segunda-feira, 31 de maio de 2021

MEALHADA: DECISÕES MUNICIPAIS QUE PRECISAM DE MAIS TRANSPARÊNCIA





A notícia plasmada na página do município da Mealhada, no dia 24 de Maio, último, saiu assim:

CÂMARA APOIA EDIÇÃO DE 22 LIVROS DE AUTORES LOCAIS


A Câmara Municipal da Mealhada apoiou, até agora, a edição de mais de duas dezenas de livros de escritores do concelho, o último dos quais "Uma estaca na água", título da publicação do autor mealhadense António Breda Carvalho, cuja apresentação decorreu, no dia 22 de maio, na Biblioteca Municipal da Mealhada. No dia 29 de maio, às 15h, no Cineteatro Messias, na Mealhada, será apresentada mais uma obra, editada pela autarquia, e apoiado mais um autor local. O livro "Na mira do Bussaco", da autoria de Nuno Alegre, investigador de Luso, "é uma viagem à toponímia e história do território".


Nada mais foi anunciado sobre a apresentação que se avizinhava, nomeadamente se, sendo integralmente patrocinado pela autarquia, como quem diz, com a edição de 1000 exemplares com apoio exclusivo conferido pela edilidade, seria oferecido aos munícipes, ou teria um custo residual.

No dia 29 de Maio, à hora marcada, estava no Cine-Teatro Messias, na apresentação do livro “Na mira do Bussaco”. Com um painel de apresentação composto por Rui Marqueiro, presidente da Câmara Municipal da Mealhada, o vereador da Cultura, Nuno Canilho, e Nuno Alegre, o autor, decorreu a apresentação da obra escrita.

No final foi anunciado que se iria seguir a sessão de autógrafos em cima do palco. Ninguém referiu que havia um preço a pagar pelo livro. De uma plateia bem composta, levantou-se cerca de uma dúzia de pessoas que se colocaram em fila para obterem um exemplar. Foi então que se ouviu: “são 10 euros! Não tem trocado, por favor?

Por estranhar a obra ter sido integralmente paga pelo município, com o dinheiro dos contribuintes, e, novamente, voltar a ser cobrada uma importância, a meu ver, normal para aquele tipo de tomo em livraria, questionando, via Facebook, o autor sobre a quantia paga pela edilidade para aquela edição, escrevi uma crónica insurgente. Enviei o texto também ao vereador da Cultura para que comentasse.

Do autor, Nuno Alegre, algo abespinhado, recebi uma resposta, que contrapus com outra, mas do custo da obra não falou. Pelo que escreveu, ficou a saber-se que a haver falta de informação, a culpa não seria sua, mas sim da Câmara Municipal. E eu acredito. Também não afirmei que ele seria culpado da omissão. Apenas defendi que o que se passou no velho teatro, no meu entender, não era justo. Se porventura lhe dei a ideia de que ele era o alvo da minha crónica, as minhas desculpas. Nem sequer o conheço para aflorar seja o que for em seu desabono. Que fique claro.


UMA LIÇÃO A RETER


Estou certo que, no futuro, haverá novas edições sustentadas pelo município. Sendo assim, não pode, nem deve, repetir-se o mesmo procedimento.

Primeiro, se a Câmara chama a si, em exclusivo, o custo de edição de um livro considerado de extrema importância cultural para o Concelho, é sua obrigação adquiri-lo e distribui-lo gratuitamente pelos munícipes, com levantamento na Biblioteca Municipal.

É incompreensível, e urge acabar com este procedimento absurdo, o que a autarquia está a fazer. Ou seja, como se fosse um mero editor, segura o custo da edição e depois comercializa. Se pela grandeza intelectual da obra se justifica o investimento, uma vez que se trata de dinheiro dos nossos impostos, salvo melhor opinião, o acto só é reabilitado pela entrega gratuita à população.

Por outro lado, surge uma pergunta: quem afere da qualidade cultural das obras? É o executivo no seu conjunto que, chamando a si a decisão, decide se um determinado autor deve ser contemplado?

Todos temos noção de que uma decisão destas – e pelos vistos já foram 22 – deve ser acompanhada da maior transparência para que não se pense que o gratificado o foi, exclusivamente, por ser “amigo”.

Agora que estamos em pré-campanha eleitoral, era bom que os partidos concorrentes à Câmara Municipal, através dos seus programas eleitorais, apresentassem a criação de uma comissão independente, com cinco reconhecidas figuras locais ligadas às artes, para examinar a qualidade dos trabalhos candidatos ao prelo. Estes reputados cidadãos não teriam poder vinculativo, mas apenas deliberativo, de aconselhamento.

Por outro lado ainda, esta mesma comissão, “pro bono”, poderia chamar a si o encargo de ajudar o executivo a decidir sobre questões de novas toponímicas e sobre a escolha dos laureados no Dia da Cidade.

Valerá a pena pensar nisto?

 

BARÓMETRO DOS JORNAIS EM PAPEL PUBLICADOS NA BAIRRADA




Jornal da Mealhada (edição de 26 de Maio)


POSITIVO


A edição do Jornal da Mealhada (JM) desta quinzena, começando pela capa com grafismo em cores vivas e chamativas de atenção, apresenta-se razoavelmente bem aos seus assinantes e leitores. O interior do caderno, com uma miscelânea de cores vivas nas fotos, também está bem conseguido.

Os conteúdos satisfazem, nomeadamente sobre a corrida autárquica no Concelho da Mealhada. Embora, saliente-se, ao apresentar Rui Marqueiro como candidato efectivo na capa induziu o leitor em erro, já que no interior informava que só em Junho haverá confirmação da sua recandidatura.

Nota-se também alguma preocupação em noticiar temas mais diversos e que dizem respeito a freguesias do Concelho, como, por exemplo, Mealhada e Luso.

Salta à vista uma enorme inserção de belas fotografias. Se, por um lado, dão um ar mais leve ao jornal, por outro, tem um contra, mas disso falarei na coluna “menos bom”, a seguir.


MENOS BOM


Conforme venho repetidamente a escrever – e à espera (sentado e bem acomodado para não sofrer cãibras) de ver uma grande reforma no jornal -, o JM continua a publicar fotos demasiado grandes e que, como é óbvio, roubam espaço ao quinzenário. Um jornal local pode ser também uma espécie de álbum fotográfico para a posteridade, porém, jornal, tendo em conta o étimo e como o nome indica, é uma publicação periódica constituída por uma série de folhas grandes de papel, dobradas em caderno, onde foram impressas notícias, reportagens, crónicas, entrevistas, anúncios e outro tipo de informação de interesse público”.

Ora, se as fotos são demasiado grandes, logicamente que roubam espaço informativo. E se o jornal precisa de temas do mundo, de qualidade cultural, de modo a prender o leitor.

