(Imagem da Web)
Gosto de frequentar livrarias. Embora de vez
em quando aquira um ou outro livro, na maioria dos casos não entro para comprar.
Tenho centenas, milhares, e que já não terei ter tempo de ler nesta vida. O que
me leva a transpor a porta destas casas de venda de sabedoria é a possibilidade
de poder apreciar os dísticos e ler as primeiras páginas do primeiro capítulo.
Adoro escrever. Gostava de um dia poder publicar um livro –e quem não gostava? Interroga o meu alter-ego. Não que pretenda
editar a qualquer preço -assim no aforismo de que um homem, para o ser
verdadeiramente, deve fazer um filho,
plantar uma árvore e escrever um livro. Nada disso! Um dia, se isso acontecer,
quero ter a certeza de ter no seu enredo algo de útil. Não ser mais um
alfarrábio perdido no pantanoso mundo da literatura.
Enquanto leitor sou esquisito. Se
a primeira meia-centena de páginas não me embalar, o desgraçado, como tronco perdido no mar, para lá fica à espera de
dar à costa, como quem diz, e eu pegar novamente no ponto onde o larguei. Um romance
ou outro género qualquer deve agarrar o leitor logo nos primeiros parágrafos.
Em metáfora, é como mergulhar o dedo indicador num cozinhado e, num exame
rápido de prova, conseguir adivinhar se está bom ou nem por isso. Estou
convencido que os grandes escritores contemporâneos e do passado têm esse dom
de amarrar quem, pela primeira vez, abre as suas obras. Há qualquer coisa de
místico, de inebriante revelação transcendental, nestas primeiras páginas. É
por isso mesmo que entro num qualquer alfarrabista e começo por ler o primeiro
capítulo. É como se tentasse aprender com estes autores e apreender o seu
saber-fazer.
Depois há então os títulos de
capa. Cada um deles é um mundo compartimentado em duas ou três palavras.
Naquela frase curta na lombada está o epítome, a fragrância misteriosa de uma
flor. Presume-se como um convite implícito a tomá-lo nos braços e a entrar no seio
labiríntico da prosa. Podemos olvidar até o essencial mas não esqueceremos nunca
o seu cabeçalho. É como se o rótulo fosse a alma de um corpo inerte, que lhe dá
ânimo e vibração, e o abalança para os nossos olhos. Guardo religiosamente na
minha mente dois títulos de livros, como, por exemplo, a “25ª hora” e “Um homem chega a
casa e…”.
(Texto
original de participação na 3.ª jornada do Campeonato Nacional de Escrita
Criativa e sobre o mote “Um homem chega a casa e…”)
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