Meu
caro F. J., antevejo que o senhor até deve ser um sujeito simpático
-isto, de certo modo para justificar as minhas longas explanações.
Por isso, gostava de lhe lembrar outra vez que perante a vida
prática, enquanto cidadãos governados por eleitos, temos sempre
duas posições: optamos por nos calarmos e aceitamos tudo ou
protestamos afincadamente mesmo sabendo que pouco se consegue.
Enquanto escolha de uma ou de outra premissa, é uma manifestação
de vontade individual que se deve respeitar. Como sabe os sistemas
políticos, democráticos ou ditatoriais, fazem tudo para que o
cidadão comum enverede pela primeira, isto é, que não faça ondas
e aceite passivamente as deliberações verticais, de cima para
baixo. Os que não enfiam o chapéu, agindo de diversos modos, quer
escrevendo, cantando, manifestando-se publicamente, são tratados
como marginais. Sempre foi assim e sempre assim será até ao fim dos
tempos. A manipulação sempre esteve em cima da mesa para ser usada
por quem governa, seja poder local ou nacional.
Claro
está que quem cala consente -diz-se em aforismo- e escancara a porta
para as maiores atrocidades. O mal entra sempre devagarinho e, até
se instalar definitivamente, usando todas as armas para convencer,
vai corrompendo pessoas neutras de modo a que continuem estáticas e
não intervenham na vida pública, ou se o fizerem que sejam a favor.
Depois de conseguir o seu objectivo, o sistema passa a usar estes
cidadãos como infantaria, carne para canhão, na frente do combate
ideológico. A não denúncia, ou denegrir quem o faz é um bom
exemplo para se fazer o jogo do poder.
No
caso do genocídio do comércio tradicional a tática seguida é a
mesma. Convencer o máximo de pessoas, nomeadamente os consumidores,
de que o encerramento contínuo de lojas tradicionais se deve à
inoperância dos comerciantes e é da sua inteira responsabilidade.
Por outro lado, investindo noutro argumento forte, o sistema tenta
mostrar à força toda que a vinda de outros grandes investimentos no
comércio de grandes áreas traz novos empregos e são o paradigma do
progresso e desenvolvimento. Tome-se atenção num detalhe: ninguém
está seguro! Seja patrão ou empregado, a ameaça está aí!
Não
fui muito longo, pois não?
UM EXEMPLO
DO QUE ESCREVI EM CIMA:
“Não
são os supermercados que destroem o comércio local,
eles
fazem é concorrência entre si. A autarquia não tem o direito
de
limitar o investimento privado”
Ana
Carvalho, vereadora com pelouro no Executivo da Câmara
Municipal
da Figueira da Foz, sobre a possível construção de mais dois hipermercados.”
(Diário
de Coimbra, rubrica Região das Beiras,
de
20 de Março)
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