sexta-feira, 24 de outubro de 2014

LEIA O DESPERTAR...



LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA 

Para além  do texto "O VANDALISMO ESTUDANTIL NA BAIXA", deixo também as crónicas "COM ACERTOS, É PRECISO MANTER A MANGO NA BAIXA"; "O MONSTRO DA FREIRIA - O CUSTO DA INÉRCIA"; e "REFLEXÃO: QUE ADULTOS ESPERAMOS DESTAS CRIANÇAS?".





VANDALISMO ESTUDANTIL NA BAIXA

No fim-de-semana passado, alegadamente por estudantes, no Beco das Canivetas uma boca-de-incêndio com mangueira e duas portas de residências particulares foram danificadas, ficando com os vidros partidos. Também uma porta de um prédio desabitado na Rua das Azeiteiras foi rebentada. Tal como em anos anteriores, por altura da Latada e Queima das Fitas, o vandalismo, em rasto de destruição no património, fica sempre espalhado pela Baixa e pela Alta como a mostrar os excessos de alguns elementos que fazem parte de uma classe que precisa urgentemente de freio para suster a sua impunidade.
Segundo José Fernandes, da Casa das Bonecas, com loja no Beco das Canivetas, “aconteceu esta noite pela afluência massiva de universitários em busca das tabernas e tascas na zona. Ontem à noite andavam por aqui largas dezenas. É uma lástima ver esta gente beber até cair e destruir o que lhes dá na mona. Já liguei aos proprietários das casas com vidros partidos para que venham cuidar da sua substituição. Estamos numa cidade sem lei, sem rei nem roque. Ando eu a varrer toda a calçada em frente ao meu estabelecimento para tentar dar uma outra imagem para nada! Uns trabalham para aguentar, outros destroem e, pela completa imunidade, ainda gozam. Para o que eu estava guardado. Caramba! Isto é um desânimo!”



COM ACERTOS, É PRECISO MANTER A MANGO NA BAIXA

Pela boca de um amigo ligado ao comércio, a notícia chegou-me embalada em preocupação: “já sabes que a marca Mango está em vias de desaparecer da Rua Ferreira Borges e assentar unicamente no Fórum? É mais um problema ligado a aumento de renda! Mais uma grande loja que se apaga perante os nossos olhos e, como sempre na nossa apatia, nada fazemos para o evitar. Deverias escrever sobre este assunto!”
Ao que parece, e segundo se consta, o empresário português representante da marca espanhola, na Baixa, detém dois arrendamentos para a mesma loja, com cinco funcionários, há, mais ou menos, 15 anos. Um dos prédios foi vendido há largos meses para dois investidores. Na parceria, um dos adquirentes é um nosso reconhecido empresário do sector alimentar na cidade. Na altura, por a edificação se encontrar bastante degradada e apenas com dois inquilinos, incluindo a Mango, foram realizadas obras de grande vulto e o projeto, batizado de “Borges 9”, deu origem a um edifício universitário –residência e neste momento os andares superiores dão guarida a 18 pessoas.
Para saber o que se passa, de facto, sem fazer fé no diz-que-disse, coloquei a seguinte questão a um dos parceiros neste negócio e um dos senhorios da Mango: é verdade que o seu arrendatário está em vias de nos deixar pelo pedido exagerado de aumento de renda?
“Não senhor! De modo nenhum! O que se passa é que o nosso inquilino é, há muitos anos, parte contratual num arrendamento baixo, quase residual, tendo em conta os valores praticados nestas ruas largas. Como o senhor pode constatar fizemos aqui um grande investimento. Ora, é justo e legítimo que reajustemos o preço. Porém, aproveito a oportunidade para lhe dizer que estamos em negociação com o locatário. Posso garantir-lhe que lhe pedimos uma renda racional e de bom senso –aliás, antes de concluir a verba a propor, tive o cuidado de falar com um comerciante nesta rua e amigo que me deu uma perspectiva dos valores atuais e o negócio que se está a fazer. Embora ligado ao ramo alimentar, sou também comerciante e sinto na carne os problemas. Logo, como deve calcular, faço parte da solução. É ponto de honra, e nosso interesse, manter aqui a Mango. Somos pessoas de trabalho. Sabemos quanto custa a vida. Viemos para a Baixa para ajudar na sua revitalização. Como todos os que aqui ganham a vida, somos parte interessada na sua elevação. O seu informador pode descansar porque estamos de boa-fé. Se não houver acordo –que acredito que vai haver- a culpa não nos poderá ser assacada. Acredite em mim!”


