá vai pensar: “que mal fiz eu a Deus para estar a levar constantemente com o mau-feitio deste sujeito? Porra! Não há paraíso que o contente! No princípio andava sempre a chatear-me a Mitra -a insígnia pontifical que se coloca na cabeça- por causa da Igreja de São Tiago estar encerrada. Agora, que a abri ao culto, continua a dar-me cabo do juízo. Sinceramente não sei o que fazer a este tipo para lhe agradar.
Se ele não fosse agnóstico, até o mandava excomungar, mas assim… Cristo me valha! Um dia destes ainda vem para aqui escrever que as orações não estão a ser bem encaminhadas. Sei lá?!”

BOA TARDE, GENTE DE ESPERANÇA

LEIA O DESPERTAR...



LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA 


Esta semana comemoraram-se 96 anos deste mais antigo semanário de Coimbra.



PARABÉNS PARA O DESPERTAR

No dia 2 de março de 1917 nasceu O Despertar. Sob direção de José Pires Migueis, e com berço na Rua Dr. Pedro Roxa, 31, “Emergiu, vencido pelas lutas constantes e tormentosas da vida –o Jornal de Coimbra, mas dos escombros da sua derrocada saiu uma rajada de luz e de coragem e aí temos um novo lutador, que seguirá com esforço e denodo a sua fé inquebrantável de defender com ardor os interesses e os direitos da nossa linda e querida Coimbra. (…) Mais um jornal vem hoje à luz da publicidade.”
Passados 96 anos, contra ventos e marés, este periódico continua a luta que está na sua base genética: “modesto Jornal de província não vem com a veleidade de se abalançar a grandiosas emprezas ou arrogar eminentes virtudes. Despretencioso e humilde, ele procurará seguir uma só norma, a da correcção.”
Analisando a primeira página do número um e seguintes, é curioso constatar que os problemas desse tempo, ainda que em outra circunstância, são as dificuldades de 96 anos depois. Atentemos no seguinte excerto de março de 1917: “(…) Por isso, neste momento em que se jogam os destinos da Pátria e graves responsabilidades pesam sobre nós, é com a mágoa de dedicado patriota que observo o papel degradante que alguns homens se prestam a desempenhar. (…) E tudo porquê?! Por meras questões de lana-caprina, pela política, sempre a maldita política, que sobrepõe a todos, os ódios aos adversários os interesses da grei aos interesses do povo.”
Em 2 de março de 1921, no quarto aniversário, plasmava-se o seguinte: “Passa hoje mais um aniversário o periódico que tem por título O Despertar. Órgão de boa doutrina, tem procurado sempre trilhar um caminho de independência, embora, por vezes, tenha tido necessidade de ser exagerado nas suas apreciações. Esta sua maneira de interpretar nem sempre tem sido compreendida como era mister; todavia, depois da reflexão, justiça lhe tem sido feita e louvores tem merecido. A imprensa, nas suas críticas e apreciações, como a justiça nos seus julgamentos, não pode agradar a todos. Quando se dá ataque aparece logo o inimigo. Exatamente como na justiça. De dois litigantes surge sempre um descontente.”
