(Da minha autoria, esta crónica
foi publicado no Diário De Coimbra em 11 de Junho de 1994. Porque, agora, pretendo
escrever um texto e servir-me do que nele defendi, na altura, tomo a liberdade
de o transcrever novamente)
Em 1968,
na Praça da República o rei da hotelaria era o Mandarim, local de paragem
obrigatória, sem excepção, de todos os boémios e universitários. Com o velho e
saudoso Antunes, sempre prestável e pronto a financiar as exíguas bolsas dos
futuros ministros, deputados e até os estudantes que viriam a ser os
presidentes das Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira.
Sempre com a habitual recomendação aos empregados –o Hugo Veiga, o
saudoso Hugo “fininho”, o Pardal, o Mendes, o Santos, o Talina, o Abreu, o Reis
(Badaró), o Manaia e outros que não lembro-: “sempre que atendam um cliente de
gravata ou de capa e batina tem que ser apelidado de “Excelência” ou “Senhor
Doutor!” –ordenava o senhor Antunes.
Às vezes acontecia tratar por “doutor” o motorista do Delegado de
Saúde, de então, apenas porque trajava bem e… usava gravata.
Nas crises académicas de 1969, foi nesta casa histórica que a maioria
de estudantes se refugiou da polícia, embora esta acabasse por irromper e distribuísse,
sem cerimónia, bastonadas a torto e a direito.
Pessoas como o senhor Antunes, tal como o “Zé Trego” na Alta coimbrã,
foram anónimos passantes da história mas de grande e profundo significado que,
com a sua benemerência e sensibilidade, marcaram toda uma geração.
Do outro
lado da praça, outro local de paragem obrigatória era o velho Moçambique, com
os bilhares e o proprietário, o velho Fontes.
No outro canto, o café Tropical com o Daniel (Tibério) e mais ao lado
nasceu, então, pela mão do saudoso Aurélio, o Académico que viria a ser, nos
anos seguintes, ponto obrigatório de encontro entre estudantes e futricas. Nasceu,
também, por esta altura o café Pigalle, pela mão do velho Patrício.
A praça,
nesta década de 1960, só, com estes bares e snacks-bares funcionava
perfeitamente. Nos anos seguintes foram surgindo, em substituição de mercearias
–a do senhor João e a do velho Teles- novos restaurantes e novos bares. Ou
seja, a Praça da República, nas décadas seguintes, ficou mais que superlotada
com casas de cafetaria. Também os Serviços Sociais da Universidade começaram,
mais ou menos nesta altura, a implantar-se e a desviar alguma clientela própria
e fiel a estas casas hoteleiras.
Nos
finais da década de 1980, estranhamente, uma vez que a oferta já superava há
muito a procura, surgiu a discutidíssima e odiada esplanada. Qual ovni
implantado no meio do largo, emergiu um mono, um barracão sem condições de
prestabilidade. Constituindo, desde logo, manifestação de repúdio por parte dos
vizinhos do mesmo ofício. Veio a ter uma existência efémera, vindo a ser
encerrada, para gáudio de todos os empresários de restauração daquela praça.
Estes nunca entenderam, por que raio de razão, havia necessidade –se por
incapacidade de resposta por parte dos privados ainda vá lá! Porém, imiscuir-se
a Câmara Municipal num projecto que visava apenas prejudicar os comerciantes
legalmente estabelecidos, nem ao diabo lembraria.
Já nesta altura se especulou demasiado. Voltarei ao assunto.
Luís Fernandes
(Coimbra)
(Sábado, 11 de Junho de 1994)
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