(Imagens da Web)
Mais de um mês em fuga e após ter assassinado duas
mulheres e ferido outras duas em Valongo dos Azeites, São João da Pesqueira, região
do Douro, foi finalmente preso Manuel Baltazar, também conhecido como “Palito”.
Ontem, à porta do Tribunal onde iria ser ouvido em interrogatório, os populares
batiam palmas à sua passagem escoltado por agentes da Polícia Judiciária de
Vila Real. É caso para interrogar: qual a razão deste presumível homicida ser
ovacionado? Será que na história recente portuguesa não teremos casos
parecidos? Isto é, será coisa nova reconhecidos assassinos, sem pinga de moral,
serem elevados à categoria de heróis?
Em meados do século XIX, João Vitor da Silva
Brandão, mais conhecido por João Brandão, o
terror das Beiras, foi elevado pelo povo à categoria de herói. Defensor dos
Cartistas -ala mais conservadora do Vintismo
e seguidores da Carta Constitucional de 1826, outorgada por D. Pedro IV, após a
Revolução Liberal de 1820-, embora subsistam dúvidas, Brandão, juntamente com a
sua família no lugar de Midões e concelho de Tábua, foi um salteador, um criminoso
que varreu a ferro e fogo toda a região das Beiras durante a Guerra da Patuleia, Guerra civil que
durou oito meses e com início em 1846, entre Cartistas e Setembristas –apoiantes
mais à esquerda da Revolução de Setembro e
seguidores da Constituição Política da
Monarquia Portuguesa de 1822.
Também na mesma época, entre 1818 e 1875, José
Teixeira da Silva, mais conhecido por “Zé
do Telhado”, na região Norte de Portugal, embora fosse salteador, chefe de
quadrilha na região do Marão, ascendeu à classe de protagonista nacional por Camilo
Castelo Branco, em memórias do Cárcere,
quando ambos estiveram presos, por volta de 1860, na Cadeia da Relação, no
Porto.
A questão final é: porquê esta idolatria em
torno de quem não merece um simples olhar? Bom, muitas especulações poderão ser
dadas e a cada cabeça sua sentença. O
que se sabe é que, do ponto de vista racional, do bom-senso, qualquer destes
três casos e sobretudo esta fuga e captura de Manuel Palito, não faz qualquer sentido sobrelevá-los. No entanto, imagino que seja o mito
criado em torno da coragem e pelas peripécias ziguezagueantes, como enguia em
fuga nas águas do rio, que o transforma em centro de admiração popular pelo
simples facto de, aparentemente com poucos meios, conseguir iludir todo um
sistema policial forte e bem montado.
Estou convencido que algumas
pessoas projectam nele, foragido da ordem estabelecida, admiração pelo
ressabiamento pessoal, pela frustração, que detêm da organização vigente, de
justiça ou policial, ou seja, contra o Estado, soberano e senhor de todas as
coisas. Por outro motivo, também, todos temos tendência em colocar-nos ao lado
do mais fraco, muitas vezes, e como é o caso, perdendo a total razão e objectividade.
Sem comentários:
Enviar um comentário