(Pedir para algo fundamentado e necessário não envergonha quem pede e, em contrapartida, enobrece quem dá)
Hoje e pelo terceiro dia, por
volta das 9h30, eu e o João Braga, iniciámos o peditório para a escritura e
promulgação dos estatutos da “Casa do Comerciante da cidade Coimbra”, que
implicam em mais de 500 euros. Começámos pelas Escadas do Gato, percorremos a Rua
de Sargento-mor, Adro de Baixo, Praça do Comércio e Rua Adelino Veiga.
Conseguimos 200 euros.
Tal como anteriormente, foi um
gosto verificar que a maioria dos comerciantes dá sem questionar, com a
expressão lacónica: “sei do que se trata li n’O Despertar!”. Ora para mim, que
escrevo semanalmente neste mais antigo semanário de Coimbra gratuitamente, e
sei que estou a contribuir para a sua continuação entre nós, dá-me um gozo
redobrado. Dá para ver que as pessoas lêem o que tento transmitir e, sobretudo,
o periódico está a entrar em quase todas as lojas de comércio. Passando a vaidade,
é comum ouvir que O Despertar é o jornal dos comerciantes e da Baixa. Fico
contente? Naturalmente. Quem escreve de uma forma livre, é assim que exerço
este “part-time”, precisa de sentir que é lido e eu estou a inferir disso mesmo.
Prosseguindo na minha narração de
hoje, pelo menos onde estava o patrão –porque há casos em que a gerência se
encontra fora da cidade-, em 42 visitados, só dois não participaram, já
explicarei o porquê. Volto a repetir, é uma satisfação concluir que as pessoas,
em alguns casos sem sequer terem aberto a caixa, generosamente, puxam da nota
sem ser a contragosto. É certo que, às vezes, lá vem o recado “veja lá se
estamos a construir uma obra para os comerciantes e se, depois, não é para
entregar a essa gandulagem”, e apontam para a rua, para os “polidores de
esquinas”, como que a transmitirem que esta classe comercial é composta por
pessoas esforçadas que desde crianças se habituaram ao trabalho duro de muitas
horas no dia e hoje, apesar do desrespeito a que estão sujeitos pelos governos
do país, continuam a não abdicar da sua condição de laboriosos.
Para registo, e nada mais, vou
contar sobre as duas “negas” que recebemos. A primeira foi de um pequeno comerciante
da Praça do Comércio. Perante a nossa solicitação, começou por dizer que tinha
de saber melhor o que era isso de “Casa de Comerciante”. Prontifiquei-me a
explicar e li alguns artigos dos estatutos. A seguir arguiu que tinha de
conversar com os filhos, que não era ele que mandava. Aliás, “até estava a pensar
em fechar a porta, porque não precisava nada daquilo”. E, portanto, que
passasse outro dia qualquer. Mas que esta coisa nem fazia muito sentido. O que
era preciso era “invadir a Câmara e mostrar lá aos políticos como é que está o
comércio da Baixa”. Quem me conhece saberá que de santo não tenho nada e deverá
intuir que até aguento todas as explicações desde que não sejam a “caçoar” de
quem se está a esforçar e a tentar fazer alguma coisa. Ora este
homem estava a fazer pouco de quem estava a olhá-lo olhos nos olhos e, por isso
mesmo. Embora sucintamente, teve de me ouvir. Repliquei apenas que para esta
acção ser possível por duas vezes este ano, grupos de comerciantes foram ao
executivo e nunca o vimos, a ele, juntar-se a nós. De conversa, para os outros
fazerem, estamos todos cheios. E deixei-o a falar sozinho. É politicamente
correcto o que fiz? Não, não é! Porém, às vezes passo-me com sujeitos como este,
que passam a vida a lamuriar-se que “o Governo é assim e assado, que a
autarquia não quer saber” e sei lá mais o quê, mas quando lhes pedimos para
ajudarem não podem. Nunca estão disponíveis. Vão para a porra que os carregue,
para não dizer pior!
Quanto ao outro caso de não
contribuição, olhe, leitor, eu e o João Braga, quase que chorámos a ouvir uma pequena
comerciante, ainda nova, da Praça do Comércio. De lágrimas a querem saltar dos
olhos sem brilho e embaciados pela dor, foi-nos adiantando que no próximo Dezembro
vai encerrar. Está cheia de dívidas e não aguenta mais. O que está a vender não
dá para a renda de agora 750 euros –já foi de 900. De rosto avermelhado, talvez
pelo esforço em conter as lágrimas, diz-nos que tem feito tudo para conseguir
aguentar. Já fez uma exposição dos seus artigos no átrio de uma grande
superfície; tem tentado as feiras, mas as vendas estão muito difíceis. O que
vai fazer a tanto artigo que está na loja? Interroga. Puxa d’O Despertar da
semana passada, apontando o título “Venda ambulante Regulamentada vai
dignificar a Praça do Comércio”, e questiona: “o senhor sabe se vão abrir
concurso para mais pontos de venda? É que estou a tentar todos os meios para
fazer face às despesas e conseguir sobreviver com a minha família.”
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