quinta-feira, 1 de novembro de 2012

LEIA O DESPERTAR...


         
LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA 

Para além  do texto "A PSICOLÓGICA INSEGURANÇA DA BAIXA", deixo também a crónica "A CASA DO COMERCIANTE VAI ARRANCAR"




A PSICOLÓGICA INSEGURANÇA DA BAIXA

 Tenho um colega comerciante que afirma que há um movimento em marcha, constituído por jornalistas à cabeça, apostado em denegrir a Baixa e mostrar que é muito insegura. Desde sempre rebati este argumento. Sempre achei, e sempre lhe disse, que jornalistas e comerciantes estão em campos opostos. Os primeiros, os jornalistas, desde que façam um trabalho sério em informação, relatando factos, não se lhes podem apontar nada. Estes profissionais da comunicação vivem da notícia. Os segundos, os comerciantes, naturalmente que apostam na sonegação de anúncios de ocorrências delituosas porque, em princípio, pensam que a sua divulgação pode afastar clientes. Mas se até se entende esta preocupação, está de ver que não pode ser assim. Há apenas que respeitar o labor de cada uma das partes. Individualmente, para se conviver harmoniosamente em comunidade, temos de dar um pouco do nosso interesse egoísta para haver um resultado homogéneo em prol de todos. Porque a questão é, vivemos melhor em liberdade, sabendo o que se passa à nossa volta, ou sem ela? Creio que quanto à resposta estamos entendidos. O problema começa quando esta liberdade é extrapolada e ultrapassa o campo da seriedade. Vou exemplificar com um caso, há poucas semanas, em que levei nas “trombas” na minha reiterada argumentação. Vou contar.
No dia da última “noite branca”, promovida pela APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, andou por aqui uma jornalista do “Correio da Manhã” a entrevistar cidadãos sobre a segurança na cidade. Eu fui um dos visados em depoimento. Como tenho acompanhado de perto este eclodir de violência sobre pessoas e bens, e tenho tudo documentado no blogue, contei-lhe o que aconteceu entre 2007 e 2008, em que chegaram a ser várias estabelecimentos assaltados na mesma noite, e em que um grupo de comerciantes foi à edilidade exigir medidas preventivas e daí, talvez por influência, viria a surgir a implantação das 17 câmaras de videovigilância -12 com recurso a gravação e 5 apenas para controlo de tráfego. Disse-lhe também que nessa altura entre 2007 e 2008, aquando do pico máximo de atentados contra a propriedade, fui assaltado três vezes. Tive o cuidado, e sublinhei, de lhe dizer que após a fixação da videovigilância as ocorrências caíram a pique. E que a Baixa, salvo pequenos casos pontuais, atualmente é muito segura. Embora, nestes últimos três anos, tivessem havido casos ocasionais, como os assaltos à Ourivesaria Costa, perfumaria Balvera e perfumaria Pétala. Disse também que a localização das máquinas de captação de imagens, provavelmente, não estará estabelecida nos melhores locais, até porque só visionam as entradas e não o interior do miolo da Baixa. Foi uma conversa de mais de 15 minutos. Ora o que veio publicado no “Correio da Manhã”, do dia 5 deste mês de outubro, com assinatura de Paula Gonçalves, com o título “Mapa do crime Coimbra”, era um trabalho com números estatísticos nos diversos pontos da cidade e com argumentos de várias pessoas. No tocante às minhas declarações, dizia apenas isto: “Fui assaltado três vezes. A situação melhorou com a instalação na Baixa de videovigilância, em 2009. Mas o sistema perde eficácia porque as câmaras só estão instaladas em locais periféricos.”
Ora, para mim que também escrevo todos os dias, afirmo que ao serem publicadas apenas afirmações cirúrgicas, sem o contexto que lhe deu forma, deturpa completamente a verdade. Ou seja, para melhor se entender, a jornalista ao escrever que fui assaltado três vezes, sem apresentar o tempo dessas ocorrências –foi em 2007 e 2008-, está a faltar à exatidão a que está obrigada pelo seu código deontológico. Isto porque relatar apenas que fui assaltado sem dizer quando deixa o leitor na ideia de que foi recentemente, quando não é a realidade. Para mim que escrevo, embora não sendo jornalista mas sei como fazer o tratamento das palavras ditas em depoimento, chamo a isto, a este mau trabalho, “processo de intenção”. Acontece assim quando alguém já com um pensamento formado “a priori”, com um propósito interesseiro, apenas retira de uma entrevista o que lhe convém e vem de encontro ao que tinha antecipadamente preformado.


Em resumo, é preciso que todos sejamos sérios na descrição de acontecimentos. Por exemplo, mesmo até em blogues, só porque se constou que houve um assalto de esticão na “rua do volta atrás” não se pode escrever linearmente sem saber o que aconteceu. É preciso o LEAD da notícia: "onde", "quando" e "quem". Por outras palavras, onde aconteceu, quando aconteceu –cá está a data precisa no tempo- e a quem aconteceu. Quem é a vítima? De quem se trata? Se não houver identidade, obrigatoriamente terá de haver de alguém que testemunhou a ocorrência. Sem esta prova testemunhal não pode haver notícia. É um boato. E um blogue ao dar-lhe repercussão está a fazer um mau serviço público, no sentido em que está a ampliar um “diz que disse” que pode nem sequer existir. Todos somos mensageiros. Do bem e do mal. Não há mal nenhum em ser de um ou do outro, desde que sejamos honestos. Pela informação, todos ficamos mais enriquecidos e a ganhar.
A questão final que subjaz é: a Baixa é insegura? Não senhor. Apesar dos seus pequenos delitos pontuais igual a qualquer lugar habitado, pode andar-se por aqui, dia e noite dentro, que não existe qualquer problema real. É provável que durante a escuridão de sombras, pelo pouco movimento de transeuntes, esta sensação psicológica aumente.


