Apesar de, em pose de descanso, aparentar uma certa
dureza nas bentas é um animal dócil. Se eventualmente o contemplarmos e o
envolvermos num olhar, mesmo de comiseração, parece voltar a ser o traquinas que já foi, que calcorreou
telhados e caminhos ásperos, e sorri para nós. É como se aquela rijeza no rosto
fosse uma máscara que o tempo se encarregou de moldar ao seu jeito. Pelos contornos
de um certo ar pachorrento e bigodes que teimam em romper, parece um gato
enorme. Apesar de abandonado, e diariamente dormir na soleira da porta das
desaparecidas Galerias Coimbra junto à Praça do Comércio, conserva uma
avantajada barriga, o que, tendo em conta a sua situação, é um contra-senso.
Pelo estereótipo, de vadio desprezado, deveria ser um trinca-espinhas, um magricela anoréctico, o que só por isso já nos
causa conforto, alivia a nossa consciência e, sem pesos na percepção, nos faz
seguir em frente para as nossas vidas atribuladas. Afinal, animais abandonados
há por aí às dezenas pelos becos, ruelas e pracetas. Se fossem capazes de
entender, saberiam que deveriam sair para longe do nosso olhar, para os prédios
decrépitos em torno da cidade. Mas não entendem e, como se fossem almas penadas
que vieram a este mundo para nos assombrar, teimam em vir dormir para qualquer
canto e quase que tropeçamos neles.
Este animal gordo, avermelhado e de cara
cheia, para além de teimar em dormir sempre no mesmo sítio, agora deu em
tossir, tossir, de uma forma impressionante. Coitados dos moradores que,
deitados numa aconchegada cama, por ali fazem por descansar e têm de gramar os “latidos” tossicados do pobre bicho. O que é estranho é haver tantas
associações de animais e nenhuma delas se ocupar dele. É estranho, não é? Se
calhar estão à espera que ele morra! Ai, que Deus me perdoe, que não lhe quero
mal algum! Palavra de honra! Mas, tenho que dizer, tomara que vá para os
anjinhos o mais depressa possível! Apesar de ser uma desgraçada besta deve
sofrer. Assim, se ao menos batesse as patas calejadas e muito sujas, sempre era
os dois em um: perdia de vez o sofrimento e evitava que tivéssemos de levar com
aquele quadro de miséria.
Já escrevi, aqui e também n'O Despertar sobre este caso no princípio deste mês. Parece-me que quem deveria tomar atenção não tomou. Porque não morres e teimas em viver nestas condições, António José Vaz Monteiro?
TEXTOS RELACIONADOS
"O que vai acontecer ao Anildo Monteiro?"
"Carta de um sem-abrigo ao "shô prejidente"
"O caso Anildo Monteiro"
"Alô, alô...Anildo...estás bem?"
"O caso Anildo Monteiro -continuação"
"Indigne-se contra esta miséria humana"
"Uma resposta vinda dos Estados Unidos"
"A solidariedade simpática"
"Uma imagem por acaso"
"O pingue-pongue do Anildo"
"De que rirá o Cristo-negro?"
"Uma constatação e ensaio"
"O Cristo Negro da Maracha"
"Um Cristo preto sem cruz"
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