Nesta edição tenho também um ponto negro a apontar à redação. Quem leu a crónica da colaboradora Maria Alegria Marques, “A celebração do Feriado Municipal. Uma ausência”, apercebeu-se que, ainda que escrita com pezinhos de algodão para não fazer grande alarde, estava ali uma grande notícia de capa. No caso, para quem não leu, tratou-se da recusa da própria colunista em receber uma medalha atribuída pelo município no Dia da Cidade, no passado 13 de Maio.

Ora, na qualidade de assinante, interrogo: porque não recebeu este assunto mais tratamento mediático, de modo a levar ao conhecimento geral dos seus leitores? Sabe-se muito bem que, sem pretender retirar mérito à colaboradora, sendo a informação disseminada numa pequena crónica passa mais despercebida. Porque não mereceu este assunto uma linha pelo Jornal da Mealhada? Responda quem entender que o deve fazer!

De zero a vinte, atribuo a esta edição 14 valores.


JORNAL DA BAIRRADA (edição de 27 de Maio)


Conforme nos tem habituado pela grande qualidade jornalística ao longo dos últimos anos, nada de negativo a apontar.

De zero a vinte, atribuo a esta edição 18 valores.





 

domingo, 30 de maio de 2021

MEALHADA: RESPOSTA DE NUNO ALEGRE À QUESTÃO: QUANTO GASTOU A CÂMARA NO PATROCÍNIO DO SEU LIVRO “NA MIRA DO BUSSACO”?

 




 MEALHADA: RESPOSTA DE NUNO ALEGRE À QUESTÃO: QUANTO GASTOU A CÂMARA NO PATROCÍNIO DO SEU LIVRO “NA MIRA DO BUSSACO”?


Caro António Luis Fernandes Quintans, em primeiro lugar, a venda deste livro reverte totalmente para quem apoiou a edição e a receita tem como finalidade reverter a favor da investigação histórica local. Se reparar no seu recibo, ele é emitido pelos serviços da CMM.

Em breve haverá novidades que o esclarecerão a si e a outros como si, mas essa informação surgirá apenas quando todo o projecto estiver completo e não apenas porque o senhor quer saber novidades. Em segundo lugar, eu, enquanto autor e, mais uma vez, ofereço o meu trabalho a favor da minha comunidade sem receber um tostão e não lhe reconheço a si (nem a ninguém que não faça o mesmo que eu), o papel de policia ou de fiscal sobre a vida e a idoniedade da minha pessoa e da minha obra.

Se duvida da minha honestidade e idoneidade assuma-o publicamente e eu tratarei do assunto em conformidade no local próprio (não o duvide).

Em terceiro lugar, lamento que a sede de comentarismo político se sobreponha ao valor de uma obra que se destina a enriquecer a nossa identidade comum. Na sua critica, não consegui ler uma só silaba sobre o valor da obra mas apenas alusões à honestidade da minha pessoa ou de quem apoiou a obra. Quando vir obras suas oferecidas ao concelho, terei certamente oportunidade de as aplaudir... de outra forma a única coisa que vislumbro é sede de protagonismo da sua parte.

Se precisar de falar comigo olhos nos olhos, a minha morada é conhecida, o meu n.º de telemóvel é público e eu sou daqueles que atende o telefone. Fique bem e bom Domingo.


RESPOSTA DO EDITOR


Começo por lhe agradecer a sua resposta à minha questão sobre a verba que constituiu o “investimento” realizado pela Câmara Municipal da Mealhada no livro de qual é autor e cujo título é “Na mira do Bussaco - uma viagem à toponímia antiga entre a Bairrada, a Gândara e a Ria”.

Em seguida, com a mesma amabilidade, mas com menos irritação e sem avisos, vou responder-lhe.

Começo com a sua primeira questão:


em primeiro lugar, a venda deste livro reverte totalmente para quem apoiou a edição e a receita tem como finalidade reverter a favor da investigação histórica local. Se reparar no seu recibo, ele é emitido pelos serviços da CMM.”


A ser verdade o que diz, primeiro, previamente esse anúncio deveria ter sido publicitado publicamente e no Cine-Teatro Messias no dia da apresentação do seu livro. Acontece que não foi anunciado nem publicamente, nem no auditório.

Segundo, tanto quanto julgo saber, quando uma câmara patrocina integralmente uma obra escrita, como é o caso, a sua finalidade deve ter, por obrigação, o enriquecimento cultural da sua população. Por outras palavras, só se entende um investimento (sem aspas) destes se a obra for para distribuir pelos munícipes e enriquecer o seu conhecimento. Uma câmara Municipal não pode sobrepôr-se ao mercado livreiro. A ser assim, como afirma, a edilidade mealhadense está a ser um mero intermediário na venda do seu livro.

A propósito, esta medida é assim seguida para outros autores? É que se não for, vou pensar que estamos perante um discriminação.

Terceiro, é facto que V. Ex.ª quando rubricou o meu livro, cuja autoria lhe pertence, me perguntou se eu queria recibo, porém declinei. Logo, infelizmente, não posso comprovar, mas não duvido de que a emissão seria da edilidade.


Vamos à sua segunda questão:


Em segundo lugar, eu, enquanto autor e, mais uma vez, ofereço o meu trabalho a favor da minha comunidade sem receber um tostão e não lhe reconheço a si (nem a ninguém que não faça o mesmo que eu), o papel de policia ou de fiscal sobre a vida e a idoniedade da minha pessoa e da minha obra.”


Meu caro interlocutor, vamos por partes: primeiro, trabalhar a favor da comunidade não é só escrever e dar livros ao prelo. O talento recebido para poder escrever pode (e deve!) ser utilizado para denunciar arbitrariedades do poder, ou de pequenos caciques locais, assim como, também, ser o eco amplificado do sujeito comum, aquele que, em extrema aflição, não pode ou não sabe expressar-se para tornar o seu problema público.

A propósito, tanto quanto julgo saber, V. Senhoria também é bloguer - ou foi até há uns tempos. Sabe, portanto, da motivação que me impulsiona a escrever.

Segundo, prosseguindo, há milhentos serviços, de per si, que podem ser chamados à colação para ajudar a transformar a colectividade para melhor. E já que fala no assunto, uma delas é ter a coragem de denunciar o que, aparentemente, parece não ser justo. Este é o papel de cidadão. Que lhe cabe a si, a mim, a todos. Fosse a cidadania mais activa, em que a comunidade estivesse mais interessada e toda envolvida, e, pode crer, o mundo à nossa volta seria muito melhor.