A CASA DO COMERCIANTE VAI ARRANCAR

 Dentro de poucos dias vai ser feita a apresentação pública da “Casa do Comerciante da Cidade de Coimbra” (CCCC). Depois de ter sido consignada uma loja em regime de comodato (a título de uso gratuito) pelo prazo de 5 anos, prorrogáveis, a B-25, no primeiro andar do Mercado Municipal de Coimbra, pela Câmara Municipal de Coimbra, neste momento os estatutos estão prontos para escritura pública e promulgação.
A génese desta iniciativa tem por base uma dívida da autarquia com uma dezena de anos.  É que em cumprimento da promessa transcrita na ata de 14 de Outubro de 2002 em que, em compensação aos comerciantes de rua da cidade, pela aprovação do Fórum Coimbra, a Câmara Municipal prometia ceder um terreno para a construção da “Casa do Comerciante”. Pelo rigor histórico,  Lembro que esta reivindicação foi acerrimamente defendida pelo então, à época, vice-presidente da autarquia e também presidente da ACIC, Horácio Pina Prata. Perante as constantes falências dos operadores comerciais e muitos deles a caírem na indigência –lembro que não têm direito a subsídio de desemprego-, em 13 de Fevereiro, deste ano, um grupo de comerciantes apresentou-se no executivo a reivindicar o cumprimento da promessa feita. Porém, com uma alteração substancial, que não lhe fosse cedido o terreno para construção mas antes sim uma casa, um espaço, para o projeto arrancar. Nessa altura, executivo e oposição estiveram de acordo de que de facto era obrigação da edilidade dar andamento ao pedido e que tudo se faria para ceder um lugar. Os meses foram passando e, como não viesse fumo branco do paço, novamente em 11 de junho um grupo de mercadores se apresentou na edilidade a recordar o compromisso feito uns meses antes e já com os estatutos constituídos. Esta “comissão instaladora” é formada por Luís Quintans, Armindo Gaspar, Arménio Pratas, Francisco Veiga, Henrique Ramalhete, António Pereira e João Braga. Salienta-se o facto destes profissionais vendedores se apresentarem na câmara, não com uma posição de exigência direcionada para um edifício sede –esse será o ideal a médio prazo- mas apenas para um espaço onde, com o tempo, se materializará o planeado, com uma ideia bem definida. Correndo o risco de ser apelidada de pouco ambiciosa, é intenção desta comissão que, tal como qualquer obra, este empreendimento deve começar das fundações e, consoante a vontade dos interessados, se multiplicará ou morrerá. É aos comerciantes, no seu conjunto, que cabe contribuírem para o desenvolvimento desta construção solidária e mostrarem que estão dispostos a lutarem por ela.



CASA DO COMERCIANTE, COMO?

Este projeto, pioneiro no país, pretende ser, através dos seus estatutos, uma sociedade civil de direito privado, sem fins lucrativos, no futuro e quando houver instalações, um retiro destinado aos comerciantes necessitados da cidade. Nesta primeira fase, a CCCC tem por propósito ajudar monetariamente, ou com géneros, comerciantes profissionais, impossibilitados pela idade, por doença, ou por motivo grave de prover o seu próprio sustento e de modo assegurar o mínimo de condições de sobrevivência.

E DINHEIRO HÁ?

Pois aqui é que reside o fundamental desta ação. É que nem para a escritura e promulgação dos estatutos há verba. Parte-se do zero. Durante a próxima semana alguns membros da comissão instaladora percorrerão os estabelecimentos da Baixa a solicitarem uma pequena ajuda para as primeiras despesas –esta importância antecipada será descontada nas quotas futuras de associados. No entanto, e aqui reside o desafio, os mentores da ideia, mesmo sabendo das imensas dificuldades, acreditam na boa vontade coletiva e estão otimistas quanto ao futuro. Com a ajuda da Câmara Municipal e envolvendo outras associações da cidade, contam proximamente realizar uma “Feira de Mesteres”, no Largo das Olarias, e cuja receita reverterá para a CCCC. Para além disso, pretendem amiúde vezes realizar leilões de peças doadas para o efeito –neste momento já detém a promessa de 25 pinturas originais que constituirá o primeiro passo. Para além destas ideias, aspiram também fazer um sorteio de rifas cujo prémio, em princípio, poderá ser um automóvel antigo e doado como prémio. Como ponto de agregação de todo o tecido comercial, tencionam, uma vez por mês, fazer um jantar na Baixa e cuja receita, em parte, reverta para esta causa social.
Comerciantes e público em geral, que detém na sua história familiar um negociante, vamos todos dar um pouco do que nos faz falta para, ajudando quem está pior do que nós, tornar este sonho possível?


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