Continuando a citar a mesma página, “No momento em que escrevo esta minha crónica ainda não está organizado governo. E ninguém mesmo pode prever o que aí virá para nos governar. (…) Pelas notícias dos periódicos e pelos boatos que correm, parece que as dificuldades são grandes e que não há maneira de os politicantes se concertarem na distribuição das pastas. Contudo o país está sem governo e os negócios de Estado estão paralisados e desamparados. Tem sido assim desde que foi proclamada a República. As ambições mesquinhas e as vaidades balofas dos politicantes, não dão licença para que o país caminhe e para que a República, que não tem culpa dos dislates dos maus portugueses, se dignifique. Mas os tipos é que não querem saber das consequências desde que satisfaçam os seus interesses. Juraram atirar com a Pátria por terra e parece mesmo ser este o objectivo principal do seu programa.”
Tomemos atenção à primeira página do aniversário de 1924, “As lâmpadas que ha tempo foram colocadas na Avenida Dr. Júlio Henriques e que são da maior utilidade para quem tenha de aproveitar-se dos serviços hospitalares da clínica obstetrícia e do hospital militar, deixaram-se de acender-se ha mais de oito dias (…)” –como se vê, qualquer semelhança com os nossos dias é pura coincidência.
Em março de 1926 anunciava-se o mesmo ponto de venda de hoje: “O Despertar encontra-se à venda no Kiosque da Praça 8 de Maio (…).”
No ano seguinte, em 1927, “No limiar do século XX os abusos duma política refalsada e nefasta, pela esterilidade e depravação moral, lançaram a nação num estado de incerteza e descontentamento, que importaria corrigir e remover sensatamente. Outro fosse o caminho seguido… (…) Não ha princípios a defender. Não ha ideal político.”
Em 1929 a primeira página de O Despertar anunciava: “Turismo,  em Coimbra e arredores. (…) Dentro de breves dias deve ser aberto concurso para guias, guias-interpretes e interpretes, nesta cidade, estabelecendo-se o prazo para os interessados requererem o respectivo exame, indicando no requerimento as habilitações literárias que possuam e os idiomas que falam. Os indivíduos que pretendam concorrer poderão desde já dirigirem-se á Comissão de Turismo, das 21 ás 22 horas, todas as noites, em cuja sede lhe serão dados todos os esclarecimentos de que precisem.”
Em 1932 comunicava-se o seguinte: “Bombeiros Voluntários, a redacção do nosso jornal recebe-se qualquer importância, por pequena que seja, a favor desta benemérita corporação.” –como se vê, as depauperadas finanças dos bombeiros já vem de longe.
Continuando a citar O Despertar de outras épocas, em 1933 afirmava-se: “A pezar da inclemência do tempo, factor imprevisto pela comissão promotora das últimas festas carnavalescas, pode dizer-se que Coimbra viveu alegre e animada os três dias consagrados ao Deus Mômo. (…) O “corso”, sobretudo composto por 12 carros da mais artística decoração, a que se seguiam 54 automóveis particulares e de praça constituiu uma verdadeira novidade para Coimbra, percorrendo este as principais ruas e avenidas da cidade no meio de compacta multidão de pessoas, muitas das quais de diversos pontos do país.”

