sexta-feira, 23 de maio de 2014

LEIA O DESPERTAR...



LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA 

Esta semana deixo o textos "REFLEXÃO: VOTAR? PARA QUÊ?"; e "A DAMA DO REALEJO"; e "A PASTELARIA IMPÉRIO VAI REABRIR"; "SAIR DO ESPAÇO NOBRE - NÓS PAGAMOS!"; e "CÂMARA VOLTA ATRÁS E RENDE-SE À PSP"


REFLEXÃO: VOTAR? PARA QUÊ?

 Neste próximo domingo vão realizar-se eleições para o Parlamento Europeu. Escrito assim, até parece que está tudo dito e clarinho como a água. Acontece que para mal de muitos e benefícios para alguns, uma grande maioria, sobretudo os mais idosos, não sabendo o que vai fazer à mesa de eleições opta por não ir e não participar num ato tão importante para o Portugal.
Vivemos num país a duas velocidades –a frase não é minha mas serve-me de suporte. Por um lado, temos uma minoria informada e com acesso a tudo o que é conhecimento. Por outro, temos uma elevada camada de população que vive na mais completa ignorância de direitos e obrigações de cidadania. Podemos chamar-lhe info-excluídos, analfabetos digitais, ou simplesmente disfuncionais em relação a este tempo de louca correria em busca de coisa nenhuma.
Escrevo esta pequena reflexão porque me apercebi que, aqui na Baixa, muitos idosos não sabem para que serve o sufrágio que se aproxima. Ora, vivendo nós na chamada sociedade de informação, esta constatação é um escândalo –não por culpa de quem não sabe mas pelos jogos de interesses que as televisões deveriam estar obrigadas a esclarecer e não o fazem. Sobretudo a RTP1, que é o canal público. É assim que se combate a abstenção massiva?


A DAMA DO REALEJO

Pouco passava das duas badaladas nos relógios, na tarde brilhante e ensolarada deste último Sábado. O Sol estava quente e de feição e abraçava e beijava sem cerimónia quem com ele se cruzasse nas ruas estreitas que, pelo seu ambiente natural e fresco, o continham no fustigar da canícula. Junto ao Largo do Poço, onde outrora e em décadas de memória funcionou o Salão Brasil e agora o Jazz ao Centro Club, em melodia de fundo, o som arrastado de cavalo cansado, um realejo tocado a manivela chamava a atenção dos alguns transeuntes e outros que paravam, na Rua do Corvo e em frente ao Be Tasty. Mas o que marcava mesmo o contraste entre a máquina ronceira e o silêncio da tarde cálida era o acompanhamento no cantarolar desprendido e ligeiramente rouco de uma dama esbelta em corpo de boneca de olhos verdes e pernas bem torneadas. Com vestir ligeiro e cartola na cabeça, com uma voz afinada e bem timbrada e a fazer lembrar Édith Piaff –artista francesa reconhecida internacionalmente e imortalizada pelo seu estilo de cantar a tristeza-, misturando sorrisos direcionados, a figura desta mulher, como saída da banda desenhada ou de um qualquer museu, prendia os olhos de quem olhava. Enquanto rodava o manípulo com cadência de maestrina, fazendo com o movimento o ar sair em pressão pelos pequenos furos e debitar os acordes, a diva de pronúncia francesa cantava, encantava e distribuía sorrisos sem olhar a quem. Os vários estrangeiros sentados nas mesas em frente ao bonito estabelecimento do Be Tasty como que hipnotizados pela performance e em câmara lenta, hesitavam ora em levar a comida à boca ora em olhar a musa cantante na língua de Asterix. Esta catedral de cultura, onde se realizam serões de poesia e retalhos de prosa, foi até há poucos anos o Centrum Corvo, o sonho interrompido de António Cerveira, que conheci bem e a morte levou antes da sua total concretização imaginária. Nessa altura estava dedicado ao artesanato, a produtos endógenos e a outros planos abrangentes de índole regional. Agora, mantendo os mesmos móveis centenários, a mesma traça e o espírito do meu desaparecido amigo, é uma espetacular casa de hotelaria, de paragem obrigatória e ponto de encontro entre turistas nacionais e estrangeiros
Mas vamos lá saber quem é a mulher que, arranhando o português, canta em francês: “chamo-me Emmanuelle Rouvray e adotei o nome artístico “Emma Nivelle”. Sou natural de Poitiers, França. Tenho 46 anos e trabalhava na minha cidade-natal. Faz hoje precisamente sete meses que peguei no meu realejo e abalei rumo ao desconhecido. Estive em Espanha e cheguei recentemente a Coimbra onde fui como que perfilhada pela gerência do Be Tasty. Quanto tempo irei ficar na cidade? Não sei! Nem me interessa saber! Estou de passagem, como todos andamos nesta existência fugaz. Esta minha recente opção de vida é um projeto sem projeto. Viver o momento. Livre e sem compromissos. Não quero mais a vida que levei até há pouco tempo. Quero apenas ser feliz!”


