1-Neste fim de semana, Coimbra sentiu-se profundamente abalada na sua alma. O caso não é para menos: em tudo o que é jornal, local ou nacional, e até canal de televisão, a notícia varreu cantos, recantos, becos e ruelas: vai encerrar uma livraria na Baixa!
Numa
profunda depressão colectiva na cidade, não houve polidor de
esquina, engraxador, comerciante, funcionário público, professor
universitário, político (da oposição) que não derramasse, pelo
menos, uma exclamação assim do género: “O quê?!? Mais
uma?!? Que pena! Esta Câmara não faz nada!”
2-Mais
que certo, resultado deste pandémico desânimo molhado e
pingado em gotas húmidas, será por isso que o Mondego não pára de
alagar as margens.
Dizem
por aqui algumas boas línguas que, tomado pela solidariedade
institucional terrena, até São Pedro colocou todos os santos a
chorarem de pena.
Com
tanta gente incomodada, com tão elevado sentimento de perda, e a
cair na melancolia, consta-se que, temendo actos tresloucados em
psicose, o Governo deu instruções à autarquia para que todos os
psicólogos e psiquiatras se mantivessem por perto para poderem
acudir em caso de aflição.
3-Quanto
às instituições, há quem diga que viu e ouviu a velha Cabra, o relógio da torre da Universidade, cair num pranto medonho e a bater
desalmadamente num toque de finados.
Outros, mais atentos a tudo o que possa quebrar a rotina pasmática de uma urbe sonolenta, juram a pés-juntos que até o Paço do Concelho passou o Sábado e Domingo com a bandeira a meia-haste.
Outros, mais atentos a tudo o que possa quebrar a rotina pasmática de uma urbe sonolenta, juram a pés-juntos que até o Paço do Concelho passou o Sábado e Domingo com a bandeira a meia-haste.
Disseram
por aqui que, para salvar o que resta da alma dos vivos, pedindo a
ajuda de Deus para estes casos tão normais mas que, por força dos
media, só agora se tornou notado, a Diocese de Coimbra deu
instruções para que em todas as homilias realizadas na cidade e
arredores se confortassem os fiéis sobre o seu complexo de culpa em
virtude da sua pouca fidelidade ao centro histórico. Mais, que, em
todos os pecados em confissão, se substituíssem as orações por
compras no comércio tradicional. Grandes
profanações, para quem
não vem à Baixa há mais de dois anos: ordenar a compra de produtos
até 250 euros; médias
profanações, para os
que não põem os pés na zona antiga há cerca de um ano: 100 euros;
pequeníssimas
transgressões, para os
que não vêm à parte baixa da cidade há mais de três meses e,
perante tantas lojas encerradas, exclamam "ai,
como isto está!":
compra de uma vela nesta zona velha e que seja acesa junto ao púlpito
da Igreja de São Bartolomeu.
Sobretudo
no Facebook, num coro de carpideiras bem afinado, a tristeza
manifestada em lágrimas, como espuma de champanhe esparramada em
taça, inundou de tal modo a popular rede social que os
administradores foram obrigados a tomar medidas de excepção e de
acautelamento.
4-Segundo
uma fonte anónima, parece que João Vieira Lopes, presidente da
Confederação do Comércio e Serviços de Portugal, na próxima
reunião da concertação Social, pela primeira vez e numa acção
nunca vista, vai bater com a mão aberta em cima da mesa e proclamar:
“ou o Governo abre os olhos para a miséria que atravessa a
Baixa de Coimbra ou viro isto tudo!”
De
um amigo próximo do camarada Louçã, chegou-nos a informação não
confirmada que Catarina Martins, do Bloco de Esquerda, vai chamar ao
Parlamento o Secretário de Estado Adjunto e do Comércio -não vai
indicar o nome sem antes saber se está vivo ou morto- para se
inteirar sobre que medidas vai o executivo tomar em defesa da Baixa
de Coimbra.
Segundo
um nosso camarada na clandestinidade, tudo indica que Jerónimo
de Sousa, em nome da CDU, tão preocupado que está que há três
dias que não dorme, vai puxar as orelhas a António Costa, o
Primeiro-ministro, sobre o que está acontecer com o comércio de rua
na Baixa da cidade.
Há
quem jure ter adivinhado que Marcelo Rebelo de Sousa, o Presidente da
República de todos os portugueses, está muito preocupado com o que
se está a passar em Coimbra e vai prometer visitar a Baixa da cidade
nos próximos dias.
5-Se, por acaso, nada do que é adiantado hoje ocorrer e para a próxima semana já ninguém se recordar do que aconteceu, caindo num esquecimento que já vem de longe, que ninguém estranhe. Afinal as depressões são como as estações do ano: vão e vem-se!
5-Se, por acaso, nada do que é adiantado hoje ocorrer e para a próxima semana já ninguém se recordar do que aconteceu, caindo num esquecimento que já vem de longe, que ninguém estranhe. Afinal as depressões são como as estações do ano: vão e vem-se!
1 comentário:
Isso foi tudo porque a televisão passou reportagem.
Há uma discussão que é preciso ter, depois destes anos todos: o fecho completo das Ruas Ferreira Borges e Visconde da Luz ao trânsito é favorável ou não ao comércio e restante vida da Baixa?
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