segunda-feira, 5 de março de 2018

A QUEDA DA LIVRARIA QUE ABALOU A CIDADE (E NÃO SÓ)






1-Neste fim de semana, Coimbra sentiu-se profundamente abalada na sua alma. O caso não é para menos: em tudo o que é jornal, local ou nacional, e até canal de televisão, a notícia varreu cantos, recantos, becos e ruelas: vai encerrar uma livraria na Baixa!
Numa profunda depressão colectiva na cidade, não houve polidor de esquina, engraxador, comerciante, funcionário público, professor universitário, político (da oposição) que não derramasse, pelo menos, uma exclamação assim do género: “O quê?!? Mais uma?!? Que pena! Esta Câmara não faz nada!
2-Mais que certo, resultado deste pandémico desânimo molhado e pingado em gotas húmidas, será por isso que o Mondego não pára de alagar as margens.
Dizem por aqui algumas boas línguas que, tomado pela solidariedade institucional terrena, até São Pedro colocou todos os santos a chorarem de pena.
Com tanta gente incomodada, com tão elevado sentimento de perda, e a cair na melancolia, consta-se que, temendo actos tresloucados em psicose, o Governo deu instruções à autarquia para que todos os psicólogos e psiquiatras se mantivessem por perto para poderem acudir em caso de aflição.
3-Quanto às instituições, há quem diga que viu e ouviu a velha Cabra, o relógio da torre da Universidade, cair num pranto medonho e a bater desalmadamente num toque de finados.
Outros, mais atentos a tudo o que possa quebrar a rotina pasmática de uma urbe sonolenta, juram a pés-juntos que até o Paço do Concelho passou o Sábado e Domingo com a bandeira a meia-haste.
Disseram por aqui que, para salvar o que resta da alma dos vivos, pedindo a ajuda de Deus para estes casos tão normais mas que, por força dos media, só agora se tornou notado, a Diocese de Coimbra deu instruções para que em todas as homilias realizadas na cidade e arredores se confortassem os fiéis sobre o seu complexo de culpa em virtude da sua pouca fidelidade ao centro histórico. Mais, que, em todos os pecados em confissão, se substituíssem as orações por compras no comércio tradicional. Grandes profanações, para quem não vem à Baixa há mais de dois anos: ordenar a compra de produtos até 250 euros; médias profanações, para os que não põem os pés na zona antiga há cerca de um ano: 100 euros; pequeníssimas transgressões, para os que não vêm à parte baixa da cidade há mais de três meses e, perante tantas lojas encerradas, exclamam "ai, como isto está!": compra de uma vela nesta zona velha e que seja acesa junto ao púlpito da Igreja de São Bartolomeu.
Sobretudo no Facebook, num coro de carpideiras bem afinado, a tristeza manifestada em lágrimas, como espuma de champanhe esparramada em taça, inundou de tal modo a popular rede social que os administradores foram obrigados a tomar medidas de excepção e de acautelamento.
4-Segundo uma fonte anónima, parece que João Vieira Lopes, presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal, na próxima reunião da concertação Social, pela primeira vez e numa acção nunca vista, vai bater com a mão aberta em cima da mesa e proclamar: “ou o Governo abre os olhos para a miséria que atravessa a Baixa de Coimbra ou viro isto tudo!
De um amigo próximo do camarada Louçã, chegou-nos a informação não confirmada que Catarina Martins, do Bloco de Esquerda, vai chamar ao Parlamento o Secretário de Estado Adjunto e do Comércio -não vai indicar o nome sem antes saber se está vivo ou morto- para se inteirar sobre que medidas vai o executivo tomar em defesa da Baixa de Coimbra.
Segundo um nosso camarada na clandestinidade, tudo indica que Jerónimo de Sousa, em nome da CDU, tão preocupado que está que há três dias que não dorme, vai puxar as orelhas a António Costa, o Primeiro-ministro, sobre o que está acontecer com o comércio de rua na Baixa da cidade.
Há quem jure ter adivinhado que Marcelo Rebelo de Sousa, o Presidente da República de todos os portugueses, está muito preocupado com o que se está a passar em Coimbra e vai prometer visitar a Baixa da cidade nos próximos dias.
5-Se, por acaso, nada do que é adiantado hoje ocorrer e para a próxima semana já ninguém se recordar do que aconteceu, caindo num esquecimento que já vem de longe, que ninguém estranhe. Afinal as depressões são como as estações do ano: vão e vem-se!

1 comentário:

João Paulo Craveiro disse...

Isso foi tudo porque a televisão passou reportagem.
Há uma discussão que é preciso ter, depois destes anos todos: o fecho completo das Ruas Ferreira Borges e Visconde da Luz ao trânsito é favorável ou não ao comércio e restante vida da Baixa?