Naquele
sótão velho, em que a ordem reina no meio do caos organizado de milhentas peças,
dois baluartes marcam o acanhado espaço. Um, o homem, simbolizando a vontade férrea de
contrariar a Natureza, não se deixa abater pela força da idade e do tempo
dominador. Outro, o computador, destacando-se no meio de um cenário
completamente manual e mecânico, mostrando que é rei e senhor de todas as
profissões, veio para ficar, revolucionando tudo o que se julgava conhecer e
obrigando o humano a render-se aos seus infinitos poderes.
O homem de quem falo é o meu amigo António da
Costa Moura, de 87 anos, e que conheço há várias décadas sempre com a mesma
expressão de agilidade e pragmatismo. Na sua oficina, no número 162 e no quarto
andar da Rua Ferreira Borges, onde continua a trabalhar diariamente e desde os
seus onze anos, faz carimbos e gravações digitalizadas e manuais. Sem margem para dúvida, será
o mais antigo gravador em actividade. Como é que consegue, senhor Moura, manter
esta frescura toda? Pode dar-me a receita? Interrogo. “É muito simples, tenho algum cuidado a comer; bebo só às refeições e
sem exagerar –bebidas brancas não entram no cardápio; para chegar à oficina e
voltar, todos os dias subo e desço estes cerca de 170 degraus. Para além disso,
todos os domingos faço uma hora de bicicleta. Ainda agora fui ao médico mostrar
análises e exames gerais e estavam todos muito bons. Não há milagres, meu caro!
Você chegou aqui, depois de subir os 83 degraus, mais cansado do que eu!
Olhando a sua barriga, dá para ver que se perde nos petiscos. Faça desporto,
homem! Cuide-se, pela sua saúde!”
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