BAIXA: UM ESTRANHO CHEIRO NO AR

Hoje à tarde, na zona da Praça 8 de Maio, havia uma estranha essência no ar. Se fosse possível demostrar aqui, eu seja ceguinho, palavra que mostrava! Era assim um cheiro a novo; uma mescla de cabedal adocicado e misturado com popózinho caramelizado e saído do stande. Mas ninguém identificava. Só se viam as pessoas de nariz no ar a… “snif”… snif”… “snif”…. Mas nada! Nem um qualquer transeunte mais sério aventava mandar um bitaite sobre aquele tão agradável odor. Até se pensava que foi um qualquer borrifo vindo das nuvens.

Como é normal na nossa secção de cromos há sempre quem mande palpites. A dona Adelaide, a tremoceira de serviço oficial à Queima das Fitas na Praça 8 de Maio, do alto dos seus 90 anos de saber cheirar, estava numa grande discussão com o Geraldo, o tenor. Dizia a primeira que o perfume fazia lembrar as cerejas e o Geraldo defendia que, não senhor, era a baunilha proveniente de um vendedor de bolacha americana, o senhor Carlos Alberto, que por estes dias passados tem andado por estas ruas e ruelas. Entretanto apareceu o Carlitos popó e ainda veio acender mais o “quid pro quo”, como quem diz tomar uma coisa por outra. O Carlitos, do alto da sua magnificência e colocando a mão sobre uma medalha que trazia ao peito, assim meio a titubear, que nem se percebia nada mas deduzia-se, afirmava que aquilo que empestava o ar não era adocicado mas sim a queimado –e apontava o prédio do município. Por que razão faria ele o gesto? Isso não sei. Na sua mímica, era como se transmitisse que alguém lá dentro do edifício estaria de barbas a arder.

Ainda bem que passei lá no momento e, contribuindo para a paz naquele vetusto largo, pude esclarecer a situação. Nem me foi difícil, porque isto de cheiros e odores é comigo. É um talento inato. Qualquer fluido no ar e… pumba! Já está! Identifico imediatamente! Não é para me gabar –e nem esta força de polícia militar pense em me contratar-, mas os cães pisteiros da GNR ao pé do meu olfacto estão a anos-luz. Mal cheguei junto da Igreja de Santa Cruz vi logo do que se tratava. Há treze anos que as minhas narinas não sentiam um tal deleite. Foi quando comprei o meu carrinho novo e último. Nunca mais me esqueci e, estou convencido que, a menos que enverede por uma profissão mais rentável, tão cedo também não vou poder lembrar a mesma sensação. E que profissão, se as coisas estão como estão? Pareceu-me ver que você, leitor, interrogou. Sei lá! Talvez se eu fosse para político, não? Ou andasse por lá a bajular o chefe, mesmo a cheirar-lhe o cu! Não? Talvez! No mínimo sempre poderia dar uma volta grátis no carrão, não era? Ou, já agora, poderia ir para motorista. Ai não, não ia! Ia pois!

Ai, desculpem que, com esta conversa que não interessa nem ao senhor Mendes, o fura-mundos, até me esqueci de dizer de onde provinha o cheirinho. Era do novo Audi A6, recentemente adquirido pela edilidade e estacionado hoje, na lateral da Câmara Municipal de Coimbra.