Dando
sempre a cara, assinando Luís Fernandes, já há cerca de quarenta
anos que escrevo sobre o que se passa à minha volta. Até 2007
escrevia na coluna do leitor dos dois matutinos da cidade, depois
desta data passei a ter o meu próprio espaço, o blogue, e, então,
passei a dar asas ao que me vai na alma. Umas vezes de forma
subjectiva outras com frieza de imparcialidade jornalística, sempre
tentei imprimir um elevado toque de seriedade no que escrevo. Apesar
disso, já tive uma acção em tribunal por difamação, que, pedindo
a instrução do processo, ficou provado que descrescrevi a verdade e
foi despronunciada. Entre 2012 e 2015, gratuitamente, fui colaborador
de dois jornais semanários com uma página.
Se,
por um lado, chamando a atenção pública, pela resolução de
muitos problemas individuais de pessoas que pediam ajuda por não
serem ouvidos por quem de direito, tive muitas alegrias, contentamento
que me mostrou que a escrita, quando exercida por missão altruísta,
pode ser uma foice a desbravar o capim, por outro, já ganhei muitas
arrelias. Por mais estranho que pareça, estes aborrecimentos vieram
sempre de onde seria impensável: dos comerciantes. Desde sempre
senti uma enorme pressão de alguns deles para que não relatasse o
que se passava dentro do sector, aqui na Baixa. Alguns empresários,
verbalmente, chegaram a dizer-me que, contando o que se estava a
passar, estava a contribuir para desvalorizar esta zona antiga. Que
ao ler o que escrevo, absorvendo o lado negativo, menos gente
viria fazer compras à Baixa. É verdade este entendimento? É e não
é!
Antes
de consubstanciar, vou explicar que entre a verdade da clareza
descrita e a omissão silenciosa estabelecem-se dois valores: um
maior, de âmbito universal, e um menor,
que toca o egoísta interesse individual. O valor maior
é, através de actos de cidadania, alertar as autoridades para uma
calamidade iminente que, a concretizar-se, pode provocar um
cataclismo numa determinada classe ou área geográfica. O valor
menor, naturalmente, é para satisfazer interesses de
um grupo ou, pelo menos, não diminuí-los, calar o que, por enquanto, é
sub-reptício. Ou seja, tentar adiar ao máximo o conhecimento
público de uma determinada desgraça. É óbvio que, se o mal for
atacado no início, pode evitar uma pandemia. Quando não é, a
consequência, o efeito, pode tornar-se incontrolável. É claro que
para as autoridades governamentais, ou locais, é óptimo que quanto menos se
fale ou escreva sobre o caso melhor. O argumento simplista das
instituições é sempre o mesmo: “não temos conhecimento de
factos anómalos!” -com o devido exagero comparativo, mas
para se perceber melhor, aconselho o visionamento do filme “the Post”.
Curiosamente,
em 2008/2009, aquando de uma vaga de assaltos que perpassou o centro
histórico, em que na mesma noite chegaram a serem assaltados vários
estabelecimentos, desenrolou-se a mesma postura por parte de alguns
profissionais da compra e venda. Os que, até aí, não tinham sido
lesados por esventramento mandavam-se aos arames por eu dar
conta de tudo o que estava a acontecer. Então, numa reviravolta e
posição, notava-se uma coisa interessantíssima: quando, a seguir,
eram assaltados, eram logo os primeiros a protestar contra o estado
de insegurança e a bramir argumentos nos jornais contra a PSP e a
Câmara Municipal.
Porque sabia que ao noticiar tudo estava a fazer história, nunca me importei com o agradar ou desagradar a este ou aquele. A verdade é que foi com este trabalho noticioso “pro bono” que a PSP se sentiu “pressionada” a actuar com celeridade e Carlos Encarnação, o presidente camarário na altura, mandou instalar as câmaras de video-vigilância -que, como se sabe, foi mais um coelho tirado da cartola porque, verdadeiramente, a autarquia nunca quis saber da pouca sorte de quem trabalhava na Baixa.
Porque sabia que ao noticiar tudo estava a fazer história, nunca me importei com o agradar ou desagradar a este ou aquele. A verdade é que foi com este trabalho noticioso “pro bono” que a PSP se sentiu “pressionada” a actuar com celeridade e Carlos Encarnação, o presidente camarário na altura, mandou instalar as câmaras de video-vigilância -que, como se sabe, foi mais um coelho tirado da cartola porque, verdadeiramente, a autarquia nunca quis saber da pouca sorte de quem trabalhava na Baixa.
O TEMPO
PASSA MAS O PROCEDIMENTO MANTÉM-SE
Nos
dias que correm para uma crise de várias faces, económica,
comercial, habitacional, social, que se avoluma dia-após-dia na
Baixa, com vários estabelecimentos antigos a encerrarem, volta a
emergir a pergunta: deve-se
omitir o que está acontecer ou, pelo contrário, dar a conhecer ao
máximo de pessoas, ao mundo, o que está acontecer?
É
que na opinião de alguns eu deveria calar o que considero ser uma
obrigatória denúncia pública. Sei que não consigo mas, mesmo
assim, gostava de dizer a estas pessoas que tanto se sentem
incomodadas com o que escrevo que, sobretudo assinando com
fotografia, tomando a responsabilidade, não é fácil. E eu ajo
assim. Nunca deixei de escrever o que penso. Escrevo com a convicção
de que estou a fazer o que devo. E, por muito que estrebuchem, tenham
paciência mas vou continuar. Vão ter de me gramar!
Para
terminar, gostava só de acrescentar um pormenor, com uma
interrogação: ao longo das últimas décadas já vi partir muitos
que, sem nunca manifestar um protesto, me mandavam calar. Este
comportamento egoísta de olhar apenas para o seu umbigo serviu para
alguma coisa? Mesmo até no último suspiro, no bater da porta, nunca
se lhes ouviu uma reclamação. Este exemplo serviu ou serve para
alguém? Remediou alguma coisa para evitar a sua queda?
Também
é certo que vou também, já estou na fila, mas, ao menos tenham a
hombridade de mostrarem que sempre tive em mente o bem comum. Na
minha subjectividade, com a minha convicção, acredito que ninguém
me poderá acusar de fazer o jogo interesseiro do poder partidário e
político.
Vale
a pena pensar nisto?
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