LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA
Para além do texto "JARDINS SUSPENSOS ESPERAM CLASSIFICAÇÃO PELA UNESCO", deixo também as crónicas "A RECEÇÃO AO CALOIRO NO PINTO D'OURO"; "O SONHO REALIZADO DO MIGUEL"; "A ÚLTIMA TAREFEIRA"; "O NOSSO CHINÊS FEZ ANOS"; e "REFLEXÃO: UM ESPELHO PARA A ESQUERDA"
JARDINS SUSPENSOS ESPERAM CLASSIFICAÇÃO PELA UNESCO
“Aquilo
é um matagal imenso mesmo em frente à nossa porta e caído sobre quem passa. Lá
dentro dos arbustos há de tudo, desde cobras até sardaniscas. É um autêntico
jardim zoológico a céu aberto. Não sei se o nome da Rua Padre António Vieira
terá alguma coisa a ver para o facto de, a todos os moradores e comerciantes,
nos fazerem pregar aos peixes. Já tentámos sensibilizar todas as entidades
responsáveis para a sua premente limpeza, incluindo a Universidade –parece-me
que é a proprietária e responsável-, mas ninguém nos liga. Por misericórdia, o
senhor Luís pode fazer o favor de escrever sobre este monumento ao desleixo no
jornal O Despertar?” –quem assim rogava era o Senhor Mário de Sousa Malhó,
morador na nesta artéria dos jardins suspensos e à espera de classificação como
Património da Humanidade.
A RECEÇÃO AO CALOIRO NO PINTO D’OURO
Na quarta-feira da semana passada, Casimiro de
Jesus, proprietário do café Pinto D’oiro,
na Avenida João das Regras, junto ao Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, era um
homem forte rodeado por um exército. Como Obelix a distribuir a sua poção mágica junto do caldeirão, com a mistura sagrada, cuja receita só ele
conhece, dava de beber à dor a largas dezenas de estudantes da Faculdade de
Desporto –e acompanhada com umas sandes de comer e chorar por mais. Tal como há
vários anos, a começar as aulas e como cerimonial de batismo e iniciação,
Casimiro cumpre o ritual de misturar várias bebidas num caldeiro de cerca de 80
litros. “Quem bebe deste purgante será
sempre um bom estudante”, afirma com convicção. A verdade é que maioritariamente
todos os alunos que por lá passaram concluíram o seu curso. Para seguir a
tradição, nas paredes do reconhecidíssimo estabelecimento hoteleiro -inaugurado
em 1954 e sob gerência de Casimiro desde 2001-, para memória futura, mais uma
vez vão ser expostas as fotografias de Mário Afonso –o repórter de serviço a
todas as causas nobres.
O SONHO REALIZADO DO MIGUEL
Na semana passada, as duas salas da Adega do Leite, em Adémia de Baixo, rebentavam pelas costuras com tantos
amigos do Miguel Alves. E o caso não era para menos, todos queriam dar um
abraço de felicidade ao anfitrião. Afinal, não é todos os dias que se consegue
concretizar um sonho durante décadas imaginado em longas noites de insónia. E o
Miguel, o nosso companheiro de becos e vielas da Baixa, estava a fazer a sua história.
Perante os olhares de espanto de todos, e entrelaçadas por batidas nas costas,
mostrava a sua obra, o seu novíssimo restaurante com uma decoração rústica de
nos prender os olhos. Naturalmente que a música não poderia faltar e o ambiente
tocou o rubro com as músicas da banda
Boheme e das atuações à viola do Tony,
com músicas de Zeca Afonso, e o fado de Coimbra bem interpretado pelo Negrão.
Com um arroz
de pato e um caldo Verde de
estalar o palato -como eu já não comia há décadas-, ficou ali provado, em
repetidos encher o prato, que a Adega do
Leite, agora sobre a sua gerência, vai fazer parte dos circuitos
gastronómicos da Zona Centro. Aberto diariamente até às duas da matina, as
noites vão parecer encantadas para quem gostar de degustar uma boa refeição
guarnecida de um bom vinho, servidos por quem tem larga experiência
profissional, e à sexta-feira à noite acompanhada com fados.
A cortar o bolo, acompanhado da esposa
Filomena Alves e os filhos, o Miguel era um homem feliz e só a muito custo
conseguiu conter uma lágrima vadia que também se queria associar à festa.
Muitos parabéns ao casal Alves. Com o seu esforço e sacrifício, que a sorte
lhes seja profícua e generosa. É evidente que vai contar comigo e com todos
quantos estiveram presentes nesta inauguração e pelas várias centenas de
leitores para ajudar. Vamos visitar a Adega
do Leite?
