Começou hoje a ser desmantelado o sistema de repuxos
implantados no arredondado banco público de pedra da Praça 8 de Maio. Segundo
informações sobre reserva, “a alteração
vem directamente do Presidente da Câmara Municipal, Manuel Machado. Os jactos
de água, que se elevavam para o Céu, vão dar lugar a um lago de águas paradas
igual ao projecto inicial e que durante anos ali se manteve.”
Sendo “património privado” e quase exclusivo de alguns trabalhadores
romenos que, até agora, no intervalo de intenso e esforçado labor aproveitavam o
lancil para descansar e ao mesmo tempo os miúdos se divertiam a atravessar o
jorro, em face desta modificação e presumível quebra de um direito adquirido, julgo
ser de todo o interesse falar com um destes nossos vizinhos. Fui ouvir um meu
conhecido e deambulante destas ruelas e ruas esburacadas da Baixa, o Costica,
que em romeno significa seguidor de Deus.
Expressa-se num português martelado, assim mais ou menos num caldinho entre um
alentejano e um madeirense do interior, mas dá para se entender. Coloquei-lhe a
questão a frio: diga-me, o que pensa
desta adulteração? Estamos perante um atentado profundo aos costumes do povo da
região da Transilvânia. É assim?
Retorque Costica: “Antes de ir directamente à sua questão, parece-me
que você está a aproveitar isto para embirrar com o “nosso” presidente Machado,
não? (eu engoli em seco e não respondi)
E agora, sim, respingo. Pelo contrário, é uma obra que se impunha. Já há
muito que defendíamos esta mudança. Sobretudo quando havia vento levávamos com
a água toda nas costas. Acha que estava bem? Somos membros de pleno direito da
Comunidade Europeia desde 2007, temos direitos, não? Para além disso, trocando para
lago, passa a ter múltiplas funções como piscina, por exemplo, e os garotos sempre
podem ir lá para dentro.”
Há dias que mesmo um jornalista amador não
pode sair do seu buraco. Estou em crer que estou naqueles dias que só me saem duques e cenas tristes mas, mesmo assim,
vou ter de continuar. Entrei na Igreja de Santa Cruz, Panteão Nacional, e
tentei chegar à fala com o primeiro Rei de Portugal. Como nunca retruca, por
escrito e entregue por mão lá na catedral, coloquei a seguinte interpelação: o que acha deste voltar atrás e transformar
o repuxo em piscina pública?
Passada uma hora, por missiva,
recebi a réplica d’O Conquistador: “olhe,
a minha alma, que já nem sei bem onde pára, está parva! Então ainda há pouco
tempo foi colocada aí uma bomba de água, que custou cerca de 4000 mil euros
para manter a fonte luminosa, e agora vão desmantelar tudo? Se a nostalgia é o
objectivo, por este andar ainda vamos ter a praça elevada como há cerca de
vinte e cinco anos! Diga-me, tem a certeza que esta gente não é doida? Há muito
dinheiro para gastar, não há?”
Claro que não redargui. Faço perguntas e
não dou respostas. Faço parte do problema e não da solução. Limito-me a dar
conta do que se passa por aqui e mais nada!
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