"Um grupo de músicos de rua de Coimbra juntou-se num projeto apadrinhado pela Associação Orquestra Clássica do Centro (OCC) e a coordenação de Luís Quintans."
Veja aqui notícia no Diário as Beiras
A ideia já andava há muito tempo
na minha cabeça. Quando, diariamente, me cruzava com um músico a tocar sozinho numa
das ruas da Baixa pensava para comigo que se fosse possível juntar todos num só
grupo poder-se-ia fazer uma orquestra fantástica. Na rua há todo o género de
instrumentistas. Há bons executantes de guitarra clássica; de acordeão; de
violino; de percussão; de saxofone; de clarinete. Eu mesmo, há muitas décadas
que, no meu canto solitário, componho, musico e gravo as minhas composições. Por
vários motivos, a vida nunca me permitiu mostrar o que faço. Aquando das
manifestações a favor da reposição da Linha da Lousã, e construção do Metro
Ligeiro de Superfície, compus duas canções. Foi uma forma de me solidarizar com
esta injustiça que os cidadãos da linha da Lousã estão a sofrer. Como sou um “ganda
maluco”, enchi-me de coragem e fui mostrar ao Movimento Cívico de Lousã e
Miranda. Graças à boa vontade de Jaime Ramos, uma delas foi mesmo gravada nas
várias povoações onde passava o comboio. A outra foi tocada na Praça 8 de Maio. Sou também autor de uma composição a favor da preservação da Mata Nacional do Choupal, aquando da intenção de a fazer atravessar com uma nova ponte.
Saliento a boa ajuda e sempre
disponível do nosso “camara man”, Luís Filipe Perdigão, outro talentoso que também em
tempo útil não lhe foram proporcionados meios para desenvolver a sua aptidão.
A idade tem estas manifestações
interessantes: chegamos a uma fase da nossa existência que não podemos manter
mais tempo dentro de nós o que não mostrámos e fizemos na altura devida. Foi
assim que, nos últimos tempos, aqui na Baixa, comecei a tocar com alguns
músicos de rua. No último feriado do 1º de Novembro li uma notícia de que o
professor Norberto Pires iria contribuir com a sua presença e disponibilidade
para o peditório da Liga Nacional contra o Cancro nas ruas da calçada. E, cá
com os meus botões, interroguei: olha lá, Toino, porque não convidas alguns
músicos e vais tocar a favor da liga? Seria uma boa forma de participares.
Afinal, nem te custa nada e dá-te um prazer danado?! Entrei em contacto com
o homem que, tal como eu, sonha e também tem ideias para mudar o mundo, e, mesmo sem saber na alhada em que se ia meter, ele aceitou
logo. E no "Dia de todos os Santos" lá estivemos, dentro das nossas possibilidades
a fazer ruído e a assustar a passarada, na Rua Ferreira Borges, junto ao Museu
do Chiado. Como toda a acção gera reacção, vim a conhecer Emília Martins,
presidente da Orquestra Clássica do Centro, e falei-lhe desta minha palermice
de juntar os músicos numa banda. Para minha surpresa, ficou entusiasmadíssima.
E, é claro, perante a sua confiança, deixei-me ir. Só espero poder corresponder
às expectativas criadas. Mas a seu tempo se verá.
Se não ficou bem claro, a ideia
base é, através do talento de cada um, juntar todos e fazer algo que possa
contribuir como mais-valia, valor acrescentado, para a cidade. Há tantas
pessoas por aqui que, se forem bem aproveitadas, podem constituir, através do
seu desempenho, uma base de entretenimento para a Baixa. Não está em causa se
são excelentes ou médios. O que interessa é usufruir dos seus escondidos
talentos. E há tantos, que nem lembro! Sei lá, como por exemplo no teatro e fazer
um grupo de rua, malabaristas, mágicos, palhaços, etc. Está tudo à mão de
semear. O que é preciso é falar com as pessoas, mostrar-lhes o quanto são
importantes, fazê-los acreditar no seu engenho que têm dentro da sua alma, e,
sobretudo nesta crise, em solidariedade, o quanto podem contribuir para
animar a cidade.
Só para esclarecer, claro que, se
do meu lado há interesse nesta ideia -acredite-se, é apenas o de mostrar o que se
faz sem o lado interesseiro, monetário, porque tenho outra actividade que, por
enquanto, me permite viver, para já, penso, poder dispensar-, no entanto, não
podemos esquecer a prestação destes músicos que me acompanham. Isto é, no
futuro e se as coisas correrem bem, eles terão de ter uma natural e legítima compensação.
É assim que me coloco neste plano.
Bem-haja à Emília Martins por ter
acreditado neste projecto inovador e, creio, único em Portugal.
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