Terceiro, está enganado a julgar-me polícia de costumes visando a sua pessoa. Na minha qualidade de cidadão atento questiono o acto, económico e político, da Câmara Municipal de Mealhada ter patrocinado integralmente o seu livro e o mesmo ter sido alienado a 10 euros por espécime.

Esclareço-o que já sou velho e, ao longo da minha vida, sempre procedi assim. E não me arrependo de nada. Isto para lhe dizer que esta minha necessidade de intervenção cívica e cidadã não nasceu agora.

Se o questionei directamente foi por pensar que, não tendo nada a ocultar, responderia à pergunta sem se abespinhar. Enganando-me, irritei-o. As minhas desculpas.


E segue-se a terceira questão:



Se duvida da minha honestidade e idoneidade assuma-o publicamente e eu tratarei do assunto em conformidade no local próprio (não o duvide).”


Meu caro senhor, não o conheço pessoalmente. Na minha qualidade de munícipe, enquanto sujeito de direitos e obrigações não me cabe julgá-lo. Até porque não detenho competência para o efeito. Na parte psicológica, só podemos aferir das qualidade e defeitos de alguém conhecendo presencialmente a pessoa.

Quanto ao caso de tratar do assunto “em conformidade no local próprio”, como imagina, Vossa Mercê é livre e senhor da sua vontade de tomar as atitudes que bem entender. Como lhe disse em cima, já sou velho, de mais, para temer esse tipo de advertência – não é ameaça, pois não?


E vamos à quarta questão:


Se precisar de falar comigo olhos nos olhos, a minha morada é conhecida, o meu n.º de telemóvel é público e eu sou daqueles que atende o telefone. Fique bem e bom Domingo.”


Ipsis verbis” faço minhas as suas palavras escritas. Também sou daqueles que em tudo, seja na vida em sociedade, seja atrás de um ecrã, seja por telefone, dou a cara. Pelos vistos, temos qualquer coisa em comum.

Fique bem e bom Domingo.


sábado, 29 de maio de 2021

MEALHADA: UM PATROCÍNIO MUNICIPAL ALEGRE

 



Pelas 15h00 deste Sábado a temperatura, na ordem dos 30 graus Celcius, estava mais própria para torrar ao Sol que outra coisa qualquer. Dentro do Cine-Teatro Messias, na Mealhada, com o “politburo”, ou Comité Central, socialista da Câmara Municipal em peso, desde o presidente, o vice-presidente e um vereador, o ambiente, com as senhoras com sapatos de salto-alto e fardadas nos seus mais belos vestidos cerimoniosos, a fazer lembrar um casamento, era calmo e sereno.

Afinal, e tão só, tratava-se da apresentação de um livro de Nuno Alegre, reconhecido empresário hoteleiro na Vila de Luso, com o título “Na Mira do Bussaco”.

Retirando os espaços obrigatórios pela DGS, a Plateia estava praticamente cheia de amigos do reconhecido escritor, que já vai no terceiro livro de investigação sobre a mesma temática do Bussaco.

O painel de apresentação, para além do autor, era composto por Nuno Canilho, vereador executivo da maioria socialista na autarquia e, aqui, convidado para apresentar a obra, e Rui Marqueiro, presidente da edilidade Mealhadense.

Nuno Alegre, cumprimentando e agradecendo a todos os presentes, informou que ia dar a palavra em primeiro lugar a Rui Marqueiro, devido a um compromisso do presidente.

Marqueiro, elogiando o autor e tentando justificar o patrocínio exclusivo da obra pela Câmara Municipal, avisou que, por ter sido convidado pessoalmente por António Costa para um encontro de socialistas na figueira da Foz, não poderia faltar. Daí sair logo em seguida.

Nuno Canilho, ex-jornalista e agora vereador executivo na Câmara, numa palestra bem estudada, muito eloquente e com muita vivacidade, enalteceu o conteúdo do livro e o esforço do escritor a investigar, ao longo de cerca de quinze anos, a nossa mata mais querida.

A seguir falou Nuno Alegre. Com muita espiritualidade apresentou o seu trabalho e agradeceu a todos a presença, e muito em particular à Câmara Municipal de Mealhada pelo alto contributo que deu ao seu terceiro livro.

Antes da etapa seguinte, o escritor disponibilizou-se para responder a questões do público, mas ninguém ousou quebrar o momento celestial.


E SEGUIU-SE A VENDA DO LIVRO E RESPECTIVOS AUTÓGRAFOS


Rapidamente se formaram duas bancas em cima do palco. Uma com alguns livros em cima, e muitos mais no chão, e outra para a sessão de autógrafos manuscrita.

Como não foi referido o custo, em baixo, na plateia, a assistência, olhando uns para os outros, parecia interrogar: vai ser vendido? Vai ser oferecido? Mas ninguém abria a boca. Foi então que em cima do palco se começou a ouvir: “são 10 euros. Não tem trocado?”

E as perguntas de indefinição tinham perfeita razão de ser. Sendo editados 1000 livros nesta primeira edição com “Apoio exclusivo Mealhada Município” – é assim que consta na primeira orelha –, não faz sentido o livro ser custeado pelos adquirentes. Salvo melhor opinião, não sendo assim, como se pode justificar o cabimento da despesa pública em prol da Cultura? Ou seja, se a obra foi financiada integralmente pela autarquia, logo, por direito, uma parte ficará refém do patrocinador. Sendo de outra forma, isto é, havendo patrocínio público e, ao mesmo tempo, pagamento pelos compradores, salvo melhor opinião, estamos perante um enriquecimento sem causa por parte do autor.


(nota de rodapé: o autor, Nuno Alegre, foi contactado, via Facebook, para esclarecer qual o gasto da autarquia nesta edição do seu livro. Em tempo útil não recebemos resposta.

Foi também remetida esta crónica ao vereador da Cultura, Nuno Canilho, para, se entendesse, comentar)


sexta-feira, 28 de maio de 2021

MEALHADA: O CASO DA MEDALHA RECUSADA

 




A notícia correu célere em tudo o que era meio de informação. No passado dia 13 de Maio a Câmara de Mealhada assinalou o Dia do Município com a atribuição de Medalhas de Mérito Municipal a personalidades que se destacaram, nas suas áreas profissionais, da música à saúde, das forças de segurança ao meio académico. Conforme o site do município, foram seis os laureados este ano: Beatriz Cortesão, harpista, Cláudia Emanuel dos Santos, investigadora e doutorada em Estudos do Património, Cláudio Lopes, capitão da Guarda Nacional Republicana, Luís Martelo, trompetista, Maria Alegria Marques, professora catedrática da Universidade de Coimbra, e Maria Anunciação Costa, delegada de Saúde do concelho da Mealhada.

Mas há um dado importante que não foi tornado público pela edilidade, nem pela imprensa escrita. E devia ter sido. Salvo melhor opinião, esta falta de divulgação remete para a sonegação de informação.

