A NOTÍCIA DO DESASSOSSEGO
Não é a primeira vez que escrevo
que gosto muito do Diário de Coimbra (DC). Tenho várias razões que não irei
aqui dissecar. No entanto, tal como já tenho feito em vezes anteriores, essa
ternura, essa aproximação, por uma questão de seriedade comigo e com quem faz o
favor de ler o que escrevo, não impede que deixe de sublinhar alguns erros
cometidos. Claro que se pode sempre interrogar: "e quem és tu para fazeres
reparos ao segundo mais antigo jornal da cidade?". A isso respondo que do
ponto de vista profissional, de jornalismo, e social sou insignificante, mas já
do alcance antropológico, como ente, como cidadão, como assinante,
que vive na cidade, sou significante. Por isso, sobretudo por ser pessoa, tenho
opinião.
Isto tudo para dizer que não se
pode conceber que o DC, uma escola de jornalismo, uma instituição, durante dois
dias seguidos faça título com o mesmo assunto. Sobretudo quando versa a
violência, o crime, o assassínio. É certo que do ponto de vista comercial está
certo. Afinal a capa do jornal é a sua montra. Mas um periódico não é
exactamente uma loja comercial. A sua responsabilidade colectiva e social vai
muito mais além. Acima de tudo porque é um instrumento de influência para o
cosmos, que é a cidade e o seu meio envolvente. Ora o jornal ao usar o mesmo
assunto em título de "caixa alta", durante dois dias seguidos, está a
promover a inquietação, o desassossego. Quanto ao primeiro dia nada há a dizer.
Aconteceu e o diário noticiou. Bem sei que é apenas um critério, mas o facto de
a idosa ter sido assassinada com 14 tiros será motivo para anúncio repetido?
Este título poderia ter sido apenas a escolha possível entre outros menos
apelativos, porém, a meu ver, o jornal prestou um mau serviço à comunidade.
Estou a exagerar? Por que é uma pertinência possível. Pode ser, mas ouvi hoje,
aqui na Baixa, várias pessoas, sobretudo idosas, a comentarem o elevado índice
de criminalidade na cidade. Ou seja, esta informação em duplicado na primeira
página vai contribuir para as tornar mais inseguras e menos felizes. E um
jornal, mesmo respeitando o seu primado, que é informar, deve também formar e
contribuir para a felicidade da sociedade. Estarei certo ou estarei errado?
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