A PASTELARIA IMPÉRIO VAI REABRIR

Segundo uma fonte que pediu o anonimato, dentro de algum tempo, a Império, na Rua da Sofia, vai reabrir com padaria, pastelaria e cozinha a baixo custo. Será em sistema franchisado, “low-Cost.Come”, e concessionado pelo franchisador “Info Franchising”. Trata-se de um projeto já implantado no país e em que os preços praticados de venda ao público são muito reduzidos.
Ainda segundo o meu depoente, “ainda vai demorar um certo tempo porque serão precisas bastantes obras no reputado estabelecimento. Mas é um bom plano e vai ser bom para toda a zona envolvente.”
Lembro que, conforme na altura contei n’O Despertar, a Império encerrou em 17 de Setembro de 2013. Deixando um oceano de saudade em muitos de nós. Este reputado estabelecimento hoteleiro era já um ícone na cidade. Os mais desprendidos, numa subtileza impressionante, declaram que as empresas são como as pessoas: nascem, vivem e morrem. Acontece que ao expirarem memórias vivas como esta nossa Império também nós fenecemos mais depressa. Somos seres de sentimentos, de rotinas, e convivemos diariamente com a memória. Ao desaparecerem estas recordações, para além de ficarmos mais vazios, como se tivéssemos perdido uma parte da alma, a cidade fica descaracterizada e sem identidade. Uma grande salva de palmas para todos quantos, durante décadas, mantiveram a Império de pé e também para este novo empresário que a irá fazer ressurgir das cinzas.


SAIR DO ESPAÇO NOBRE - NÓS PAGAMOS!

No mais nobre espaço da cidade, o hall de entrada para todos os visitantes, o Largo da Portagem, mais uma vez foi conspurcado com a implantação de um enorme placard de propaganda política. Desta vez afeto ao candidato do PCTP/MRPP, Leopoldino Mesquita. Nos seus vários metros de altura e largura a obliterar a paisagem, no taipal pode ler-se: “Sair do Euro! Não pagamos!”
Com todo o respeito pela mensagem política do candidato e pelo direito à sua livre expressão e pensamento, no entanto, gostaria de dizer que, se preciso for, também pagamos para retirar o aborto visual do ponto onde se encontra –repito que me refiro à estrutura metálica.
Se acaso é uma questão de rentabilizar o espaço e para a autarquia ganhar uns cobres -que se imagina estar necessitada depois da compra do Audi6 para a presidência-, tenho a certeza que, com um peditório público nas ruas da urbe, se conseguirá o equivalente e salva-se a imagem do Joaquim António de Aguiar. O que me parece estranho é que nas últimas eleições autárquicas também ali, lado-a-lado, foram colocados dois painéis, um com a figura de Luís Providência, candidato pelo CDS/PP, e outro de Barbosa de Melo, representante pelo PSD, ambos pretendentes à edilidade, e foi um escarcéu do camano. Perante tanta porrada verbal nas redes sociais e vinda de todos os lados, incluindo a oposição local o Partido Socialista –agora no poder-, Barbosa de Melo mandou retirar a publicidade à sua pessoa e candidatura antes do último dia de eleições. Então e agora, mais uma vez, se volta a fazer o mesmo?
Vamos por partes, em 2011 aquele espaço foi distribuído a Garcia Pereira, também do MRPP e que não foi eleito. Em 2013 dois taipais, distintos e ao lado um do outro, vieram a ser ocupados por propaganda de Barbosa e Providência, portanto mais dois perdedores. Será que este relvado não estará amaldiçoado e destinado aos derrotados? Em face disto, dever-se-ia mudar o nome de Largo da Portagem e passar a ser chamado de largo dos vencidos em combate.
Quem se deve estar a rir disto tudo, dos aselhas e exterminadores do espaço público da Baixa, a bandeiras desfraldadas, deve ser o “mata-frades”. Não é por nada, mas convém lembrar que, há cerca de um ano, uma parte desta zona histórica foi classificada pela UNESCO como Património Mundial da Humanidade. Seria mesmo? Na verdade, se não fosse o aumento de visitantes estrangeiros, não se notava nada. O procedimento camarário perante o edificado histórico mantém-se igual a décadas recuadas.


CÂMARA VOLTA ATRÁS E RENDE-SE À PSP

 A semana passada, na calada da noite e sobre responsabilidade camarária, o traço descontínuo em frente à 2.ª Esquadra da PSP, na Rua Olímpio Rui Fernandes, passou a contínuo. Ou seja, salvo as viaturas de emergência, que ao que parece poderão não respeitar as regras de trânsito obrigatórias, todas as outras, que até aí poderiam entrar diretamente no átrio do edifício, depois da alteração, teriam que percorrer mais cerca de duzentos metros. O descontentamento foi imediato e no próprio dia, com base no testemunho de um agente que pediu o anonimato, escrevi uma crónica sobre o assunto.
Ainda no mesmo dia, e com fundamento no meu texto escrito, fui contactado por alguém que sabia muito bem as causas que motivaram a decisão de retirar o acesso por aquele meio. Dizia este depoente: “Senhor António Luís, quando se escreve deve-se ter ponderação no conteúdo e estar ciente dos fundamentos das decisões. Qualquer veículo em emergência pode passar o risco contínuo. Ou seja, por esta permissão legal, não há qualquer justificação no lamento do agente. Embora não pertença a nenhuma das entidades em questão, PSP ou Câmara Municipal de Coimbra (CMC), posso garantir de que, até agora, existia abuso na transposição do traço descontínuo. Os agentes faziam a manobra com os seus carros privados e motas para irem para o parque de estacionamento e, naturalmente porque era preciso limitar o excesso, agora não podem, como qualquer outro cidadão. Como pode entender a mensagem foi manipulada num determinado interesse.”
Pelos vistos, a contento das duas partes, autarquia e PSP, prevaleceu o bom senso e os traços laterais a descontinuarem foram repostos e tudo continua igual como dantes.
Perante este avanço e recuo da edilidade, solicitei a opinião a um agente da PSP que, pedindo o anonimato, enfatizou: “claro que a Divisão de Trânsito da CMC tinha de repor o anterior! São os próprios carros da edilidade que, contra a lei, aqui fazem a inversão de marcha. Nós, agentes, até sempre fechámos os olhos à transgressão implícita. Se optassem pelo traço contínuo era um bocado chato para eles!”



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