LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA
Para além do texto "O VANDALISMO ESTUDANTIL NA BAIXA", deixo também as crónicas "COM ACERTOS, É PRECISO MANTER A MANGO NA BAIXA"; "O MONSTRO DA FREIRIA - O CUSTO DA INÉRCIA"; e "REFLEXÃO: QUE ADULTOS ESPERAMOS DESTAS CRIANÇAS?".
VANDALISMO ESTUDANTIL NA BAIXA
No fim-de-semana passado, alegadamente por
estudantes, no Beco das Canivetas uma boca-de-incêndio com mangueira e duas
portas de residências particulares foram danificadas, ficando com os vidros
partidos. Também uma porta de um prédio desabitado na Rua das Azeiteiras foi
rebentada. Tal como em anos anteriores, por altura da Latada e Queima das
Fitas, o vandalismo, em rasto de destruição no património, fica sempre
espalhado pela Baixa e pela Alta como a mostrar os excessos de alguns elementos
que fazem parte de uma classe que precisa urgentemente de freio para suster a
sua impunidade.
Segundo José Fernandes, da Casa das Bonecas,
com loja no Beco das Canivetas, “aconteceu
esta noite pela afluência massiva de universitários em busca das tabernas e
tascas na zona. Ontem à noite andavam por aqui largas dezenas. É uma lástima
ver esta gente beber até cair e destruir o que lhes dá na mona. Já liguei aos
proprietários das casas com vidros partidos para que venham cuidar da sua
substituição. Estamos numa cidade sem lei, sem rei nem roque. Ando eu a varrer
toda a calçada em frente ao meu estabelecimento para tentar dar uma outra
imagem para nada! Uns trabalham para aguentar, outros destroem e, pela completa
imunidade, ainda gozam. Para o que eu estava guardado. Caramba! Isto é um
desânimo!”
COM ACERTOS, É PRECISO MANTER A MANGO NA BAIXA
Pela boca de um amigo ligado ao comércio, a
notícia chegou-me embalada em preocupação: “já
sabes que a marca Mango está em vias de desaparecer da Rua Ferreira Borges e
assentar unicamente no Fórum? É mais um problema ligado a aumento de renda! Mais
uma grande loja que se apaga perante os nossos olhos e, como sempre na nossa
apatia, nada fazemos para o evitar. Deverias escrever sobre este assunto!”
Ao que parece, e segundo se consta, o
empresário português representante da marca espanhola, na Baixa, detém dois
arrendamentos para a mesma loja, com cinco funcionários, há, mais ou menos, 15
anos. Um dos prédios foi vendido há largos meses para dois investidores. Na
parceria, um dos adquirentes é um nosso reconhecido empresário do sector
alimentar na cidade. Na altura, por a edificação se encontrar bastante
degradada e apenas com dois inquilinos, incluindo a Mango, foram realizadas obras
de grande vulto e o projeto, batizado de “Borges
9”, deu origem a um edifício
universitário –residência e neste momento os andares superiores dão guarida
a 18 pessoas.
Para saber o que se passa, de facto, sem fazer
fé no diz-que-disse, coloquei a
seguinte questão a um dos parceiros neste negócio e um dos senhorios da Mango: é
verdade que o seu arrendatário está em vias de nos deixar pelo pedido exagerado
de aumento de renda?
“Não
senhor! De modo nenhum! O que se passa é que o nosso inquilino é, há muitos
anos, parte contratual num arrendamento baixo, quase residual, tendo em conta
os valores praticados nestas ruas largas. Como o senhor pode constatar fizemos
aqui um grande investimento. Ora, é justo e legítimo que reajustemos o preço.
Porém, aproveito a oportunidade para lhe dizer que estamos em negociação com o
locatário. Posso garantir-lhe que lhe pedimos uma renda racional e de bom senso
–aliás, antes de concluir a verba a propor, tive o cuidado de falar com um
comerciante nesta rua e amigo que me deu uma perspectiva dos valores atuais e o
negócio que se está a fazer. Embora ligado ao ramo alimentar, sou também
comerciante e sinto na carne os problemas. Logo, como deve calcular, faço parte
da solução. É ponto de honra, e nosso interesse, manter aqui a Mango. Somos
pessoas de trabalho. Sabemos quanto custa a vida. Viemos para a Baixa para
ajudar na sua revitalização. Como todos os que aqui ganham a vida, somos parte
interessada na sua elevação. O seu informador pode descansar porque estamos de
boa-fé. Se não houver acordo –que acredito que vai haver- a culpa não nos
poderá ser assacada. Acredite em mim!”
O MONSTRO DA FREIRIA – O CUSTO DA INÉRCIA
O Largo da Freiria, situado a meio da Rua
Eduardo Coelho, é um dos mais pitorescos recantos da Baixa de Coimbra e diariamente
fotografado por muitos turistas de todo o mundo. Pela sua meia dúzia de prédios
centenários em “U” e tendo por fundo
o Restaurante Padaria Popular com a sua frontaria forrada com azulejos da
Fábrica Aleluia, em arte nova dos anos de 1930, com motivos campestres
dedicados ao pão, já que até finais de 1970 foi uma das muitas padarias tradicionais
existentes na Baixa, é um encanto.
Do lado esquerdo, de quem observa a praceta,
está um prédio entaipado, com os varandins e bandeiras das portas em ferro
forjado e símbolo de uma arte em desaparecimento, a anunciar 1878 e apenas com
a fachada de pé a ameaçar a lei da gravidade. As obras no interior tiveram
início por volta de 2007 e todo o miolo foi removido. Por alegadas vicissitudes
a reconstrução foi interrompida dois anos depois. Como modelo de que a ruina é
a nostalgia cristalizada no tempo, o imóvel está abandonado há cerca de cinco
anos. Como a desafiar todos os poderes, por parte dos visitantes o monstro continua
a ser as causas de muitas fotos e a interrogação se, de facto, esta zona estará
protegida no âmbito de Património Mundial da Unesco.
