segunda-feira, 26 de novembro de 2012

OS MILAGRES ACONTECEM



"Um grupo de músicos de rua de Coimbra juntou-se num projeto apadrinhado pela Associação Orquestra Clássica do Centro (OCC) e a coordenação de Luís Quintans." 
Veja aqui notícia no Diário as Beiras


 A ideia já andava há muito tempo na minha cabeça. Quando, diariamente, me cruzava com um músico a tocar sozinho numa das ruas da Baixa pensava para comigo que se fosse possível juntar todos num só grupo poder-se-ia fazer uma orquestra fantástica. Na rua há todo o género de instrumentistas. Há bons executantes de guitarra clássica; de acordeão; de violino; de percussão; de saxofone; de clarinete. Eu mesmo, há muitas décadas que, no meu canto solitário, componho, musico e gravo as minhas composições. Por vários motivos, a vida nunca me permitiu mostrar o que faço. Aquando das manifestações a favor da reposição da Linha da Lousã, e construção do Metro Ligeiro de Superfície, compus duas canções. Foi uma forma de me solidarizar com esta injustiça que os cidadãos da linha da Lousã estão a sofrer. Como sou um “ganda maluco”, enchi-me de coragem e fui mostrar ao Movimento Cívico de Lousã e Miranda. Graças à boa vontade de Jaime Ramos, uma delas foi mesmo gravada nas várias povoações onde passava o comboio. A outra foi tocada na Praça 8 de Maio. Sou também autor de uma composição a favor da preservação da Mata Nacional do Choupal, aquando da intenção de a fazer atravessar com uma nova ponte.
Saliento a boa ajuda e sempre disponível do nosso “camara man”, Luís Filipe Perdigão, outro talentoso que também em tempo útil não lhe foram proporcionados meios para desenvolver a sua aptidão.
A idade tem estas manifestações interessantes: chegamos a uma fase da nossa existência que não podemos manter mais tempo dentro de nós o que não mostrámos e fizemos na altura devida. Foi assim que, nos últimos tempos, aqui na Baixa, comecei a tocar com alguns músicos de rua. No último feriado do 1º de Novembro li uma notícia de que o professor Norberto Pires iria contribuir com a sua presença e disponibilidade para o peditório da Liga Nacional contra o Cancro nas ruas da calçada. E, cá com os meus botões, interroguei: olha lá, Toino, porque não convidas alguns músicos e vais tocar a favor da liga? Seria uma boa forma de participares. Afinal, nem te custa nada e dá-te um prazer danado?! Entrei em contacto com o homem que, tal como eu, sonha e também tem ideias para mudar o mundo, e, mesmo sem saber na alhada em que se ia meter, ele aceitou logo. E no "Dia de todos os Santos" lá estivemos, dentro das nossas possibilidades a fazer ruído e a assustar a passarada, na Rua Ferreira Borges, junto ao Museu do Chiado. Como toda a acção gera reacção, vim a conhecer Emília Martins, presidente da Orquestra Clássica do Centro, e falei-lhe desta minha palermice de juntar os músicos numa banda. Para minha surpresa, ficou entusiasmadíssima. E, é claro, perante a sua confiança, deixei-me ir. Só espero poder corresponder às expectativas criadas. Mas a seu tempo se verá.
Se não ficou bem claro, a ideia base é, através do talento de cada um, juntar todos e fazer algo que possa contribuir como mais-valia, valor acrescentado, para a cidade. Há tantas pessoas por aqui que, se forem bem aproveitadas, podem constituir, através do seu desempenho, uma base de entretenimento para a Baixa. Não está em causa se são excelentes ou médios. O que interessa é usufruir dos seus escondidos talentos. E há tantos, que nem lembro! Sei lá, como por exemplo no teatro e fazer um grupo de rua, malabaristas, mágicos, palhaços, etc. Está tudo à mão de semear. O que é preciso é falar com as pessoas, mostrar-lhes o quanto são importantes, fazê-los acreditar no seu engenho que têm dentro da sua alma, e, sobretudo nesta crise, em solidariedade, o quanto podem contribuir para animar a cidade.
Só para esclarecer, claro que, se do meu lado há interesse nesta ideia -acredite-se, é apenas o de mostrar o que se faz sem o lado interesseiro, monetário, porque tenho outra actividade que, por enquanto, me permite viver, para já, penso, poder dispensar-, no entanto, não podemos esquecer a prestação destes músicos que me acompanham. Isto é, no futuro e se as coisas correrem bem, eles terão de ter uma natural e legítima compensação. É assim que me coloco neste plano.
Bem-haja à Emília Martins por ter acreditado neste projecto inovador e, creio, único em Portugal.

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