Hoje, durante a tarde, a título
experimental, as ruas da Baixa foram invadidas pelo saudoso grito do ardina: “OLHOOOOÓ…
DESPERTAR! É P’RÓ MENINO E P’RÁ MENINA! TRAZ A NOTÍCIA DO MACHADO QUE VAI
RACHAR A CÂMARA AO MEIO! … OLHOOOOÓ DESPERTAR!”
Quem assim gritava a plenos
pulmões era o Victor Manuel Lucas. E quem é o Victor Lucas? Calma, eu vou
contar tudo. Faça o favor de não me pressionar. É que em stresse não funciono.
Não dou uma “p’ra caixa”. Não sei se me entende. Vou então continuar. Recomeço por
dizer que o Victor, para além de ser uma pessoa humilde e a quem o trabalho não
mete medo, é um “self made man”. Um homem dos sete ofícios. Foi pintor de
construção civil. Actualmente é vendedor nas diversas feiras de velharias da
zona centro, é pintor de belas artes, autodidata, é restaurador de arte na
Lousã, onde reside, e tanta coisa que nem sei. Mas vamos lá contar como é que o
Victor é “arrastado” para uma nova função: a de ardina. Como muitos leitores
saberão, o jornal O Despertar é o mais antigo semanário de Coimbra. Do alto dos
seus 95 anos, tal como outros irmãos mais novos na imprensa, vive com
dificuldades. Desde o actual proprietário Lino Vinhal, que adquiriu o título à
família Fausto Correia com a promessa de não o deixar morrer, até à directora,
Zilda Monteiro, que é uma espécie de “faz tudo”, e passando pelo abnegado
esforço do Carlos Dinis, na paginação. De uma forma altruísta e
desinteressada, na vanguarda do jornal está uma vasta equipa que corre por amor à
camisola. Como colaboradores escrevem a Alda Belo, a Alda Constança, a Clara
Luxo Correia, o Eduardo Proença Mamede, o João baptista, o Joaquim Belizário
Borges, o Joaquim Vieira, o José Andrade, a Lucinda Ferreira, o Manuel Bontempo,
a Paula Alexandra Almeida, o Sansão Coelho, o António Piedade e a mais recente aquisição, transferido
de um grande jornal nacional, e que agora nem recordo o nome, o Luís Fernandes,
que, por acaso, sou eu. Gostaria de referir também o José Soares, desaparecido
do nosso meio dos vivos há pouco tempo, e que durante muitos anos deu o seu
melhor para que este semanário continuasse a aparecer nas bancas semanalmente.
Continuando, nas calmas, vou
agora então contar como é que surgiu esta ideia de voltarmos novamente a ouvir o grito
do jornaleiro, e que tanta nostalgia nos transmite, nas ruas da cidade. Aconteceu
por acaso. Conversámos todos sobre este assunto e decidiu-se fazer a experiência.
Por parte da administração apenas se pretende a divulgação deste meio de
informação. Não está em causa o custo da edição. Como tal, e sendo assim, o que
interessa mesmo é que você adquira e leia O Despertar. Se não puder pagar os 75
cêntimos de capa fale com o Victor, o “novo ardina da saudade”, que, tenho a certeza,
ele não deixará de lho entregar. Fale é com ele. Não lhe atire um olhar de
distanciamento.
Hoje e no futuro o tempo vai
andar para trás na Baixa. Como o ensaio preliminar correu muito bem, ficam os
leitores a saber que todas as sextas-feiras o Victor vai encantar-nos com o seu
pregão: “OLHOOOÓ DESPERTAR!”. Gostaria só de chamar a atenção de que a
permanência deste novo e respeitado ardina passará sempre por si. Dê-lhe um sorriso
de consideração e, sobretudo, se puder, adquira-lhe o jornal mesmo muito abaixo do seu custo anunciado.
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