(Foto do JN)
Entre três candidatos elegíveis para presidir a
CCRDC, Comissão de Coordenação e
Desenvolvimento Regional do Centro, o Governo optou por um deles. Entre os
indigitados António Queirós, Norberto Pires e Ana Abrunhosa foi escolhida esta
última pretendente ao lugar. Normalíssimo, até aqui tudo bem e conforme as
regras da CReSAP, Comissão de
Recrutamento e Selecção na Administração Pública, a entidade encarregue de selecionar
e apresentar os candidatos na Administração.
O “quid pro quo”, o tomar uma coisa por outra, começa quando o Jornal de Notícias dá à estampa estas
considerações: “Fonte ligada ao processo explicou que o professor universitário
Norberto Pires (ex-presidente da CCDRC, atual vereador do PSD na Câmara de
Condeixa-a-Nova e ex-líder da sociedade Coimbra iParque), "embora pessoa
muito competente e experiente, tem o 'defeito' de ser muito frontal/direto e
tem pelo menos um ex-membro do Governo que nutre por si um ódio de estimação
que o poderá ter prejudicado neste concurso".
Como ressalva, devo declarar que conheço um dos candidatos, no
caso Norberto Pires, e desconheço a vencedora, Ana Abrunhosa. Naturalmente que
não estou a escrever por me moverem sentimentos de aproximação a um, por ter
sido preterido, ou de repulsa por outro. Escrevo simplesmente porque me parece
atentatório à dignidade de todos os aspirantes ao cargo envolvidos.
Depois
desta salvaguarda vou prosseguir. Em face de tão inusitadas considerações, a
meu ver, de tal maneira graves, várias questões se levantam. A primeira é a
constatação de que os concursos não são ocupados pelo mérito mas por aqueles
que aceitam enfiar o chapéu sem fazer ondas –com franqueza, não pretendo extrair esta conclusão da candidata
ganhadora, que não conheço, mas sim do que aconteceu aqui e em face destas
declarações tão insólitas. Quero dizer que a minha especulação pretende partir
deste caso para outros. Ou seja, do particular para o geral e não o contrário.
Conforme
se extrai da leitura, dá também para ver que a competência, em face de outros
atributos de maior discrição, pouco pesa. Assim como, neste caso o Governo, por
exclusão de partes, não procura pessoas frontais/directas mas antes indivíduos
cinzentos, burocratas, que sigam o situacionismo implantado, naveguem à bolina
e não construam castelos na imaginação popular. Em silogismo, é como se o
Governo dissesse aos cidadãos que quem fala directo e frontalmente não tem
lugar na política partidária. Ora, está de ver que, a bem dos próprios
interessados e uma vez que o seu descrédito nunca atingiu tão baixos índices de
popularidade, a única forma de se mudar este xadrez sistémico seria colocar em
lugares de relevo, de poder, gente desenraizada com o sistema político vigente.
É óbvio que tudo o que estou a escrever é pura filosofia, para não dizer
demagogia. Sabemos que para mal de todos, políticos e cidadãos, o processo em
jeito de purga vai continuar igual. Não é preciso ser presciente para acertar
que vai acabar mal.
Por
outro lado, e em último, ficamos a saber que as nomeações, para além de
políticas e partidárias, são também pessoais e com âmbito individual e não
geral. Isto é, o interesse público, que deveria transcender qualquer decisão
individual, é um mero artefacto e o livre arbítrio, mesquinho de ódio e inveja,
passa a ser o procedimento comum na administração executiva.
Acho que o Governo, com estas notícias vindas a público, sai
muito mal na transparência a que deveria dar exemplo aos cidadãos. Talvez
exagerando um pouco mas creio que estamos em face de uma condenação por delito
grave de opinião. Uma violação da liberdade de expressão –que sempre foi assim já todos calculávamos, mas agora, com esta conduta,
está-se a mostrar, preto no branco, que sempre foi mesmo e assim continuará a
ser, obrigatoriamente, para quem quiser almejar um lugar ao Sol.
No mínimo, pelo respeito a que está
obrigado aos portugueses, o Governo deveria anular este concurso e realizar outra
prova onde não ficassem dúvidas da sua actuação.
Sem comentários:
Enviar um comentário