PROBLEMAS DE ONTEM. DIFICULDADES DOBRADAS HOJE



Em 1934 escrevia-se esta pérola: “O problema da mendicidade está em vias de solução. Foi com esta fagueira esperança que saímos, numa das últimas noites, do gabinete do digno comandante da Polícia, sr. Tenente Sérgio Vieira, onde sob a presidência do ilustre chefe do distrito, sr. dr. Gustavo Teixeira Dias, reuniram os representantes da Imprensa, para se conseguir a solução do problema da mendicidade. (…) Numa casa do Pátio da Inquisição, para tal fim oferecida pela Câmara, serão recolhidos todos os mendigos pertencentes a este distrito, que vagueiam pelas ruas da cidade, sendo removidos para as suas terras aqueles que a esta área não pertencem. Internados, ser-lhe-á fornecida a competente alimentação e vestuário, depois do que se sujeitarão a um regulamento que lhes proíbe o peditório e frequência de tabernas, durante as horas destinadas aos passeios ao ar livre. Alguns serão metidos em asilos. Outros, se família tiverem que possa sustenta-los sem dificuldade, serão entregues a suas famílias. É claro que, para a manutenção dos pobres na casa que acima aludimos, é necessária uma verba que nem o Governo Civil nem a Policia teem disponível nos seus cofres.”
Em 1935 chamava-se a atenção para o facto de “Os artistas de Coimbra atravessam uma grave crise”. “(…) No conceituado O Despertar vem sendo feita (uma campanha altruísta e patriótica) a favor das indústrias decorativas desta cidade, de tão gloriosas tradições, quanto á grande falta de trabalho que vem atravessando as de serralharia artística e civil, pintura e cantaria decorativa, marcenaria e entalhação em madeira e a despeito das constantes reclamações ás entidades oficiais da cidade. (…) Há nesta cidade monumentos e edifícios públicos que necessitam urgentes restaurações e outros de serem concluídos. Quer uns, quer outros, deviam ser tratados com mais carinho pelas entidades a que estão adstritos, a fim de se atenuar a assustadora falta de trabalho, assim como para desenvolvimento das industrias artísticas e civis desta cidade, que tão acarinhadas e protegidas foram pelos saudosos mestres António Augusto Gonçalves, dr. Quim Martins, João Machado e outros felizmente vivos.”
Em 4 de março de 1944, na primeira página de O Despertar, lia-se isto mesmo: “Inválidos do Comércio –Estão em plena actividade as obras de ampliação da Casa de Repouso, no Lumiar, as quais permitirão, logo que se encontrem concluídas, ainda uma maior capacidade de admissão de profissionais de comércio inválidos.”
Em 1947 interrogava-se: “Progresso, ou delírio?”. “O que se passa nas principais cidades do país merece um pouco de estudo e reflexão. O movimento nas ruas, nos cafés, casas de espectáculos, etc., excede todas as expectativas. (…) Há quem pretenda explicar o fenómeno, atribuindo-o ao chamado urbanismo, ou seja a tendência para se viver nos grandes centros, quer para tratar de negócios ou de quaisquer outras actividades, quer para se beneficiar das suas diversões ou atractivos. Por isso é cada vez maior a crise de habitações e as rendas sobem de dia para dia. (…) O custo de vida tornou-se um constante pesadelo, mesmo para aqueles que há pouco dispunham duma relativa independência económica. (…) Mais concretamente, pergunto à consciência dos leitores: O fenómeno que se está observando significa progresso, ou delírio?”
Em 1950 dizia-se o seguinte: “Câmara Municipal – autorizou que o 5º ano jurídico leve a efeito um baile de gala, nos Salões dos Paços do Concelho, se for possível a realização sem perturbar os serviços das repartições que funcionam no edifício.”
Em 1956, “Festas da Rainha Santa –A Associação do Refúgio da Rainha Santa Isabel para Raparigas Infelizes acaba de ser oficialmente autorizada a fazer um sorteio a realizar em Julho próximo, de colaboração com a Comissão Central das Festas da Rainha Santa.”
Em 4 de março de 1959 O Despertar enfatizava assim: “Crise de desânimo. Sim, é este o mal do século, é este o diagnóstico certo, infalível, da gente de hoje. Não há dúvida, eis aí o complexo que nos avassala e deprime, o sopro mefítico que mata à nascença todas as grandes e generosas iniciativas. Esta surda campanha de jeremiadas desmoralizadoras e desvirilizadoras, leva-a um ou outro aos lábios, como um responso fúnebre e é pior que a expectoração dos bacilosos: quebranta-nos o ânimo, tolhe-nos as iniciativas, a energia, a confiança na vida, nos amigos, nos homens, nas ideias! A incerteza do amanhã apavora-nos. Timoratos e amolecidos, ficamos incapazes de reacções. A inércia e o derrotismo pairam na mente obcecada de toda a gente, gazeificada por esta atmosfera de desânimo que é pior que o smog devastador nas espessas manhãs londrinas. Crise do desânimo, eis o inimigo público nº 1. A pregação doentia do desalento traz consigo a dissolução e o mal-estar; a insegurança invade os lares, os estabelecimentos, os escritórios, as repartições públicas, toda a comunidade, enfim! E assim preparamos o nosso suicídio espiritual que não raro nos ultrapassa e é o nosso suicídio total.”
Em resumo final, para além das merecidas palmas de congratulação a O Despertar, pelo que fica escrito se vê que o mais antigo periódico de Coimbra andou sempre à frente do seu tempo. Como humilde e recente colaborador faço votos para que continue na mesma linha que sempre o norteou; na defesa intrínseca da Baixa e da cidade que o viu germinar e crescer. Naturalmente que também se deve deixar uma palavra de apreço aos leitores: bem-haja!


