(Imagem da Web)
Vou começar por dizer que este
convite do senhor director da revista C, Adão Mendes, sobre o lema "se eu mandasse", veio mesmo a propósito.
Ainda ninguém sabe, mas tenho andado a matutar em apresentar a minha
candidatura independente à Câmara Municipal de Coimbra. Vamos lá ver, não é que
tenha qualquer dificuldade em divulgar o programa, o problema maior será
escolher os meus apoiantes de peso. Até estou a ver, quando anunciar o meu
propósito, vão atropelar-se para serem os primeiros. Como eu os entendo! Não é
todos os dias que aparece um aspirante ao trono assim como eu. Modéstia à
parte, com pouca e naturalmente, sou bem-apessoado; bom falador, que só utiliza
palavras nossas, portuguesas e não alinha em estrangeirismos de importação; bom
vendedor, vendo qualquer ideia, mesmo até que seja péssima. E quanto à
honestidade? Ai Nosso Senhor dos Aflitos nos valha, não há ninguém assim. Já se
vê, portanto, que a minha concorrência vai abalar a super-estrutura da cidade. Sim,
porque eu vou revolucionar tudo. Não brinco em serviço. Vou mostrar a todos que
este pessoal da política partidária, ao pé de mim, utilizando analogia animal, é uma pulga, entendendo que serei
um elefante, está de ver!
Bem sei que o leitor está a arder
de curiosidade para saber o que vou mudar. Peço-lhe alguma contenção nessa
ansiedade, que estas coisas de planos futuristas exigem ponderação. Sempre vou
adiantando que, aqui na Baixa, tendo em conta a situação do comércio e
sobretudo o desânimo que atravessam os becos e vielas, irei tomar uma série de
medidas. A primeira, e imediatamente após tomar posse, ordenarei a
revitalização das fachadas de todos os edifícios que se encontram decrépitos. O
coração da urbe não pode continuar a conviver com estes fantasmas. A seguir vou
desonerar os licenciamentos de toldos e publicidade nas lojas comerciais. Estão
completamente descaracterizadas sem estes adereços privados, e ambos são
essenciais à sua regeneração. Os primeiros, os toldos, protegem os transeuntes
das condições climatéricas adversas e os segundos são a identidade e o espírito
tradicional. Tenho muito mais ideias para agitar as águas do Mondego, mas vamos
com calma, sim?
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