Faz hoje 84 anos o
segundo jornal mais antigo da cidade em actividade: o Diário de Coimbra –o primeiro é O Despertar.
Tenho um grande carinho pelos
dois periódicos. Pelo segundo, O Despertar, dou muito de mim pela colaboração semanal que lhe dedico
gratuitamente. Muito mesmo! Só quem já fez igual sabe avaliar o que custa
manter uma página inteira actualizada todas as semanas. Pelo primeiro, pelo
Diário de Coimbra, para além de ser assinante e fazer o mínimo, pouco, tenho um
afecto muito especial por este jornal. Como leitor diário, faz parte da minha
vida já há décadas. Não haverá um único dia que não o leia, nem que seja a
correr. Nunca dispenso. Mesmo até noutros tempos, quando era rico e me dava ao
luxo de poder gozar duas semanas de férias, sentia-me "em pulgas" para ler as suas
notícias. Então, quando regressava e depois de ir ansiosamente à caixa de
correio, durante duas ou três horas ia desfolhar todas as edições e verificar
o que se tinha passado na cidade e arredores.
Mas há um caso que me amarrará
para sempre ao Diário de Coimbra. Nos últimos 20 anos privei de perto com
Adriano Lucas, o seu emérito director e que nos deixou em 2011. Durante muitos
anos e praticamente até quase à sua fase terminal de vida foi meu cliente e
amigo –tenho para mim que foi mais amigo do que cliente. Muitas vezes, quando
me visitava e começava a negociar uma peça, dava comigo em pensar que a
sua intenção era mesmo ajudar-me. Havia ali algo espiritual que transcendia a
própria compra. É certo que Adriano Lucas tinha meios financeiros para o fazer
mas, naqueles gestos havia muita sensibilidade, um sentimento que transcendia
uma qualquer negociação bilateral. Havia ali uma alteridade implícita -é
curioso que tenho escrito bastante sobre a forma comportamental dos
consumidores dos nossos dias, de agora, no declarado abuso de posição dominante
sobre o vendedor, a parte mais frágil nesta crise económica. Sobre a forma de
ser cliente, no saber estar e ocupar o seu lugar, respeitando a dignidade do vendedor,
o meu saudoso Adriano deixou lições para quem com ele privou de perto. Onde
quer que esteja, uma grande salva de palmas pela sua generosidade e recordação
que até aos meus últimos dias me marcará para sempre.
Quanto ao "nosso" Diário de Coimbra,
o seu menino de colo, a sua segunda alma enquanto Adriano Lucas viveu,
felizmente para todos nós, continua vivo, pujante, e recomenda-se. Por isso
mesmo, cá do meu cantinho, um grande abraço de felicitação pelo seu quase um
século de vida. Muitos parabéns a todos quantos contribuem para o seu
renascimento diário.
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