A MINHA ESCOLA

(Fotos das professoras Odete e Adélia, mestras na Escola Primária da Lameira de São Pedro, e que neste fim-de-semana foram homenageadas nesta localidade e dentro do espaço onde leccionaram uma vida)



A MINHA ESCOLA


Quando lembro a minha escola
me passo para outro dia,
transporto numa sacola
memórias de nostalgia:

Recordo o Carlos, o Castro, o Rui,
outros meninos pobres como eu,
sou o garoto que já fui,
estrela da noite que amanheceu;

Ai, minha escola sagrada
que a vidas deu vida de glória,
hoje estás abandonada,
sem respeito pela história;

Estou agora dentro da sala
com o quadro negro à minha frente,
no canto a salamandra exala
odores sonhados de tanta gente

Vejo a velhinha professora,
mestra que sempre me acompanhou,
tem nas mãos um livro aberto
e olhos num futuro que passou

sexta-feira, 22 de março de 2013

BOA TARDE, GENTE DE ESPERANÇA

O DESRESPEITO CONTINUA



A Praça do Comércio, o mais lindo largo da Baixa de Coimbra, continua a ser usada como latrina automóvel por muitos cidadãos, incluindo alguns comerciantes desta vetusta praça. Deveria merecer mais respeito e dignidade, não?!

QUANDO A EDILIDADE DÁ O EXEMPLO



É evidente que o funcionário camarário que colou este panfleto no Pelourinho da mais antiga praça da Baixa de Coimbra, no caso a Praça do Comércio e que já vem do tempo da Idade Média, não tem o mínimo de sensibilidade patrimonial. É verdade também que o acto isolado de uma andorinha não afecta a Primavera. Por outras palavras, quem fez isto, directamente, não responsabiliza a autarquia, mas, pelo efeito de imputabilidade enquanto entidade patronal, não deixa de a manchar. Talvez fosse bom que quem manda nos Paços do Concelho mandasse sensibilizar os seus subordinados para respeitar a arte e o património.

O PENSADOR DE RODINHAS



Chama-se Celso. Acompanhado com a sua bicicleta às cores, que é uma extensão de si mesmo, é um caminheiro destas ruas estreitas. Por vezes encontro-o nas mais variadas e curiosas posições. É um homem-espectáculo. É uma forma de se sentir notado. Já escrevi muito sobre o Celso. Veja aqui um pouco da sua história.

quinta-feira, 21 de março de 2013

UM GATO NAS VELHARIAS


UMA IMAGEM POR ACASO...


A GLOBALIZAÇÃO À FORÇA TODA



Ontem lanchei na esplanada da Gelataria Itália, no Largo da Portagem. A servir às mesas andava um italiano -certamente a fazer jus ao logos do estabelecimento. Quando fui pagar ao balcão, estavam dois funcionários, um indiano e outra cabo-verdiana. Pode-se interrogar: que mal há? Nenhum. Sublinho, nenhum. Absolutamente nada contra. Até porque eram muito simpáticos e o serviço foi óptimo. Apenas achei curioso e digno de nota pela singularidade. Somente isso e nada mais!

AS FILAS DO SILÊNCIO

(Imagem da Web)

 Embora haja cadeiras vazias, o homem está em pé na grande sala da administração pública. De vez em quando, saído do visor de atendimento por número sequencial sai um “clique” a querer indicar que está um funcionário à espera do próximo cliente. Reparei que, para além do seu olhar parado e fixo, de uma das suas mãos um bastão branco com uma argola na ponta toca o chão. É invisual. Se ninguém anuncia o número no visor como é que ele pode saber quando chegará a sua vez? Começo por me questionar.
Chama-se Armindo Claro, tem 41 anos de idade e é completamente cego. Enquanto espero a minha vez, meto conversa com o Claro. Como é que consegue saber quando chega a sua vez para ser atendido? Já que nenhum empregado, alto e bom som, sublinha os números de atendimento? Interrogo. Responde o Armindo: “Ora bem, normalmente tenho prioridade. Está previsto na lei. Embora, diga-se, às vezes as pessoas não entendem porque tenho necessidade de lhes passar à frente e reclamam. Aqui, nesta repartição pública, apesar de não ter um segurança, sempre fui bem atendido. Mas, de facto, já que você fala nisso e os visores são mudos, deveriam ter mais atenção a situações como a minha, de invisual. A administração, no mínimo, deveria ter aqui alguém para nos encaminhar. Esquecem as nossas limitações. Olhe, por exemplo, eu recuso-me liminarmente a enviar o IRS pela Internet.”
Fomos interrompidos por um funcionário que saiu de dentro balcão. Depois de o cumprimentar com simpatia, colocando-lhe a mão no braço, exclamou: “vamos lá então para o primeiro-andar, senhor Armindo?”. E ambos foram engolidos pelo lance de escadas.