Sabe-se que está à venda com um preço várias
vezes multiplicado pelo seu valor real. O que quer dizer que, como nunca será
alienado, o Sérgio Ferreira, dono do restaurante Padaria Popular, imensamente
prejudicado pela degradação paisagística e apatia camarária, o melhor é esperar
sentado. O que aguarda é que a autarquia, tal como fez no Largo da Maracha,
feche a edificação, mande pintar e remeta a conta ao proprietário. Pode ser?
REFLEXÃO: QUE ADULTOS ESPERAMOS DESTAS CRIANÇAS?
Em notícia da semana passada, pelo Diário de
Coimbra (DC) ficámos a saber que sob o mote “Não lixes o Mondego! Deixa os
carrinhos nos pontos de recolha” é o nome da campanha lançada ontem, e que
decorre até domingo, para sensibilizar todos os estudantes de Coimbra a
acabarem com a “moda”, iniciada há uns anos, de lançarem para o rio Mondego, no
final do Cortejo da Latada (e também Queima das Fitas) os carrinhos de compras
que vão furtando das grandes superfícies da cidade, essencialmente para
transportarem as latas de bebidas que vão consumindo durante o percurso. (…) a
Câmara Municipal de Coimbra (CMC) aceitou criar, este ano, no final do
cortejo da Latada, cinco pontos de recolha dos carrinhos de compras utilizados
pelos estudantes. (…) No
futuro, o que é pretendido é que as centenas de carrinhos de compras deixem de
ser furtadas todos os anos das superfícies comerciais da cidade (cada um custa
entre 70 a 100 euros, o que significa milhares de euros de prejuízo.”
Nesta última segunda-feira, em título no
interior e referente ao Cortejo da Latada, sobre a festa dos estudantes que
decorreu no passado domingo, o DC noticiava: “Mais de 800 carros recolhidos”
Ora bem, se somos surpreendidos pela primeira
transcrição do jornal, na segunda, “mais de 800 carros recolhidos” não
ficaremos menos perplexos. No primeiro caso, pela condescendência a raiar o absurdo,
a parvoíce e o ridículo são tão grandes que provavelmente temos de bater na
fronte para ver se estamos acordados e se isto não será uma brincadeira. Ou
seja, o que nos é noticiado pelo DC é que, tentando fazer doutrina, o furto
deixou de ser considerado como atentado às regras de conduta para ser
incentivado e apoiado pelos serviços públicos. Mesmo quando o procedimento
criminal depender de acusação particular –que é preciso ressalvar que um ato
ilícito não deixa de o ser pela não apresentação de queixa do lesado. Simplesmente,
não há lugar a prossecução, a inquérito e processo, e não tem consequência
penal. Por conseguinte, pela responsabilidade coletiva, a Câmara Municipal de
Coimbra (CMC) está obrigada a saber fazer a destrinça. Isto é, em metáfora,
saber que a partir de agora, pelo precedente, deve criar postos de recolha para
todos os assaltantes de viaturas na cidade. Sempre que um utilizador
clandestino furte um automóvel e pretenda dar umas voltas com a namorada, em
vez de o abandonar ou atirar para o Mondego, entrega o veículo nos postos de
recolha. Se isto não fosse trágico dava vontade de rir.
O que está em causa por parte da autarquia de
Coimbra é que perante um declarado ilícito não criminalizado, mas atentatório
aos bons costumes, não responde à obrigação, enquanto reserva moral dos princípios
e valores de uma coletividade, e trata os alunos como crianças irresponsáveis
ou adultos inimputáveis. Contrariamente ao que deveria fazer, que era cortar o
mal pela raiz, a montante, instigando a PSP a agir em conformidade, a CMC, atuando
a jusante, para além de estimular a ilegalidade, é conivente na ação “criminosa”
por parte dos estudantes. Repare-se que estamos perante um “crime” com dolo,
com o autor a agir com intenção e ter consciência da sua ilegitimidade. Mais, a
edilidade, perante o CPP, Código Penal Português, pode ser acusada de
cumplicidade –art.º 27-1. Claro que poderemos ser levados a pensar na exclusão
da ilicitude dos estudantes se a autarquia, ao financiar esta contravenção, nos
quer transmitir que este furto é um direito
consignado aos universitários. O que, por analogia, nos leva a supor que alguns
danos causados em património particular, pelos estudantes, na Baixa e na Alta,
também constituem prerrogativa de exceção.
No segundo título do DC salta então o número
de carrinhos furtados: oito centenas. Dá para ver que as grandes superfícies,
numa apatia de negligência grosseira, estão a fazer intervir as forças
policiais para um desmando que, através dos seus seguranças, só a eles,
enquanto privados, lhes cabe evitar. Ou pagam pela utilização dos serviços
policiais? Não estaremos perante um inqualificável abuso? Será que andamos
todos cegos?
No tocante à CMC, pelos vistos, fazendo dos
cidadãos parvos, quer transmitir com esta desvalorização que, a partir desta
legitimação, em nome da tradição, furtar um qualquer bem, independentemente do
seu custo, tem o mesmo valor jurídico de um qualquer nabo “gamado” no Mercado Municipal. Sim, senhor! Coimbra é uma lição!
Sem comentários:
Enviar um comentário