quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

EDITORIAL: L'ETAT C'EST MOI"

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)




O Diário de Coimbra (DC) de hoje, na página 4, noticia em título: “Ricardo Rodrigues sem direitos de munícipe”. Continuando a citar o DC, “Dois munícipes, um deles o presidente da União de Freguesia Trouxemil/Torre de Vilela, esperaram ontem pacientemente pelo período de intervenção do público na reunião da Câmara de Coimbra, marcado para as 17h00 mas que só abriria quase quatro horas depois, às 20h50. Ouvido o primeiro, sobre um empreendimento social em Cernache (…) Manuel Machado, presidente do município, encerrou a reunião, não dando a palavra ao presidente da União de Freguesias. “Inscrevi-me, de forma humilde, porque é a única forma de ser ouvido”, disse Ricardo Rodrigues, sem obter qualquer resposta.”
Vou tratar deste assunto a dois níveis. No primeiro, enquanto cidadão, começo por dizer que, perante esta sonegação do direito à livre expressão, repudio completamente esta forma do Presidente da Câmara Municipal de Coimbra tratar os munícipes que se deslocam à primeira sessão pública do executivo para expor os seus assuntos. Não tenho habilitações literárias para, como professor, dar lições de ética ao citadino Manuel Machado mas, em contrapartida, já levei muitos pontapés no traseiro pela vida fora e, por que muitas vezes me excedi para com outros, tive de pedir desculpa e engolir sapos. Quero dizer que, portanto, passando a imodéstia, me julgo com legitimidade para abominar este comportamento do homem eleito para dirigir a autarquia da minha cidade e, sem peias, afirmar que esta sua conduta é simplesmente ignóbil. Nada desculpa a proibição de deixar falar Ricardo Rodrigues mesmo até que este se apresente como presidente de uma União de Freguesias e detenha um local próprio para o efeito. Rejeito completamente esta manifestação grosseira, arrogante, prosaica e pacóvia do nosso representante eleito nas listas do Partido Socialista (PS). Se mais não se chamar à colação, deve lembrar-se que ser Socialista, para além de seguir uma doutrina política e económica e perseguir a ideia de transformação da sociedade numa distribuição equilibrada de riquezas e propriedades -Karl Marx considerava ser uma fase intermédia entre o fim do Capitalismo e a implantação do Comunismo-, dirimindo as assimetrias entre ricos e pobres, é também ser um revolucionário activo pugnando pelo respeito social, pelo tratamento igual de cada um tendo em conta as suas desigualdades, e pela liberdade.
Quem tem seguido este folhetim entre Rodrigues, eleito pelo PSD, e Machado eleito pelo PS, dá para ver que se está perante uma questão pessoal. Ora, quando um eleito para servir a comunidade e a ocupar um cargo político de direcção se vale do seu lugar para premiar, desclassificar sem justa causa, destilar venenos e odiozinhos para alguém, ou entidade, em particular, para além de não ser merecedor da delegação de poderes que recebeu através do voto -para como juiz equidistante ou um ponderado chefe de família auxiliar a causa pública- está a servir-se do seu estatuto para fins pessoais.
No meu entendimento, saliento que não é a primeira vez que há abuso de poder por parte de Manuel Machado perante um munícipe que se apresenta às reuniões públicas. Já no mês passado, aquando de uma interpelação exarada pelo advogado Castanheira Barros –se bem que fora de contexto e até pudesse ser entendida como provocatória-, o presidente da edilidade extrapolou o seu direito, tratando o causídico com agressividade, desdém e desrespeito. Curiosamente, na resposta a Barros, terminou com a frase: “na vida política não vale de tudo! –é caso para interrogar se estas palavras seriam para o próprio. Embora seja humano como qualquer outro, um político eleito tem obrigação de estar preparado para o que der e vier. Quer seja para levar uns metafóricos murros no estômago, quer seja para uns elogios falseados. Não pode ceder a aliciamentos fáceis. Para isso, creio, aceitou ser candidato ao lugar.
No assunto que classifico de segundo nível, mesmo quando defendo um tratamento equitativo e despiciente de questões do foro pessoal, não deixo de pensar quanto o destino pode ser irónico. Ao longo dos últimos anos, várias vezes intervim no executivo e na Assembleia Municipal. Então, sobretudo a partir de 2001, quando a “Coligação por Coimbra” tomou a autarquia, era então Ricardo Rodrigues assessor da presidência e mais tarde chefe de gabinete. Pelo menos a mim, este senhor tratou-me sempre com uma sobranceria digna de nota negativa. Lembro-me, a última vez que tentei falar com ele, sem explicação plausível, fechou-me a porta camarária na cara. Por conseguinte, talvez este edil, agora a passar por debaixo da escada, sinta que quando a posição muda pode receber com juros o que fez aos outros. Por outro lado ainda, este procedimento comum é muito transversal a muitos que agora atravessam os corredores camarários como pavões erectos. Julgando-se divindades, nem sequer cumprimentam alguns dos outrora amigos e conhecidos. É bom que tomem nota: o poder é como um fósforo, só dura enquanto há pau. Por conseguinte é efémero. Talvez este caso os devesse fazer pensar.


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