terça-feira, 6 de março de 2018

A BAIXA VISTA DA MINHA JANELA

(Foto de Márcio Ramos)




Texto escrito a quatro mãos.
Por Márcio Ramos e Luís Fernandes

Embora haja vozes a dizer que a Baixa está boa e se recomenda, basta percorrer uma ou outra rua neste bairro de casario antigo para entender que a zona está moribunda, como se ligada às maquinas e a espera de alguém lhe dar o golpe final. Sobre quem vai arcar com a culpa desta zona antiga chegar a este ponto, como uma roda de muitos raios que sustenta uma carroça, não vamos pronunciar-nos porque não é disso que pretendemos perorar.
Considerando que esta área de antanho está transformada num novelo de linhas embrulhadas, custe lá o que custar, a bem da Nação, para bem de todos nós, tem de haver um plano para a sua recuperação. Enquanto moradores por cá, como é o que está ser feito, tememos que a Baixa não recupere do longo sono letárgico com espectáculos de fim-de-ano e feiras de rua. Percebemos que estes eventos quebram a monotonia e o silêncio embaraçante que tomou de assalto toda a envolvente, porém, não é com festarolas e foguetório que se descola do situacionismo instalado como doença grave.
Acima de tudo, como já tem sido defendido neste blogue, é preciso apostar na recuperação conjunta da parte alta e baixa da cidade, trazendo famílias a morarem aqui e cá fazerem as suas compras no pequeníssimo comércio de proximidade.
Pelo que lemos e nos apercebemos nos vizinhos, os comerciantes, em larga maioria, têm a corda na garganta. Ora, embora ainda poucos conheçam o seu teor, finalmente a Câmara Municipal de Coimbra já aprovou o “Regime de Reconhecimento e Proteção de Estabelecimentos e Entidades de Interesse Histórico e Cultural ou Social Local”. O que espera a autarquia para elaborar um bilhete turístico com preço único que contemple todos os pontos indicados num roteiro previamente anunciado entre monumentos e entidades de relevo local classificado? Como é de calcular, a totalidade da venda de ingressos seria dividida entre todas as entidades abrangidas, no caso, referindo também as Repúblicas de estudantes e lojas mais antigas com passado histórico digno de nota. Seria uma forma de contribuir monetariamente para manter estes espaços e ajudar na sua revitalização. Tanto quanto julgamos saber, existe um bilhete único apenas para visitar a Universidade de Coimbra e o Portugal dos Pequenitos.
Neste momento, um turista que pretenda visitar vários monumentos na cidade tem que se sujeitar aos preços que se indica:

Universidade 12.00 euros
Catedral da Sé Velha 2.50 euros (o acesso livre à igreja só é possível quando houver
homilias. Fora das missas a entrada é sempre a pagar)
Igreja de Santa Cruz 3.00 euros (pagamento exigido para aceder aos claustros)
Igreja da Sé Nova 1.00 euro
Portugal dos Pequenitos 8.00 euros

UM CONTRATO SOCIAL PRECISA-SE

É urgente o Executivo sair do seu casulo de acomodamento e, de uma vez por todas, juntar todos os interessados no futuro da Baixa de Coimbra.
Pode até parecer que só os comerciantes estão a viver este momento de grande depreciação que caiu na zona mas não é verdade. Tomemos atenção a alguma riqueza e sectores de actividade que estão a empobrecer quase sem se dar por isso:

-Quando noutras cidade o valor do imobiliário sobe, com grande preocupação por verem a sua propriedade descer abruptamente estão os proprietários -e este facto pode facilmente chegar para sensibilizar para uma descida de rendas no comércio e na habitação.
-Estão os operadores turísticos que, pela degradação do meio-ambiente, social e económico, -estarão cada vez mais apreensivos com o que está acontecer.
-Por causa da desertificação acelerada que está em marcha na zona antiga, estão preocupados os operadores que trabalham com alojamento local, porque os turistas ganham medo de sair à noite -o mesmo acontece com estudantes que por cá têm quartos arrendados. -Estão a colocar as mãos na cabeça quem trabalha na área dos serviços.
-Sobretudo entre Outubro e Abril, com o decréscimo de turismo nesta época baixa, alguns cafés estão a encerrar por falta de movimento de pessoas.

O que se passa nesta altura é que a Baixa acorda cada vez mais tarde, por volta das 10h00, e vai para a cama, como as galinhas, cada vez mais cedo, por volta das 18h00. Por conseguinte, dá para perceber que, se não se fizer nada, estamos a rebentar com o que resta de uma parte histórica classificada pela Unesco.
Vale a pena pensar nisto?

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