(Retirado da Web)
“Quando
damos por nós, olhamos o espelho
e
já não reconhecemos a imagem que nos
aparece
reflectida. Parece de alguém muito
chegado,
mas só isso.”
Ao
que tudo indica, logo à noite, vamos, todos, adiantar os ponteiros
do relógio para uma hora à frente –a chamada hora de Verão. Será
que valerá a pena cumprir esta tradição anualmente? Ou seja, os
proventos serão de tal importância que valham o desarranjo que esta
alteração nos provoca no ritmo biológico? O facto de passar a
amanhecer mais cedo, e com o alegado de não haver desfasamento na
luz solar, justifica o alterar a rotina dos marcadores e
controladores do nosso tempo?
“Em
conformidade com a legislação, a hora legal em Portugal
continental:
- será adiantada de 60 minutos à 1 hora de tempo legal (1 hora UTC) do dia 25 de Março e atrasada de 60 minutos às 2 horas de tempo legal (1 hora UTC) do dia 28 de Outubro.” –retirado da página do Observatório Astronómico de Lisboa
Confesso
que gostava de escrever sobre este tema algo sério, mas não sei se
sou capaz. É que este costume, a meu ver, intrometido e
reaccionário, começa por me dar uma tremenda vontade de rir –lá
para o fim do texto dá vontade de chorar.
Não
é por nada, mas alguém apresentou um estudo científico a provar a
mais-valia para a economia deste dogma? Ao que me parece “tudo
começou com Benjamin Franklin, o político e inventor do para-raios
e das lentes bifocais. Em 1784, num artigo publicado num jornal
francês, Franklin sugeria que a França adiantasse uma hora no
Verão, alegando que Paris poderia poupar anualmente 32 mil toneladas
de cera de vela. Só mais de um século depois é que a sugestão
seria tida em conta, no contexto da Primeira Guerra Mundial, para
economizar energia”.
O
facto de amanhecer mais cedo e anoitecer mais tarde, à hora da ceia,
legitima tudo isto? É que esta convenção, embora provisoriamente,
começou em 1992, com o governo de Cavaco Silva, e definitivamente
com o Decreto-lei número 17, de 8 de Março, em 1996, e dando
cumprimento a uma directiva europeia. E aqui faço logo a primeira
pergunta estúpida: se com
esta mudança se enriqueceu a economia, como é que, passados 20
anos, estamos mais pobres do que anteriormente?
Como
duvido sempre dos axiomas, as tais verdades sem contestação, ainda
faço outra interrogação sem pés nem cabeça: como
é que sem esta tão iluminada medida viveram os nossos pais? E mesmo
alguns de nós, em crianças?
Será
que neste afã do homem querer controlar tudo, até a luz solar, nos
tornou mais felizes?
Com a desculpa do aproveitar o máximo de luz, enquanto fonte de energia bio-rítmica, nos dias que correm haverá menos solidão, menos depressão, menos suicídio, isto comparando com épocas recuadas?
Com a desculpa do aproveitar o máximo de luz, enquanto fonte de energia bio-rítmica, nos dias que correm haverá menos solidão, menos depressão, menos suicídio, isto comparando com épocas recuadas?
O
curioso é que nesta tentativa vã de apanhar o tempo ficámos sem
tempo para olhar as estrelas, a Lua, o magnífico nascer do Sol no
horizonte, a leste, o extraordinário Pôr-do-sol a cair sobre o mar,
o crepúsculo, e toda a manifestação de uma Natureza viva e
magnificente.
Perdemos
hábitos de leitura, de escrita, de falar com o vizinho.
Como se perdêssemos o romantismo e ganhássemos o facebookismo, deixámos de ter uma necessária contemplação introspectiva do mundo à nossa volta.
Como se perdêssemos o romantismo e ganhássemos o facebookismo, deixámos de ter uma necessária contemplação introspectiva do mundo à nossa volta.
Vivemos
o tempo da necrologia, que é o olhar a página dos jornais diários
a ver quem dos nossos amigos morreu –ou, especulando um pouco, para
vermos se a nossa foto lá está, porque, bem no fundo, já nem os
jornais se lêem como antigamente. É tudo a correr. "Não
temos tempo", dizemos todos em coro. Os dias, as semanas, os
meses, os anos, todos são iguais e passam num ápice. Quando
damos por nós, olhamos o espelho e já não reconhecemos a imagem
que nos aparece reflectida. Parece de alguém muito chegado, mas só
isso.
Até
mudaram a ortografia –estou a escrever e, volta e meia, lá me
surge o sublinhado vermelho a indicar erro, ou seja, o computador a
querer controlar a minha vontade. Fosca-se para estas mudanças!
Porque é que não inventam uma máquina do tempo, onde, em turismo,
pudéssemos ir fazer umas férias de longo curso?
Mas, afinal, o que é que se alterou? Se, igualmente, uma hora continua a ter sessenta minutos, mudou o quê?
Mas, afinal, o que é que se alterou? Se, igualmente, uma hora continua a ter sessenta minutos, mudou o quê?
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