(Imagem furtada ao Coimbra Jornal)
Anónimo deixou um novo comentário
na sua mensagem "EDITORIAL: A AGONIA DA NOSSA IMPRENSA LOCAL":
Bom dia, Luís.
Não tenho o prazer de o conhecer, mas a resposta que deu ao jornalista Mário Martins sobre a foto, não sei porquê, inspirou-me a responder-lhe. Desconheço o mecanismo subconsciente que accionou a coisa. Terá sido a referência à Servidão Humana? É que eu gosto muito de literatura.
Peço desde já desculpa por usar o anonimato, mas, como compreenderá, cada um tem as suas razões.
Queria falar-lhe deste texto. Desde logo, contém um erro. A notícia da compra do Audi motivada pelo comunicado da JSD saiu nos dois diários da cidade, se bem que em dias diferentes. Já o seu comentário em relação ao Campeão das Províncias fez-me pasmar. Então o Luís não aprecia a pluralidade? Eu, se me permite, li os dois textos, e considero ambos pertinentes. Embora, espero que não o ofenda, gostei mais do intitulado “Uma falsa questão”. Está muito bem escrito, tem uma qualidade de escrita acima do que normalmente se encontra no "Campeão", e acho que resume a questão com grande classe e lucidez.
Confesso que fiquei um pouco desiludido com esta sua apreciação sobre os dois textos. Fez-me lembrar um aspecto mau da extrema-esquerda (para onde direccionei a maior parte dos meus votos, confesso; isto, partindo do princípio que se pode catalogar BE e CDU como extrema-esquerda). É aquela coisa terrível de as opiniões semelhantes às nossas serem maravilhosas, mas as contrárias são péssimas, têm que ser combatidas e contêm até resquícios de fascismo.
E é mais ou menos isto, que as letras já vão longas. Mas, se me permite, acho que agora vou violentá-lo um pouco. Sabe uma coisa? Então não é que a compra do carro é inteligente? No período de uma década, a CMC poupa cerca de 60 mil euros… O Luís não acredita e eu compreendo. Ninguém lhe forneceu dados suficientes para poder acreditar. Mas olhe que é verdade.
Aceite um abraço deste que lhe escreve e que gosta de pessoas com personalidade, com garra. Penso que o Luís se encaixa nesta descrição sumária.
PS – Já agora mais uma coisita. Não acredito nessa tese de os blogues serem mais independentes do que os jornais. Acho é que ambos têm valor e defeitos e ambos são necessários.
Já me chateia ver jornalistas da cidade que se têm em grande conta, com grande capacidade de investigação e implacáveis no momento de dar a conhecer as tropelias dos malfeitores, a darem notícias depois de o Fernando Moura as dar. Muitas vezes, as notícias dadas pelo Moura baseiam-se em documentos públicos (o caso do Audi é um exemplo). Ora, se são públicos, por que é que tem de ser o Moura o primeiro a noticiá-los e não o fazem esses grandes jornalistas da nossa praça? Por que é que só escrevem depois de o Moura o ter feito? Enfim, não compreendo, mas também lhe digo que não percebo nada de jornais. Não passo de um vendedor despedido pela empresa onde trabalhava (e desculpe-me por esta fraqueza, uma cedência ao egocentrismo que de todo não desejava).
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RESPOSTA DO EDITOR
Começo por lhe agradecer este seu comentário
tão harmonioso e tão bem escrito. O meu muito obrigado. Com franqueza. A
seguir, aceite a minha retratação ao saber por si que a notícia da compra do
Audi saiu também no outro diário. Leio diariamente os dois. Por qualquer motivo
me passou.
Quanto à nossa diferença de
opiniões, acerca da independência da nossa imprensa local, respeito a sua. Sem
subtilezas. Respeito mesmo, mas a minha mantém-se. Temos um jornalismo
adormecido na cidade –tenho noção que, no quadro económico em que estamos a
viver, não será fácil sobreviver sem o apoio do poder. Não faço política partidária
mas parece-me que os jornais eram mais interventivos com o executivo de
Barbosa de Melo do que agora com este executivo socialista. Os motivos? Não sei!
Posso especular. Será que a maioria dos jornalistas é de esquerda e identificando-se mais com este poder rosa aceitam mais facilmente e sem
questionar as suas decisões? Será que alguns profissionais da imprensa têm
familiares a trabalhar na autarquia e têm receio de fazerem ondas e,
indirectamente, virem a ser penalizados?
É minha convicção que se esta
nossa imprensa local não se demarcar do poder instituído e recuperar o
contra-poder que está na sua génese –mesmo correndo o risco de perder apoios
das instituições públicas mas ganhando o apreço popular, dos leitores- alguns
deles, inevitavelmente, vão desaparecer. É certo que os jornais publicados
estão a viver um momento gravíssimo. Por um lado, não há dinheiro para os
comprar, por outro, o interesse em ler sobre o que se passa à nossa volta, como
cancro a minar, estes dois anátemas estão a matar o jornalismo. Interrogo: qual
a razão de, por exemplo, o Diário de
Notícias e o Correio da Manhã manterem
–creio que até aumentaram- o número de leitores diários? Exactamente porque
perseguem três premissas fundamentais: independência, investigação e ubiquidade, estar em todas, no momento do acontecimento. Este
segundo caso, da ubiquidade, é mais para o Correio da Manhã que angariou
legitimamente o lugar que ocupa na imprensa nacional graças ao seu primado: leitura de fácil compreensão e estar em todas. Quanto a mim, o Diário
de Notícias é mais erudito, com temas mais ricos de substrato intelectual, mas,
na sua pluralidade, é patente a sua independência em relação ao governo central,
ou outros poderes.
Mas, uma coisa é certa –e admito
de que falo apenas como observador, não falo como o senhor que, com a sua experiência,
sabe do que escreve porque é profissional- a cidade não tem um jornalismo de
investigação. Os títulos publicados raramente juntam um editorial. Os
articulistas são sempre os mesmos e ligados aos partidos. Falo por mim,
raramente leio uma página de opinião. Mesmo alguns não conotados
partidariamente utilizam o espaço concedido para espalhar melaço ao Presidente
da Câmara, para lhe agradar e, quem sabe, à procura de uma benesse ou um
lugarzinho no futuro. Em todos os opinion
makers é patente a tal servidão humana
de que se falava a um qualquer interesse pessoal ou transmissível à agremiação
partidária.
Por último, e aqui estamos completamente de
acordo, o Fernando Moura –ele que me desculpe por escrever assim- é o resultado,
no seu sucesso, do tal adormecimento dos jornais que falamos. Aliás, penso que
até será um caso de estudo. Como é que um “freelancer”,
aparentemente com meios exíguos, consegue chegar onde outros, com mais
ferramentas, não chegam?
E agora para acabar, vamos lá ser sinceros um
com o outro. Eu não percebo nada de jornais. O escrever diariamente não faz de
mim um “expert”, sejamos práticos.
Tenho e emito meramente uma opinião. Já em contrapartida você percebe demais de
imprensa. É um maltratado profissional da escrita diária. Um bom profissional,
tenho a certeza… porque nos conhecemos pessoalmente. Compreendo perfeitamente a
sua necessidade de anonimato, mas não vale a pena inventar. Conhecemo-nos e ponto
final e parágrafo!
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