O MONSTRO DA FREIRIA – O CUSTO DA INÉRCIA

O Largo da Freiria, situado a meio da Rua Eduardo Coelho, é um dos mais pitorescos recantos da Baixa de Coimbra e diariamente fotografado por muitos turistas de todo o mundo. Pela sua meia dúzia de prédios centenários em “U” e tendo por fundo o Restaurante Padaria Popular com a sua frontaria forrada com azulejos da Fábrica Aleluia, em arte nova dos anos de 1930, com motivos campestres dedicados ao pão, já que até finais de 1970 foi uma das muitas padarias tradicionais existentes na Baixa, é um encanto.
Do lado esquerdo, de quem observa a praceta, está um prédio entaipado, com os varandins e bandeiras das portas em ferro forjado e símbolo de uma arte em desaparecimento, a anunciar 1878 e apenas com a fachada de pé a ameaçar a lei da gravidade. As obras no interior tiveram início por volta de 2007 e todo o miolo foi removido. Por alegadas vicissitudes a reconstrução foi interrompida dois anos depois. Como modelo de que a ruina é a nostalgia cristalizada no tempo, o imóvel está abandonado há cerca de cinco anos. Como a desafiar todos os poderes, por parte dos visitantes o monstro continua a ser as causas de muitas fotos e a interrogação se, de facto, esta zona estará protegida no âmbito de Património Mundial da Unesco.
Sabe-se que está à venda com um preço várias vezes multiplicado pelo seu valor real. O que quer dizer que, como nunca será alienado, o Sérgio Ferreira, dono do restaurante Padaria Popular, imensamente prejudicado pela degradação paisagística e apatia camarária, o melhor é esperar sentado. O que aguarda é que a autarquia, tal como fez no Largo da Maracha, feche a edificação, mande pintar e remeta a conta ao proprietário. Pode ser?


REFLEXÃO: QUE ADULTOS ESPERAMOS DESTAS CRIANÇAS?

Em notícia da semana passada, pelo Diário de Coimbra (DC) ficámos a saber que sob o mote “Não lixes o Mondego! Deixa os carrinhos nos pontos de recolha” é o nome da campanha lançada ontem, e que decorre até domingo, para sensibilizar todos os estudantes de Coimbra a acabarem com a “moda”, iniciada há uns anos, de lançarem para o rio Mondego, no final do Cortejo da Latada (e também Queima das Fitas) os carrinhos de compras que vão furtando das grandes superfícies da cidade, essencialmente para transportarem as latas de bebidas que vão consumindo durante o percurso. (…) a Câmara Municipal de Coimbra (CMC) aceitou criar, este ano, no final do cortejo da Latada, cinco pontos de recolha dos carrinhos de compras utilizados pelos estudantes. (…) No futuro, o que é pretendido é que as centenas de carrinhos de compras deixem de ser furtadas todos os anos das superfícies comerciais da cidade (cada um custa entre 70 a 100 euros, o que significa milhares de euros de prejuízo.”
Nesta última segunda-feira, em título no interior e referente ao Cortejo da Latada, sobre a festa dos estudantes que decorreu no passado domingo, o DC noticiava: “Mais de 800 carros recolhidos
Ora bem, se somos surpreendidos pela primeira transcrição do jornal, na segunda, “mais de 800 carros recolhidos” não ficaremos menos perplexos. No primeiro caso, pela condescendência a raiar o absurdo, a parvoíce e o ridículo são tão grandes que provavelmente temos de bater na fronte para ver se estamos acordados e se isto não será uma brincadeira. Ou seja, o que nos é noticiado pelo DC é que, tentando fazer doutrina, o furto deixou de ser considerado como atentado às regras de conduta para ser incentivado e apoiado pelos serviços públicos. Mesmo quando o procedimento criminal depender de acusação particular –que é preciso ressalvar que um ato ilícito não deixa de o ser pela não apresentação de queixa do lesado. Simplesmente, não há lugar a prossecução, a inquérito e processo, e não tem consequência penal. Por conseguinte, pela responsabilidade coletiva, a Câmara Municipal de Coimbra (CMC) está obrigada a saber fazer a destrinça. Isto é, em metáfora, saber que a partir de agora, pelo precedente, deve criar postos de recolha para todos os assaltantes de viaturas na cidade. Sempre que um utilizador clandestino furte um automóvel e pretenda dar umas voltas com a namorada, em vez de o abandonar ou atirar para o Mondego, entrega o veículo nos postos de recolha. Se isto não fosse trágico dava vontade de rir.
O que está em causa por parte da autarquia de Coimbra é que perante um declarado ilícito não criminalizado, mas atentatório aos bons costumes, não responde à obrigação, enquanto reserva moral dos princípios e valores de uma coletividade, e trata os alunos como crianças irresponsáveis ou adultos inimputáveis. Contrariamente ao que deveria fazer, que era cortar o mal pela raiz, a montante, instigando a PSP a agir em conformidade, a CMC, atuando a jusante, para além de estimular a ilegalidade, é conivente na ação “criminosa” por parte dos estudantes. Repare-se que estamos perante um “crime” com dolo, com o autor a agir com intenção e ter consciência da sua ilegitimidade. Mais, a edilidade, perante o CPP, Código Penal Português, pode ser acusada de cumplicidade –art.º 27-1. Claro que poderemos ser levados a pensar na exclusão da ilicitude dos estudantes se a autarquia, ao financiar esta contravenção, nos quer transmitir que este furto é um direito consignado aos universitários. O que, por analogia, nos leva a supor que alguns danos causados em património particular, pelos estudantes, na Baixa e na Alta, também constituem prerrogativa de exceção.
No segundo título do DC salta então o número de carrinhos furtados: oito centenas. Dá para ver que as grandes superfícies, numa apatia de negligência grosseira, estão a fazer intervir as forças policiais para um desmando que, através dos seus seguranças, só a eles, enquanto privados, lhes cabe evitar. Ou pagam pela utilização dos serviços policiais? Não estaremos perante um inqualificável abuso? Será que andamos todos cegos?
No tocante à CMC, pelos vistos, fazendo dos cidadãos parvos, quer transmitir com esta desvalorização que, a partir desta legitimação, em nome da tradição, furtar um qualquer bem, independentemente do seu custo, tem o mesmo valor jurídico de um qualquer nabo “gamado” no Mercado Municipal. Sim, senhor! Coimbra é uma lição!






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