sexta-feira, 30 de março de 2018

EDITORIAL: ESPANHA, VENHA A NÓS O VOSSO REINO





Hoje é Sexta-feira Santa, 30 de Março. Com um tempo a balouçar entre períodos de chuva forte e pausas de sol brilhante, a Baixa, para quem nos visita, apresenta-se com gaifanas, estremunhada, sonolenta e com remela no acordar.
Depois de uma quinta-feira, ontem, arrebatada com muitos espanhóis, o dia que se arrasta, para além de passar lentamente, parece mostrar que a instabilidade do clima assusta os turistas. Se vem uma bátega de água desaparecem todos como nevoeiro em manhã de Agosto. Se aparece uma luminosidade resplandecente parecem pássaros a invadir o torrão semeado.
Os comerciantes da Baixa, com a fé em Deus e um olhar perdido nos passantes de mochila às costas, de semblante duro, martelado pela estagnação que teima em fustigar uma esperança que não se materializa, estão encostados às portas de entrada dos seus negócios.
Ao longo das últimas décadas, depois dos saldos do final e começo de novo ano, a Semana Santa, desvalorizando o sacro e elevando o profano, para o comércio de rua foi sempre uma espécie de tábua de salvação para náufrago perdido nos confins do oceano. Vinham “nuestros hermanos”, compravam uns “regalos” e os lojistas ficavam mais aliviados nos compromissos financeiros. Por conseguinte, em Coimbra, as lojas sempre estiveram abertas neste Dia Santo, antevéspera da Páscoa, e encerradas na segunda-feira seguinte. Na época que corre já não justifica esta troca. Talvez por isso mesmo, por um lado, apesar do apregoado nos jornais de que os hotéis na cidade estão a 90% da sua capacidade, os espanhóis são menos do que antigamente, por outro, já não compram como era costume. E o pouco que adquirem é negociado milimetricamente ao cêntimo, ou seja, deixando pouca margem de lucro para quem vende. Isto é, tendo em conta que neste resguardo santificado pascal os serviços públicos estão fechados e segunda estão abertos, na prática, é uma permuta que não compensa. É óbvio que, tendo em conta a crise que se vive, a solução para muitos, é abrirem nos dois dias.

UMA COIMBRA ENCRAVADA. UMA BAIXA INACTIVA

Nesta Coimbra, capital do imobilismo, o tempo corre devagar. Assobiando a valsa da meia-noite, vamos todos fazendo de conta que nada se passa à nossa volta. Olhando as promessas das últimas eleições, já ninguém leva a sério as propostas que foram feitas nessa altura. Ao não exigir o seu cumprimento, estamos todos a colaborar numa mentira condescendente. Mas este alheamento afigura-se terrível para o futuro. Como alguém já disse, estamos a infantilizar a política. Confundindo a estrumeira com a central de efluentes, com o desprezo que votamos a mais nobre das virtudes da negociação social, ajudando a enterrar o que resta de uma classe de pessoas integras que levam o seu múnus, a sua função, muito a sério. Porque não tenhamos dúvidas que ainda há dirigentes que encaram o serviço público, o servir o próximo e não servir-se a si mesmo, como missão. 
Por outro lado, este desligamento está a conduzir os comerciantes para uma desmotivação sem precedentes.
Bem sei que a cidade e os seus arrabaldes são um todo e, naturalmente, com problemas para resolver em muitas freguesias. Quero dizer que, como escrevo muito sobre a zona histórica, não é só a Baixa que precisa de soluções políticas. Mas, mesmo assim, não posso deixar de lembrar que esta área velha precisa de intervenção urgente. Os custos da inacção, por não se interceder em tempo útil, vão ser incalculáveis. Está a deixar-se destruir uma zona monumental, habitacional, social e comercial que levou séculos a erguer.
Como se tratasse de um abate programado, as lojas continuam a encerrar. Batendo todos os anteriores recordes -em Janeiro foram 6-, neste mês de Março vão ser contabilizadas 7. Este facto completamente anómalo não deveria preocupar a maioria socialista?

(FELIZ PÁSCOA PARA TODOS, INCLUINDO OS MEMBROS QUE COMPÕEM A MAIORIA SOCIALISTA NO EXECUTIVO!)











1 comentário:

Anónimo disse...

Revista visão 31/03:
«E também Voltaire nunca proferiu uma das citações que mais vezes lhe é atribuída (muito recordada nos dias que correm): “Não concordo com o que dizes, mas defenderei até à morte o teu direito a dizê-lo.” Até o pode ter pensado, mas quem escreveu essa frase, precisamente para explicar a atitude do pensador e escritor francês, foi uma sua biógrafa, Evelyn Beatrice Hall, no início do século XX (escreveu, no livro The Friends of Voltaire: “'I disapprove of what you say, but I will defend to the death your right to say it', was his attitude now”). Neste caso, a célebre frase apócrifa não trai o espírito autor, podemos dizê-lo. Mas muitas vezes, demasiadas, isso acontece.»
Como diria o outro...E esta, hã?!