Acordei de manhãzinha com o Sol no meu beiral,
por entre a agitação de um sono profundo,
sonhei que era o incarnado espírito de Natal
que vinha trazer a paz e a concórdia ao mundo,
silenciando as guerras entre o Bem e o Mal,
digladiando religiões com o mesmo fundo,
e um Deus, amor do interesse individual,
em que irmãos se gladiam num submundo,
e filhos tratam os pais com ferocidade brutal;
A madeira dos móveis clicava, estremecia,
a minha gata espreguiçava a pata e o dente,
a minha amada calma e serenamente dormia,
por entre ruídos surdos e silêncio envolvente,
eu pesava tudo, imaginava o que me acontecia,
acredito que a tolerância deve ser transcendente,
e o perdão, sem ter em conta a crença que nos guia,
deixar cair o fanatismo insano e mentiras vigentes,
sermos como somos em verdade e não o que se plagia;
De que vale acender a vela no altar ao padroeiro,
rezar Pais Nossos e Avé Marias a Nosso Senhor,
fazer promessas de beatice em alma de romeiro,
tomar a hóstia, Corpo de Cristo, ministrada pelo prior,
confessar os pecados repetidos à exaustão de boateiro,
bater no peito com a mão, parecendo livre de rancor,
ajoelhando, prometer tudo perante o divino, e justiceiro,
se os buracos da desumanidade são não ter para dar amor
e em vez de partilhar, em soberba, furta como vezeiro.