(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
“Quero
aqui apresentar um problema que tem vindo
a
agravar-se no tempo e que se situa no Ribeiro da
Póvoa,
S. Martinho do Bispo, mais concretamente
na
interseção da Rua Fonte da Preguiça com a Rua
do
Lagar e Rua Adelino Batista, sem que tenha havido
qualquer
tipo de intervenção por parte dos sucessivos
responsáveis
locais.”
(Extracto
do comunicado de José Manuel Silva. Pode ler mais aqui)
Mais
uma vez José Manuel Silva, vereador sem pelouro do movimento “Somos
Coimbra”, recorreu às redes sociais, nomeadamente ao Facebook,
para que os eleitores conimbricenses tomem conhecimento de uma
proposta apresentada pelo movimento na última reunião do executivo,
na segunda-feira 19. Por parte da imprensa diária, pelo menos eu não
li nada, nem uma amostra do que se passou. Nada demove os periódicos da sua estaticidade.
O
que nos deve chamar a atenção nesta comunicação de José Manuel
Silva, representante e parte do bloco da oposição no Executivo
camarário, é o facto da sua publicação funcionar com um grito de
ajuda. Pelo mutismo imposto por “mordaça”, não sabemos
se o assunto mereceu provimento pela vereação e teria sido motivo
de discussão minuciosa. Como já vem sendo hábito, enquanto
cidadãos, não sabemos nada! O que sabemos é que este silêncio
atrofiante por parte dos jornais escritos em papel locais beneficia
descaradamente o exercício do poder instituído. Embora
indirectamente e sem poder ser criminalizado, o princípio da
transparência da publicitação dos actos públicos está a ser
beliscado. Bem sabemos que podemos sempre consultar as actas, mas
quem faz isso? Se a imprensa publicada não dá relevância e a
maioria com assento parlamentar nada faz para tornar público, está
de ver, estamos a viver num viciado círculo fechado, estanque, onde
só sobressai o que interessa à ordem instituída.
Como
ressalva, declaro sobre palavra de honra que não fui nomeado
defensor deste movimento e de outros partidos que compõem a
oposição. O que me leva a manifestar opinião é ter noção de que
enquanto sujeitos de direitos (e obrigações), deixando correr as
coisas sem protesto, por um lado, estamos todos a ser coniventes com
uma situação lesiva, por outro, estamos a contribuir para um
situacionismo que tarda em alterar. O que estamos a assistir é
demasiado gravoso e atentatório da vida política e social. Talvez
seja por isto mesmo que cada vez mais o futebol é o rei das
conversas de rua e a política a cortesã mal-vista de uma relação
bilateral que devia ser incentivada.
Mas
não é só o facto dos jornais não cumprirem a sua obrigação
social que deveria fazer refletir o cidadão médio e mais ou menos
informado, é também a conflituosa relação entre governo local e
oposição que nos deveria deixar preocupados.
Quem
segue a forma de actuar desta maioria socialista desde 2013, e
relembra as queixas amiúde nesse distante mandato de quatro anos de
José Ferreira da Silva, ex-vereador do movimento Cidadãos por Coimbra,
facilmente chega à conclusão do que está por trás deste
procedimento de José M. Silva. Ou seja, em especulação, parece que
a tentativa de furar o cerco, a fuga para a frente do movimento
“Somos Coimbra”, é, em metáfora, como um náufrago
perdido no oceano a colocar os braços no ar, a mostrar que está
vivo e a pedir auxílio. Como a oposição não é tratada com o
respeito e a dignidade que merece, vê-se na necessidade de, para
levar a sua mensagem aos conimbricenses, tentar furar todos os muros
de silêncio imposto com o conluio de uma imprensa local que deixa
muito a desejar.
Enquanto
cidadão e munícipe que lê os jornais diários e parcialmente vai
apreendendo o que se passa, sinto-me profundamente ferido com a
manifesta falta de exercício democrático, isenção e independência
e, acima de tudo, pela falta de formação cívica e humana, com
laivos de autoritarismo, de certos eleitos que deveriam primar pelo
respeito inter-pares.
Por
notícias que se vão sabendo e lendo pela Baixa, muito baixinho para
não causar mossa em contrabalanço entre o que se sabe e o que se
desconhece, o panfletarismo apregoado em artigos de opinião na
imprensa não passa de uma manobra de diversão. E como se fosse pouco, o clientelismo virulento continua a estender a mão.
Com
franqueza, estou muito preocupado. Ou melhor, enquanto cidadão
comum, sinto-me profundamente irritado. Coimbra, a nossa polis
do conhecimento e da sabedoria, que deveria ser um exemplo de
liberdade para o país, não merece ter certas pessoas tão
limitadas, que numa pomposa arrogância parecem ter a pose do dono
disto tudo, à frente do fórum que governa a cidade. Esquecem
que foram eleitas para servir e não para se servirem do lugar que
ocupam.
Nestes
vinte dias que já leva este mês de Março, em torno da degradação
da Baixa e do encerramento da livraria do meu amigo Miguel Carvalho,
uma ou outra pessoa -nomeadamente Carlos Fiolhais-, poucas, colocaram
o dedo no rasgão que dilacera a alma da cidade. A maioria prefere
perder-se em choros de carpideira que não conduzem a nada nem mudam
uma única pedra da calçada.
É preciso trazer para a rua, para a discussão pública, este sufoco democrático de que Coimbra sofre. Se é uma obrigação de toda a oposição denunciar o que está acontecer -e nem por isso se vêm grandes protestos-, não o é menos por parte dos cidadãos que compõem a base activa deste lugar milenar, mais antigo que o país.
É preciso trazer para a rua, para a discussão pública, este sufoco democrático de que Coimbra sofre. Se é uma obrigação de toda a oposição denunciar o que está acontecer -e nem por isso se vêm grandes protestos-, não o é menos por parte dos cidadãos que compõem a base activa deste lugar milenar, mais antigo que o país.
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