(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
O Diário de Coimbra (DC) de hoje, na página 4,
noticia em título: “Ricardo Rodrigues sem
direitos de munícipe”. Continuando a citar o DC, “Dois munícipes, um deles o
presidente da União de Freguesia Trouxemil/Torre de Vilela, esperaram ontem
pacientemente pelo período de intervenção do público na reunião da Câmara de
Coimbra, marcado para as 17h00 mas que só abriria quase quatro horas depois, às
20h50. Ouvido o primeiro, sobre um empreendimento social em Cernache (…) Manuel
Machado, presidente do município, encerrou a reunião, não dando a palavra ao
presidente da União de Freguesias. “Inscrevi-me, de forma humilde, porque é a
única forma de ser ouvido”, disse Ricardo Rodrigues, sem obter qualquer
resposta.”
Vou tratar deste assunto a dois níveis. No
primeiro, enquanto cidadão, começo por dizer que, perante esta sonegação do
direito à livre expressão, repudio completamente esta forma do Presidente da
Câmara Municipal de Coimbra tratar os munícipes que se deslocam à primeira
sessão pública do executivo para expor os seus assuntos. Não tenho habilitações
literárias para, como professor, dar lições de ética ao citadino Manuel Machado
mas, em contrapartida, já levei muitos pontapés no traseiro pela vida fora e,
por que muitas vezes me excedi para com outros, tive de pedir desculpa e
engolir sapos. Quero dizer que, portanto, passando a imodéstia, me julgo com
legitimidade para abominar este comportamento do homem eleito para dirigir a
autarquia da minha cidade e, sem peias, afirmar que esta sua conduta é simplesmente
ignóbil. Nada desculpa a proibição de deixar falar Ricardo Rodrigues mesmo até que este se apresente como presidente de uma União de Freguesias e detenha um local próprio para o efeito. Rejeito completamente esta manifestação grosseira, arrogante, prosaica
e pacóvia do nosso representante eleito nas listas do Partido Socialista (PS).
Se mais não se chamar à colação, deve lembrar-se que ser Socialista, para além
de seguir uma doutrina política e económica e perseguir a ideia de
transformação da sociedade numa distribuição equilibrada de riquezas e
propriedades -Karl Marx considerava ser uma fase intermédia entre o fim do
Capitalismo e a implantação do Comunismo-, dirimindo as assimetrias entre ricos
e pobres, é também ser um revolucionário
activo pugnando pelo respeito social, pelo tratamento igual de cada um tendo em
conta as suas desigualdades, e pela liberdade.
Quem tem seguido este folhetim entre Rodrigues,
eleito pelo PSD, e Machado eleito pelo PS, dá para ver que se está perante uma
questão pessoal. Ora, quando um eleito para servir a comunidade e a ocupar um
cargo político de direcção se vale do seu lugar para premiar, desclassificar sem
justa causa, destilar venenos e odiozinhos para alguém, ou entidade, em
particular, para além de não ser merecedor da delegação de poderes que recebeu
através do voto -para como juiz equidistante ou um ponderado chefe de família auxiliar
a causa pública- está a servir-se do seu estatuto para fins pessoais.
No meu entendimento, saliento que não é a
primeira vez que há abuso de poder por parte de Manuel Machado perante um
munícipe que se apresenta às reuniões públicas. Já no mês passado, aquando de
uma interpelação exarada pelo advogado Castanheira Barros –se bem que fora de
contexto e até pudesse ser entendida como provocatória-, o presidente da
edilidade extrapolou o seu direito, tratando o causídico com agressividade,
desdém e desrespeito. Curiosamente, na resposta a Barros, terminou com a frase:
“na vida política não vale de tudo!” –é
caso para interrogar se estas palavras seriam para o próprio. Embora seja
humano como qualquer outro, um político eleito tem obrigação de estar preparado
para o que der e vier. Quer seja para levar uns metafóricos murros no estômago, quer seja para uns elogios falseados. Não pode ceder
a aliciamentos fáceis. Para isso, creio, aceitou ser candidato ao lugar.
No assunto que classifico de segundo nível, mesmo
quando defendo um tratamento equitativo e despiciente de questões do foro
pessoal, não deixo de pensar quanto o destino pode ser irónico. Ao longo dos
últimos anos, várias vezes intervim no executivo e na Assembleia Municipal.
Então, sobretudo a partir de 2001, quando a “Coligação por Coimbra” tomou a autarquia, era então Ricardo
Rodrigues assessor da presidência e mais tarde chefe de gabinete. Pelo menos a mim, este senhor tratou-me
sempre com uma sobranceria digna de nota negativa. Lembro-me, a última vez que
tentei falar com ele, sem explicação plausível, fechou-me a porta camarária na cara. Por conseguinte, talvez este edil, agora a passar por
debaixo da escada, sinta que quando a posição muda pode receber com juros o que
fez aos outros. Por outro lado ainda, este procedimento comum é muito
transversal a muitos que agora atravessam os corredores camarários como pavões
erectos. Julgando-se divindades, nem sequer cumprimentam alguns dos outrora
amigos e conhecidos. É bom que tomem nota: o poder é como um fósforo, só
dura enquanto há pau. Por conseguinte é efémero. Talvez este caso os devesse
fazer pensar.
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