sexta-feira, 23 de março de 2018

UMA RESPOSTA A UM COMENTÁRIO RECEBIDO








Meu caro F. J., antevejo que o senhor até deve ser um sujeito simpático -isto, de certo modo para justificar as minhas longas explanações. Por isso, gostava de lhe lembrar outra vez que perante a vida prática, enquanto cidadãos governados por eleitos, temos sempre duas posições: optamos por nos calarmos e aceitamos tudo ou protestamos afincadamente mesmo sabendo que pouco se consegue. Enquanto escolha de uma ou de outra premissa, é uma manifestação de vontade individual que se deve respeitar. Como sabe os sistemas políticos, democráticos ou ditatoriais, fazem tudo para que o cidadão comum enverede pela primeira, isto é, que não faça ondas e aceite passivamente as deliberações verticais, de cima para baixo. Os que não enfiam o chapéu, agindo de diversos modos, quer escrevendo, cantando, manifestando-se publicamente, são tratados como marginais. Sempre foi assim e sempre assim será até ao fim dos tempos. A manipulação sempre esteve em cima da mesa para ser usada por quem governa, seja poder local ou nacional.
Claro está que quem cala consente -diz-se em aforismo- e escancara a porta para as maiores atrocidades. O mal entra sempre devagarinho e, até se instalar definitivamente, usando todas as armas para convencer, vai corrompendo pessoas neutras de modo a que continuem estáticas e não intervenham na vida pública, ou se o fizerem que sejam a favor. Depois de conseguir o seu objectivo, o sistema passa a usar estes cidadãos como infantaria, carne para canhão, na frente do combate ideológico. A não denúncia, ou denegrir quem o faz é um bom exemplo para se fazer o jogo do poder.
No caso do genocídio do comércio tradicional a tática seguida é a mesma. Convencer o máximo de pessoas, nomeadamente os consumidores, de que o encerramento contínuo de lojas tradicionais se deve à inoperância dos comerciantes e é da sua inteira responsabilidade. Por outro lado, investindo noutro argumento forte, o sistema tenta mostrar à força toda que a vinda de outros grandes investimentos no comércio de grandes áreas traz novos empregos e são o paradigma do progresso e desenvolvimento. Tome-se atenção num detalhe: ninguém está seguro! Seja patrão ou empregado, a ameaça está aí!
Não fui muito longo, pois não?

UM EXEMPLO DO QUE ESCREVI EM CIMA:

Não são os supermercados que destroem o comércio local,
eles fazem é concorrência entre si. A autarquia não tem o direito
de limitar o investimento privado”
Ana Carvalho, vereadora com pelouro no Executivo da Câmara
Municipal da Figueira da Foz, sobre a possível construção de mais dois hipermercados.”
(Diário de Coimbra, rubrica Região das Beiras,
de 20 de Março)

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