Durante
décadas a perder de vista o Alfredo Freire Poço, agarrado à sua inseparável bengala, foi um calcorreante destas pedras calcadas por todos e tão
pouco valorizadas. Pelo anúncio necrológico colado em algumas
esquinas da Baixa, ficamos a saber que, partindo para a eternidade, foi hoje o seu funeral.
O
Alfredo tinha uma leve disfunção mental. Talvez por isso não
publicou nenhum livro, não foi professor, não fez parte de nenhum
governo central, não foi obreiro no geral. Se nós somos o que
fazemos, e por impossibilidade psíquica o Freire Poço foi somente
um humilde transeunte no nosso meio que se limitou a viver, logo, por
silogismo, o Alfredo passou por nós como se não existisse. Como só
tomei conhecimento agora do seu falecimento, desconheço se teria
tido muitos ou poucos acompanhantes nas cerimónias funerárias. O Presidente da República não
esteve lá de certeza hoje, porque a comunicação social local nada falou
da sua deslocação a Coimbra. Esteve anteontem mas noutro velório. Por isso mesmo, por esta
não-vivência, sem protagonismo, estou aqui para deixar um elogio
fúnebre ao simples, ao amigo que partiu.
Conheci
pela primeira vez o Alfredo nos idos anos de 1973, aqui na Baixa,
quando comecei a trabalhar no comércio, nas lojas do também
desaparecido José dos Santos Coimbra, na Casa Santiago, nas Galerias Coimbra, no Traje e outras cujo nome já não recordo. O pai do agora finado, também
já falecido há muitos anos, era o senhor Miguel, o alfaiate sempre
de serviço quando era preciso apertar ou alargar um fato de homem.
Era um profissional muito discreto. A Amélia, a irmã do Alfredo,
chegou a ter um pequeno café na Rua da Fornalhinha, por volta de
1980.
Como
curiosidade, o Alfredo quase sempre que vinha à Baixa, fazendo um
pequeno desvio, cá deixava o cumprimento repetido na forma seguinte:
“Bom dia, Senhor Luís! Não me arranja uma nota de vinte
escudos, de Santo António? É que dá-me sorte, sabe?”
Às
vezes, de tempos a tempos, lá lhe dava o amuleto pretendido.
Para a família enlutada, em meu nome e em nome da Baixa, se posso escrever assim, os nossos sentidos pêsames. Descansa em paz, Alfredo!
Para a família enlutada, em meu nome e em nome da Baixa, se posso escrever assim, os nossos sentidos pêsames. Descansa em paz, Alfredo!
3 comentários:
Obrigado pela genial história do Alfredo Poço.
Quem o conhecia recordará!
Abraço.
Obrigado pela genial publicação!!
Obrigado pela genial história do Alfredo Poço.
Quem o conhecia recordará!
Abraço.
Enviar um comentário