quinta-feira, 16 de outubro de 2014

QUANDO O RIDÍCULO MOSTRA QUE QUEM MANDA NÃO ENXERGA

(Imagem da Web)




O diário de Coimbra (DC) de hoje, no interior, anuncia em título: “Caminhos da Latada já não precisam de ir parar ao rio”. Continuamos a ler, “Não lixes o Mondego! Deixa os carrinhos nos pontos de recolha” é o nome da campanha lançada ontem, e que decorre até domingo, para sensibilizar todos os estudantes de Coimbra a acabarem com a “moda”, iniciada há uns anos, de lançarem para o rio Mondego, no final do Cortejo da Latada (e também Queima das Fitas) os carrinhos de compras que vão furtando das grandes superfícies da cidade, essencialmente para transportarem as latas de bebidas que vão consumindo durante o percurso. (…) a Câmara Municipal de Coimbra (CMC) aceitou criar, este ano, no final do cortejo da Latada, cinco pontos de recolha dos carrinhos de compras utilizados pelos estudantes. (…) No futuro, o que é pretendido é que as centenas de carrinhos de compras deixem de ser furtadas todos os anos das superfícies comerciais da cidade (cada um custa entre 70 a 100 euros, o que significa milhares de euros de prejuízo. (…) Para já, todos quantos se empenharam em evitar a poluição do rio Mondego, numa acção liderada por Fernando Jorge Paiva, mais conhecido por “Joca”, apelam aos estudantes para que, pelo menos, não atirem os carrinhos para o rio, deixando-os nos pontos de recolha (…)”
Ora bem, se acaso julgou perceber mal, volte a ler. Admito que a parvoíce e o ridículo são tão grandes que, para se entender, tenhamos de repetir. Ou seja, o que nos é noticiado pelo DC é que a partir de agora o furto deixou de ser considerado como atentado às regras de conduta para ser incentivado e apoiado pelos serviços públicos. Mesmo quando o procedimento criminal depender de acusação particular. A partir de agora, pelo precedente, a edilidade deve criar postos de recolha para todos os assaltantes de viaturas. Isto é, o utilizador clandestino furta o automóvel e vai dar umas voltas com a namorada e, nas calmas, em vez de o abandonar ou atirar para o Mondego, vai entregar o veículo nos postos de recolha. Se isto não fosse trágico dava vontade de rir.
O que está em causa por parte da autarquia de Coimbra é que estamos perante um declarado ilícito criminal. Contrariamente ao que deveria fazer, que é cortar o mal pela raiz, a montante, instigando a PSP a agir em conformidade, a Câmara, actuando a jusante, para além de estimular a ilegalidade, é conivente na acção "criminosa" por parte dos estudantes. Repare-se que estamos perante um crime com dolo, com o autor a agir com intenção e ter consciência da sua ilegitimidade. Mais, a CMC, perante o CPP, Código Penal Português, pode ser acusada de cumplicidade -art.º 27-1. Claro que poderemos ser levados a pensar na exclusão da ilicitude dos estudantes se a autarquia, ao financiar esta contravenção, nos quer transmitir que este furto é um direito consignado aos universitários. Ou então assenta no consentimento (art.º 38, do CPP), “quando se referir a interesses jurídicos livremente disponíveis e o facto não ofender os bons costumes”. Deve ser isto! De facto, este hábito não fere de modo os costumes, já que a prática, a começar pelo Governo, é o furto colectivo.
O que a edilidade coimbrã nos quer transmitir com esta desvalorização é que, a partir desta legitimação, em nome da tradição, furtar um qualquer bem, independentemente do seu custo, tem o mesmo valor jurídico de um qualquer nabo “gamado” no Mercado Municipal. Sim, senhor! Coimbra é uma lição!

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