(imagem retirada, com a devida vénia, do Jornal da Bairrada)
Num
tempo de após-pandemia, esperemos que assim seja, para conhecer
melhor os candidatos à Câmara Municipal da Mealhada nas próximas
eleições autárquicas, em Outubro, em nome da página Mealhadenses
que Amam a sua Terra, propomos aos participantes já conhecidos – e
mais tarde a outros que se apresentem a concurso – responderem a
algumas questões que consideramos elementares. Depois de Hugo Alves
Silva, apresentamos hoje António Jorge Franco, líder do Movimento
Independente Mais e Melhor (Para o Concelho da Mealhada). Engenheiro
civil, professor, empresário, ex-vereador executivo e primeiro
presidente da Fundação Mata do Bussaco, cargos exercidos no tempo
de Carlos Cabral (eleito pelo PS), António Jorge Franco é um
polivalente.
Mealhadenses
que Amam a sua Terra (MAST):
Como é o António Franco no dia-a-dia?
António
Jorge Franco (AJF): O meu dia-a-dia é como o da
maioria dos cidadãos. Trabalho na minha área profissional,
aproveito os tempos livres para usufruir do espaço envolvente à
minha casa, faço um pouco de jardinagem, convivo com os amigos e,
sempre que posso, passeio descobrindo o nosso Portugal mais profundo,
conhecendo o território, apreciando novas ideias e novos espaços.
Gosto de ler jornais, de ver os noticiários na televisão e de estar
com a família.
MAST:
A política activa é um bichinho que vicia. Depois de oito anos de
inactividade já sentia saudade?
AJF:
Nunca abandonei a política, porque, no meu entender, a boa
política pratica-se todos os dias, defendendo as nossas ideias, os
nossos ideais e contribuindo sempre para o bem-estar de quem nos
rodeia. Isso sempre o fiz, mesmo antes de ter cargos políticos.
Mesmo quando estive ao serviço da comunidade de uma forma
profissional, continuei a ser a mesma pessoa, trabalhando com todos
para todos, sem olhar às diferenças que existem ao nível de ideias
e de ideais políticos. Por isso, não será um regresso, mas uma
continuidade do meu percurso de vida: estar ao serviço da
comunidade. É assim que me sinto bem, e quem me conhece sabe que sou
mesmo assim.
MAST:
Bem sei que a candidatura que
lidera lhe foi muitas vezes sugerida por muitos amigos próximos.
Sente que está a fazer história, e o que tinha de ser feito?
AJF:
É verdade que, desde que deixei de estar na política
profissionalmente, muitos cidadãos do concelho e não só,
sugeriram-me que liderasse um movimento independente. No entanto,
apesar das minhas divergências, claramente assumidas, acerca da
forma como o processo de gestão do município da Mealhada tem sido
levado a cabo pelos atuais autarcas, entendi que deveria dar espaço
aos eleitos locais para realizarem a sua ação. Saliento que foram
eleitos democraticamente, e que devem, por isso, ter a oportunidade
de cumprir a sua ação.
Tendo
decorrido 8 anos, verifico que as razões das minhas divergências
persistem, ou que se aprofundaram. Lamentavelmente, aconteceu muito
do que eu receava que acontecesse. Temos um concelho sem rumo, sem
equipa de trabalho, sem diálogo, que não gera motivação naqueles
que cá querem investir ou mesmo nos que cá vivem. É cada vez mais
notória a imagem de um concelho descuidado, sem liderança, sem
visão para o futuro. Se repararem, quando circulam pelo concelho,
dão facilmente conta de que as únicas obras nas aldeias e vilas
foram as realizadas em mandatos anteriores a 2013, numa altura em que
era Presidente o Professor Carlos Cabral, em executivos de que também
fiz parte. Não sinto que esteja a fazer história.
Sinto,
sim, que o grupo que se está a juntar a nós quer fazer história. É
para mim muito encorajador notar que o Movimento quer mesmo fazer
história para o futuro, querer ser e fazer diferente, com a
participação e envolvimento de toda a comunidade. Mais que fazer
história, o Movimento quer fazer MAIS e MELHOR!
MAST:
Sendo socialista, e liderando uma
candidatura que vai provocar uma cisão nos seus pares, não teme ser
acusado de fratricida?