Não fora o facto de uma das personalidades galardoadas ser colaboradora do Jornal da Mealhada (JM) e, mais que certo, o não-acontecimento teria ficado no segredo dos deuses. E é importante? Muitíssimo, porque faz história.

Mas o que aconteceu? Aposto que perguntará o leitor já em pulgas para saber.

O que aconteceu foi que Maria Alegria Marques, professora Universitária da Universidade de Coimbra, residente na Pampilhosa, recusou receber a medalha de mérito atribuída pela Câmara Municipal.

E qual a admiração? Perguntará o leitor novamente. Nenhuma. A senhora professora fez uso do seu direito de recusar uma comenda – que, aliás, não é o primeiro, nem será o último.

Na primeira pessoa, plasmado no JM, Maria Alegria destapa um pouco das suas razões: “No presente ano, o processo seguiu o preceito, com a particularidade de a reunião de Câmara, de 10 de Maio, na qual se aprovou a proposta, não ter tido a presença do Presidente.

Com surpresa vimo-nos confrontada com a distinção. Facto que muito agradecemos, pública e penhoradamente, a quem em nós votou, com palavra especial ao Dr. Hugo Silva, que quis propor o nosso nome, em 2019, e viu o seu acto vetado. (…) Não estive presente à cerimónia do dia do Município. A nossa ausência não se deveu, apenas, a uma impossibilidade física de estarmos presente, mas, sobretudo, a uma vontade de assim procedermos. Uma medalha, e de mão escondida, não é, para nós, a remissão da ingratidão, boçalidade, conspurcação do nosso nome. (…)”

As suas razões, ainda que seja preciso reler as entrelinhas, para não aceitar estão aqui bem explicadas. Continuando a citar Maria Alegria Marques, “no seu poder, a Câmara Municipal de Mealhada decidiu; no nosso direito, recusámos a honraria.”

Duas questões se colocam. A primeira, porque razão um elemento do executivo, depois de aprovada a intenção e antes de ir à Assembleia Municipal para ser ractificada, não contactou a escolhida?

É certo que, parece-me, a edilidade mealhadense não tem regulamentado o Regulamento de Insígnias e Medalhas.

Tanto quanto julgo saber, o Regulamento de Insígnias e Medalhas municipais é elaborado ao abrigo do disposto no artigo 241.º da Constituição da República Portuguesa, bem como da alínea k) do número 1 do artigo 33.º da Lei n.º 75/2013 de 12 de Setembro. Nesta lei, se, naturalmente, não se obriga a aceitação, por outro, também não se proíbe que o contemplado seja contactado previamente. Aliás, estou em crer ser esta uma absoluta obrigação.

Na segunda questão, como já escrevi, a distribuição de medalhas está transformada num acto político vulgar e medíocre, que tal como no tempo da Monarquia criou o aforismo “foge cão, que te fazem barão.”

Parabéns à senhora professora pela coragem. É assim, com uma chapada seca, que as coisas mudam.


quinta-feira, 27 de maio de 2021

MEALHADA: SE EU FOR PRESIDENTE… (2)

 

(imagem retirada, com a devida vénia, do Jornal da Bairrada)



Num tempo de após-pandemia, esperemos que assim seja, para conhecer melhor os candidatos à Câmara Municipal da Mealhada nas próximas eleições autárquicas, em Outubro, em nome da página Mealhadenses que Amam a sua Terra, propomos aos participantes já conhecidos – e mais tarde a outros que se apresentem a concurso – responderem a algumas questões que consideramos elementares. Depois de Hugo Alves Silva, apresentamos hoje António Jorge Franco, líder do Movimento Independente Mais e Melhor (Para o Concelho da Mealhada). Engenheiro civil, professor, empresário, ex-vereador executivo e primeiro presidente da Fundação Mata do Bussaco, cargos exercidos no tempo de Carlos Cabral (eleito pelo PS), António Jorge Franco é um polivalente.


Mealhadenses que Amam a sua Terra (MAST): Como é o António Franco no dia-a-dia?


António Jorge Franco (AJF): O meu dia-a-dia é como o da maioria dos cidadãos. Trabalho na minha área profissional, aproveito os tempos livres para usufruir do espaço envolvente à minha casa, faço um pouco de jardinagem, convivo com os amigos e, sempre que posso, passeio descobrindo o nosso Portugal mais profundo, conhecendo o território, apreciando novas ideias e novos espaços. Gosto de ler jornais, de ver os noticiários na televisão e de estar com a família.


MAST: A política activa é um bichinho que vicia. Depois de oito anos de inactividade já sentia saudade?


AJF: Nunca abandonei a política, porque, no meu entender, a boa política pratica-se todos os dias, defendendo as nossas ideias, os nossos ideais e contribuindo sempre para o bem-estar de quem nos rodeia. Isso sempre o fiz, mesmo antes de ter cargos políticos. Mesmo quando estive ao serviço da comunidade de uma forma profissional, continuei a ser a mesma pessoa, trabalhando com todos para todos, sem olhar às diferenças que existem ao nível de ideias e de ideais políticos. Por isso, não será um regresso, mas uma continuidade do meu percurso de vida: estar ao serviço da comunidade. É assim que me sinto bem, e quem me conhece sabe que sou mesmo assim.


MAST: Bem sei que a candidatura que lidera lhe foi muitas vezes sugerida por muitos amigos próximos. Sente que está a fazer história, e o que tinha de ser feito?


AJF: É verdade que, desde que deixei de estar na política profissionalmente, muitos cidadãos do concelho e não só, sugeriram-me que liderasse um movimento independente. No entanto, apesar das minhas divergências, claramente assumidas, acerca da forma como o processo de gestão do município da Mealhada tem sido levado a cabo pelos atuais autarcas, entendi que deveria dar espaço aos eleitos locais para realizarem a sua ação. Saliento que foram eleitos democraticamente, e que devem, por isso, ter a oportunidade de cumprir a sua ação.

Tendo decorrido 8 anos, verifico que as razões das minhas divergências persistem, ou que se aprofundaram. Lamentavelmente, aconteceu muito do que eu receava que acontecesse. Temos um concelho sem rumo, sem equipa de trabalho, sem diálogo, que não gera motivação naqueles que cá querem investir ou mesmo nos que cá vivem. É cada vez mais notória a imagem de um concelho descuidado, sem liderança, sem visão para o futuro. Se repararem, quando circulam pelo concelho, dão facilmente conta de que as únicas obras nas aldeias e vilas foram as realizadas em mandatos anteriores a 2013, numa altura em que era Presidente o Professor Carlos Cabral, em executivos de que também fiz parte. Não sinto que esteja a fazer história.

