Fundei o Blogue Questões Nacionais nos
primeiros meses de 2007. Com ajuda de uma amiga que já não está entre nós,
criei este espaço como uma espécie de gaveta interactiva onde arrumo tudo o que
escrevo e, sem barreiras, esteja acessível a todos os visitantes. É uma espécie
de muro das lamentações. Mas tive sempre uma intenção imanente: escrever sobre
a cidade e sobre a Baixa, intervindo politicamente, sobre a polis. E aqui, sobretudo, falar das
pessoas, contar as suas existências anónimas, dando à estampa as suas
dificuldades, concedendo-lhes nome, quando permitem, e alguma importância que nunca lhes foi
dada, a tantos, tantos, que por aqui diariamente calcorreiam as pedras da
calçada. Já publiquei cerca de 8500 posts ao longo destes sete anos e onde
largas dezenas, senão centenas, serão histórias de vidas de gente de carne e
osso como nós que, como almas errantes perdidas no meio da multidão, nunca se
saberia nada delas. Foi assim, através deste meio, que acabei a registar a sua
passagem terrena. Passando a imodéstia, sei que o que faço “pro bono” é importante e muito mais e essencialmente
para os visados. Aqui está registado tudo e todos que, de uma forma ou de
outra, me chamaram a atenção.
Na mesma área de intervenção, da
Baixa –se posso escrever assim-, sendo comerciante estabelecido na zona, procurei
sempre dar a conhecer, por dentro porque os conheço e falo com eles, o estado
anímico dos comerciantes e ao mesmo tempo a situação do comércio local.
Noticiando as lojas que abrem e as que encerram. Escrevendo sobre aqueles
profissionais que durante uma vida inteira dedicada ao negócio tradicional, por
insolvência, sem futuro, ou por morte física, partem da nossa coexistência pacífica e diária
–é curioso verificar que em todos estes anos tantos e tantos desapareceram da
nossa convivência. Quando miro as cerca de dez mil fotografias que fui captando
é que me apercebo de tantos colegas, entre patrões e empregados, que nos
deixaram.
E comecei a escrever este texto com a intenção
de mostrar que os problemas da Baixa e do comércio tradicional de há sete anos
continuam os mesmos e sem serem resolvidos. Aliás, garanto que estamos muito mas muito pior. No entanto, numa apatia endémica e inexplicável, tudo
continua a rolar como se nada se passasse. Em metáfora, esta zona é como se
fosse um rio a correr para o mar e sem que ninguém se importe que as suas águas
transbordem as suas margens. É a Natureza
e nada se pode fazer, poderia dizer-se assim.
Na Baixa e nestes últimos sete
anos desapareceram cerca de dois terços dos estabelecimentos mais antigos. Na sua
dinâmica natural, alguns deles deram lugar a outros negócios mas estes, emergentes, raramente se aguentam mais de um ano. Ao longo deste tempo tenho assistido a
verdadeiras tragédias e em que, algumas vezes, acabo a chorar com as vítimas.
Já escrevi tanto sobre este mesmo assunto que até a mim me cansa. A pergunta de
retórica e que sem resposta apreensível faço constantemente é muito simples: o que
se quer fazer da Baixa? Alguém sabe responder a esta questão? A Câmara
Municipal, incluindo o executivo e Assembleia Municipal, não tem obrigação de
dar conclusão esta pergunta? É curioso que as campanhas eleitorais para a
edilidade travam-se aqui, nesta zona velha. Durante este período eleitoral é
ver os candidatos de loja em loja e de porta em porta a cumprimentarem os
residentes. Passam as eleições e todos esquecem este berço do comércio
citadino.
Pode até pensar-se que nada se faz para
revitalizar esta zona porque não há dinheiro. Nada disso. A meu ver, o que é
preciso é planear bem o que se faz na cidade e, dentro das possibilidades, canalizar
os eventos directamente para esta parte velha, baixa e alta da urbe. Embora já
há muitos anos ande a bater na mesma tecla, vou dar um exemplo: fará algum
sentido realizar a Feira Cultural de Coimbra no Parque Manuel Braga? Então não
se deveria aproveitar este evento, de uma semana e que está a decorrer, para dar
vida ao Centro Histórico? Qual será a razão de colocar os standes todos juntos
no Parque da Cidade e virados de costas uns para os outros? A meu ver, quem
está à frente destes certames não percebe nada do que faz e, como não fala com
quem sabe e também não viaja para outros lugares continua a fazer asneiras –veja-se
o exemplo de Oliveira de Azeméis, já escrevi sobre o sucesso da sua feira antiga. Mudem
as pessoas. Coloquem nestes lugares gente nova, com ideias novas e, acima de
tudo, que saiba ouvir quem cá mora e trabalha. Sem querer ofender quem quer que
seja, as decisões de eventos que poderiam ajudar a dar vida a esta parte da
cidade estão na mão de aselhas que, fazendo sempre a mesma repetição de rotina,
até parece que têm umas palas de burro
sobre os olhos vidrados sobre o mesmo ângulo. Mudam os presidentes mas os erros
continuam. Vou ainda ser mais directo, esta nova vereadora da Cultura, Carina
Gomes –que não conheço-, e que foi nomeada há oito meses, por acaso, já se deu
ao trabalho de reunir com um qualquer grupo de comerciantes para saber o que
pensam sobre a revivificação da Baixa?
Não é preciso ser presciente para adivinhar
que se vai continuar a estourar mais uns milhares de euros nas Noites Brancas e
que, retirando a vantagem directa da hotelaria, não interessam para nada. Mas
estes eventos foram criados para revitalizar o comércio, não foram?
Outro exemplo e referente à
actividade turística na cidade. Depois da classificação da Universidade e Rua
da Sofia pela Unesco como Património da Humanidade assistimos a “enxurradas” de
turistas, em manada, a percorrem sempre o mesmo perímetro –Universidade,
Quebra-Costas, Ruas do Canal, Ferreira Borges e Visconde da Luz, Largo da
Portagem e recolhimento ao hotel. E então as ruas estreitas? E a Rua da Sofia?
São arredadas destes percursos por quê? Será porque nestas vias pedonais não
existem pontos de venda de artesanato? Mais ainda, porque é que os grupos, aparentemente e segundo se diz,
frequentam sempre as mesmas lojas de artesanato e os mesmos cafés? Será que é
boato? No diz-que-disse, há muito que se
afirma esta pouca-vergonhice do negócio entre os guias e alguns estabelecimentos. O turismo sofre de raquitismo? Ou está viciado? Já
alguém se preocupou em pensar que este procedimento, a ser verdade, para
beneficiar meia-dúzia, está a prejudicar toda a cidade? Os responsáveis não
sabem disto? Ai não? Mas eu há poucos anos escrevi sobre esta escandaleira e
enviei para a falecida Empresa
Municipal de Turismo. Você, leitor, respondeu? Pois, o sinal de retorno do
então vereador Providência foi igual. Fez de conta que recebeu uma carta a
insultá-lo e de uma qualquer besta. O problema é que -e agora igualmente com este novo executivo que anteriormente mandava farpas contra a Coligação por Coimbra- estamos entregues a gente
assim, como este senhor, que não ocupam os lugares para resolver seja o que
for. Estão lá porque lhes dá jeito! E, como é natural, o resultado está à vista
de todos: desmazelo e continuado abandono do centro da cidade. Até quando? Até
qualquer dia. Até quando Deus Nosso Senhor quiser!
Sem comentários:
Enviar um comentário