LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA
Para além do texto "A PSICOLÓGICA INSEGURANÇA DA BAIXA", deixo também a crónica "A CASA DO COMERCIANTE VAI ARRANCAR"
A PSICOLÓGICA INSEGURANÇA DA BAIXA
Tenho um colega comerciante que
afirma que há um movimento em marcha, constituído por jornalistas à cabeça,
apostado em denegrir a Baixa e mostrar que é muito insegura. Desde sempre
rebati este argumento. Sempre achei, e sempre lhe disse, que jornalistas e
comerciantes estão em campos opostos. Os primeiros, os jornalistas, desde que
façam um trabalho sério em informação, relatando factos, não se lhes podem
apontar nada. Estes profissionais da comunicação vivem da notícia. Os segundos,
os comerciantes, naturalmente que apostam na sonegação de anúncios de
ocorrências delituosas porque, em princípio, pensam que a sua divulgação pode
afastar clientes. Mas se até se entende esta preocupação, está de ver que não
pode ser assim. Há apenas que respeitar o labor de cada uma das partes. Individualmente,
para se conviver harmoniosamente em comunidade, temos de dar um pouco do nosso
interesse egoísta para haver um resultado homogéneo em prol de todos. Porque a
questão é, vivemos melhor em liberdade, sabendo o que se passa à nossa volta,
ou sem ela? Creio que quanto à resposta estamos entendidos. O problema começa
quando esta liberdade é extrapolada e ultrapassa o campo da seriedade. Vou
exemplificar com um caso, há poucas semanas, em que levei nas “trombas” na
minha reiterada argumentação. Vou contar.
No dia da última “noite branca”,
promovida pela APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, andou por
aqui uma jornalista do “Correio da Manhã” a entrevistar cidadãos sobre a
segurança na cidade. Eu fui um dos visados em depoimento. Como tenho
acompanhado de perto este eclodir de violência sobre pessoas e bens, e tenho
tudo documentado no blogue, contei-lhe o que aconteceu entre 2007 e 2008, em
que chegaram a ser várias estabelecimentos assaltados na mesma noite, e em que
um grupo de comerciantes foi à edilidade exigir medidas preventivas e daí,
talvez por influência, viria a surgir a implantação das 17 câmaras de
videovigilância -12 com recurso a gravação e 5 apenas para controlo de tráfego.
Disse-lhe também que nessa altura entre 2007 e 2008, aquando do pico máximo de
atentados contra a propriedade, fui assaltado três vezes. Tive o cuidado, e
sublinhei, de lhe dizer que após a fixação da videovigilância as ocorrências
caíram a pique. E que a Baixa, salvo pequenos casos pontuais, atualmente é
muito segura. Embora, nestes últimos três anos, tivessem havido casos
ocasionais, como os assaltos à Ourivesaria Costa, perfumaria Balvera e
perfumaria Pétala. Disse também que a localização das máquinas de captação de
imagens, provavelmente, não estará estabelecida nos melhores locais, até porque
só visionam as entradas e não o interior do miolo da Baixa. Foi uma conversa de
mais de 15 minutos. Ora o que veio publicado no “Correio da Manhã”, do dia 5
deste mês de outubro, com assinatura de Paula Gonçalves, com o título “Mapa do
crime Coimbra”, era um trabalho com números estatísticos nos diversos pontos da
cidade e com argumentos de várias pessoas. No tocante às minhas declarações,
dizia apenas isto: “Fui assaltado três vezes. A situação melhorou com a
instalação na Baixa de videovigilância, em 2009. Mas o sistema perde eficácia
porque as câmaras só estão instaladas em locais periféricos.”
Ora, para mim que também escrevo
todos os dias, afirmo que ao serem publicadas apenas afirmações cirúrgicas, sem
o contexto que lhe deu forma, deturpa completamente a verdade. Ou seja, para
melhor se entender, a jornalista ao escrever que fui assaltado três vezes, sem
apresentar o tempo dessas ocorrências –foi em 2007 e 2008-, está a faltar à exatidão
a que está obrigada pelo seu código deontológico. Isto porque relatar apenas
que fui assaltado sem dizer quando deixa o leitor na ideia de que foi
recentemente, quando não é a realidade. Para mim que escrevo, embora não sendo
jornalista mas sei como fazer o tratamento das palavras ditas em depoimento,
chamo a isto, a este mau trabalho, “processo de intenção”. Acontece assim
quando alguém já com um pensamento formado “a priori”, com um propósito
interesseiro, apenas retira de uma entrevista o que lhe convém e vem de
encontro ao que tinha antecipadamente preformado.
Em resumo, é preciso que todos
sejamos sérios na descrição de acontecimentos. Por exemplo, mesmo até em
blogues, só porque se constou que houve um assalto de esticão na “rua do volta
atrás” não se pode escrever linearmente sem saber o que aconteceu. É preciso o
LEAD da notícia: "onde", "quando" e "quem". Por
outras palavras, onde aconteceu, quando aconteceu –cá está a data precisa no
tempo- e a quem aconteceu. Quem é a vítima? De quem se trata? Se não houver
identidade, obrigatoriamente terá de haver de alguém que testemunhou a
ocorrência. Sem esta prova testemunhal não pode haver notícia. É um boato. E um
blogue ao dar-lhe repercussão está a fazer um mau serviço público, no sentido
em que está a ampliar um “diz que disse” que pode nem sequer existir. Todos
somos mensageiros. Do bem e do mal. Não há mal nenhum em ser de um ou do outro,
desde que sejamos honestos. Pela informação, todos ficamos mais enriquecidos e a
ganhar.
