segunda-feira, 26 de março de 2018

EDITORIAL: ESCREVER PARA CONSCIENCIALIZAR

Foto de Movimento HUMOR.


Neste movimento empenhado de denúncia pública, apesar de imensas condicionantes, há alguns cidadãos que, dando a cara, exercem muito bem a parte que, por responsabilidade ética, moral, civil e constitucional, deveria caber a todos. Refiro nomeadamente as pessoas que escrevem, quer em blogues quer nas redes sociais, ou desenham, já que a canção deixou ser uma arma há cerca de quatro décadas, quando a liberdade tal como o oxigénio passaram a ser bens negativos do ponto de vista económico. Ou seja, aparentemente, desde que usados pela via tradicional sem abusos, onde deve imperar o bom-senso, a ponderação e a racionalidade, não serão necessários esforços para os obter.
Antes de passar ao que me levou a escrever esta crónica, desprezando totalmente o elogio à parte que me toca, correndo o risco de cair no ridículo pela má caracterização, diria que quem tem a coragem de denunciar uma, algumas, ou muitas situações de atropelo social -convém definir atropelo: “deitar ao chão e passar por cima”- é um cidadão que protesta por se sentir inconformado. E mais:
É um cidadão, que gostando de política, da polis (cidade), sente-se afastado dos partidos tradicionais e defende uma cultura muito sua. É mais bem informado do que a maioria;
É um “sniper”, um franco atirador com elevada capacidade de fazer uso do seu talento, que, na maioria dos casos, age sozinho, sem rectaguarda, sem rede, sem amigos que o ajudem em extrema necessidade;
É um missionário, em muitos casos descrente das religiões mas, em paradoxo, não acreditando no transcendente, prega a sua “fé” na equidade e no aperfeiçoamento do homem;
É um incompreendido por todos, na generalidade. Tem uma visão pessimista-realista;
Olhado como visionário, curiosamente tem poucos amigos entre os que ajuda com o seu grito e, naturalmente, entre os que critica nem pensar;
Os que precisam deste lutador social servem-se dele, usando a manipulação e obtendo os lucros, da sua coragem, para que com a ousadia que o caracteriza, com alguma loucura associada, faça o que não conseguem: que é dar a cara;
Para quem não o conhece bem, parece estar sempre no contra, mas é pura ilusão, o anti não faz parte da sua cartilha. Sem guardar ressentimentos, perdoa facilmente e acaba a desvalorizar os erros do homem comum;
Fundamentando as suas proposições, em dúvida metódica, buscando matéria reveladora, procura ser convencido de que está errado;
Resumindo, este reivindicador de uma nova ordem (ou velha, perdida no tempo?) é alguém que, antes de aceitar a conclusão defendida pelo mensageiro, pensa duas vezes para si mesmo, começando na tese, passa à antitese e só depois, concordando ou discordando, retira a sua conclusão;
E comecei a escrever esta crónica, com este enorme preâmbulo, porque li o “desabafo” em quatro pontos de José Gomes, o artista-crítico de serviço, o desenhador citadino de excelência que, denunciando através da pena, nos faz sorrir. Foi menos cáustico e até mais aglutinador do que eu. Confesso, já me falta a  paciência para certos comportamentos que o José Gomes contemporiza. Se concordo com ele ou não, estou em crer, pouco interessa. A dar a cara, pegando o boi pelos cornos, salvo seja, somos poucos mas bons! Ó larilas! -este vocábulo destina-se aos que têm medo até da própria sombra.

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