Sinto, sim, que o grupo que se está a juntar a nós quer fazer história. É para mim muito encorajador notar que o Movimento quer mesmo fazer história para o futuro, querer ser e fazer diferente, com a participação e envolvimento de toda a comunidade. Mais que fazer história, o Movimento quer fazer MAIS e MELHOR!


MAST: Sendo socialista, e liderando uma candidatura que vai provocar uma cisão nos seus pares, não teme ser acusado de fratricida?


AJF: Relembro que quando entrei para a Câmara Municipal, como vereador, não era militante de nenhum partido político. Entrei como independente. Posteriormente, e sem que tal me tivesse sido pedido, achei que deveria fazer-me militante, e assim poder contribuir para o crescimento do Partido Socialista e ter voz dentro dos órgãos do partido, sempre no sentido de poder construir e não diminuir.

Enquanto estive nos órgãos do partido, expressei sempre a minha opinião. Transmiti claramente que o partido, a nível local, teria que mudar de rumo. Não fui ouvido! Respeito o caminho que outros seguiram, no qual, no entanto, não me revejo. Pela minha parte, decidi mudar de rumo e seguir as minhas ideias e os meus princípios, sob pena de passar a ser igual a muitos que têm formas de estar na política com que não me identifico.

Na vida política, a nível profissional, não podemos ser diferentes daquilo que somos na nossa vida privada.

Não é o poder pelo poder que me atrai, mas sim o fazer e ajudar a crescer quem me rodeia. Não são estatutos de poder ou financeiro que me atraem. O que me atrai é ter amigos, conviver com pessoas que estejam bem, viver num local bonito, limpo e com qualidade de vida. Motiva-me trabalhar para que todos tenhamos o maior orgulho na nossa terra.


MAST: Embora sucinto, já apresentou o Manifesto Eleitoral a traçar as linhas mestras para o concelho. De todas, quais considera prioritárias?


AJF: As prioridades serão sempre definidas pelo grupo de trabalho que está ao meu lado. Eu sou simplesmente mais um elemento, que pretende liderar e motivar para fazer mais e melhor.

Mas, claramente, uma das prioridades será criar um concelho mais atrativo ao nível do espaço público e da mobilidade, dignificando os diversos espaços e recuperando o património.

Paralelamente, iremos desenvolver projetos alinhados e enquadrados na estratégia de desenvolvimento regional, nacional e internacional, com especial enfoque nos objetivos de desenvolvimento sustentável da Agenda 2030, sempre com a participação e o envolvimento da comunidade local e de parceiros estratégicos, como por exemplo universidades entre outros interlocutores relevantes. Só assim poderemos crescer.


MAST: A Câmara da Mealhada, do ponto de vista financeiro, é das poucas a nível nacional que, para além de ter uma almofada de cerca de 8 milhões de euros em depósitos a prazo, encerrou 2020 sem dívidas a fornecedores. Vai manter a mesma política de aforro, ou vai investir mais em infra-estruturas necessárias ao desenvolvimento do concelho?


AJF: Quando diz que a Câmara Municipal tem uma almofada financeira de 8 milhões estará, certamente, a falar do presente. No entanto, muito desse dinheiro, no que nos é possível entender, estará já comprometido com muitas obras, supostamente para lançamento de concursos, que, receamos, nem poderão ir para o terreno a curto prazo, devido à Lei dos Compromissos.

O que este Movimento pretende é, claramente, investir. Não só em infra-estruturas, mas também na educação, na cultura, no desporto, na saúde, no meio ambiente, na economia e no turismo. Só assim poderemos crescer e elevar o Concelho da Mealhada a patamares superiores de desenvolvimento de modernidade.


MAST: Vai manter a decisão de construir uma nova sede concelhia no montante de 6 Milhões de euros?


AJF: Como ponto de partida prévio, e no plano dos princípios, nada nos move contra a construção de uma nova sede concelhia. Contudo, em termos concretos, a informação de que dispomos não nos permite, com rigor e seriedade, formular uma posição sobre esta matéria. Para além disto, qualquer posição que assumíssemos, nestas condições, não seria responsável.

Em favor de uma cidadania funcional, seria desejável – ou mesmo democraticamente fundamental - que houvesse mais informação, de melhor qualidade, credível e completa, sobre um tema desta relevância.


MAST: Em termos de turismo, o concelho é uma manta de retalhos. Com o Luso, que já foi bandeira azul nas recordações dos mais velhos, a apresentar-se a quem o visita como um desgosto ao primeiro olhar. Tenciona criar um roteiro promovido pela autarquia a envolver não só a Mata Nacional do Bussaco, as duas vilas do Luso e Pampilhosa, mas também as aldeias em torno da Mealhada, juntando o património construído, os recursos naturais, a actividade cultural, a gastronomia e os vinhos?


AJF: Em relação ao turismo, como tem conhecimento, temos na nossa equipa um elemento com grande experiência nesta matéria, com 8 anos de experiência comprovada e conhecimento de como se faz, e bem, por outras regiões de Portugal e no estrangeiro. Refiro-me à Drª Filomena Pinheiro, diretora no Turismo Centro de Portugal.

Teremos sem dúvida uma estratégia muito ambiciosa e devidamente estruturada para este setor, tão vital no nosso Concelho. Neste sentido, iremos desenvolver um projeto enquadrado com estratégias de âmbito regional e internacional, de forma a garantirmos um turismo mais sustentável e mais eficaz, aproveitando e potenciando, de forma estruturada, cada um dos muitos recursos e potencialidades do concelho.


MAST: Tenciona combater a desertificação das povoações em redor da Mealhada? Se sim, de que forma?


AJF: A desertificação é um problema que teremos de combater de um modo muito decidido e enérgico.

A situação do Concelho da Mealhada, no que diz respeito à fuga de pessoas para a sede do concelho, mas muito mais para concelhos vizinhos, tem muito a ver com a falta de uma estratégia para criar melhores condições de habitabilidade no nosso território. Temos um concelho desarrumado, desleixado e nada apelativo ao nível do planeamento e do espaço público.

A acrescer a este problema, todos conhecem as grandes dificuldades em poder construir ou mesmo reconstruir habitações nas aldeias e mesmo nos maiores centros urbanos do concelho, devido à burocracia pesada. Para isso, pretendemos, logo em primeiro lugar, criar mecanismos para agilizar as respostas dos serviços municipais aos cidadãos e às empresas, adequadas às exigências dos tempos que vivemos. Quem cá quer ficar, ou quem escolhe o nosso concelho para vir viver, tem que se sentir bem e orgulhoso de todo o ambiente (social, cultural, paisagístico, entre outros) onde vive.


