(Imagem da Web)
Eu vivo num país onde toda a sociedade composta por todas as classes profissionais gritam e escrevem a reivindicar
cortes na despesa. Porém, quando acontece os cortes incidirem directamente nos
seus organismos e no seu interesse particular: “aqui del rei”.
Nos últimos tempos temos visto o "escarcéu" desencadeado por determinados cerceamentos em fundações, mas sobretudo
o caso mais paradigmático é na Reforma Administrativa, cujos actores, incluindo
o Governo que não tem sabido negociar e por falta de firmeza, numa hipocrisia
sem limites e porque toca a todos directamente, continuam a obstaculizar esta
necessária reorganização territorial. É óbvio que, excepto Lisboa, nas
freguesias tudo continuará na mesma, já para não falar dos municípios.
Serve-me esta introdução para
dizer que o que se passou ontem no Gil Vicente, com o Reitor da Universidade de
Coimbra, João Gabriel Silva, raia o escândalo. Que legitimidade tem este senhor
professor para interromper as aulas de todas as faculdades às 11h00 e encher o
Teatro Académico de alunos e professores a gritarem em coro “Chega de cortes!”
no financiamento da instituição?
Já não chegava os tribunais a imiscuírem-se
na esfera política, quanto mais agora este senhor reitor, e outros de outras
universidades do país, a manipular a opinião
pública. Porque sejamos claros as universidades têm o direito de se
manifestarem publicamente contra? É evidente que sim, mas não desta forma. A
meu ver, constitui um abuso de direito quando este senhor reitor, valendo-se do
cargo que ocupa, dando-se ao luxo de interromper as aulas, apela à rebelião
popular dos seus discípulos, sobretudo de alunos e professores. Em princípio, se o fizesse
fora do horário laboral, é lógico, ninguém teria a ver nada com isso, seria um
exercício de liberdade de expressão.
Por momentos, vamos imaginar que
todos os sectores da sociedade, decidem parar para analisar os cortes que irão
sofrer com este Orçamento Geral do Estado? Mesmo que assim acontecesse e
aqueles que não fazem parte do processo corporativo, como os desempregados, por
exemplo, no absurdo, como é que, em direito de igualdade, poderiam também interromper
a sua actividade?
Para mim, que venho de outro
tempo em que não se podia estudar por falta de meios, até não estranho toda
esta indignação. Quero dizer que, filosoficamente, estas diminuições de verbas
são pouco compreensíveis no sentido de que conduzirão a menos alunos a frequentarem
o ensino superior. Mas, se não há dinheiro, querem fazer o quê? Onde vão buscá-lo?
Não são estes senhores professores que concordam que, perante o estado de
natalidade, de riqueza gerada, desemprego e despesa afectada, este Estado
Social é incomportável? Não são estes senhores que o afirmam? E então quando os
cortes lhes chegam à porta cerram fileiras e exageram nos seus protestos? Será que,
por acaso, pensam que o povinho não pensa e é parvo de todo? A solução é
conseguir fazer o mesmo com menos meios. O contrário, com excesso, qualquer um
faz. Ou, por acaso, querem a reposição do financiamento a troco de mais impostos
sobre o povo trabalhador sem canudo? É que é bom não esquecer que a Universidade
enquanto instituição de ensino, nos seus corpos docente e discente, no nosso
universo societário económico, faz parte de um modelo privilegiado.
Era bom que os senhores reitores,
incluindo o da Universidade de Coimbra, estivessem de facto interessados no desenvolvimento
e sustentabilidade do país e menos centrados no seu umbigo.
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