A ÚLTIMA TAREFEIRA
A empurrar o seu carrinho de duas rodas,
cruzamo-nos tantas vezes por ela que até achamos perfeitamente normal. Sem nos
questionarmos, achamos que esta popular mulher trabalhadeira faz parte do
edificado, da paisagem urbana, de todos nós. Acontece que a Senhora Lucília
Ferreira é a última tarefeira, a derradeira ponte que liga o Mercado Municipal
Dom Pedro V e os restaurantes da Baixa. O seu serviço de entregas ao domicílio é
contratado por algumas reputadas casas de hotelaria desta zona histórica cujos
proprietários, parece-me, já estarão com alguma idade ou por problemas de saúde
que os impede de carregar pesos.
Com uma vitalidade impressionante, apesar dos
seus 78 anos, curiosamente, Lucília também faz do seu trabalho uma catarse, um
encontro consigo mesma na tragédia e na purificação da alma, uma ocupação que obstaculiza
relembrar continuamente os problemas familiares que a afligem e lhe causam
tanta mágoa. Aquele sorriso no rosto não impede a tristeza dos seus olhos. Mas,
se tem que ser, o que se há de fazer? Somos seres predestinados entre a causa e
a consequência e divididos entre o sofrimento e a felicidade.
O NOSSO CHINÊS FEZ ANOS
Em metáfora,
se as cidades são jardins, as ruas serão canteiros e as pessoas que nelas
habitam serão flores. Sempre que uma destas rosas adoece, e temporariamente ou
definitivamente desaparece, o horto fica mais empobrecido. Tal como nos jardins
verdadeiros, nestas “leiras” em forma
de artérias, há umas plantas que se tornam mais marcantes e outras menos. Há
algumas que até picam sem lhes chegarmos. No entanto, para equilibrar, há
outras que são ternas, sedutoras, estão ali apenas porque cumprem uma missão
existencial. É como se entendessem que não querem mais do que viver
simplesmente. Não perturbam o ambiente à sua volta, não fazem guerra a ninguém
e, sem o manifestar, espalham o amor. Precisam somente que as deixem em paz. O Tai Pio Zhu, o nosso mais querido chinês
da nossa rua, é um destes modelos. A semana passada fez anos. Por isso mesmo,
uma grande salva de palmas. E muitos parabéns para o nosso amigo e vizinho.
REFLEXÃO: UM ESPELHO PARA A ESQUERDA
Pela exposição de bustos de Óscar Carmona,
Craveiro Lopes e Américo Thomaz –três presidentes do Estado Novo, esculpidos em barro da região de Barcelos-, estalou a
polémica no Assembleia da República pela voz dos deputados do Bloco de Esquerda
(BE) e Partido Comunista Português (PCP).
Como se brincassem aos
parlamentos, a continuidade da mostra foi discutida em plenário. Felizmente,
pelos votos a favor do PSD, CDS e PS, a exposição “100 anos de presidência” vai continuar nos corredores do palácio.
Perante esta atitude dos dois partidos de
esquerda, BE e PCP, dá para perceber muito do atual estado político do País.
Sendo mais direto, começa a entender-se como é que há cerca de quatro décadas
Portugal é governado sempre pelos mesmos três partidos, PS, PSD e CDS. Começa a
ser claro como é que os eleitores não depositam confiança nestas estruturas
partidárias, que se arrogam donas da liberdade, e continuamos a ser geridos por
esta troica que está arruinar e a hipotecar a Nação. É assim por que a esquerda
não respeita os valores da história do povo português. É vingativa, recalcada e permanentemente ressabiada com tudo o que seja contrário à sua ideologia
doutrinária e assente numa sociedade filosófica-científica-laboratorial.
É bipolar, ora abraça o povo com
manifestações de camaradagem e dá tudo por ele, ora o detesta, manipulando o
pensamento coletivo, transformando-o em mero instrumento político de poder, e
reduzindo-o à mais ínfima partícula vivencial. É maniqueísta, entre o vermelho e o branco não existem cores
neutrais. O que está no meio é um limbo onde são arrumados os do contra,
aqueles que não comungam as suas ideias. É anacrónica, vive desalinhada destes tempos e virada para o passado,
do seu, e está petrificada em pensadores ideólogos como Marx, Engels e
políticos teóricos como Lenine e Mao -estes dois que, seguindo as orientações
dos primeiros, pelas suas revoluções, provocaram o extermínio de milhões de
mortos no último século XX. É divisionista,
não compreende que a história não assenta em placas horizontais mas sim na sua
verticalidade de “continuum”. O
presente é resultado do prolongamento de um passado continuado em que o seu
início começou na pedra lascada e não se pode apagar enquanto referente de base
evolutiva. É segregacionista até
na sua própria memória. Só respeita a sua narrativa existencial e não permite
intrusões que coloque em causa o seu ponto de vista. Diz-se libertadora e a
favor da manumissão mas persegue quem não comungar das suas ideias e pensar
pela sua própria cabeça.
Estes partidos de esquerda, com estas
atitudes, dando tiros nos pés, se não
respeitam a memória coletiva, esperam o quê dos eleitores?
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