MAST: Fala-se muito em construir habitação social de raiz na cidade. O que pensa da ideia de, através de uma nova visão partilhada de repovoamento local, a autarquia adquirir prédios velhos, abandonados e decrépitos, nas aldeias, restaurando-os e instalando lá pessoas?


AJF: Uma das situações que teremos que equacionar muito bem é o que queremos em relação à habitação social.

É um assunto complexo, que deve mobilizar a atenção de especialistas de diversas áreas (sociólogos, urbanistas, entre outros), dados os impactos sociais e de qualidade de vida que possui. É este trabalho que é feito hoje nos municípios com uma ação competente e devidamente informada.

É este trabalho que iremos igualmente fazer. Será que queremos construir habitação para todos, ou induzir segregação?

A nossa perspetiva é que deveremos repensar muito este tema, e identificar soluções que permitam que todos tenham uma casa digna, mas dentro de uma sociedade digna. Temos a noção da importância deste assunto bem presente, e as soluções que apresentarmos serão aquelas que se adequam às realidades específicas e únicas do nosso concelho. Não por mero voluntarismo, mas numa perspetiva global e informada.


MAST: Fala-se há muito da vinda da marca Continente para a Mealhada. Tendo em conta o impacto no comércio já instalado, é a favor ou contra?


AJF: Sobre a vinda da marca que refere, cabe referir que o Movimento não é a favor nem contra este tipo de investimentos. Vivemos, felizmente, numa sociedade que respeita a liberdade de oferta e procura, e não nos compete tomar posição sobre isso.

Contudo, se essa vinda se verificar, não nos alhearemos da realidade.

Avaliaremos os pontos positivos e negativos desse fator. Apreciaremos que transformações irá induzir.

Feita essa avaliação, cabe-nos, e muito, por um lado a responsabilidade de explorar o potencial que esse investimento trouxe ao desenvolvimento do concelho; por outro lado, não deixaremos de agir no sentido de mitigar e eliminar os efeitos negativos que, de um ponto de vista social e económico, tenha causado.

domingo, 23 de maio de 2021

BARRÔ: FALECEU UM DOS NOSSOS

 




Faleceu Maria Rosa Alves da Cruz Pinheiro, de 89 anos, viúva de Arménio Pedro Pinheiro, uma nossa estimada vizinha.

De carácter vincado, com uma profunda inteligência manifestada num olhar expressivo, com uma espiritualidade à flor da pele, a Maria Rosa, como era reconhecida entre nós, fazia parte da massa-crítica da nossa aldeia. Uma pessoa que desenvolvia um pensamento próprio que lhe permitia tomar uma posição independentemente da posição social dos envolvidos. Senhora de uma personalidade forte e invulgar vivacidade, era simpática e respeitadora para com todos os seus confinantes.

Chamada para a longa viagem sem retorno, Maria Rosa deixou-nos.

Realizado pela Funerária da Carreira, Unipessoal, Ldª, o funeral será realizado amanhã, Segunda-feira, pelas 18h30, na igreja paroquial de Luso, reservado apenas aos seus familiares directos. Em seguida o féretro seguirá para o cemitério de Vale de Além.

Ao Carlos Pinheiro, filho único, e restante família, em nosso nome colectivo, se posso escrever assim, neste momento de sofrimento pela perda do ente querido, os nossos sentidos pêsames.

Até sempre, Maria Rosa.


sábado, 22 de maio de 2021

MEALHADA: MAIS E MELHOR PELO CONCELHO

 

(Foto do Jornal da Mealhada)




Na Adega Rama, em Santa Luzia, pelas 15h00, foi hoje apresentado o movimento independente Mais e Melhor (Para o Concelho da Mealhada), concorrente às próximas eleições autárquicas, que serão realizadas em finais de Setembro ou princípio de Outubro.

Liderado por António José Franco, engenheiro civil, ex-vereador executivo e primeiro presidente da Fundação Mata do Bussaco, cargos exercidos no tempo de Carlos Cabral, com umaequipa, constituída por pessoas com diferentes ideologias políticas”, o projecto político promete agitar as águas da cidade do leitão.

Num vídeo produzido pelo Jornal da Mealhada, que transmitiu em directo a apresentação da nova agremiação, foi também apresentado o Manifesto de intenções. Em traços gerais, de texto curto, predominaram as ideias de fazer mais e melhor em todas as freguesias – e neste relacionamento, uma novidade com a criação do pelouro das juntas de freguesia.

Com três pesos-pesados na formação, o combate promete: Nuno Veiga, actual presidente da Junta de Freguesia de Casal Comba e eleito pelo PS, vai ser o candidato à mesma; Carlos Cabral, ex-presidente da Câmara Municipal da Mealhada, vai ser o cabeça-de-lista à Assembleia Municipal; e Filomena Pinheiro, como número dois para o executivo. Vereadora e vice de Carlos Cabral até às eleições autárquicas realizadas em 29 de Setembro, de 2013, que viriam a ser ganhas por Rui Marqueiro. Depois de cessar funções políticas, Filomena Pinheiro, num folhetim público pouco dignificante para a edilidade, foi impedida de voltar para o cargo que exercia na Escola Profissional Vasconcelos Lebre (EPVL) - nesta altura a autarquia era co-proprietária deste estabelecimento de ensino. Tendo o caso sido arrastado para o Tribunal de Trabalho de Coimbra, acabou por haver acordo entre as partes e com a obrigação da EPVL pagar 35 mil euros à sua antiga funcionária.


UMA PEDRADA NO CHARCO


Se até aqui, as águas da Mealhada pareciam paradas, com a promessa de luta a ser travada apenas entre dois contendores, respectivamente o movimento inter-partidos Juntos Pelo Concelho da Mealhada e o Partido Socialista (PS), com esta nova candidatura tudo se alterou.

Já se viu que embora a lista seja composta por vários simpatizantes do espectro partidário, predominam muitos socialistas descontentes com decisões e o rumo participativo que a cidade, liderada por Rui Marqueiro, tomou nos últimos anos. Nas decisões mais fracturantes, numa história que ainda parece não ter acabado, conta-se a venda da EPVL, de inteira propriedade municipal, viria a ser vendida a um grupo privado. Na participação com os cidadãos, que ou não aconteceu ou não convenceu, como bandeira negra, está içada a irritação em processo de cisão no processo da denominada Linha da Concordância, que em cerca de três quilómetros vai atravessar terras da Pampilhosa e do Travasso, sem que se vislumbrem contrapartidas para os prejudicados pela passagem do comboio de mercadorias.


UMA BROA PARTIDA


Mesmo com o mutismo do actual presidente, Rui Marqueiro, em afirmar se vai, ou não, ser o candidato natural em representação do PS, certamente à espera de ser despronunciado na instrução do processo em que é parte acusado pelo Ministério Público por prevaricação, até agora o PS parecia unido em torno de uma só força.