AJF:
Relembro que quando entrei para a Câmara Municipal, como vereador,
não era militante de nenhum partido político. Entrei como
independente. Posteriormente, e sem que tal me tivesse sido pedido,
achei que deveria fazer-me militante, e assim poder contribuir para o
crescimento do Partido Socialista e ter voz dentro dos órgãos do
partido, sempre no sentido de poder construir e não diminuir.
Enquanto
estive nos órgãos do partido, expressei sempre a minha opinião.
Transmiti claramente que o partido, a nível local, teria que mudar
de rumo. Não fui ouvido! Respeito o caminho que outros seguiram, no
qual, no entanto, não me revejo. Pela minha parte, decidi mudar de
rumo e seguir as minhas ideias e os meus princípios, sob pena de
passar a ser igual a muitos que têm formas de estar na política com
que não me identifico.
Na
vida política, a nível profissional, não podemos ser diferentes
daquilo que somos na nossa vida privada.
Não
é o poder pelo poder que me atrai, mas sim o fazer e ajudar a
crescer quem me rodeia. Não são estatutos de poder ou financeiro
que me atraem. O que me atrai é ter amigos, conviver com pessoas que
estejam bem, viver num local bonito, limpo e com qualidade de vida.
Motiva-me trabalhar para que todos tenhamos o maior orgulho na nossa
terra.
MAST:
Embora sucinto, já apresentou o
Manifesto Eleitoral a traçar as linhas mestras para o concelho. De
todas, quais considera prioritárias?
AJF:
As prioridades serão sempre definidas pelo grupo de trabalho
que está ao meu lado. Eu sou simplesmente mais um elemento, que
pretende liderar e motivar para fazer mais e melhor.
Mas,
claramente, uma das prioridades será criar um concelho mais atrativo
ao nível do espaço público e da mobilidade, dignificando os
diversos espaços e recuperando o património.
Paralelamente,
iremos desenvolver projetos alinhados e enquadrados na estratégia de
desenvolvimento regional, nacional e internacional, com especial
enfoque nos objetivos de desenvolvimento sustentável da Agenda 2030,
sempre com a participação e o envolvimento da comunidade local e de
parceiros estratégicos, como por exemplo universidades entre outros
interlocutores relevantes. Só assim poderemos crescer.
MAST:
A Câmara da Mealhada, do ponto de
vista financeiro, é das poucas a nível nacional que, para além de
ter uma almofada de cerca de 8 milhões de euros em depósitos a
prazo, encerrou 2020 sem dívidas a fornecedores. Vai manter a mesma
política de aforro, ou vai investir mais em infra-estruturas
necessárias ao desenvolvimento do concelho?
AJF:
Quando diz que a Câmara Municipal tem uma almofada financeira
de 8 milhões estará, certamente, a falar do presente. No entanto,
muito desse dinheiro, no que nos é possível entender, estará já
comprometido com muitas obras, supostamente para lançamento de
concursos, que, receamos, nem poderão ir para o terreno a curto
prazo, devido à Lei dos Compromissos.
O
que este Movimento pretende é, claramente, investir. Não só em
infra-estruturas, mas também na educação, na cultura, no desporto,
na saúde, no meio ambiente, na economia e no turismo. Só assim
poderemos crescer e elevar o Concelho da Mealhada a patamares
superiores de desenvolvimento de modernidade.
MAST:
Vai manter a decisão de construir
uma nova sede concelhia no montante de 6 Milhões de euros?
AJF:
Como ponto de partida prévio, e no plano dos princípios, nada
nos move contra a construção de uma nova sede concelhia. Contudo,
em termos concretos, a informação de que dispomos não nos permite,
com rigor e seriedade, formular uma posição sobre esta matéria.
Para além disto, qualquer posição que assumíssemos, nestas
condições, não seria responsável.
Em
favor de uma cidadania funcional, seria desejável – ou mesmo
democraticamente fundamental - que houvesse mais informação, de
melhor qualidade, credível e completa, sobre um tema desta
relevância.
MAST:
Em termos de turismo, o concelho é uma manta de retalhos. Com o
Luso, que já foi bandeira azul nas recordações dos mais velhos, a
apresentar-se a quem o visita como um desgosto ao primeiro olhar.
