(Imagem da Web)
Maria Ferreira mora do outro
lado do rio onde, segundo a lenda, a Rainha Santa teria percorrido veredas e sendas
para fugir aos olhares perscrutadores de Dom Dinis e assim poder alimentar os
muitos pobres que lhe bateriam à porta do seu abastado convento. Maria tem 77
anos. Sobre a presença omnipotente do telefone fixo, que serve para comunicar
com algumas amigas e é um instrumento fundamental na sua ligação com o
exterior, a televisão marca também o seu espaço na sua casa de aconchego. Como
quase todas as pessoas da sua vetusta idade, o percurso dos dias é passado
entre as várias telenovelas, que lhe fazem companhia e alimentam a alma, e um
croché que, como vício empedernido e apesar da vista já não ser o que era,
teima em não a largar.
Há cerca de um mês recebeu uma
ligação telefónica: “boa tarde! Como a senhora é nossa cliente fiel há mais de vinte
anos no telefone, temos o prazer de a informar de que foi contemplada com um
Vale Postal de 200 euros. Se, por acaso, a chamada cair faça o favor de ligar
para o seguinte número… Tem aí uma esferográfica? Então aponte, se faz favor.
Telefone à vontade que a chamada é grátis”. Entretanto a ligação caiu. Maria
fez o que lhe foi recomendado pela voz masculina, mas teve o cuidado de
interrogar: “diga-me, senhor, eu não vou pagar mesmo nada? De certeza? Posso
confiar?”. E a voz adocicada respondeu: “ó dona Maria, por favor! Claro que não
vai pagar nada. Pelo contrário, por ser uma cliente fiel, vai receber um prémio
de 200 euros dentro de duas a três semanas”. E Maria Ferreira confiou. Confrontada
com perguntas fúteis e de cacaracá foi descarregando o espírito. Afinal o homem
era tão simpático! Quando estava prestes a desligar a voz de assédio falava-lhe
da vida complicada dos reformados e o quanto este Governo está a tornar a sua
existência difícil. E lá foi prolongando a conversa, e assim se manteve,
durante cerca de vinte minutos.
As semanas foram passando, e, do
referido prémio anunciado, nada. Até que veio a factura mensal da Portugal Telecom
e Maria apanhou um grande susto: “chamada de valor acrescentado, 20 minutos, 35
euros.”
Valeu-lhe ter desabafado com a
Madalena Martins, a “Lena do Quiosque Espírito Santo”, junto ao Café Santa
Cruz. Como já alertou tantas velhinhas para este tipo de burlas que até já lhe perdeu a conta, mais uma
vez, encaminhou Maria Ferreira para a Portugal Telecom, na Loja do Cidadão.
Aqui, perante a reclamação, os serviços desta empresa barraram o número
indicado e descontaram a chamada de valor acrescentado.
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