A questão final que subjaz é: a
Baixa é insegura? Não senhor. Apesar dos seus pequenos delitos pontuais igual a
qualquer lugar habitado, pode andar-se por aqui, dia e noite dentro, que não
existe qualquer problema real. É provável que durante a escuridão de sombras,
pelo pouco movimento de transeuntes, esta sensação psicológica aumente.
A CASA DO COMERCIANTE VAI ARRANCAR
Dentro de poucos dias vai ser
feita a apresentação pública da “Casa do Comerciante da Cidade de Coimbra”
(CCCC). Depois de ter sido consignada uma loja em regime de comodato (a título
de uso gratuito) pelo prazo de 5 anos, prorrogáveis, a B-25, no primeiro andar
do Mercado Municipal de Coimbra, pela Câmara Municipal de Coimbra, neste
momento os estatutos estão prontos para escritura pública e promulgação.
A génese desta iniciativa tem por
base uma dívida da autarquia com uma dezena de anos. É
que em cumprimento da promessa transcrita na ata de 14 de Outubro de 2002 em
que, em compensação aos comerciantes de rua da cidade, pela aprovação do Fórum
Coimbra, a Câmara Municipal prometia ceder um terreno para a construção da
“Casa do Comerciante”. Pelo rigor histórico, Lembro que esta
reivindicação foi acerrimamente defendida pelo então, à época, vice-presidente
da autarquia e também presidente da ACIC, Horácio Pina Prata. Perante as
constantes falências dos operadores comerciais e muitos deles a caírem na
indigência –lembro que não têm direito a subsídio de desemprego-, em 13 de
Fevereiro, deste ano, um grupo de comerciantes apresentou-se no executivo a
reivindicar o cumprimento da promessa feita. Porém, com uma alteração
substancial, que não lhe fosse cedido o terreno para construção mas antes sim
uma casa, um espaço, para o projeto arrancar. Nessa altura, executivo e
oposição estiveram de acordo de que de facto era obrigação da edilidade dar
andamento ao pedido e que tudo se faria para ceder um lugar. Os meses foram
passando e, como não viesse fumo branco do paço, novamente em 11 de junho um
grupo de mercadores se apresentou na edilidade a recordar o compromisso feito
uns meses antes e já com os estatutos constituídos. Esta “comissão instaladora”
é formada por Luís Quintans, Armindo Gaspar, Arménio Pratas, Francisco Veiga,
Henrique Ramalhete, António Pereira e João Braga. Salienta-se o facto destes
profissionais vendedores se apresentarem na câmara, não com uma posição de
exigência direcionada para um edifício sede –esse será o ideal a médio prazo-
mas apenas para um espaço onde, com o tempo, se materializará o planeado, com
uma ideia bem definida. Correndo o risco de ser apelidada de pouco ambiciosa, é
intenção desta comissão que, tal como qualquer obra, este empreendimento deve
começar das fundações e, consoante a vontade dos interessados, se multiplicará
ou morrerá. É aos comerciantes, no seu conjunto, que cabe contribuírem para o
desenvolvimento desta construção solidária e mostrarem que estão dispostos a
lutarem por ela.
CASA DO COMERCIANTE, COMO?
Este projeto, pioneiro no país,
pretende ser, através dos seus estatutos, uma sociedade civil de direito
privado, sem fins lucrativos, no futuro e quando houver instalações, um retiro
destinado aos comerciantes necessitados da cidade. Nesta primeira fase, a CCCC
tem por propósito ajudar monetariamente, ou com géneros, comerciantes
profissionais, impossibilitados pela idade, por doença, ou por motivo grave de
prover o seu próprio sustento e de modo assegurar o mínimo de condições de
sobrevivência.
E DINHEIRO HÁ?
Pois aqui é que reside o
fundamental desta ação. É que nem para a escritura e promulgação dos estatutos
há verba. Parte-se do zero. Durante a próxima semana alguns membros da comissão
instaladora percorrerão os estabelecimentos da Baixa a solicitarem uma pequena
ajuda para as primeiras despesas –esta importância antecipada será descontada
nas quotas futuras de associados. No entanto, e aqui reside o desafio, os
mentores da ideia, mesmo sabendo das imensas dificuldades, acreditam na boa
vontade coletiva e estão otimistas quanto ao futuro. Com a ajuda da Câmara
Municipal e envolvendo outras associações da cidade, contam proximamente realizar
uma “Feira de Mesteres”, no Largo das Olarias, e cuja receita reverterá para a
CCCC. Para além disso, pretendem amiúde vezes realizar leilões de peças doadas
para o efeito –neste momento já detém a promessa de 25 pinturas originais que
constituirá o primeiro passo. Para além destas ideias, aspiram também fazer um
sorteio de rifas cujo prémio, em princípio, poderá ser um automóvel antigo e
doado como prémio. Como ponto de agregação de todo o tecido comercial,
tencionam, uma vez por mês, fazer um jantar na Baixa e cuja receita, em parte,
reverta para esta causa social.
Comerciantes e público em geral,
que detém na sua história familiar um negociante, vamos todos dar um pouco do
que nos faz falta para, ajudando quem está pior do que nós, tornar este sonho
possível?
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