Recordo-me bem dele, por volta de meados da
década de 1970, a cantar no Clube Recreativo Alma Lusitana, na Rua do Clube, em
Santa Clara, no intervalo dos bailaricos com os conjuntos musicais que ali iam
animar as “soirées” e “matinés”. Nessa altura, entre outros que
não lembro, davam cartas na cidade os grupos “Vikings”, os “Sombras”,
os “Wakers” e o “Rodrigo de Matos”. Tinha uma figura esguia e, como artista que se
preza, mantinha uma certa distância para com os seus admiradores. Não dava
autógrafos a qualquer um. Creio nunca ter falado com o Victor Santos nesses
idos anos que desapareceram nos anéis do tempo.
Há cerca de um mês comecei a vê-lo diariamente,
por aqui, a calcorrear becos, ruelas e ruas largas, entre o Largo da Portagem e a
Praça 8 de Maio. Com um grande descaramento, meti-me com o cantor que conheci.
Agora, tal como eu, muito mais velho. Conte-me lá Victor Santos, o que é feito
de si? Por onde andou nas últimas três décadas?
“Comecei
a cantar no Alma Lusitana com 10 anos, com vários agrupamentos musicais,
sobretudo nos intervalos e quando me deixavam. O gosto de cantar nasceu comigo.
Foi um talento que Deus me deu. Tive vários convites para integrar várias
bandas mas nunca calhou. Em 1984 fui para a Suíça trabalhar para um hotel.
Aconteceu ser convidado por um espanhol, o Rafael, para cantar no Casino de
Berna. E lá me estreei com muitas ovações do público presente.
Em 1989 tive um acidente grave. Fiquei com perturbações oftalmológicas
e, como via mal e para me curar, fui para França ter com a minha mãezinha. Lá
recuperei completamente a visão e em 1990 gravei o meu primeiro álbum em
cassete com música variada. Com composições de João Simões, este trabalho foi produzido
pela minha protectora. Também escrevo os meus temas. A trabalhar no que
aparecia, em pintura, colagem de papel de parede e outras actividades, em 1991
gravei um novo álbum com dez faixas, com o Américo Monteiro, agora conhecido
como Emanuel. As músicas são dele. Neste trabalho discográfico tive muito
sucesso com duas canções: “Quero-te Cigana” e a “Boneca chorona”. Quando vou
actuar pedem sempre para as cantar. São lindas estas composições! Até hoje já
gravei 10 álbuns. O meu último espectáculo foi em 12 de Setembro, nos arredores
de Paris. Foi para uma associação portuguesa. Aqui na cidade, graças ao José
Simão, então presidente da Junta de Freguesia de Santa Clara, já cantei na Feira Popular
para 5000 pessoas.
Cheguei a Coimbra em 15 do mês passado. Estava a passar contrariedades
por terras de Astérix. Desde 2007 que apenas vivo da receita das minhas festas.
Sinto que as pessoas não sabem de mim. Precisava de um bom empresário.
Necessito de trabalhar, de ser contratado para festas populares. Tenho tudo
para poder mostrar um bom “show” musical. O meu contacto telefónico é o número
962033522 e podem ver uma amostra das minhas criações no YouTube. Tenho de
confessar, estou com muitas dificuldades. Sou muito crente. Tenho muita fé na
Rainha Santa Isabel. Peço todos os dias a Deus que me dê trabalho para eu poder
continuar a trilhar o caminho do bem. Quem sabe não teria sido Ele que o enviou
ao meu encontro? Tenho muita esperança que, por este meio de informação
pública, se abram umas janelas e eu possa passar um Natal melhor. A melhor
prenda que me poderiam dar, nesta altura, era ir à televisão! É mesmo o meu
sonho! Do fundo do coração, o meu muito obrigado!”
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