Com apresentação pública de António José Franco, coadjuvado por Filomena Pinheiro e Carlos Cabral, todos socialistas de princípio e convicção e a formarem uma “task Force”, um grupo de acção e trabalho, está visto, o eleitorado rosa que vai exercer o voto nas próximas eleições vai ficar dividido.


SETE A DIVIDIR POR TRÊS, OU POR QUATRO?


Numa análise rápida, tudo parece indicar que Hugo Alves Silva, líder do Juntos pelo Concelho da Mealhada , esfrega as mãos de contente – lembramos que esta coligação tem três vereadores sem pelouro contra quatro com pelouros atribuídos do PS, eleitos em 2017.

Ou seja, se o passado imutável, não sendo dinâmico, for o estruturante do futuro, em teoria, o PS, dividido entre o movimento Mais e Melhor e os socialistas da velha guarda, elegerá quatro vereadores, dois cada um. E o movimento Juntos pelo concelho da Mealhada conquistará os mesmos três lugares que detém na actualidade. Logo, em hipótese, ganharia a Câmara Municipal.

Mas há um caçador de um lugar na vereação à espreita: o Bloco de Esquerda. Se a jovem Bárbara Duarte alcançar um lugar no executivo a sua ascendência virá baralhar tudo.

Como diria Nuno Veiga, presidente da Junta de Freguesia de Casal Comba: isto são narrativas hipotéticas para entreter de rede social.

quinta-feira, 20 de maio de 2021

MEALHADA: SE EU FOR PRESIDENTE... (1)


 

Num tempo de após-pandemia, esperemos que assim seja, para conhecer melhor os candidatos à Câmara Municipal da Mealhada nas próximas eleições autárquicas, em Outubro, em nome da página Mealhadenses que Amam a sua Terra, propomos aos participantes já conhecidos – e mais tarde a outros que se apresentem a concurso – responderem a algumas questões que consideramos elementares.

O primeiro é Hugo Alves Silva. Vereador da oposição, sem pelouros atribuídos, desde 2017, foi eleito em representação da Coligação Juntos pela Mealhada, que resulta do acordo entre PPD/PSD, CDS/PP, MPT, PPM, candidatura que elegeu 3 dos 7 vereadores desta câmara.

Farmacêutico de profissão, casado com Isabel Santiago, deputada à Assembleia Municipal e eleita pela mesma coligação, reside na Pampilhosa.

É Presidente do PSD Mealhada desde 2016 e é membro eleito desta Comissão Política de Secção do PSD da Mealhada desde 2012.


Mealhadenses que Amam a sua Terra (MAST): Como é o Hugo Silva no dia-a-dia?


Hugo Alves Silva (HAS): O Hugo do dia-a-dia é igual ao Hugo que dou a conhecer às pessoas na política.

Dedico o meu tempo livre à família e à política, num equilíbrio que nem sempre é fácil de garantir, mas que me dá muita estabilidade emocional. Estou de bem com a vida e com as pessoas.

Mas aquilo que me pergunta é o que faço e como sou.

Acho que já nem sei bem como era a nossa vida antes da pandemia. Sempre fui uma pessoa descontraída, que gosta bastante de receber pessoas em casa e conviver nesse registo muito intimista.

Estou a chegar aos 40 e continuo um idealista, um criativo e a tentar agregar pessoas em torno de causas.

Hoje já sou mais selectivo e mais conhecedor dos perfis certos para os desafios e essa é a grande mudança que a idade causou em mim.

Querem ver-me feliz? Lancem-me um desafio colectivo.


MAST: Sendo casado com uma deputada municipal, a política está sempre presente, mesmo até à mesa, sem nunca desligar a ficha?


HAS: A Isabel já era deputada municipal antes de eu ser vereador, na Mealhada foi ela que me trouxe até à política, embora as pessoas pensem o contrário.

No meio de virtudes e de coisas menos boas tenho uma característica que acho positiva para quem convive comigo, é que separo muito bem os ambientes em que me movimento.

A política tem uma parte importante da nossa atenção porque estamos a criar o nosso filho com sentido crítico, com voz e pensamento próprio. Essa é a função principal que nos leva a falar de política em casa – fazê-lo entender que a política são escolhas e opções, são relações humanas e são motivações que uns sentem de uma maneira e outros de outra, acima de tudo com valores democráticos e princípios.


MAST: Este seu mandato de quatro anos, que agora está prestes a terminar, ficou marcado pela turbulência relacional com o actual presidente da edilidade, Rui Marqueiro, valendo-lhe até uma participação no Ministério Público por difamação. Se for entronizado como presidente, vai ter outra postura com a oposição? Vai envolver todos os vereadores eleitos nos grandes desígnios respeitantes ao concelho, nomeadamente com a distribuição de pelouros por todos?


HAS: Vou responder-lhe de forma muito clara, não aceito comparações entre mim e o actual Presidente da Câmara, nem políticas, nem pessoais. Se há alguém de quem me distingo é mesmo do actual presidente.

Sei que é uma situação que, em teoria, o satisfaz como munícipe, mas para governar um município não é preciso que todos os vereadores tenham pelouros atribuídos, julgo até que isso pode ser disfuncional.

Coisa diferente é envolver os vereadores e as bancadas da oposição na procura de soluções que gerem maior consenso. Isso é agir à Hugo e não tem a ver com obrigações legais mas sim com convicções e leituras democráticas da governação que pretendo instituir.

Um Município é uma instituição onde a responsabilidade só pode ser atribuída a quem tenha capacidade política para assumir pelouros, dizer-lhe às escuras que todos os eleitos encaixam nesse perfil seria uma irresponsabilidade da minha parte.

Até porque, mesmo para um idealista como eu, há limites que a confiança política e a governabilidade não permitem ultrapassar.


MAST: Já apresentou o Manifesto Eleitoral a traçar as linhas mestras da coligação para o concelho. De todas, quais considera prioritárias?


HAS: Eu apresentei o Manifesto 25 | 25 compromissos para os primeiros 25 meses de mandato. Na leitura de um munícipe atento, que até é da área socialista, recebi o seguinte comentário “o foco é bom: contacto com a população e soluções rápidas para problemas imediatos”. Acho que não conseguiria resumir melhor o Manifesto 25.

A seu tempo vamos apresentar um programa dedicado a cada freguesia mas o mais importante é darmos a conhecer como queremos que o concelho seja visto de dentro e visto de fora. Para isso vamos apresentar uma estratégia para 1 década de desenvolvimento, com a voz das pessoas a ser considerada desde a

primeira hora. Um Município é um projecto de todos.


