O relógio da Estação Nova permanece parado,
morto e sem vida, há muito tempo. Estará em greve de zelo, como que a mostrar
que a cidade nem anda para a frente nem para trás? Estará avariado? Quem vai
responder a estas questões é Hermínio Freitas Nunes, proprietário da
prestigiada firma de concertos de relógios de Campanário e de Torre e com sede
na Marinha Grande "TicTac Temporis". Hermínio é um dos poucos especialistas nacionais que operam
nesta área de conservação e restauro de relógios mecânicos e preocupado com a
memória futura. A sua inquietação vai muito além do artesão reconstrutor; é um
restaurador de obras de arte do passado, tentando prevenir o presente, para que
a história não se separe dos objectos físicos e os vindouros saibam e tomem consciência
de que a modernidade não assenta em cortes horizontais mas sim numa linha de continuidade.
Só se compreende que Freitas
Nunes seja mesmo assim, um artesão de rara sensibilidade, sendo ele mesmo a
trazer-me a indignação do relógio por ele reconstruído em 2009 permanecer
naquela apatia, num desleixo inconcebível, e que se incomoda uma maioria a ele toca
muito mais. Vamos ler o lamento pungido de Hermínio Nunes na primeira pessoa:
“Em 2009
foi-me adjudicada pela Refer Telecom a obra de restauro deste relógio, que é um
das mais pequenas máquinas de torre do mundo, desenvolvido por Paul Guarnier
(1801-1869) exclusivamente para fachadas das grandes gares ferroviárias da
época. Além de França, sei que exportou estes marcadores de tempo para os
caminho-de-ferro portugueses, ingleses e belgas. Desconheço se além deste,
restaurado na minha oficina, existe mais algum similar ainda em funcionamento.
Por contrato, e incluído no preço adjudicado na altura, fiquei
responsável pela manutenção e funcionamento deste velho marcador de tempo. Acabei
por me apaixonar por este velho engenho de registar horas e sem que nunca fosse
solicitado para o efeito, por minha iniciativa, sempre que venho a Coimbra lá
vou dar um abraço com os meus olhos ao temporizador. Por coincidência ou não,
sempre que vinha à cidade constatava a sua paragem e lá ia eu pedir a chave e
dava corda ao meu protegido. Este, como a mostrar-me o seu reconhecimento parecendo
sorrir de contentamento lá das alturas, ficava a trabalhar noite e dia. Até que
há cerca de dois anos para cá deixei de poder aceder à torre. Ou porque não se
sabe quem é o responsável –o anterior já se aposentou-, ou porque não sabem da
chave, e sei lá de quê mais, a verdade é que o relógio jaz ali inerte e
abandonado. E isto dói-me muito, sabe? No fundo, manter uma obra daquela
importância histórica e que passou pela minha oficina naquele estado de
desprezado, é um descrédito para o meu bom nome. Repito que, financeiramente,
não ganho absolutamente nada em fazer isto. Com muito pesar porque me fere a
alma, praticamente já desisti de dar vida àquela velha máquina, de valor incalculável
e raro espécime museológico. É triste, não é?”
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"Finalmente Coimbra vai entrar nos carris a horas"
"Uma imagem ao acaso"
"Quem tramou a Estação Nova?"
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1 comentário:
Amigo:
Que pena! Mas expectável !
Já lá vai o tempo que o chefes de estação plantavam e tratavam dos jardins das mesmas para que, com grande orgulho, mostrassem o brio que tinham naquilo que lhes era confiado e porque eram responsáveis. Salvo erro até se premiava a mais bonita estação no país.
No tempo da velha senhora quem sabe não ia o chefe acabar por chefiar uma das estações dos nossos lindos Açores! Sim , nos Açores também há estações! Quatro! Primavera , Verão, Outono e Inverno!
Agora pergunto eu, será que o movimento ainda por lá está?
Um abraço
Álvaro José da Silva Pratas Leitao
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