sábado, 3 de maio de 2014

EDITORIAL: O BATER DE ASAS DA BORBOLETA





O Efeito Borboleta é um termo que se aplica em Economia e estudado por Eduard Lorenz, em 1963 e dentro da Teoria do Caos. De uma forma sucinta, significa que um dado praticamente imperceptível e menosprezado num determinado estudo localizado –económico, financeiro, químico, físico, ou outro-, à distância e a curto, médio ou longo prazo pode redundar em efeitos ampliados e, na altura, jamais imaginados.
Lembrei-me desta introdução para melhor se entender as mensagens quase subliminares passadas recentemente pelo Governo nacional, ao anunciar o aumento de IVA e TSU, Taxa Social Única, e pelo presidente da Câmara Municipal de Coimbra, Manuel Machado, ao despachar, por ajuste directo, a compra de um automóvel, Audi A6, no valor de 51,000 euros.
Não é preciso ser economista para se saber que toda a ciência económica assenta no estudo, na análise, dos comportamentos desde a produção, passando pela distribuição, até ao consumo. Por ser tão imprevisível –exactamente por estar dependente de vários factores, externalidades, não previstos- é que raramente os estudiosos desta ciência acertam. Uma coisa se sabe: assenta no comportamento humano. Ora, comportamento, na definição dos dicionários, é o conjunto de acções de um indivíduo observáveis objectivamente –daqui nasceu a psicologia experimental, em que são distinguidos os comportamentos nos quais a resposta do sujeito decorre de um estímulo, aleatório, sem ser específico.
Depois desta explicação breve, pegando nos aumentos do Governo, no IVA numa altura em que o desânimo entre os empresários é lactente -e, pela manifesta deflação económica em que pela quebra de rendimentos das famílias estamos a viver, são aqueles que suportam este imposto-, o que transmite o executivo de Passos Coelho aos operadores económicos? Uma mensagem curta: “não vale a pena continuarem a esforçar-se. Quanto mais trabalharem mais serão onerados! Desistam de trabalhar e criar riqueza! Em vez do negócio pratiquem o ócio!”. No aumento da TSU, para os dependentes, a mesma missiva negativa: “não laborem! Vivam à custa do sistema, do desemprego ou outro qualquer subsídio! Vão roubar! Se trabalharem serão penalizados pelo Estado!”
Com esta anunciada compra por ajuste directo, de um automóvel de grande cilindrada e no valor de 51 mil euros, o que implicitamente difunde o presidente da Câmara Municipal de Coimbra aos seus milhares de munícipes que atravessam dificuldades? Especulando, mais ou menos isto: “eu sou o presidente eleito! Faço o que bem entendo. Foram os vossos votos que me elegeram! Não estou a fazer nada contra a lei! O próprio executivo aprovou há pouco tempo o aumento de contratos por ajuste directo até 75 mil euros. Vocês, munícipes, têm dificuldades? O problema é vosso, não meu! Desenrasquem-se!”
É óbvio que no estudo do comportamento também tem lugar a ética. E qual é o conceito de comportamento ético? Segundo os dicionários, “Ético significa tudo aquilo que está relacionado com o comportamento moral do ser humano e sua postura no meio social. Ético refere-se à Ética, uma parte da filosofia que estuda os princípios morais que orientam a conduta humana. Mediante uma escolha que possa afetar terceiros, a ética funciona como um juiz que irá avaliar a escolha feita por cada pessoa. Um dilema ético surge quando há necessidade de se fazer uma escolha difícil, desagradável e que implica um princípio moral. A forma de agir em sociedade determina o comportamento do indivíduo como ético ou anti-ético. Ser ético ou ter um comportamento ético refere-se a um modo exemplar de viver baseado em valores morais. É o comportamento definido socialmente como bom. Deve-se ter em conta que cada sociedade possui suas próprias regras morais resultantes da própria cultura. Um comportamento anti-ético resulta da falta de ética ou de uma transgressão das normas definidas em um código ético.”
O que não deixa de ser curioso nas duas situações entre poderes central e local é o comum facto centralizado no automóvel de luxo, Audi A6, como símbolo de ostentação num país em vias de pobreza colectiva. Para o Governo serve de isco para caçar faltosos aos impostos. Na edilidade coimbrã mostra o resultado da caça ao voto e do aproveitamento político à custa desses mesmos impostos.
Nesta roleta russa das eleições, se quem chega depois é sempre pior do que quem parte, valerá a pena continuar eternamente a depositar esperança em quem vem a seguir?











Sem comentários: