(Imagem retirada do Coimbra Jornal)
O jornal Correio da Manhã de hoje, na página
28 da secção referente a política, apresenta o título “Fizeram campanha e foram contratados”. Em cerca de meia-página é
noticiado que “O presidente da Câmara
Municipal de Coimbra, Manuel Machado, contratou a empresa Valor de Fundo, da
qual são sócios o empresário José Manuel Diogo e o antigo jornalista que foi
diretor da Agência Lusa, Luís Miguel Viana, para fazer a comunicação da
autarquia. Ambos foram consultores de Manuel Machado durante a campanha para as
últimas eleições autárquicas de 29 de setembro de 2013. O contrato, que foi
feito por ajuste direto e publicado no portal da contratação pública na
Internet no dia 24 de abril, determina que o valor a pagar por um ano é de 44
mil euros, mais de três mil euros por mês.”
Não me vou debruçar muito sobre o caso de per si. O que gostaria de colocar à
reflexão de quem faz o favor de me ler é o facto de agora, e mais do que nunca –sobretudo
depois da queda do ancien regime,
como quem diz, depois de Barbosa de Melo ser apeado-, sempre que tenhamos necessidade
de saber algum assunto que toque os interesses de um certo poder implantado e
instalado na cidade temos, obrigatoriamente, de recorrer aos grandes jornais
nacionais. Vou dar exemplos. Há cerca de três meses foi publicado neste mesmo
jornal Correio da Manhã e no Diário de Notícias que um certo
presidente de uma certa instituição encarregue de distribuir as verbas do Qren, Quadro de Referência Estratégica
Nacional, em Coimbra, era suspeito de desviar os incentivos europeus para
empresas suas e em que era sócio. Nenhum jornal local noticiou este
acontecimento relevante, para não dizer escandaloso, no desenvolvimento e futuro
de Coimbra tal-qualmente como desejamos que ela seja –porque a cidade será
sempre o que, individualmente, quisermos. Isto é, será o resultado da intervenção cívica
de cada cidadão.
Outro caso, este da compra por ajuste directo
de um automóvel Audi A6, por 51 mil euros, pela edilidade coimbrã. Se os
periódicos nacionais deram relevância ao assunto, por cá, de dois, só um diário
escreveu sobre a adjudicação e com base em declarações de um membro da
juventude do partido da oposição. Mais grave ainda, um semanário muito activo
noutro tempo e na gerência de Barbosa, esta semana fez uma pirueta que não
lembra ao diabo. Por um lado, em tom irónico e de crítica, destrata e releva a
compra como “Que não há Machado que corte
a raiz ao despesismo”, por outro, em coluna logo a seguir retrata o mesmo
conteúdo como “uma falsa questão”.
Sinceramente liga-me muito aos jornais da cidade. Com grande esforço, sou
assinante de quase todos, e dentro das minhas possibilidades, porém, acho que o
que estamos a assistir é uma profunda falta de respeito pelos leitores e, acima
de tudo, pela cidadania de intervenção e onde a imprensa escrita tem um papel
importantíssimo no seu aperfeiçoamento.
Por outro lado, constata-se que se
faz um jornalismo mais descomprometido e independente nos blogues. O que nos
deve também fazer pensar sobre o que está acontecer na cidade dos estudantes.
Ora bem, sejamos claros, o mister da
comunicação social é fazer oposição ao poder instituído? Claro que não. Mas
enquanto desejável quarto poder -no
sentido de que usufrui de prerrogativas especiais e não ao alcance do homem da
rua- tem obrigação de alertar os cidadãos para o que se passa longe das vistas
da maioria. A pergunta que subjaz é: por que razão e por que não cumpre a
função para a qual está vocacionada? Adivinha-se, mas responda quem souber. Uma
coisa é certa, pela sua enorme responsabilidade pelo presente e futuro de uma
Nação, a imprensa, enquanto instituição paradigmática da liberdade de
expressão, não está fora do escrutínio moral e ético. A começar pelos
profissionais que divulgam as notícias, talvez valha a pena pensar nisto.
4 comentários:
agora, podem ir todos juntos passear no popó novo ...
Sou mesmo um azarado, fartei-me de fazer campanha eleitoral para a União de Freguesias de Coimbra e Câmara Municipal e nãao me calhou nada. Tambem nada pedi nem nada me foi prometido
Caro Luís, não é importante, mas como esclareci num comentário enviado há uns dias (e não publicado), esta imagem pertence ao COIMBRA JORNAL. Não leve a mal se, no futuro, eu utilizar uma foto do seu blogue sem a devida identificação. Cumprimentos. Mário Martins
Bom dia, Luís
Não tenho o prazer de o conhecer, mas a resposta que deu ao jornalista Mário Martins sobre a foto, não sei porquê, inspirou-me a responder-lhe. Desconheço o mecanismo subconsciente que accionou a coisa. Terá sido a referência à Servidão Humana? É que eu gosto muito de literatura.
Peço desde já desculpa por usar o anonimato, mas, como compreenderá, cada um tem as suas razões.
Queria falar-lhe deste texto. Desde logo, contém um erro. A notícia da compra do Audi motivada pelo comunicado da JSD saiu nos dois diários da cidade, se bem que em dias diferentes. Já o seu comentário em relação ao Campeão das Províncias fez-me pasmar. Então o Luís não aprecia a pluralidade? Eu, se me permite, li os dois textos, e considero ambos pertinentes. Embora, espero que não o ofenda, gostei mais do intitulado “Uma falsa questão”. Está muito bem escrito, tem uma qualidade de escrita acima do que normalmente se encontra no "Campeão", e acho que resume a questão com grande classe e lucidez.
Confesso que fiquei um pouco desiludido com esta sua apreciação sobre os dois textos. Fez-me lembrar um aspecto mau da extrema-esquerda (para onde direccionei a maior parte dos meus votos, confesso; isto, partindo do princípio que se pode catalogar BE e CDU como extrema-esquerda). É aquela coisa terrível de as opiniões semelhantes às nossas serem maravilhosas, mas as contrárias são péssimas, têm que ser combatidas e contêm até resquícios de fascismo.
E é mais ou menos isto, que as letras já vão longas. Mas, se me permite, acho que agora vou violentá-lo um pouco. Sabe uma coisa? Então não é que a compra do carro é inteligente? No período de uma década, a CMC poupa cerca de 60 mil euros… O Luís não acredita e eu compreendo. Ninguém lhe forneceu dados suficientes para poder acreditar. Mas olhe que é verdade.
Aceite um abraço deste que lhe escreve e que gosta de pessoas com personalidade, com garra. Penso que o Luís se encaixa nesta descrição sumária.
PS – Já agora mais uma coisita. Não acredito nessa tese de os blogues serem mais independentes do que os jornais. Acho é que ambos têm valor e defeitos e ambos são necessários.
Já me chateia ver jornalistas da cidade que se têm em grande conta, com grande capacidade de investigação e implacáveis no momento de dar a conhecer as tropelias dos malfeitores, a darem notícias depois de o Fernando Moura as dar. Muitas vezes, as notícias dadas pelo Moura baseiam-se em documentos públicos (o caso do Audi é um exemplo). Ora, se são públicos, por que é que tem de ser o Moura o primeiro a noticiá-los e não o fazem esses grandes jornalistas da nossa praça? Por que é que só escrevem depois de o Moura o ter feito? Enfim, não compreendo, mas também lhe digo que não percebo nada de jornais. Não passo de um vendedor despedido pela empresa onde trabalhava (e desculpe-me por esta fraqueza, uma cedência ao egocentrismo que de todo não desejava).
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