Neste
movimento empenhado de denúncia pública, apesar de imensas
condicionantes, há alguns cidadãos que, dando a cara, exercem muito
bem a parte que, por responsabilidade ética, moral, civil e
constitucional, deveria caber a todos. Refiro nomeadamente as pessoas
que escrevem,
quer em blogues quer nas redes sociais, ou desenham,
já que a canção deixou ser uma arma há cerca de quatro décadas,
quando a liberdade tal como o oxigénio passaram a ser bens negativos do ponto de vista económico. Ou seja, aparentemente, desde que
usados pela via tradicional sem abusos, onde deve imperar o
bom-senso, a ponderação e a racionalidade, não serão necessários
esforços para os obter.
Antes
de passar ao que me levou a escrever esta crónica, desprezando
totalmente o elogio à parte que me toca, correndo o risco de cair no
ridículo pela má caracterização, diria que quem tem a coragem de
denunciar uma, algumas, ou muitas situações de atropelo social
-convém definir atropelo: “deitar ao chão e passar por cima”-
é um cidadão que protesta por se sentir inconformado. E mais:
É
um cidadão, que gostando de política, da polis (cidade), sente-se
afastado dos partidos tradicionais e defende uma cultura muito sua. É mais bem
informado do que a maioria;
É
um “sniper”, um franco atirador com elevada capacidade de
fazer uso do seu talento, que, na maioria dos casos, age sozinho, sem
rectaguarda, sem rede, sem amigos que o ajudem em extrema
necessidade;
É
um missionário, em muitos casos descrente das religiões mas, em
paradoxo, não acreditando no transcendente, prega a sua “fé” na
equidade e no aperfeiçoamento do homem;
É
um incompreendido por todos, na generalidade. Tem uma visão pessimista-realista;
Olhado
como visionário, curiosamente tem poucos amigos entre os que ajuda
com o seu grito e, naturalmente, entre os que critica nem pensar;
Os
que precisam deste lutador social servem-se dele, usando a manipulação e obtendo os lucros, da sua
coragem, para que com a ousadia que o caracteriza, com alguma loucura
associada, faça o que não conseguem: que é dar a cara;
Para
quem não o conhece bem, parece estar sempre no contra,
mas é pura ilusão, o anti não faz parte da sua
cartilha. Sem guardar ressentimentos, perdoa facilmente e acaba a
desvalorizar os erros do homem comum;
Fundamentando
as suas proposições, em dúvida metódica, buscando matéria
reveladora, procura ser convencido de que está errado;
Resumindo,
este reivindicador de uma nova ordem (ou velha, perdida no tempo?) é alguém que, antes de
aceitar a conclusão defendida pelo mensageiro, pensa duas vezes para
si mesmo, começando na tese, passa à antitese e só
depois, concordando ou discordando, retira a sua conclusão;
E
comecei a escrever esta crónica, com este enorme preâmbulo, porque
li o “desabafo” em quatro pontos de José
Gomes, o artista-crítico de serviço, o desenhador citadino de excelência que, denunciando
através da pena, nos faz sorrir. Foi menos cáustico e até mais aglutinador do que eu. Confesso, já me falta a paciência para certos
comportamentos que o José Gomes contemporiza. Se concordo com ele ou
não, estou em crer, pouco interessa. A dar a cara, pegando o boi
pelos cornos, salvo seja, somos poucos mas bons! Ó larilas! -este vocábulo
destina-se aos que têm medo até da própria sombra.
1 comentário:
Excelente retrato!
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