Tenciona criar um roteiro promovido pela autarquia a envolver não só
a Mata Nacional do Bussaco, as duas vilas do Luso e Pampilhosa, mas
também as aldeias em torno da Mealhada, juntando o património
construído, os recursos naturais, a actividade cultural, a
gastronomia e os vinhos?
AJF:
Em relação ao turismo, como tem conhecimento, temos na nossa
equipa um elemento com grande experiência nesta matéria, com 8 anos
de experiência comprovada e conhecimento de como se faz, e bem, por
outras regiões de Portugal e no estrangeiro. Refiro-me à Drª
Filomena Pinheiro, diretora no Turismo Centro de Portugal.
Teremos
sem dúvida uma estratégia muito ambiciosa e devidamente estruturada
para este setor, tão vital no nosso Concelho. Neste sentido, iremos
desenvolver um projeto enquadrado com estratégias de âmbito
regional e internacional, de forma a garantirmos um turismo mais
sustentável e mais eficaz, aproveitando e potenciando, de forma
estruturada, cada um dos muitos recursos e potencialidades do
concelho.
MAST:
Tenciona combater a desertificação
das povoações em redor da Mealhada? Se sim, de que forma?
AJF:
A desertificação é um problema que teremos de combater de um
modo muito decidido e enérgico.
A
situação do Concelho da Mealhada, no que diz respeito à fuga de
pessoas para a sede do concelho, mas muito mais para concelhos
vizinhos, tem muito a ver com a falta de uma estratégia para criar
melhores condições de habitabilidade no nosso território. Temos um
concelho desarrumado, desleixado e nada apelativo ao nível do
planeamento e do espaço público.
A
acrescer a este problema, todos conhecem as grandes dificuldades em
poder construir ou mesmo reconstruir habitações nas aldeias e mesmo
nos maiores centros urbanos do concelho, devido à burocracia pesada.
Para isso, pretendemos, logo em primeiro lugar, criar mecanismos para
agilizar as respostas dos serviços municipais aos cidadãos e às
empresas, adequadas às exigências dos tempos que vivemos. Quem cá
quer ficar, ou quem escolhe o nosso concelho para vir viver, tem que
se sentir bem e orgulhoso de todo o ambiente (social, cultural,
paisagístico, entre outros) onde vive.
MAST:
Fala-se muito em construir habitação social de raiz na cidade. O
que pensa da ideia de, através de uma nova visão partilhada de
repovoamento local, a autarquia adquirir prédios velhos, abandonados
e decrépitos, nas aldeias, restaurando-os e instalando lá pessoas?
AJF:
Uma das situações que teremos que equacionar muito bem é o
que queremos em relação à habitação social.
É
um assunto complexo, que deve mobilizar a atenção de especialistas
de diversas áreas (sociólogos, urbanistas, entre outros), dados os
impactos sociais e de qualidade de vida que possui. É este trabalho
que é feito hoje nos municípios com uma ação competente e
devidamente informada.
É
este trabalho que iremos igualmente fazer. Será que queremos
construir habitação para todos, ou induzir segregação?
A
nossa perspetiva é que deveremos repensar muito este tema, e
identificar soluções que permitam que todos tenham uma casa digna,
mas dentro de uma sociedade digna. Temos a noção da importância
deste assunto bem presente, e as soluções que apresentarmos serão
aquelas que se adequam às realidades específicas e únicas do
nosso concelho. Não por mero voluntarismo, mas numa perspetiva
global e informada.
MAST:
Fala-se há muito da vinda da marca
Continente para a Mealhada. Tendo em conta o impacto no comércio já
instalado, é a favor ou contra?
AJF:
Sobre a vinda da marca que refere, cabe referir que o Movimento
não é a favor nem contra este tipo de investimentos. Vivemos,
felizmente, numa sociedade que respeita a liberdade de oferta e
procura, e não nos compete tomar posição sobre isso.
Contudo,
se essa vinda se verificar, não nos alhearemos da realidade.
Avaliaremos
os pontos positivos e negativos desse fator. Apreciaremos que
transformações irá induzir.
Feita
essa avaliação, cabe-nos, e muito, por um lado a responsabilidade
de explorar o potencial que esse investimento trouxe ao
desenvolvimento do concelho; por outro lado, não deixaremos de agir
no sentido de mitigar e eliminar os efeitos negativos que, de um
ponto de vista social e económico, tenha causado.