MAST: A Câmara da Mealhada, do ponto de vista financeiro, é das poucas a nível nacional que, para além de ter uma almofada de cerca de 8 milhões de euros em depósitos a prazo, encerrou 2020 sem dívidas a fornecedores.

Vai manter a mesma política de aforro, ou vai investir mais em infra-estruturas necessárias ao desenvolvimento do concelho?


HAS: Mais uma vez obriga-me a ser muito directo na resposta. A almofada não é de 8 milhões de euros, esse dinheiro já está cativo para pagar as obras que se arrastam há anos. É falso que esse dinheiro esteja disponível. Esta é a parte escondida no discurso da propaganda. É a lei que não permite que haja despesa à balda que causa esse saldo e não a boa gestão desta câmara. Não têm dinheiro disponível para investir a sério e não têm obra, essa é que é a verdade.

O Município é uma entidade que pode contrair alguma dívida sem entrar em desequilíbrio, mas o nível de compromissos improdutivos (não rentáveis) que se assumiu vai deixar muitas dificuldades ao arranque de uma política de desenvolvimento. Fartaram-se de comprar problemas que não eram do município e de colocar dinheiro em obras onde apenas querem ver a sua assinatura.

O Município precisa de chegar rapidamente a uma gestão de pessoas e de recursos financeiros que se adeque aos tempos modernos. Parámos na década de 90 e isso está a sair-nos caro.


MAST: Vai manter a decisão de construir uma nova sede concelhia no montante de 6 Milhões de euros?


HAS: Se ainda puder evitar este projecto saído do tempo dos faraós vou acabar com mais esse erro colossal de investimento do dinheiro municipal. Ao mesmo tempo tenho de resolver para uma ou duas gerações os problemas urbanísticos e comerciais da zona central da Mealhada e mesmo assim garantir dinheiro para continuar a investir nas outras freguesias. Não podemos andar a gastar dinheiro público sucessivamente nas mesmas coisas e manter os problemas.


MAST: Em termos de turismo, o concelho é uma manta de retalhos. Com o Luso, que já foi bandeira azul nas recordações dos mais velhos, a apresentar-se a quem o visita como um desgosto ao primeiro olhar. Tenciona criar um roteiro promovido pela autarquia a envolver não só a Mata Nacional do Bussaco, as duas vilas do Luso e Pampilhosa, mas também as aldeias em torno da Mealhada, juntando o património construído, os recursos naturais, a actividade cultural, a gastronomia e os vinhos?


HAS: O Turismo, a Hotelaria e a Restauração são temas demasiado sérios para serem mexidos por amadores e pela malta do “acho que”.

Há 2 coisas que lhe garanto, qualquer turista fica feliz por visitar localidades bem tratadas para os que cá vivem, esses são a prioridade, os de cá, a outra é ainda mais óbvia, a nova estratégia para o Turismo, a Hotelaria e a Restauração tem de envolver o eixo Mealhada – Luso – Bussaco, tem de envolver os nossos agentes económicos e tem de ser alinhada com o investimento municipal. Olho para 2030 e sei que vamos ser procurados pelas coisas boas que temos e somos, tal como vejo mais emprego, mais residentes e uma cara do concelho que nos orgulhe a todos.


MAST: Tenciona combater a desertificação das povoações em redor da Mealhada? Se sim, de que forma?


HAS: Essa é uma obrigação de qualquer Presidente de Câmara da Mealhada. Ao longo de décadas o problema da habitação foi ignorado. Enquanto os preços foram baixos e fomos atractivos o poder ignorou este assunto e neste momento não há habitação, nem para arrendar, nem para comprar. A troco de IMI e de umas taxas, o Município empurrou as pessoas para fora das aldeias, hoje temos zonas fantasma e já pomos a mão à cabeça.

Um dos programas que apresentei no Manifesto 25 é precisamente para rapidamente reabilitar e repovoar as freguesias. Serei o Presidente da Câmara que vai garantir que a população idosa volta a ter vizinhos.

Isto só lá vai com políticas activas de habitação e é exactamente por aí que vamos.


MAST: Fala-se muito em construir habitação social de raiz na cidade. O que pensa da ideia de, através de uma nova visão partilhada de repovoamento local, a autarquia adquirir prédios

velhos, abandonados e decrépitos, nas aldeias, restaurando-os e instalando lá pessoas?


HAS: Somos todos muito críticos da desertificação e da fuga para o litoral mas depois temos dificuldade em olhar para dentro de cada município e evitar que se continue a dar a fuga das aldeias para a sede de concelho.

As pessoas instalam-se se tiverem habitação disponível e serviços públicos e privados que acompanhem as suas necessidades. Já não vivemos tempos em que as pessoas se fixam e não têm necessidade de se deslocar – basta pensarmos na distância a que ficam as escolas ou os empregos. Uma política activa de habitação tem de ser acompanhada de medidas municipais em muitas outras áreas, o município não pode continuar a fixar tudo na sede do concelho, é um erro caríssimo.

A minha vida é recheada de momentos em que me forcei a olhar de fora mesmo estando dentro, porque não posso perder a perspectiva do todo. Isso tornou-se num bom hábito e que me permite conciliar os interesses locais com o equilíbrio das medidas.

Este é exactamente um desses casos, temos de responder às necessidades sociais de habitação com dignidade e integrando essas famílias numa sociedade que as trate sempre como iguais, porque o são. Ao mesmo tempo precisamos de gerar condições de fixação de novos residentes e de repovoar as freguesias com as famílias que têm laços com essas origens. A identidade e a pertença são essenciais para o orgulho bairrista e concelhio de que tanto precisamos.


MAST: Fala-se há muito da vinda da marca Continente para a Mealhada. Tendo em conta o impacto no comércio já instalado, é a favor ou contra?


HAS: Digo que é muito mais grave construir o mercado municipal fora do centro da Mealhada e com isso atacar directamente o coração do comércio tradicional da cidade.

É uma empresa como qualquer outra. Se entende que a sua estratégia passa por fixar-se no concelho eu não tenho nada contra, nem nenhum interesse em conflito com isso.

O aumento da oferta não é diferente daquilo que já dispomos actualmente em termos de grandes superfícies e essas já são complementares ao comércio tradicional. Julgo que a maior luta pela quota de mercado será mesmo entre essas empresas de maior dimensão, porque não estamos a falar da abertura de grandes centros comerciais como numa grande cidade.

É um gosto responder a questões que esclareçam as pessoas do nosso concelho. É para cada uma delas que trabalho. Trabalhar com Todos e Trabalhar para Todos vai levar-nos a bons objectivos comuns, vai voltar a fazer-nos ter orgulho do nosso concelho.

Há coisas que vamos atingir em breve e que nos vão dar a vontade de fazer ainda mais e melhor. O concelho precisa mesmo é de mudança, já não chega uma alternativa.