quarta-feira, 20 de março de 2013

93 ANOS? SÉRIO? QUEM DIRIA, DONA ROSA!


 Eram cerca das 15h00 e a Rua de Sargento-mor, no pequeno terreiro, estava pejada de pessoas. Algumas delas transportavam no regaço ramos com flores. O motivo que deu origem a este ajuntamento foi um aniversário; é que a Dona Rosa fez hoje 93 anos.
Com alguma ansiedade à mistura, os muitos amigos da anciã, volta e meia, olhavam para a porta da sua residência nos últimos 60 anos, por cima do estabelecimento da “Casa Anita” e propriedade da sua filha com o mesmo nome. Como é normal nas cerimónias de solenidade, passados uns dez minutos, Rosa desceu e transpôs a velha porta do medieval edifício da Baixa de Coimbra. Por momentos, entre Rosa e construção de antanho, houve uma certa simbiose. Era como se pessoa e coisa se imbricassem no mesmo destino de resistência às agruras do tempo. Embora, saliente-se, Rosa está muito mais bem conservada que o velho prédio histórico. Se ninguém lhe retira os 93 anos do Bilhete de Identidade, a verdade é que parece ter menos 20. Quem sabe a mãozinha de Deus, juntando as duas idades, construção e humano, fizesse a soma dos dois e, como prémio de longevidade, desse crédito acumulado à pessoa.
Rosa Azevedo Neto mal atravessou a portada foi logo engolida pela multidão e chapinhada com muitos beijinhos. Do Centro de Dia da Casa de Repouso Rainha Santa Isabel, das mãos de Ana Maria, técnica responsável por esta briosa instituição de apoio aos mais velhinhos da Baixa, recebeu um grande bouquet de flores. E Rosa, como não poderia deixar de ser, chorou de alegria e contentamento. A seguir cantaram-se os parabéns no largo em frente na presença de todos os amigos comerciantes da zona e, em respeito pela velha senhora, até os pombos pararam de arrulhar.
Anita, a filha, intervalado com uma lágrima, lá ia contando a história da sua mãe querida. “Espectacular mãe”, sublinha. “Rosa, a minha progenitora, juntamente com o meu pai - Henrique Branco, que foi tipógrafo do Diário de Coimbra e de O Despertar- trabalharam muito para nos criar. A minha mãe sempre construiu estas pequenas flores de seda. Depois do jantar, íamos para a cama e noite dentro, trabalhava para satisfazer encomendas para os desaparecidos José Novais e Último Figurino. Para além destes fornecia também muitas modistas da cidade para, com a sua arte, acompanhar os vestidos em cerimónias, sobretudo nos casamentos. Foi sempre a sua profissão. Olhe aqui este bolero que ela fez para mim” –e aponta um colete branco ricamente  bordado.
Rosa continua a chorar. “Não contava com esta surpresa”, enfatiza. “Frequento o Centro e são todas minhas amigas. Não contava com isto. Sinto-me muito feliz! Fui sempre bem-disposta. Casei-me com 19 anos, e os rapazes sempre andaram atrás de mim. Desde os oito anos que trabalho com flores. Aprendi com a minha mãe. Apesar de menos do que noutros tempos, ainda faço flores.”
Muitos parabéns Dona Rosa!