terça-feira, 21 de outubro de 2014

O MONSTRO DA FREIRIA



O Largo da Freiria, situado a meio da Rua Eduardo Coelho, é um dos mais pitorescos recantos da Baixa de Coimbra e diariamente fotografado por muitos turistas de todo o mundo. Pela sua meia dúzia de prédios centenários em “U” e tendo por fundo o Restaurante Padaria Popular com a sua frontaria forrada com azulejos da Fábrica Aleluia, em arte nova dos anos de 1930, com motivos campestres dedicados ao pão, já que até finais de 1970 foi uma das muitas padarias tradicionais existentes na Baixa, é um encanto.
Do lado direito, de quem observa a praceta, está um prédio entaipado, com os varandins e bandeiras das portas em ferro forjado e símbolo de uma arte em desaparecimento, a anunciar 1878 e apenas com a fachada de pé a ameaçar a lei da gravidade. As obras no interior tiveram início por volta de 2007 e todo o miolo foi removido. Por alegadas vicissitudes a reconstrução foi interrompida dois anos depois. Como modelo de que a ruina é a nostalgia cristalizada no tempo, o imóvel está abandonado há cerca de cinco anos. Como a desafiar todos os poderes, por parte dos visitantes o monstro continua a ser as causas de muitas fotos e a interrogação se, de facto, esta zona estará protegida no âmbito de Património Mundial da Unesco.
Sabe-se que está à venda com um preço várias vezes multiplicado pelo seu valor real. O que quer dizer que, como nunca será alienado, o Sérgio Ferreira, dono do restaurante Padaria Popular, imensamente prejudicado pela degradação paisagística e apatia camarária, o melhor é esperar sentado. O que aguarda é que a autarquia, tal como fez no Largo da Maracha, feche a edificação, mande pintar e remeta a conta ao proprietário. Pode ser?

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