São 21h30 desta quarta-feira. As
Ruas da Louça, Corvo, Eduardo Coelho e Padeiras estão desertas de vivalmas. Na
Praça do Comércio, os restaurantes “A Taberninha” e ao lado o “Praça Velha”
estão vazios de clientes. Na esplanada deste reputado café, Vitor Silva, o
gerente, conversa com o “Zé” Neto, do estabelecimento com o mesmo nome ali ao
lado na Rua das Azeiteiras, que está de mãos nos bolsos, como se esperasse
clientes vindos do infinito. Na Rua Adelino Veiga, no Restaurante Paço do Conde,
o Alfredo prepara-se para mandar tocar o clarim para “destroçar” o pessoal. Ao
lado, no antigo Saul Morgado, o “Be Fado” prepara-se para iniciar uma sessão de
fados. No salão inferior nem uma pessoa, no superior meia dúzia preparam-se
para ouvir um espectáculo que nem de perto dará para as despesas afectas.
Volto atrás e sigo em direcção às
Escadas do Gato. O restaurante junto à igreja de São Bartolomeu está a encerrar.
Mais à frente, os três da Rua de Sargento-mor a mesma coisa. O “Aeminum”, pelos
poucos comensais, aparentemente, prepara-se também para dar por terminada a sua
faina laboriosa. Subo até ao Largo da Portagem. Nesta praça, do alto do seu pedestal,
Joaquim António de Aguiar, como faroleiro, verifica que os cafés Montanha,
Briosa, Toledo, e gelataria Itália estão todos já com as esplanadas recolhidas
e prontos a bater em retirada. Entro n’A Brasileira e tomo um café acompanhado
por dois clientes na mesa ao lado. O Mário, o gerente, está a recolher a ementa
que faz sentinela à porta e comenta comigo que dentro de meia-hora vai fechar.
Não há pessoas e, pelos elevados custos, não dá. Saio e sigo em frente. As Ruas
Ferreira Borges e Visconde da Luz estão praticamente vazias de transeuntes.
Estas artérias estão despovoadas de gente e nem o facto de estar um tempo outonal,
com algum frio e a prometer chuva pode explicar esta total deserção. A Praça 8
de Maio, com o Café Santa Cruz encerrado esta semana para manutenção, parece o
largo da minha aldeia. Nem um cão ladra, nem um gato mia. Os estabelecimentos em
redor ou estão prestes a encerrar, como é o caso do Restaurante Carmina de
Matos e do “Indiano”, na entrada da Rua do Corvo, ou estão já fechados.
Já escrevi vários textos sobre
esta Baixa que puxa os lençóis e abre a cama às 19h00 e vai deitar-se nela às
22h00, como as galinhas. Isto não pode continuar. É a falência total dos poucos
estabelecimentos de hotelaria que vão resistindo. Não se pode entender que a
zona da Sé Velha e a Praça da República tenham excesso de pessoas noctívagas, a ponto de serem gerados conflitos com os residentes, e esta zona velha e histórica
esteja completamente entregue aos pombos a dormirem nos beirais. Alguma coisa,
com urgência, terá de ser feita. E a meu ver, perante esta catástrofe anunciada,
a edilidade deveria meter mãos à obra. Em face do desastre que se prevê, a
Câmara Municipal não pode ser apenas uma entidade que serve para licenciar
novos investimentos na cidade e nos seus arredores, e sem levar em conta a
sobrevivência dos instalados há décadas e que contribuem para a vida intestina da
urbe. A autarquia tem uma responsabilidade sobre os ombros redobrada, e o que
se nota é que continua a assobiar para o lado como se nada se passasse mesmo
nas suas barbas. O Paço do Concelho não pode continuar a ser apenas uma espécie
de quarto onde, durante umas horas, se vai despejar os egos de todos os espíritos
arrebanhados. Não pode. Não deve. É impossível o executivo e a oposição e até a
Assembleia Municipal continuarem a ignorar o que está acontecer na Baixa.
Estamos perante uma mortandade comercial e, sabe-se lá por quê, ninguém se
importa. São precisas medidas políticas de fundo para esta zona de antanho. É
difícil de ver? É necessário fazer um desenho? Quantas tertúlias sobre esta
parte histórica serão precisas fazer mais para o poder da Praça 8 de Maio
acordar da letargia em que está invernado?
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