Começo por confessar -com a pouca humildade que me é característica- que esta petição já foi utilizada em 2010, em 2014 e novamente em 2016. Quero dizer, portanto, que me estou a repetir e estamos perante um refugado mais que fugado, visto e revisto. Acontece que funcionou sempre. Ora se teve êxito sempre é por que o administrador das lides climatéricas me teme. Não é como o “Manel da Pera”, o pretor urbano que lidera a facção dos satisfeitos, que não liga nenhuma ao que escrevo. Porra!, que uma pessoa até desanima! Valha-nos o Senhor do Infinito para a minha vontade não se deixar corromper e me tornar num indolente.
Palavra
de honra (de político)! Juro que depois de mandar isto lá para
cima, para o gabinete do Céu, tivemos sempre um verão de arfar...
assim como um cão com língua de fora, sequioso... não sei se
estarei a ser claro! Estou? Bom, mas isso também não interessa
nada.
O que me maça mesmo, deveras, é que esta chuva chata e aborrecida, de
molha-tolos e curiosos, enviada lá dos confins do firmamento, sem
critério e sem racionalidade, amesquinha deveras. Ao menos que
chovesse de noite ou somente em cima de certos grandes capitalistas e
políticos que estou a pensar. Por que raio há-de cair na tola dos
trabalhadores? E dos mais pobres? É a mania da equidade, é o que é!
Isto só pode mesmo ser conspiração! Por isso mesmo, antes que o
caldo se entorne entre mim e o Criador, vou enviar novamente esta
petição metafísica. Se concorda faça o favor de a subscrever.
Exm.º
Senhor Presidente da Assembleia da República do Céu:
Luís Fernandes -um mero terráqueo, humilde às vezes, muito descrente graças a Deus, insignificante c'mó caraças, um bocado “pró feiote”, entradote e barrigudo, tão "bota-da-tropa" que nem a menina Ernestina, uma vizinha velhota de oitenta e picos anos, olha para ele-, farto desta escandaleira de, há mais de um mês, chover quase todos os dias cá no rectângulo, vem por este meio solicitar a V. transcendência se digne mandar criar uma comissão de inquérito a esta bandalheira.
Em juízo de valor, perdoe V. Santidade se ofende algum venerando vendido, mas tudo indica que estamos em face de actos de corrupção do camarada São Pedro. Perante tão notórios indícios, é mais que certo que Ele está a trabalhar –ou melhor, vendeu-se- por conta dos chineses. Como sabe, são eles que fabricam tudo o que são têxteis e guarda-chuvas. É mais que certo que o guardião dos céus “passou-se” para os lados do sol nascente. Isto até é muito fácil de constatar: antigamente, quando Portugal tinha muitas fábricas de têxteis e sombrinhas, quase que não chovia. Agora, que nem uma indústria de abafa-chuvas existe por cá, o gestor da grande chave económica do Céu abriu as torneiras completamente. É preciso escrever mais alguma coisa? Não é, pois não? Talvez, mas, mesmo assim, o peticionário escreve mais umas linhas porque está profundamente irritado, com o ânimo em baixo e os cabelos em pé.
Não era para pegar neste assunto, mas com esta coisa da Garraiada inserida na Queima das Fitas, entre o pega e larga o desgraçado do toiro, acabo a fazer uma pega de caras. É certo que ainda não houve inundações e o Parque Verde, que mais parece um cenário de guerra do filme “O Capitão”, graças ao altíssimo, lá continua abandonado mas sequinho. Não sei se também estaremos perante um caso de corrupção. Sei lá se o vereador do movimento “Somos Coimbra”, José Manuel Silva, -que mete o bico em tudo- não teria já mandado rezar umas missinhas para que a zona não seja inundada e, assim perante a calamidade, poder mandar mais umas farpas ao camarada holograma, como quem diz Manuel Machado, que desapareceu há muito tempo e agora só se vê na televisão. E sobretudo para que salte bem à vista a miséria e o descuido que os socialistas republicanos e laicos mostram pela Baixa da cidade.
Quando
chegar a verdadeira Primavera, está de ver, passará tudo e os dois,
Silva e Machado, assim no seguimento do exemplo prestado pelo
Presidente da República e o Primeiro-ministro, irão dar dois
beijinhos e um abraço no hemiciclo e, numa cena de “perdoa-me”
(proclamado em inglês a pedido de Silva), ainda irão ser grandes
amigos.
Sim,
só poderia ser mesmo o liberal Silva a chatear o executivo rosa por
que do PSD, a representar a direita na oposição e na cidade, nem se
ouve falar. Aliás, ouve mas pouco. Acerca da Baixa nada. Ou fala da defesa
das repúblicas estudantis, ou disserta sobre a candidatura de
Coimbra Capital da Cultura Europeia para 2027. Às tantas, se calhar,
nessa altura já não existe comércio algum no centro histórico,
mas isto, para o PSD, não interessa nada.
Aproveita
também o signatário a oportunidade para demonstrar o seu
descontentamento com o Presidente Supremo do Céu. Nesta apatia, de
nem atar nem desatar, no seguimento da filosofia do “sim… não…
talvez antes pelo contrário… nin”, já parece o desaparecido
doutor Aníbal Cavaco Silva, que Deus tem em boa guarda e a gozar
várias e boas reformas.
Tudo
indica, Eminência, que o responsável por esta contrariedade nem
nota o que se está a passar por aqui. As pessoas andam todas
abespinhadas, ensimesmadas e a contar as pedras da calçada. Esta
rebaldaria não pode continuar. Merecemos respeito. Homessa! E
é melhor tomar atenção antes que realizemos uma novena e uma
promessa a Belém, a nosso senhor Rebelo de todos os Sousas, e se
preciso for, faz-se um chinfrim do caraças. E mais ainda: todos
juntos, incluindo o Bloco de Esquerda, vamos defender a
nacionalização das águas da chuva.
Está
de ver que São Pedro não percebe nada de gestão. Até aposto que
deve ter uma licenciatura c´mó outro. Só o povo, que tudo
paga e tudo aguenta como boi encabrestado, na sua douta e eterna
sabedoria de nada saber e ser uma entidade abstracta de
"Maria-vai-com-as-outras", que só serve para votar
sempre nos mesmos, será capaz de administrar melhor a pluviosidade e
fazer a distribuição como deve ser. E se não for capaz pede ajuda
ao camarada Jerónimo.
Em
nome de todos os humanos -da Terra, obviamente-, e essencialmente dos
comerciantes da Baixa de Coimbra que já estão fartos de tanta
soltura liquefeita, solicitam todos os subscritores abaixo-assinados
que se acabe com esta pouca-vergonha.
Estamos todos fartos disto! Aja decoro na partilha das águas!
Estamos todos fartos disto! Aja decoro na partilha das águas!
Seguem-se
as assinaturas ilegíveis dos descontentes:
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